A formação realizada no dia 2 de outubro reuniu lideranças e parceiros do Quilombo do Camorim para a construção de um fogão agroecológico, uma tecnologia social aliada no combate às mudanças climáticas, pois contribui na redução da emissão de carbono e na quantidade de lenha consumida para a produção de alimentos.
Os fogões e a preparação de alimentos constituem aspectos muito importantes para qualquer cultura e os fogões a lenha são muito utilizados em comunidades tradicionais, estando relacionados também a questões econômicas além de hábitos culturais. E atualmente, com o aumento do custo do gás de cozinha, a procura pelo fogão a lenha tem aumentado. Porém, o uso da lenha no preparo de alimentos traz um conjunto de impactos sociais, ambientais e relacionados à saúde. O fogão agroecológico minimiza esses impactos. É mais eficiente e sustentável que os fogões a lenha convencionais, mantendo o ambiente onde é instalado mais saudável.
A fumaça dos fogões tradicionais dentro das casas pode ser 100 vezes maior que os níveis recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), causando doenças como câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia, tuberculose, problemas cardiovasculares, problemas nos olhos e até problemas durante a gravidez. Segundo Renata Barreto, facilitadora da oficina e integrante da Associação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, as mulheres e crianças costumam ser os maiores prejudicados pelo contato direto com a fumaça dos fogões convencionais: “A exposição à fumaça é equivalente a inalar uma média de dois maços de cigarro por dia”. Como a quantidade de lenha consumida no fogão agroecológico é menor, ele emite menos gases poluentes na atmosfera, e são também reduzidos os possíveis danos à saúde e ao bem-estar.
Restos de materiais orgânicos como sabugo de milho, cascas de coco, palhas de palmeiras e materiais de varrição são utilizados para a queima e aquecimento dos alimentos. Apenas a lenha fina deve ser utilizada em pequena quantidade. Esse aspecto do fogão viabiliza a diminuição, e dependendo de onde é instalado, até a suspensão do corte de árvores, evitando o desmatamento e a erosão, mantendo os serviços ambientais das florestas e espaços verdes. No Quilombo do Camorim, o combustível já está garantido, pois são abundantes os resíduos do manejo da área preservada pela Associação Cultural do Quilombo do Camorim (ACUQCA) e da horta orgânica.
Rosilane Almeida, professora de Jongo e liderança do Quilombo do Camorim, comenta que a oficina do fogão agroecológico vai além da preservação ecológica e melhora da saúde: “É uma conexão com o meu passado, lembrei da minha avó que tinha uma cozinha feita de pau a pique e fazia alimentos para quem batia no portão de casa, foi uma atividade gratificante”. Para Rosilane, o fogão remete a um modo de vida com alimentos retirados diretamente do solo e com animais soltos no quintal.
A facilitadora Giselle Parno, com apoio de Elisabete Martins, do Núcleo Dinda Laura do Quilombo Cafundá Astrogilda, construiu passo-a-passo o fogão agroecológico. Contaram com a ajuda indispensável de participantes da oficina. O fogão será utilizado para o preparo de alimentos nas atividades culturais e socioambientais realizadas pela ACUQCA.
A Oficina foi fruto de uma parceria do Projeto Sertão Carioca com o Quilombo do Camorim. O Fogão Agroecológico contribui com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como o ODS 3 (Saúde e bem-estar), ODS 5 (Igualdade de gênero), ODS 7 (Energia limpa e acessível), ODS 11 (Cidades e comunidades sustentáveis) e ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima).
O Projeto Sertão Carioca: Conectando Cidade e Floresta, realizado pela AS-PTA em parceria com as comunidades quilombolas do Quilombo Dona Bilina, Cafundá Astrogilda e Quilombo do Camorim. Tem o patrocínio da Petrobrás, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.