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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 657 – 20 de dezembro de 2013
Car@s Amig@s,
Em setembro de 2012 a revista científica Food and Chemical Toxicology publicou o artigo “Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize”, do pesquisador francês Gilles-Eric Séralini e sua equipe, relatando dados de experimentos de laboratório conduzidos ao longo de dois anos para testar os efeitos de longo prazo do milho transgênico da Monsanto NK 603 e do glifosato, o herbicida utilizado em associação com o milho modificado.
O estudo, que foi realizado com 200 ratos de laboratório, revelou uma mortalidade mais alta e mais frequente associada tanto ao consumo do milho transgênico, como do glifosato, com efeitos hormonais não lineares e relacionados ao sexo. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais.
A revista em que o artigo foi publicado é, internacionalmente, das mais conceituadas do ramo. Para serem aceitos e publicados os estudos passam, necessariamente, por rigorosa avaliação de outros cientistas – a chamada “revisão por pares”.
Como seria de se esperar, após a publicação da pesquisa, que teve grande repercussão internacional, seguiu-se uma saraivada de críticas articulada pelas empresas e cientistas defensores da biotecnologia. As críticas foram todas respondidas pela equipe que realizou o estudo, que também disponibilizou à revista todos os dados adicionais solicitados após a publicação.
As duas críticas mais recorrentes ao estudo foram a espécie e o número de ratos utilizados como cobaias. Os ratos Sprague-Dawley foram “acusados” de serem naturalmente propensos ao desenvolvimento de tumores, e o número de ratos utilizados foi considerado insuficiente. Os críticos desconsideram, entretanto, que a espécie de cobaias utilizada pela equipe de Séralini é a mais comum nesse tipo de estudo, inclusive nos experimentos realizados pelas empresas que desenvolvem plantas transgênicas. Outros artigos relatando experimentos envolvendo a alimentação de ratos dessa espécie com plantas transgênicas já haviam sido publicados na mesma Food and Chemical Toxicology e utilizados em processos que levaram à liberação comercial de variedades transgênicas sem que tenha havido, nesses casos, críticas quanto à escolha dos ratos.
Com relação ao número de cobaias utilizado Séralini advertiu que nenhum estudo que embasou a autorização de plantas transgênicas tinha mais de 10 ratos avaliados por grupo de tratamento – número utilizado por sua equipe.
Além disso, cabe ressaltar que nenhum estudo publicado até então havia sido desenvolvido ao longo de dois anos, o que permitiu avaliar os efeitos da alimentação transgênica e da exposição ao glifosato ao longo do tempo de vida dos animais. É necessário observar que os principais problemas de saúde observados na pesquisa só começaram a aparecer a partir do quarto mês (nenhum outro estudo sobre o milho NK603 envolveu a alimentação de cobaias por mais que três meses).
No Brasil, após a publicação do artigo um grupo de entidades da sociedade civil encaminhou ao governo federal um ofício questionando a liberação comercial do milho NK603. Um grupo de integrantes e ex-integrantes da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) elaborou um parecer sobre o estudo de Séralini, também solicitando a revisão da liberação do milho transgênico no País. A Comissão, entretanto, se negou a reavaliar o produto e aprovou um contra-parecer, criticando o estudo francês – mas aceitou os dados da Monsanto obtidos a partir de ensaios feitos com a mesma linhagem e com durações mais curtas que a de Séralini et al. (Processo 01200.002293/2004-16, p. 200 e 205).
No sentido contrário, motivada pelos resultados do estudo de Séralini, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) publicou, em setembro de 2012, diretrizes para a realização de estudos de longo prazo com ratos, reafirmando aspectos metodológicos usados por Séralini e sua equipe. Também em decorrência da relevância dos achados dessa pesquisa, a Comissão Europeia publicou edital no valor de 3 milhões de euros para a realização de pesquisas similares.
Mas o mais recente – e duro – ataque ao estudo aconteceu no final de novembro último, quando a revista Food and Chemical Toxicology anunciou a “retirada” do artigo de Séralini.
Segundo a Elsevier, editora da revista, o artigo foi retirado pelo fato de “não ser conclusivo”. O Dr. A. Wallace Hayes, redator-chefe da revista, justificou a retirada com o argumento de que o reduzido número de ratos e a susceptibilidade da espécie de animais utilizada no experimento não permitem extrair conclusões definitivas. A consistência científica, os métodos e os resultados da pesquisa não foram questionados pela publicação.
