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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 643 – 06 de setembro de 2013
Car@s Amig@s,
Com pouco alarde, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA determinou um aumento nos limites máximos de resíduos do herbicida glifosato (cujo produto formulado mais famoso é o Roundup, da Monsanto) em diversas espécies cultivadas.
Para a soja e outras oleaginosas o limite permitido dobrou, passando de 20 para 40 ppm (partes por milhão). Outras culturas incluindo frutas, tubérculos e legumes também tiveram os limites aumentados. Batata-doce e cenoura, por exemplo, tiveram seus limites aumentados em 15 e 25 vezes, respectivamente (de 0,2 ppm para 3 ppm e 5 ppm).
Uma consulta pública a respeito da mudança foi aberta. Embora o prazo para o envio de comentários fosse 01 de julho de 2013, a nova norma já estava em vigor desde 01 de maio. Foram recebidos mais de 10.800 comentários contra o aumento nos limites, mas que certamente não mudarão em nada a decisão que já estava tomada.
A mudança da norma foi resultado de uma petição da Monsanto apresentada no início de 2012. Os órgãos regulatórios do país não realizaram estudos independentes para avaliar se níveis mais altos de glifosato são perigosos para os seres humanos ou para o meio ambiente – como de praxe, basearam-se apenas em testes e dados fornecidos pela própria Monsanto.
Enquanto a Monsanto e os órgãos regulatórios “garantem” a segurança do glifosato, diversas pesquisas independentes têm cada vez mais encontrado evidências da existência de graves riscos relacionados ao produto.
Mas uma questão fundamental a ser colocada é: por que é preciso aumentar os limites permitidos de resíduos na produção agrícola?
O glifosato é o herbicida mais utilizado no mundo. É um produto de amplo espectro, ou seja, mata todos os tipos de mato. E seu uso foi exponencialmente aumentado após a difusão das lavouras transgênicas tolerantes a ele – para quem não se lembra, ao plantarem essas sementes modificadas, os agricultores podem pulverizar o agrotóxico por cima da lavoura, até mesmo de avião; o mato morre com o veneno, mas a lavoura transgênica resiste.
Esse sistema de manejo em si é responsável pelo aumento nos níveis de resíduos nas lavouras: ao contrário das plantas comuns, que não podem ser banhadas diretamente com o veneno, as plantas transgênicas tolerantes ao produto recebem várias aplicações diretas do agrotóxico.
Não por acaso, no Brasil, por exemplo, quando a soja transgênica foi liberada, o limite máximo de resíduos de glifosato permitido em soja aumentou em 50 vezes (de 0,2 ppm para 10 ppm). Quando foi autorizado o milho transgênico tolerante ao veneno, o limite de resíduos na cultura foi ampliado em 10 vezes (de 0,1 ppm para 1 ppm).
Mas o fenômeno do gradativo aumento na dosagem do veneno necessária para controlar o mato está relacionado ao desenvolvimento de resistência ao produto nas espécies de mato que se pretende combater: quanto mais repetidamente se usa um produto, mais rapidamente ele vai perdendo a eficácia.
Como era previsto, já são várias as espécies de mato que, assim como as plantas transgênicas, resistem ao glifosato e vêm provocando grandes prejuízos aos agricultores.
Buscando compensar a perda de eficácia do agrotóxico, os agricultores tendem a aumentar as doses aplicadas. Quando essa medida já não basta, eles começam a combinar o glifosato com outros herbicidas ainda mais fortes, aplicando coquetéis químicos altamente tóxicos.
É justamente em função da perda de eficácia do glifosato que as empresas agora estão tentando obter autorização para a comercialização de sementes transgênicas tolerantes ao herbicida 2,4-D – famoso por ter sido um dos componentes do “agente laranja”, utilizado na Guerra do Vietnã, e classificado pela Anvisa na “pior” categoria: Classe I – Extremamente Tóxico (faixa vermelha).
Mas o grande problema nessa história é que tanto nós seres humanos como o meio ambiente estamos ficando expostos a doses cada vez maiores de venenos (e a venenos cada vez mais tóxicos), e não há nenhum indício de que nós estejamos ficando também “mais tolerantes” a essa contaminação.
Com informações de:
EPA raises levels of glyphosate residue allowed in food – Washingon Times, 05/07/2013.
EPA Raised Residue Limits of Monsanto’s Glyphosate Herbicide – The Cornucopia Institute, 26/06/2013.
Monsanto’s Minions: US EPA Hikes Glyphosate Limits in Food and Feed Once Again – Organic Consumers Association, 03/05/2013.
