Nas favelas do Rio de Janeiro, a Agroecologia tem rosto, nome e história. Ela brota das mãos de mulheres e homens que persistem em plantar, cuidar e transformar seus territórios em espaços de vida. É para contar essas histórias que nasceu a série de boletins do projeto Agroecologia nas Favelas: Redes Locais Promovendo Saúde, uma iniciativa da AS-PTA em parceria com organizações comunitárias e instituições de ensino e pesquisa.
Ao longo de cinco publicações, a série apresenta experiências que revelam como as pessoas em suas redes locais tecem laços de solidariedade, cuidado e autonomia a partir da produção de alimentos, do uso de plantas medicinais e da mobilização comunitária.
Agroecologia nas Favelas é soberania alimentar!
Cada boletim dá visibilidade a um arranjo local e às pessoas que o constroem. São histórias que unem a luta por moradia, a busca por saúde e o amor à terra.
Em Pedra de Guaratiba, por exemplo, a agricultora Maria Aparecida Cabral transformou o quintal de casa em um verdadeiro laboratório de vida. Das plantas que antes cresciam em vasos improvisados nas calçadas, surgiram hortas, pomares e uma farmácia viva. Dali brotam ervas medicinais que dão origem a xaropes naturais. Sua casa tornou-se ponto de encontro para vizinhos e amigas que aprendem e trocam saberes, sementes e experiências, redescobrindo o poder de cuidar com as próprias mãos.
No Complexo da Penha, o casal Leildes e Manoel, moradores da comunidade Terra Prometida, cultiva uma agroflorestal que é símbolo de resistência. Com raízes indígenas Guajajara, Leildes mantém viva uma tradição de cuidado com a terra que atravessa gerações. O quintal, o viveiro e a Casa de Apoio do Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM) formam um sistema de produção que alimenta a família e a comunidade, unindo agricultura, solidariedade e ancestralidade.
Essas histórias revelam o que muitas vezes é invisibilizado: que nas favelas há pessoas construindo soluções reais para a crise climática, para a fome e para o abandono do Estado. Que há mãos negras e indígenas cultivando saúde, dignidade e futuro.
Foto: AS-PTA
Redes que promovem saúde e autonomia
Os boletins foram produzidos coletivamente a partir de informações encontradas durante a aplicação do Método Lume, que possibilita compreender os agroecossistemas e as relações de cada família com seu território. O processo envolveu oficinas, entrevistas, trocas e momentos de memória, em que agricultoras e agricultores narraram suas trajetórias, desafios e sonhos na linha do tempo.
Mais do que publicações, os boletins são retratos de redes vivas formadas por vizinhos, coletivos, escolas, grupos religiosos e organizações populares que se apoiam e se fortalecem. É dessa teia de relações que brotam novas formas de produzir, de cuidar e de pensar a cidade.
A Agroecologia nas favelas é feita por pessoas que resistem todos os dias, que mostram que plantar é um ato político, uma forma de garantir saúde e afirmar o direito à vida.
Cinco territórios, muitas vozes
A série de boletins Agroecologia nas Favelas: Redes Locais Promovendo Saúde reúne experiências de cinco arranjos locais: Campo Grande, Complexos da Penha e do Alemão, Guaratiba e Vargem Grande.
Em cada um deles, o que se vê é a força das pessoas que constroem a Agroecologia como prática de solidariedade e justiça socioambiental.
Os boletins estão disponíveis para leitura e download gratuito (CLIQUE AQUI).
O projeto Agroecologia nas Favelas: Redes Locais Promovendo Saúde é uma iniciativa da AS-PTA inserida no Plano Integrado de Saúde nas Favelas (146X Favelas), com apoio da Fiocruz e da Misereor, no âmbito da Chamada Pública para Apoio a Ações de Saúde Integral nas Favelas do Rio.