Segundo observado pela Rede Europeia de Cientistas pela Responsabilidade Social e Ambiental (ENSSER, na sigla em inglês), o redator-chefe da revista não informou quem foram os revisores que o ajudaram a chegar à conclusão de que a revista deveria retirar o artigo, e tampouco revelou os critérios e a metodologia dessa revisão, que prevaleceu sobre a conclusão da revisão por pares original que apoiou a sua publicação. Segundo a ENSSER, “esta falta de transparência sobre como se tomou esta decisão é imperdoável, carente de rigor científico e inaceitável, e suscita suspeitas de que a retirada do artigo seja um favor à indústria interessada, particularmente à Monsanto”.
É preciso também observar que o posicionamento assumido pela revista é contrário ao próprio método científico, pois a ausência de conclusões definitivas é justamente o que motiva o aprofundamento das pesquisas e do conhecimento – e não o contrário. Como também ressalta a ENSSER, segundo as diretrizes estabelecidas pela Comissão sobre Ética Editorial (COPE, em inglês) a falta de resultados conclusivos de uma pesquisa não justifica a sua retirada de publicações científicas – a revista Food and Chemical Toxicology é membro da COPE.
Além disso, é preciso notar que a revista científica manteve publicações anteriores sobre efeito do consumo de milho transgênico realizadas com a mesma linhagem de ratos, realizadas ao longo de apenas 13 semanas e 90 dias.
E um detalhe crucial nessa história e que não pode ser esquecido é que a composição do comitê editorial da revista foi alterada após a publicação dos franceses – justamente para dar lugar a um ex-funcionário da Monsanto, que desenvolveu o milho NK 603. Cabe aqui novamente citar a ENSSER, quando diz que as pesquisas do Prof. Séralini têm hoje mais validade do que nunca, pois até mesmo esta revisão secreta revelou que não existe nenhum erro nas questões técnicas, nem na conduta, nem na transparência dos dados – fundamentos nos quais se baseia a ciência independente, e que a relevância de seus dados será decidida por futuros estudos científicos independentes, e não por um círculo secreto de pessoas.
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Neste número:
1. Fiocruz diz que agrotóxico vinculado a sementes transgênicas causa danos à saúde
2. Helicoverpa já foi confirmada em lavouras de mais nove cidades gaúchas
3. Defensivos de piretroides eliminam inimigos naturais da Helicoverpa
4. Por que somos os campeões no consumo de agrotóxicos?
5. Estudo aponta descontrole com inseticidas
6. Novozymes nega que acordo com Monsanto substituiria transgênicos
7. Bayer e Syngenta tentam derrubar proibição de inseticidas tóxicos a abelhas na Europa
A alternativa agroecológica
Um movimento agroecológico: 20 anos de parceria entre Polo da Borborema e AS-PTA
Concurso de fotografia: Imagens da agricultura familiar camponesa ao redor do mundo
Em 2014, o Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) destacará os múltiplos papeis positivos que a Agricultura Familiar desempenha para as sociedades contemporâneas. Além de ser responsável pela produção de 80% dos alimentos no mundo, conserva ecossistemas e a biodiversidade, produz e reproduz culturas rurais, gera trabalho digno e riquezas sociais que são distribuídas de forma equitativa na sociedade. O Concurso de Fotografia do AIAF-2014 lança mão de expressões visuais visando obter maior reconhecimento e apoio para a Agricultura Familiar Camponesa.
O Concurso Internacional de Fotografia AIAF-2014 convida os participantes a submeter fotografias que representem o lema da campanha Agricultura Familiar: alimentar o mundo, cuidar do planeta. As imagens inscritas no concurso deverão transmitir a força, o potencial e os desafios da agricultura camponesa, em toda sua diversidade e nos mais variados contextos socioambientais.
Um júri formado por Angèle Etoundi, Bernward Geier, S. Jayaraj, Tomás Munita, Deo Sumaj e Jun Virola selecionará as imagens vencedoras. O prazo para o recebimento de fotografias termina no dia 1º de maio de 2014. Mas agradecemos o envio de fotos com antecedência. O anúncio das imagens vencedoras será feito em outubro de 2014.