Veja também a nova norma da EPA que aumenta os limites de resíduos de glifosato:Pesticide Tolerances: Glyphosate
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Neste número:
1. Pesticidas reduzem em até 42% a diversidade de insetos nos rios
2. Ministro da Agricultura da Venezuela diz não aos transgênicos
3. Aberta Consulta Pública sobre vigilância sanitária para microempreendedores
4. Alto Uruguai (RS) investe no controle biológico de lagarta
A alternativa agroecológica
Florestas urbanas reduzem efeito da poluição e salvam vidas, diz estudo
Dicas de fonte de informação:
Deserto verde em expansão no Paraná. Entrevista especial com Roberto Martins de Souza
“Ao contrário do que anuncia o setor de papel e celulose, sua presença não implica em melhoria nas formas de vida locais. Por quanto esse padrão de acumulação capitalista drena há décadas toda a potencialidade econômica e social local para permitir a construção de um modelo que segue as pegadas de nossa matriz colonial, ainda que se aproprie do discurso da modernidade e da sustentabilidade”.
IHU Unisinos, 02/09/2013.
O valor das sementes crioulas, entrevista com Flavia Londres
“Ao não reconhecerem o valor das sementes locais e das estratégias comunitárias de gestão, as políticas públicas acabam sendo baseadas na distribuição individualizada de poucas variedades comerciais, melhoradas em centros de pesquisa e frequentemente pouco adaptadas às condições locais. Em alguns casos são distribuídas sementes híbridas, que sequer se prestarão ao plantio na safra seguinte à da distribuição, o que reforça a relação de dependência dos agricultores em relação ao insumo.”
ASA Brasil, 29/08/2013.
Evento:
I Festa da Semente Nativa em Mandirituba – PR
21 de setembro de 2013.
Informações: (41) 3224-7433 – [email protected] / (41) 3626-1202 / [email protected]
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1. Pesticidas reduzem em até 42% a diversidade de insetos nos rios
Pesticidas usados para proteger os cultivos no mundo estão reduzindo a população de animais invertebrados, mostra estudo publicado na PNAS, a revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (17).
Para descobrir os efeitos desses agentes químicos na diversidade de insetos, os pesquisadores analisaram três diferentes regiões: Hildesheimer Boerde, próxima à cidade de Braunschweig, no Norte da Alemanha; no Estado de Vitória, ao Sul da Austrália; e Bretanha, no Noroeste da França.
O grupo comparou a biodiversidade em locais não contaminados e altamente contaminados e constatou perdas consideráveis de insetos aquáticos e outros seres invertebrados de água doce. Na Europa, a diversidade regional de invertebrados que vivem em rios e córregos caiu 42%, e a queda na Austrália foi de 27%.
Segundo Mikhail Beketov e Matthias Liess, do Centro de Pesquisa Ambiental de Leipzig, na Alemanha, a diminuição da riqueza de espécies nessas áreas deve-se ao desaparecimento de moscas-de-água, libélulas e outros insetos suscetíveis aos pesticidas que vão parar nos rios.
A dupla lembra que o sumiço de insetos afeta diretamente a biodiversidade global, pois eles são alimentos de peixes e aves de cada região, além de serem indicadores da qualidade de água.
UOL, 18/06/2013.
2. Ministro da Agricultura da Venezuela diz não aos transgênicos
Nos últimos meses, produtores agrícolas articulados na Fedeagro (Confederación de Asociaciones de Productores Agropecuarios) propuseram ao governo da Venezuela que retomasse o debate acerca da viabilidade da utilização de sementes transgênicas nas lavouras de milho, girassol e soja, entre outros.
Mas o ministro da Agricultura, Yván Gil, declarou que o debate está fechado por ora: “Temos dito que nossa posição é firme, não estamos a favor dos transgênicos. É uma questão de princípios. Além disso, é um tema complexo. Por ora temos muito caminho a percorrer com os produtos convencionais”, afirmou. O ministro acrescentou ainda que o país ainda não alcançou o teto no desenvolvimento da agricultura tradicional com as técnicas atuais. (…)
O ministro negou que o país importe sementes geneticamente modificadas do Brasil ou da Argentina. “Isso é falso, nenhuma semente que entra é transgênica. Inclusive, o mundo está mudando de tendência, agora os chineses estão demandando soja não transgênica, assim como países da União Europeia. Cada vez surgem mais vozes contra [a tecnologia]. Eu visualizo que em pouco tempo a produção não transgênica vá crescer em função da demanda mundial”, disse. (…)
El Nacional (Venezuela), 10/08/2013.
3. Aberta Consulta Pública sobre vigilância sanitária para microempreendedores
Foi publicada em 27/09 a Consulta Pública 37/2013 que trata do exercício de atividade de interesse sanitário do microempreendedor individual, do empreendimento familiar rural e do empreendimento econômico solidário. A proposta foi aprovada no último dia 22 de agosto e ficará aberta entre os dias 28 de agosto e 28 de outubro para o envio de contribuições.
O objetivo é dar condições para que os microempreendedores individuais (MEI) que trabalham com produtos sujeitos à vigilância sanitária regularizem o exercício de suas atividades. (…)
A ação é direcionada para o MEI, empreendimentos familiares rurais e empreendimentos econômicos solidários. Além da racionalização e simplificação de normas, a consulta pública prevê a disponibilização de orientações e capacitações ao público alvo e a isenção de pagamento de taxas de vigilância sanitária, entre outros.
