Denise Valéria de Lima, Elza Falkenbach e Mara Vanessa Dutra
A história do Subprograma Projetos Demonstrativos – PDA – e dos projetos por ele apoiados vem revelando o acúmulo de conhecimento gerado por comunidades e organizações sociais que criam novas tecnologias e desenvolvem modelos de gestão e de produção sustentáveis em ecossistemas florestais brasileiros. O PDA é parte integrante do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, executado pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, e tem como objetivo gerar conhecimentos sobre proteção, uso e manejo dos recursos naturais, a partir das experiências da sociedade civil na Amazônia e Mata Atlântica.
Na tentativa de registrar e resgatar esses conhecimentos, o PDA apoiou as sistematizações de onze experiências desenvolvidas em diferentes locais da Amazônia e Mata Atlântica (ver quadro 1). As onze narrativas produzidas e a sistematização das sistematizações, ou seja, a análise e reflexão do processo, das suas singularidades e transversalidades, vêm sendo publicadas desde o final de 2005.
A seleção das onze organizações que participaram do processo baseou-se em critérios relacionados com a diversidade da localização geográfica dos projetos, a maturidade das experiências e, por conseguinte, o potencial delas em oferecer aprendizagens significativas para o PDA. A metodologia empregada foi definida em função de seu grau de adequação ao objetivo de produzir conhecimento contextualizado com base na participação ativa dos atores envolvidos nas experiências sistematizadas. Com isso, visava-se favorecer o desenvolvimento da capacidade dos atores locais para atuarem como protagonistas do processo de construção de políticas públicas e de mudança da suas realidades.
A avaliação do processo, feita por meio de entrevistas com as organizações que dele participaram, ressaltou alguns aspectos interessantes. Em primeiro lugar, a importância da sistematização como instrumento para melhoria da prática. Pelo menos metade das organizações afirmou ter utilizado os resultados da sistematização na elaboração de outros projetos ou na discussão de suas estratégias institucionais. O fato de terem vivenciado um processo como esse qualificou-as a discutirem com seus financiadores e parceiros com mais profundidade. Uma das entidades que participaram do processo valeu-se dele para rever suas relações de parceria, o que proporcionou maior clareza de papéis e permitiu um planejamento de ações entre parceiros mais realista.
Houve entidades que se aproveitaram da sistematização para ambientar e inserir novas equipes no trabalho. A participação de pessoas que não vivenciaram a experiência sistematizada nas oficinas acabou por enriquecer o processo. Algumas práticas metodológicas adotadas nas sistematizações foram posteriormente incorporadas por algumas organizações na condução e no registro de suas reuniões. Ao avaliar o resultado da sistematização para a sua entidade, o coordenador de uma das equipes assim expressou a idéia: “Percebemos a importância de estarmos com uma mão no facão e outra no computador. ”
As sistematizações também tiveram papel positivo na “construção de identidades” em meio aos participantes das experiências. O resgate das histórias e das trajetórias de luta das comunidades envolvidas permitiu o desenvolvimento de percepções coletivas sobre os avanços alcançados. Essas percepções são motivadoras e favorecem a recuperação de antigos ideais, alimentando novas perspectivas para o futuro.
Além disso, os esforços de sistematização geraram produtos de comunicação com conteúdos consistentes. As publicações deixaram de ser meramente descritivas ao trazerem reflexões críticas sobre o desenvolvimento das experiências.
No entanto, algumas dificuldades do processo podem ser destacadas. Em meio a tantas demandas de trabalho vivenciadas pelas organizações, muitas vezes não há tempo suficiente para manter a dedicação às atividades de sistematização. Outro desafio encontrado é a dificuldade de elaboração de documentos que reflitam a riqueza dos processos, uma vez que a composição das narrativas nem sempre é uma atividade ou tarefa assumida pelos técnicos das entidades. Para transformá-las em produtos de comunicação de qualidade, é preciso contar com certas habilidades que normalmente não estão presentes nas equipes das organizações.
De qualquer forma, a análise do conjunto do processo apoiado pelo PDA reitera a importância da alocação de recursos específicos para que os demais projetos apoiados pelo programa sejam sistematizados, favorecendo a realização de intercâmbios entre as organizações envolvidas com vistas ao aprendizado mútuo e à produção de mate- riais de comunicação eficientes para a divulgação ampla dos ensinamentos identificados nas experiências.
Denise Valéria de Lima:
consultora na área de sistematização
[email protected]
Elza Falkenbach:
professora da Universidade de Ijuí
Mara Vanessa Dutra:
consultora na área de sistematização
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Revista V3N2 – Sistematização de experiências apoiadas pelos Projetos Demonstrativos – PDA