O Concurso de Fotografia é uma iniciativa da Rede AgriCulturas e do Fórum Rural Mundial, contando com a colaboração da Associação de Agricultores da Ásia (Asian Farmers Association), da Coordenação Latino-Americana de Organizações do Campo (CLOC)/Via Campesina e da Rede Mais e Melhor (The More and Better Network).
Para saber mais e enviar sua fotografia, acesse: www.agriculturesnetwork.org/photocompetition
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1. Fiocruz diz que agrotóxico vinculado a sementes transgênicas causa danos à saúde
Um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz mostra que a maior parte dos estudos conduzidos de 2006 para cá por universidades e institutos aponta o agrotóxico 2,4-D, usado para combater ervas daninhas de folha larga, como causador de danos à saúde humana, animal ou ao meio ambiente. Segundo a pesquisadora e toxicologista Karen Friedrich, responsável pelo levantamento, os resultados contrastam com os encontrados por empresas privadas em relação à substância. Os dados foram apresentados durante audiência pública no Ministério Público Federal (MPF) para discutir a liberação no mercado de sementes transgênicas de milho e soja resistentes a esse tipo de agrotóxico. O MPF e alguns pesquisadores temem o aumento do uso de 2,4-D por produtores rurais caso esses organismos geneticamente modificados sejam autorizados no país.
Para Karen, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria reavaliar a permissão para uso do herbicida no país. Consequentemente, não poderiam, também, ser permitidas as sementes transgênicas resistentes a ele. “Um produto transgênico resistente ao 2,4-D só vai causar o aumento do consumo de um agrotóxico que era para ser proibido. Estudos de pesquisadores isentos mostram relação com danos como má-formação fetal, mutações genéticas, câncer. A maioria foi feita em animais de laboratório, mas alguns em população humana”, destacou a pesquisadora. De acordo com Karen, uma entidade da sociedade civil ou um parlamentar pode encaminhar o pedido de reavaliação à Anvisa. A substância foi reavaliada pela última vez em 2006, e mantida. No entanto, de acordo com a pesquisadora, de lá para cá foram feitas mais pesquisas sobre o 2,4-D.
Karen Friedrich ressalta ainda que a Anvisa enfrenta dificuldades nos processos de reavaliação, que são interrompidos por muitos recursos judiciais. “Em 2008, ela [Anvisa] indicou 14 [agrotóxicos para reavaliação] e ainda não conseguiu terminar a análise de todos. Proibiu quatro, manteve dois e os outros ainda estão aguardando”, informou. No Brasil, diferentemente do modelo adotado em países em que há reavaliação periódica, quando um agrotóxico é registrado, sua autorização é permanente. Ela pode ser revista, no entanto, caso estudos evidenciem que a substância pode trazer riscos à população ou ao meio ambiente.
Outro representante da Fundação Oswaldo Cruz, Luiz Cláudio Meirelles, destacou o fato de que o 2,4-D está na classe dos herbicidas que podem liberar dioxina em seu processo de fabricação. Trata-se de uma impureza suspeita de causar danos reprodutivos de alguns tipos de câncer. Há uma preocupação pelo fato de o Brasil não ter laboratório adequado para medir a dosagem de dioxina na sustância. “Acho que é um produto que, no mínimo, tem que ser descontinuado, caminhando para o banimento.”
Enquanto, na avaliação da Fundação Oswaldo Cruz, o 2,4-D não é adequado para uso, empresas privadas alegam que o herbicida não causa danos, desde que usado da maneira e na dosagem corretas. O médico toxicologista Flávio Zambrone, presidente do Instituto Brasileiro de Toxicologia e consultor da Força Tarefa, grupo formado por quatro empresas – Dow Agrosciences, Atanor, Milenia e Nufarm –, afirma que não há dados conclusivos vinculando o 2,4-D a danos à saúde e ao meio ambiente.
“O perigo é inerente à substância. Mas, se a exposição for em dose segura, não apresenta risco”, disse Zambrone. Segundo ele, o agrotóxico apresentou o mesmo pacote de dados que outros pesticidas e passou por testes em animais antes de ser aprovado no Brasil. “Quando você passa de animais para homens, as doses são em um valor 100 vezes menor.”