Pela proposta, a fiscalização de vigilância sanitária deverá ter natureza prioritariamente orientadora. “Queremos que a vigilância sanitária atue como facilitadora para que esses produtores entrem no mercado formal com produtos e serviços que não ofereçam risco para a saúde das pessoas”, destacou o diretor-presidente [da Anvisa, Dirceu Barbano].
Os órgãos de vigilância sanitária classificarão as atividades como de baixo ou alto risco sanitário, e esse critério será levado em consideração para a priorização das ações. O texto da consulta pública destaca ainda a necessidade de proteção à produção artesanal, a fim de preservar costumes, hábitos e conhecimentos tradicionais.
Geração de renda
A Anvisa realizou 63 reuniões e dois eventos regionais, reunindo cerca de 1.400 pessoas, para construir a proposta. A coordenadora da Assessoria de Relações Institucionais da Anvisa (Asrel), Rosilene Mendes do Santos, responsável pela condução da iniciativa, informou que há no Brasil 3,3 milhões de MEI formalizados, contra 10 milhões que ainda trabalham na informalidade. Esses empreendedores produzem ao ano o equivalente a R$ 8 bilhões.
A coordenadora salientou ainda que 70% dos alimentos consumidos hoje no país têm origem na produção familiar e que, em muitos casos, essa produção é informal. (…)
Acesse a Consulta Pública 37/2013.
Anvisa, 22/08/2013.
4. Alto Uruguai (RS) investe no controle biológico de lagarta
Capacitação ocorreu no Centro de Treinamento de Agricultores de Erechim – Cetre. Na região do Alto Uruguai serão dispersadas 100 mil vespinhas distribuídas por hectares com distância quadricular (400m2)
Buscando implantar na região de Erechim o controle biológico da principal praga da cultura do milho, técnicos da Emater participaram de uma capacitação no Centro de Treinamento de Agricultores de Erechim – Cetre. O controle biológico será com aplicação da vespa Trichogramma, um pequeno inseto que parasita o ovo da lagarta e é uma alternativa sustentável para o controle da praga. “É uma ação de alta tecnologia”, afirma o agrônomo da Emater/RS-Ascar, Alencar Paulo Rugeri. Ele explica que a necessidade de controle biológico será monitorada através de armadilhas com feromônio para captura das mariposas da lagarta ou ainda por meio de aplicação preventiva.
Distribuição
Na região do Alto Uruguai serão dispersadas 100 mil vespinhas distribuídas por hectares com distância quadricular (400m2). Segundo Rugeri, o controle pode alcançar 90%. Emater/RS-Ascar vai proporcionar a distribuição das cartelas contendo os ovos do agente biológico e o acompanhamento nas propriedades onde o sistema de controle for implantado.
A ação e faz parte da campanha que a instituição esta realizando com objetivo de disponibilizar armadilhas para o monitoramento e controle de lagartas em 15 mil hectares de milho no Estado e que também conta com a parceria da Embrapa.
Para o gerente regional adjunto de Erechim, Paulo Trierveiler, esta é uma campanha econômica, social e ambiental. Além das culturas do milho e da soja, ele observa que no tomate, entre outras hortaliças parasitadas por praga, pode ser utilizado o mesmo controle biológico que apresenta eficiência no controle da lagarta-do-cartucho.
Diário da Manhã – Passo Fundo, 06/09/13.
A alternativa agroecológica
Florestas urbanas reduzem efeito da poluição e salvam vidas, diz estudo
A cada ano, árvores em áreas urbanizadas salvam uma vida por cidade.
Elas reduzem a quantia de partículas contaminadas do ar e evitam doenças.
As árvores urbanas e florestas salvam, em média, uma vida por cidade a cada ano ao ajudar a retirar do ar partículas finas de poluição. As informações são de um estudo feito pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos em parceria com o Instituto Davey.
Os pesquisadores ressaltaram que em Nova York, por exemplo, as árvores chegam a “economizar” uma média de oito vidas a cada ano. A pesquisa tem o objetivo de estimar e se aprofundar no impacto global que as florestas urbanas têm sobre as concentrações de partículas finas de poluição.
Em uma pesquisa publicada no periódico “Environmental Pollution”, os cientistas estimaram quanto de material particulado fino é removido por árvores em dez cidades, seu impacto sobre as concentrações de PM2.5 (que mede partículas com um diâmetro de 2,5 micrômetros) e valores associados aos impactos sobre a saúde humana.
Essas partículas têm efeitos graves para a saúde e podem causar mortes prematuras, inflamações pulmonares, além de alterações cardíacas.
As cidades incluídas no estudo foram Atlanta, Baltimore, Boston, Chicago, Los Angeles, Minneapolis, Nova York, Filadélfia, San Francisco e Nova York.
“As árvores podem tornar as cidades mais saudáveis. Enquanto nós precisamos de mais pesquisas para gerar melhores estimativas, este estudo sugere que as árvores são uma ferramenta eficaz na redução da poluição do ar e criação de ambientes urbanos saudáveis”, ressaltou David Nowak, um dos autores da investigação científica.
G1, 22/06/2013.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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