A prática de consorciação de culturas tem se disseminado entre agricultores no estado nigeriano de Kaduna. Após perdas substanciais de colheitas devido ao surto da traça-do-tomateiro em estabelecimentos agrícolas que praticavam a monocultura, os agricultores acabaram reconhecendo os benefícios do cultivo consorciado. O aumento de escala no emprego de práticas de Agroecologia em nível local está sendo realizado de forma autônoma, sem intervenção estatal, por meio da troca de conhecimentos e experiências de agricultor a agricultor.
Ahmed Inusa Adamu
Há dois anos, a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), conhecida localmente como ebola do tomate, devastou a maioria das plantações no estado de Kaduna, bem como em outros estados da Nigéria. Antes desse fenômeno, a monocultura do tomate era a prática dominante.
No entanto, na aldeia de Rafin Guza, uma comunidade de cerca de 500 agricultores periurbanos próxima de Kaduna, vários agricultores tiveram perdas mínimas mesmo com a incidência do inseto-praga. Isso ocorreu porque o tomate não era o único cultivo, sendo a diversificação das unidades agrícolas uma prática tradicional nessa comunidade. Assim, embora os tomates tenham sido destruídos, os agricultores conseguiram colher as demais culturas consorciadas, como a pimenta, a cebola, o jiló, o quiabo, entre outras.
DE AGRICULTOR A AGRICULTOR
A cidade de Kaduna é atravessada pelo rio de mesmo nome. Durante mais de um século, a agricultura urbana e periurbana floresceu ao longo do rio devido ao acesso à água de irrigação e à disponibilidade de esterco. Os agricultores podiam comprar esterco dos muitos nômades da etnia Fulani acampados na periferia da cidade ou de pequenos avicultores da região. Até recentemente, as principais culturas eram o milho, o tomate e o repolho. A maior parte da produção era destinada aos mercados urbanos da cidade.
À medida que os benefícios da consorciação se tornavam mais visíveis, a prática foi se espalhando entre os agricultores da comunidade. Esses agricultores, incluindo vários líderes comunitários, começaram a diversificar seus sistemas de cultivo por conta própria. Raramente receberam visitas de extensionistas e não há até o momento nenhum sinal de que o governo ou outras organizações farão a avaliação de seus resultados. Portanto, eles contaram apenas com a ajuda uns dos outros para descobrir quais práticas eram mais adequadas para alcançar seus objetivos.
DEFINIÇÃO DE INDICADORES PELOS PRÓPRIOS AGRICULTORES
Este sistema de cultivo [consorciação] nos proporciona mais renda e mais alimentos para alimentar nossa família. Isso também nos salva do efeito devastador do ebola do tomate, afirma Adamu Musa, um dos agricultores que adotaram o sistema de consórcio. Segundo ele, vários indicadores são úteis para demonstrar os benefícios de seus sistemas.
- Em primeiro lugar, a consorciação ajuda os agricultores a cultivar uma maior variedade de culturas, o que, por sua vez, permite vender mais alimentos no mercado. O resultado não se traduz apenas no aumento da renda total, mas também na garantia de uma renda constante, já que eles vendem seus produtos ao longo do ano. Um indicador muito claro disso é que Adamu Musa agora envia seus filhos a uma das escolas privadas da cidade. Além disso, mais de 80% da colheita e da venda a varejo de legumes é realizada por mulheres que, como resultado, usufruem dos benefícios do aumento da renda.
- Em segundo lugar, houve uma melhoria na saúde das famílias agricultoras. Muitos agricultores afirmam que suas famílias são mais saudáveis do que antes, pois consomem uma maior variedade de legumes e frutas.
- Em terceiro lugar, os agricultores confirmam que a saúde do solo melhorou. Isso ocorre porque permanece sempre coberto por culturas e, portanto, protegido contra a erosão causada pela chuva, um problema sério durante a estação chuvosa.
- Em quarto lugar, a prática de consorciação também ajuda a controlar outros insetos-praga. Por exemplo, os agricultores relatam que insetos-praga como a lagarta-do-tomate (Helicoverpa armegera) são menos presentes quando há uma maior diversificação dos sistemas de produção.
O PAPEL DOS PESQUISADORES NO AUMENTO DE ESCALA DA AGROECOLOGIA
A experiência dos agricultores, amparada por seus próprios indicadores, justifica seu crescente entusiasmo pelas práticas agroecológicas, como a diversificação através da consorciação. No entanto, na Nigéria, há poucos dados formais sobre o impacto da Agroecologia, assim como há pouco apoio institucional para a sua disseminação. Na verdade, o governo continua a incentivar fortemente estratégias que vão na direção oposta, ou seja, à monocultura e à agricultura dependente de agroquímicos.
Diante desse cenário, os pesquisadores têm um papel importante a desempenhar, no sentido de analisar e desenvolver, em conjunto com os agricultores, sistemas inovadores, como o manejo agroecológico de insetos-praga. Além disso, um marco institucional e políticas públicas favoráveis podem contribuir para que a Agroecologia ganhe cada vez mais terreno, não só entre os agricultores urbanos e periurbanos, mas também entre a população rural da Nigéria.
Ahmed Inusa Adamu
([email protected]) é professor da Faculdade de Agricultura de Samaru, Universidade Ahmadu Bello, Zaria, Nigéria, e doutorando na área de controle ecológico de insetos-praga.
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Agriculturas V14,N1 – Aprendizagem de agricultor a agricultor promove resiliência camponesa na Nigéria