Outro argumento favorável ao 2,4-D apresentado toxicologista é que o herbicida está registrado em 70 países e, até o momento, não foi suspenso por eles. Recentemente, houve reavaliação no Canadá e nos Estados Unidos, com manutenção da permissão para o produto. Quanto à dioxina, ele acredita que a ausência de um laboratório que meça a dosagem no Brasil não é motivo para descontinuar o uso do agrotóxico. “É uma impureza séria, mas tem dose segura. Se não temos laboratório, temos que criar ou fazer [o teste da dosagem] fora”, defendeu.
Após a audiência pública de hoje, equipes técnicas do Ministério Público Federal vão redigir pareceres. A partir desse material é que o órgão vai decidir os próximos passos com relação ao 2,4-D e às sementes resistentes ao agrotóxico. Atualmente, estão em curso inquéritos civis instaurados pelo MPF, para avaliar irregularidades na liberação das sementes transgênicas pela Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a segurança da permanência do 2,4-D no mercado brasileiro.
EBC, 12/12/2013 – via Em Pratos Limpos.
2. Helicoverpa já foi confirmada em lavouras de mais nove cidades gaúchas
Thiago Copetti: Cautela é a melhor arma contra a Helicoverpa armigera
A presença da Helicoverpa armigera no Estado [do RS] está levando ao campo um batalhão de agrônomos e outros profissionais ligados a questões fitossanitárias, agora que a lagarta foi detectada em mais nove cidades. Hoje, por exemplo, começam a pegar a estrada rumo ao Interior cerca de 30 servidores só da Secretaria Estadual da Agricultura. Eles seguem para as principais regiões produtoras de soja, onde participarão de encontros com produtores, sindicatos rurais e outras entidades. O trabalho é basicamente falar, falar e falar, repetindo exaustivamente qual é a melhor forma de combater a praga: monitorar e só usar inseticida na forma e nos casos recomendados.
Conversar para esclarecer o sojicultor sobre o uso de inseticida, por sinal, será uma estratégia cada vez mais necessária. Concluído ontem pelo pesquisador Jerson Guedes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o relatório das novas análises de amostras de mariposas recolhidas em armadilhas espalhadas por lavouras gaúchas será encaminhado hoje para o Ministério da Agricultura.
– O resultado deu positivo para mais nove cidades – antecipa o pesquisador, que já confirmou a presença da mariposa da Helicoverpa armigera em 15 cidades gaúchas entre as 47 monitoradas no Rio Grande do Sul.
Diretor de defesa vegetal da Secretaria Estadual da Agricultura, José Candido Motta passou a última semana circulando por diferentes municípios gaúchos e avalia que o produtor gaúcho, em geral, tem seguido o que é recomendado pelos técnicos.
– Estamos nos reunindo com o máximo de produtores para deixar claro que, com monitoramento e atenção às indicações técnicas, a praga é plenamente controlável. Não estamos em situação preocupante. A lagarta se desenvolveu em outras regiões do país por condições que não ocorrem aqui. O uso de inseticida não é solução. Tanto que, mesmo onde foi autorizado o benzoato de emamectina, o produto não foi utilizado. Pelo menos não há registro, até agora, de nenhuma compra legalizada do produto – avalia Motta.
O representante do Estado ressalta, ainda, que ao longo da semana viu exemplos práticos de que seguir o que dizem os técnicos é a melhor forma de combater a lagarta:
– Há produtor que seguiu as orientações, fez uso correto do inseticida e resolveu o caso. Já o vizinho que dobrou a dose e aplicou sem cuidado piorou a situação, acabando com o predador natural da lagarta.
Quem também percorreu o Estado de leste a oeste com a caravana contra a lagarta, na semana passada, foi o entomologista Paulo Pereira, da Embrapa Trigo, de Passo Fundo. Ao contrário do diretor de defesa vegetal do governo do Estado, ele avalia que o produtor tem utilizado inseticidas demais e na hora errada.
– Tem gente fazendo coisas absurdas. O produtor tem que ter calma. Alguns mal ficaram sabendo da presença da lagarta no Estado e já saíram aplicando inseticidas. Alguns, em pânico, estão tomando decisões irracionais. Também há estímulo por vendedores. Ao serem procurados, claro, querem oferecer uma solução. E, com o produtor assustado, a oferta de inseticida é feita e aceita, erradamente – alerta Pereira.
Zero Hora, 16/12/2013.
