Em Almeria, na Espanha, mais de 40 mil hectares de frutas e legumes são cultivados para abastecer os mercados das regiões norte e central da Europa. Mais de 130 mil trabalhadores, a maioria deles imigrantes, produzem e processam esses produtos em condições precárias.
Desde 2008, vários conflitos eclodiram em função das violações dos direitos dos trabalhadores por parte da empresa de produtos orgânicos Biosol. Mesmo em um contexto sociocultural em que a organização dos trabalhadores é extremamente precária e as leis, na maioria das vezes, se voltam contra eles, os trabalhadores ganharam força, aumentaram a sua capacidade organizacional e ampliaram a base de apoio à sua luta. Dessa forma, conseguiram obter o reconhecimento e o respeito por seus direitos. Essa conquista se deu graças à pressão combinada dos trabalhadores, do sindicato SOC-SAT na Espanha e dos consumidores no norte da Europa sobre a empresa. Cabe destacar a atuação dos consumidores alemães e suíços, que pressionaram os supermercados (Rewe, Coop e Migros) para suspender as compras da Biosol. Essa ação coordenada tornou possível reverter as demissões e concedeu uma compensação financeira aos trabalhadores que foram demitidos da empresa sem receber nenhum direito trabalhista.
O conflito mais recente envolveu seis trabalhadoras, integrantes do SOC-SAT, com contratos permanentes, que foram demitidas da Biosol por participarem de um documentário alemão sobre agricultura orgânica. Durante 14 meses, essas mulheres lutaram por seus direitos por meio de protestos, declarações públicas e uma greve de fome. Nesse caso, a campanha, apoiada por ativistas e consumidores no norte da Europa, conseguiu que a certificação orgânica, emitida pela Biosuisse, fosse suspensa até que os direitos das trabalhadoras fossem respeitados. Dois tribunais civis na Espanha decidiram em favor das mulheres declarando que elas não podiam ser demitidas por expressarem livremente idéias, críticas ou opiniões.
Agora, a atividade sindical do SOC-SAT por trabalhadores da Biosol foi reconhecida pela empresa como legítima. As mulheres realizam suas reuniões sindicais no local de trabalho e abertamente conduzem ações necessárias para continuar a proteger seus direitos e os de outros trabalhadores.
Federico Pacheco
membro do SOC-SAT
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