O encontro ocorreu numa sexta-feira, 06 de agosto, e contou com uma equipe multidisciplinar que visitou as ações de conservação, agroecologia e turismo de base comunitária que ocorrem no Quilombo Cafundá Astrogilda e no Quilombo do Camorim, localizados no Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB)
Fazia frio no início da manhã da sexta-feira, dia 06 de agosto, quando chegamos na trilha que percorre os caminhos do Quilombo de Vargem Grande como também é conhecido o Quilombo Cafundá Astrogilda.
Quando as equipes da Petrobras e do projeto chegaram por lá, Sandro Santos, liderança comunitária do quilombo e agente comunitário do projeto, já estava nos aguardando. Sandro apresentou as atividades através da Ação Griot, a iniciativa de educação ambiental e Turismo de Base Comunitária criada e gerida pela comunidade há sete anos, e que é apoiada pelo projeto.
À medida que percorremos a trilha, ele também narrou o processo de ocupação do território da zona oeste, destacou os conflitos socioambientais relacionados à implantação do PEPB, e enfatizou o papel da comunidade agricultora e quilombola do Cafundá Astrogilda para a conservação da floresta.
Através da narrativa de Sandro, herança do conhecimento ancestral que aprendeu com sua família através do engajamento político e social em sua comunidade, os técnicos da Petrobras puderam conhecer a ideia central que orienta as ações do nosso projeto: o fortalecimento das práticas e dos conhecimentos tradicionais das comunidades quilombolas amplia e possibilita um manejo sustentável da floresta, contribui com a conservação da biodiversidade e gera serviços ecossistêmicos relevantes para a cidade, tais como, estocagem de carbono no solo, produção de alimentos e regulação hídrica e climática.
Para Edson Cunha, que atua na área de relacionamento comunitário da Gerência de Responsabilidade Social da Petrobras, “Essa vertente, que articula agroecologia, turismo de base comunitária e culturas tradicionais, pode até ser vista como uma inovação para pensarmos a questão socioambiental. A possibilidade de você apresentar a realidade de um quilombo que fica em uma unidade de conservação através de um circuito cultural permite conhecer uma realidade diferente da que vemos através de outros meios de comunicação.”, destacou Edson, que também é geólogo.
Ele comentou que a visita das lideranças tem o objetivo de conhecer essas ações e, deste modo, planejar oportunidades de integração com outras iniciativas e territórios que também são apoiados pelo PPSA.
Marcio Mendonça, coordenador do Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA e supervisor metodológico do projeto, relembrou o aspecto participativo e ativo das comunidades na organização das ações, destacando que, desde o início, essa tem sido a premissa de trabalho. Para ele “uma das grandes forças desse projeto é a participação das comunidades desde a sua elaboração. Por isso, os saberes e fazeres das comunidades são valorizados e fortalecidos.”
Para Amanda Borges, consultora e analista da gerência de Projetos Ambientais, estar na atividade foi muito importante, pois permitiu ver como esse tipo de metodologia pode ter um resultado que é esperado no âmbito dos indicadores de clima, mas também está ligado a outros tipos de benefícios sociais e ambientais.
“Esse tipo de iniciativa traz benefícios para a conservação ambiental e também para as pessoas que participam das ações, seja ampliando a possibilidade de segurança alimentar, seja permitindo a manutenção e divulgação dos seus conhecimentos tradicionais.”, destacou Amanda, que também é bióloga.
Ingrid Pena, coordenadora geral do projeto, contextualizou as ações demonstrando o vínculo entre as estratégias de uso e manejo sustentável da biodiversidade e a valorização dos saberes tradicionais associados. Ela relembrou que as pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto, debatidas através da Comissão de Pesquisa, têm um papel importante para evidenciar como as práticas culturais de manejo da terra e de uso racional dos recursos podem impactar positivamente na conservação da floresta e no atendimento a demandas sociais.
“Estamos atentos tanto ao monitoramento de funções ecológicas das florestas e de unidades de produção, quanto à importância do fortalecimento da memória coletiva como ferramenta de resgate de saberes tradicionais que envolvem alimentação saudável, práticas religiosas e possibilidades de geração de renda através, por exemplo, do turismo de base comunitária e da comercialização de produtos agroecológicos. Destacou Ingrid Pena, coordenadora geral do projeto.
Na parte da tarde, fomos à comunidade quilombola do Camorim onde fomos recebidos pelas lideranças da Associação Cultural Quilombo do Camorim (ACUQCA). Lá, Adilson Almeida narrou o processo que permitiu à comunidade ser reconhecida pela Fundação Palmares, em 2014, como área de remanescentes de negros escravizados e, em 2018, teve uma área identificada como Sítio Arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artsítico (IPHAN).
O local, que está na área de amortecimento do PEPB e está próximo à um dos principais acessos ao parque, tem sofrido com especulação imobiliária e devastação de áreas verdes, a partir de um processo que configura-se como racismo ambiental.
Adilson Almeida destacou que o processo de resistência da comunidade perpassa o fortalecimento da memória dos seus antepassados e da ancestralidade. Ele relatou que a ACUQCA tem buscado fortalecer essa perspectiva, promovendo um conjunto de ações de educação ambiental, fortalecimento cultural e combate ao racismo.
Junto com a ACUQCA, a equipe da Petrobras refletiu sobre o tema do racismo, enfatizando a importância de ações que fortaleçam a promoção da igualdade étnico-racial. Após a exposição de Adilson, Caroline Leão, da gerência do PPSA, destacou que o programa estimula – tanto na carteira ambiental quanto na social – ações e temas que fortalecem as ações de luta contra o racismo.
“Vejo que, nesse projeto, uma das potencialidades está em poder trabalhar o tema da preservação ambiental no contexto das comunidades tradicionais quilombolas, comunidades que resistem e lutam historicamente contra o racismo. É olhando para a história dessas comunidades que poderemos avançar na discussão racial e, desse modo, contribuir com a superação da marca racista na nossa conformação social. Vejo que uma das contribuições que podemos dar é difundir suas narrativas e ações, e assim contribuir com uma comunicação que permita pautar o debate na sociedade”
Na comunidade, através do projeto Sertão Carioca, estamos realizando oficinas de Cartografia Social Participativa, um método que promove e facilita processos de planejamento e gestão do território da comunidade. Ao final, serão impressos fascículos contendo informações que buscam apoiar a capacidade de inserção da comunidade no diálogo sobre políticas públicas e governança.
Projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta
O projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta tem como objetivo contribuir para a conservação dos recursos naturais da floresta urbana do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) e suas áreas de amortecimento, com base em estratégias de uso e manejo sustentável da biodiversidade que valorizem os saberes tradicionais associados.
Ele é realizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia em parceria com associações quilombolas que ficam no Parque Estadual da Pedra Branca, e outras parcerias comunitárias e institucionais, como associações de agricultores e universidades. Tem o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.