3. Defensivos de piretroides eliminam inimigos naturais da Helicoverpa
Alguns defensivos utilizados no combate à Helicoverpa armigera mais prejudicam do que auxiliam, pois afastam os predadores naturais dessa lagarta. É o que aponta o engenheiro agrônomo Ricardo Heinz, ouvido pela Rádio Grande Lago AM – 580, de Santa Helena (PR).
“O produtor precisa ter a consciência de que o uso de substâncias pesadas, à base de piretroides, precisa ser eliminado. Isso porque essas aplicações afetam não só as lagartas, mas todo o complexo de organismos que estão vivos nessa área, ou seja, acaba eliminando os inimigos naturais”, explica o especialista.
“Eu presenciei (em pesquisa) vários inimigos naturais que ajudam a combater essas lagartas. Vi algumas delas infectadas por esses predarores que estavam sendo eliminadas exatamente por essa ação desses ‘inimigos’ que estão presentes nas lavouras e favorecem o produtor”, conclui Heinz.
Um piretroide é um composto químico sintético similar às substâncias naturais piretrinas produzidas pelas flores do “filo” Pyrethrum (Chrysanthemum cinerariaefolium e C. coccineum). São comuns em produtos como inseticidas domésticos e repelentes, sendo venenos axônicos que trabalham por manter os canais de sódio abertos nas membranas neurais dos insetos.
Agrolink, 16/12/2013.
4. Por que somos os campeões no consumo de agrotóxicos?
Endosulfan é um agrotóxico usado em lavouras de café e soja que causa distúrbios hormonais e aumenta o risco de câncer. Foi proibido na Alemanha em 1991 e no resto da Europa pouco depois. No Brasil, o endosulfan foi totalmente banido somente em julho de 2013.
Pelos ares, um problema parecido. A pulverização feita por aviões é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, mas, nas fazendas europeias, jogar agrotóxico do céu já faz parte do passado desde 2009. Estudos mostram que, mesmo seguindo todas as recomendações de temperatura e ventos, somente 32% das substâncias despejadas do céu permanecem nas plantas. O restante contamina solo, água e áreas vizinhas às plantações.
Por mais que você faça esforço para acordar cedo e escolher as mais vistosas verduras e frutas da feira orgânica do bairro, os agrotóxicos (ou defensivos agrícolas, como prefere a indústria do setor) estão por toda a parte no Brasil. Resultado de uma política que incentivou o país a se tornar um dos maiores fornecedores de produtos agrícolas do mundo, os químicos encontram no Brasil terreno fértil para se pulverizar.
O país é um dos campeões no consumo de agrotóxicos, o que, segundo a indústria química, não passa de um efeito colateral de um objetivo nobre: aumentar a produtividade das lavouras brasileiras. O setor da aviação agrícola argumenta, por exemplo, que suprimir as baforadas de agrotóxicos reduziria em até 40% a produtividade.
Ninguém discorda dos benefícios do agronegócio eficiente, que traz bons resultados para o Brasil nas exportações e assegura (ou pelo menos deveria assegurar) preços mais baixos nas gôndolas de supermercados. Mas, vistas com lupa, as regras brasileiras sobre o uso de químicos nas lavouras parecem estagnadas no tempo.
Um dossiê de 2012 da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) aponta que, dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras brasileiras, 22 são proibidos na União Europeia, o que faz com que o país seja o maior consumidor de agrotóxicos já banidos em outros locais do mundo, de acordo com a entidade.
Outro documento, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mostra que grande parte do estoque de produtos organofosforados banidos na China em 2007 tem sido enviados ao Brasil.
A consequência: em 2011, um a pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz comprovou que até mesmo o leite materno pode conter resíduos de agrotóxicos. O estudo coletou amostras em mulheres do município de Lucas do Rio Verde (MT), um dos maiores produtores de soja do país. Em 100% delas foi encontrado ao menos um tipo de princípio ativo.
Em algumas, até seis tipos. E em 70% das amostras o endosulfan estava presente. Hoje, é difícil dissociar safras recordes e indústria química, responsável pela fabricação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, que matam e controlam a disseminação de plantas daninhas, insetos e fungos nas plantações.
