A mobilização denuncia os impactos negativos do avanço de mega projetos de energia na região
Arrendamento de terras camponesas com contratos injustos e inviabilização da produção de alimentos saudáveis. Estes são alguns dos principais impactos da instalação de mega projetos energéticos na região da Borborema, na Paraíba.
É justamente para denunciar estes impactos que a 16ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia ocupará as ruas do município de Esperança (PB), na próxima quinta-feira (13). A concentração da manifestação será na Praça da Cultura, a partir das 8h, e é aberta ao público geral.
A Marcha reúne mulheres agricultoras do Polo da Borborema em sua construção, trazendo assim a participação de 13 municípios do território, cerca de 150 associações comunitárias, uma associação de agricultores e agricultoras agroecológicos e uma cooperativa. É o quarto ano consecutivo que a mobilização pauta os impactos negativos de mega projetos energéticos para o meio ambiente e o modo de vida camponês.
“Enquanto os movimentos sindicais e de mulheres trazem informações aos agricultores e agricultoras, as empresas chegam enganando as famílias. Dizem que, ao assinarem os contratos, vão receber muito dinheiro e recursos para viver, mas a realidade é que as famílias perdem o direito à seguridade da própria terra e ficam impedidas de produzir, criar e ampliar o espaço de roçado”, explica Maria do Céu, uma das organizadoras da marcha e liderança sindical do município de Solânea e do Movimento de Mulheres do Polo.
Céu conta também que a caatinga paraibana tem sido devastada para dar lugar às grandes usinas de energias “ditas renováveis”. A marcha não se coloca contra a geração de energia renovável, mas reivindica um modelo energético que não devaste a natureza. “Além disso, as famílias acabam sendo expulsas do campo para as cidades e a gente não sabe como será o futuro da juventude, caso esses contratos sejam assinados”, acrescenta Maria do Céu.
A situação retratada por ela não é específica da Paraíba. De acordo com um levantamento do veículo O Eco, com dados do projeto MapBiomas, empreendimentos de energia renovável causaram a destruição de 4,5 mil hectares de vegetação nativa do Brasil. A caatinga, bioma exclusivamente brasileiro e que está localizado majoritariamente no Nordeste do país, é o mais impactado.
Neste sentido, a marcha costuma atrair um público para além do estado paraibano e a expectativa é que cerca de 5 mil pessoas participem da mobilização. A programação conta com a apresentação cultural de Lia de Itamaracá e feira de produtos agroecológicos e artesanatos produzidos pelas agricultoras do Polo da Borborema.
Histórico
A Marcha pela Vidas das Mulheres e pela Agroecologia volta às ruas para afirmar a agroecologia como um projeto de vida, capaz de construir alternativas reais para a adaptação climática e para um modelo de produção de energia descentralizado, que respeite os territórios e seus povos, fortalecendo a autonomia e o direito das famílias agricultoras de permanecerem e produzirem em suas terras.
Em 2022, a mobilização deu visibilidade aos primeiros casos de abusos cometidos pelas empresas de energia na Borborema. Em 2023, o ato cresceu e se fortaleceu denunciando os impactos já sentidos nas comunidades. Em 2024, a marcha saiu em defesa da “Caatinga Viva, floresta em pé”, que pautou pelo terceiro ano consecutivo a defesa do território diante da invasão das indústrias de energia.
A manifestação também é um espaço de transformação para as mulheres. “A marcha liberta. Participando dela, aprendi a falar, a não baixar a cabeça. Os homens são machistas e não dão espaço pra gente falar“, conta dona Eliete Santana, agricultora do município Montadas.
A preparação para a mobilização deste ano começou em outubro de 2024. Desde de janeiro, foram realizadas reuniões municipais e comunitárias de formação e mobilização em diversas comunidades da Borborema para fortalecer a luta feminista e aprofundar o debate sobre os desafios enfrentados pelas mulheres agricultoras.
Polo da Borborema
O Polo é um coletivo de sindicatos rurais de 13 municípios do território da Borborema, cerca de 150 associações comunitárias, uma associação de agricultores e agricultoras agroecológicos e uma cooperativa.
Põe em prática um projeto político de fortalecimento da agricultura familiar por meio da convivência com o Semiárido e da Agroecologia. Suas ações mobilizam mais de nove mil famílias agricultoras nas diversas fases da vida, desde a infância até a terceira idade.