Só em 2012, 185 milhões de toneladas de grãos foram colhidos no Brasil. Para chegar lá, agricultores têm uma infinidade de opções tecnológicas para evitar perdas de produção: cerca de 1.640 agrotóxicos estão registrados no país. (…)
Leia a reportagem completa da revista Superinteressante, 17/12/2013 na página do MST.
5. Estudo aponta descontrole com inseticidas
Parte dos produtores está deixando para trás as boas práticas de combate ao percevejo, um inseto que ataca as vagens da soja.
Referência mundial na década de 1980 por boas práticas no combate ao percevejo e redução no número de aplicações de inseticidas, o país volta a elevar o número de pulverizações.
Nos anos 1980, o produtor se destacou ao utilizar o chamado “Manejo Integrado de Pragas”, quando reduziu as aplicações de inseticidas de cinco para duas vezes. Agora, as aplicações chegam a até sete por safra.
Os dados fazem parte de estudo feito pela Embrapa Soja em áreas de produtores da cooperativa Coamo. O estudo, feito em lavouras de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, mostra um descontrole nas aplicações de inseticidas no campo.
O resultado traz preocupações tanto econômicas como ambientais. A empresa constatou que os produtores que ainda se utilizam de boas práticas para o controle das pragas necessitam de apenas duas aplicações por safra.
O estudo constatou ainda que é comum a aplicação preventiva de inseticida. “Essas aplicações não resultam em benefícios para a produtividade ou qualidade dos grãos, além de não reduzir a intensidade do ataque da praga na fase crítica da soja”, diz Samuel Roggia, pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pela pesquisa.
Daniel Ricardo Sosa-Gomez, da Embrapa Soja, diz que a aplicação de inseticidas antes do período crítico do ataque dos percevejos elimina os inimigos naturais da praga, favorece o desenvolvimento de insetos resistentes, além de elevar custos.
Esse manejo inadequado por parte do produtor no combate às pragas permite, ainda, o aparecimento de outras espécies que antes eram consideradas secundárias, como lagartas e ácaros.
Roggia diz que a pesquisa apontou que o monitoramento das lavouras dever ser o subsídio básico para o controle da praga. “Há a necessidade do uso de amostragens para o momento correto das aplicações”, diz ele.
Para a pesquisadora Clara Beatriz Hoffmann Campo, da Embrapa Soja, apesar desse certo descontrole no combate à praga, há informações disponíveis para o produtor reverter esse quadro.
Folha de S. Paulo, 06/12/2013.
6. Novozymes nega que acordo com Monsanto substituiria transgênicos
A empresa dinamarquesa de biotecnologia Novozymes negou nesta terça-feira (17/12), que um acordo assinado recentemente com a Monsanto seja um passo para a substituição de organismos geneticamente modificados. As duas empresas anunciaram na semana passada uma parceria na área de pesquisa e comercialização de produtos microbianos sustentáveis [sic].
Segundo o executivo-chefe da Novozymes, Peder Holk Nielsen, microrganismos que ajudam as plantas a crescer ou resistir a pragas são desenvolvidos para aumentar o rendimento, e não para reduzir significativamente o uso de transgênicos.
“Seria errado considerar os microrganismos como uma alternativa”, disse Holk Nielsen em entrevista. “Para aumentar a produtividade, os microrganismos devem ser aplicados tanto em transgênicos quanto em não-transgênicos.”
O executivo disse que a parceria com a Monsanto pode dar um impulso significativo à Novozymes, que pretende ser mais ativa no setor agrícola. Atualmente, a maior parte de sua receita é obtida com a venda de enzimas usadas em produtos de limpeza, como detergentes, e na indústria de alimentos, como na produção de cerveja.
Globo Rural (por Estadão Conteúdo), 18/12/2013.
7. Bayer e Syngenta tentam derrubar proibição de inseticidas tóxicos a abelhas na Europa
ONGs intervêm na justiça em favor da proibição
O Greenpeace Internacional, o Bee Life European Beekeeping Coordination e outras quarto organizações ambientais e de defesa dos consumidores (Pesticides Action Network Europe, ClientEarth, Buglife e SumOfUs) solicitaram intervir ante o Tribunal de Justiça da União Europeia em defesa da proibição parcial a três agrotóxicos em toda a UE, como resposta à ação judicial impetrada pelas empresas químicas Syngenta e Bayer, que querem anular a proibição. O Greenpeace considera esta proibição necessária e que deve ser ampliada dadas as evidências existentes.
“A Bayer e a Syngenta lançaram seus advogados para atacar uma proibição que é cientificamente rigorosa, juridicamente correta e que ajuda a proteger os interesses gerais dos agricultores e dos consumidores europeus. A proibição parcial destes três inseticidas é só um primeiro passo, mas necessário, para proteger as abelhas na Europa. Deve ser defendida dos ataques das empresas que perseguem seus interesses particulares em detrimento do meio ambiente”, afirmou Marco Contiero, diretor de Política Agrícola da UE do Greenpeace.
A proibição, que entrou em vigor em 01 de dezembro, recai sobre três inseticidas produzidos pela Syngenta (tiametoxam) e Bayer (imidacloprido e clotianidina) que pertencem a uma classe de substâncias químicas conhecida como neonicotinoides. A Comissão Europeia adotou a proibição baseando-se nas avaliações científicas da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) que demonstram os impactos negativos destes inseticidas sobre as abelhas. A proibição recebeu um forte apoio político dos governos da UE.
O Greenpeace Internacional publicou em 16 de dezembro os resultados de um estudo científico piloto de campo que proporciona uma prova mais sobre as vias de exposição das abelhas à contaminação. O estudo mostra que a água exudada por plantas cujas sementes tenham sido tratadas com certos neonicotinoides contêm concentrações muito altas destes inseticidas, o que dá lugar a uma exposição potencialmente mortal para as abelhas que bebem este líquido, denominado água de gutação. (…)
Greenpeace Espanha, 16/12/2013.
A alternativa agroecológica
Um movimento agroecológico: 20 anos de parceria entre Polo da Borborema e AS-PTA
20 anos se passaram
Força para os 10 mil anos
Duas datas que casaram
Sabres, vidas e planos
A agricultura camponesa
Bota alimento na mesa
Enfrentando as mudanças
Nos oferecem veneno
Querem nos tornar pequeno
Heranças, doces heranças
Heranças de nossos pais
A semente da paixão
E conto aqui bem mais
Trabalho e mutirão
Nos vendem facilidades
Roubando as capacidades
Tudo em nome da ciência
Mas somos guardiões
Rompendo gerações
Com luta e resistência
“Tudo estava perdido
o poderoso venceu”
Esse ciclo foi rompido
Pois a vida renasceu
Veio com a vivência
Fizemos experiências
Plantando diversidade
E a mulher lutadora
Também foi a vencedora
Pois mostrou sua verdade
20 anos é tão jovem
Pra ter tanta experiência
Mas antes que se aprovem
Buscou-se numa vivência
Que 10 mil anos atrás
Não menos, talvez bem mais
Acumula o saber
Que vem de pai para filho
Que multiplica o brilho
Que vejo acontecer
Tudo estava ali
Por todos bem construído
Armazenando aqui
O saber distribuído
Homem, mulher e até criança
Jovem dentro dessa herança
Hoje mais organizado
Com uma grande batalha
Onde a luta não falha
E tudo é partilhado
Até no mundo criaram
Trabalho de extensão
E ao povo condenaram
Pro seu saber extinção
Por isso que os 20 anos
Com resgates, também planos
Formou grande resistência
Um movimento que está
Com o Polo e AS-PTA
Numa grande experiência
Feliz por participar
Da vitória camponesa
Polo e AS-PTA
Resgata comida na mesa
Com agroecologia
Coloca em sintonia
O nosso sopro da vida
A alimentação saudável
A vida mais agradável
Como uma boa medida
As sementes do saber
É a nossa juventude
E pra água de beber
Temos uma atitude
P1MC e depois
Temos o P1+2
E com muita alegria
Como quero e como queres
Pela vida das Mulheres
E pela Agroecologia
Mas, sementes da paixão
Guardiões da natureza
E quando guarda a ração
Também comer na mesa
Todos experimentando
E o seu saber trocando
Arboriza com energia
Então: viva o conhecimento
Viva esse movimento
Viva a agroecologia!
Euzébio Cavalcanti de Albuquerque
Remígio-PB, 13 de dezembro de 2013
Balanço do Polo da Borborema
AS-PTA, 13/12/2013.
Leia matéria sobre evento de balanço das atividades do Polo da Borborema – PB em 2013 e debate sobre sindicalismo na região.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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