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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Revista Food and Chemical Toxicology é obrigada a publicar resposta de Séralini
Número 676 – 07 de junho de 2014
Car@s Amig@s,
Em setembro de 2012, a revista científica Food and Chemical Toxicology publicou artigo da equipe liderada pelo professor Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França, relatando dados de experimentos de laboratório conduzidos ao longo de dois anos para testar os efeitos de longo prazo do milho transgênico da Monsanto NK 603 e do glifosato, o herbicida utilizado em associação com o milho modificado.
O estudo, que foi realizado com 200 ratos de laboratório, revelou uma mortalidade mais alta e mais frequente associada tanto ao consumo do milho transgênico, como do glifosato, com efeitos hormonais não lineares e relacionados ao sexo. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais.
Enquanto, de um lado, as revelações tiveram repercussões importantes como a publicação em setembro de 2012, pela Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês), de diretrizes para a realização de estudos de longo prazo com ratos (reafirmando aspectos metodológicos usados por Séralini e sua equipe) e a publicação de edital pela Comissão Europeia no valor de 3 milhões de euros para a realização de pesquisas similares, de outro lado – e como não deixaria de ser – a pesquisa de Séralini motivou uma enxurrada de críticas e acusações.
Vale lembrar que, antes de sua publicação original, o estudo havia passado por todo o rigoroso rito exigido por publicações científicas renomadas, incluindo a chamada revisão por pares. Não obstante, a violência dos ataques contra a pesquisa orquestrados pelas empresas e cientistas defensores da biotecnologia foi de tal ordem que levou a Elsevier, editora da revista, a “retirar” o artigo, mais de um ano depois da sua publicação. Segundo o editor-chefe da revista, Dr A. Wallace Hayes, o artigo foi retirado apenas pelo fato de “não ser conclusivo”. A consistência científica, os métodos e os resultados da pesquisa não foram questionados pela publicação.
Vale lembrar, como dissemos no Boletim 657, que a composição do comitê editorial da revista foi alterada após a publicação dos cientistas franceses – justamente para dar lugar a um ex-funcionário da Monsanto, que desenvolveu o milho NK 603.
Finalmente, em maio de 2014, a editora Elsevier obrigou o editor da Food and Chemical Toxicology a garantir o direito de resposta sobre o caso à equipe de Séralini.
Na resposta publicada os cientistas denunciam a falta de validade científica das razões apresentadas para a retirada do artigo, explicam porque a linhagem de ratos utilizada nos experimentos é apropriada, e descrevem em profundidade os resultados estatísticos relacionando os parâmetros relacionados ao sangue e à urina às patologias hepato-renais e aos tumores mamários.
O editor da revista apenas justificou a retirada da publicação pelo fato de ser impossível concluir pela ligação entre o milho transgênico e o desenvolvimento de câncer – embora a palavra câncer não tenha sido usada no artigo. Nem todos os tumores eram cânceres, embora eles tenham, da mesma forma, levado à morte por meio de hemorragias internas e compressão de órgãos vitais. O Dr. Hayes também havia alegado que 10 ratos por grupo, da linhagem Sprague-Dawley, não permitiam consistência estatística para concluir sobre a toxicidade do milho transgênico e do herbicida Roundup. No entanto, a mesma revista publicou dois outros estudos (Hammond & al., 2004; and Zhang & al., 2014) utilizando o mesmo número de ratos da mesma linhagem e, sem que a consistência estatís tica tenha sido questionada, deixou passar a conclusão de que os transgênicos testados eram seguros.
Segundo o Prof. Séralini, “Somos forçados a concluir que a decisão para a retirada do nosso artigo não foi científica e que o padrão dois pesos e duas medidas foi adotado pelo editor. Esse padrão só pode ser explicado pela pressão das indústrias de transgênicos e agrotóxicos para forçar a aceitação de seus produtos. A evidência mais forte desta interpretação é a indicação de Richard Goodman, ex-funcionário da Monsanto, para o conselho editorial da revista logo depois da publicação do nosso estudo. E o pior é que esse viés pró-indústria influencia autoridades regulatórias como a EFSA que, baseada em estudos medíocres encomendados pelas empresas que querem comercializar seus produtos, emite opiniões favoráveis sobre produtos perigosos, bem como sistematicamente desconsidera as descobertas de cientistas independentes que levantam dúvidas sobre a segurança desses produtos.”
O direito de resposta dado à equipe de Séralini não corrige o absurdo que foi a retirada do artigo pela revista científica. É, contudo, um passo importante para o reconhecimento da validade das descobertas da equipe francesa e também na luta contra as tendências editoriais no padrão dois pesos e duas medidas.
Leia na íntegra o novo artigo de Séralini e sua equipe na revista Food and Chemical Toxicology:
Référence : Séralini, G.-E., Mesnage, R., Defarge, N., Spiroux, J. (2014) Conclusiveness of toxicity data and double standards. Food and Chem. Tox. DOI 10.1016/j.fct.2014.04.018 (article attached).
Com informações de:
Editor of Food and chemical Toxicology is obliged to give Prof. Séralini’s team right of reply after retracting NK603 and Roundup study – GMOSeralini, 19/05/2014
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Neste número:
1. CTNBio libera experimentos a campo com mosca das frutas transgênica e preocupa importadores europeus
2. Agricultor é condenado pela Justiça da França por não usar agrotóxicos
3. Fiscais do Indea-MT recolhem benzoato de emamectina
4. Governo declara estado de emergência contra lagarta em áreas do MA
5. Geraizeiros seguem pelo segundo dia em greve de sede!!
A alternativa agroecológica
Os tesouros e desafios de Rondônia
Dica de fonte de informação:
Olivier De Schutter fala sobre Agroecologia aos participantes do III ENA
A crescente influência da agroecologia na agenda política internacional foi debatida em painel realizado no dia 18 de maio, como parte da programação do III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA). A atividade se iniciou com a apresentação de uma saudação enviada em vídeo por Olivier De Schutter, ex-relator especial da ONU pelo direito humano à alimentação.
Sintonizado com o III ENA, De Schutter afirma que já passamos do momento de nos perguntarmos se a agroecologia é ou não uma opção para o futuro da agricultura e da alimentação. Para ele, frente ao aprofundamento da crise alimentar, essa pergunta já não faz sentido. As questões a serem respondidas são “quando” e “como” a comunidade internacional vai promover a agroecologia como alternativa aos padrões dominantes de produção e consumo alimentar. Em sua opinião, “não podemos deixar que a crise fique ainda pior. Precisamos preparar uma transição, mas a hora de agir é agora”.
Após a exibição do vídeo, seguiu-se um debate o panorama da agroecologia no mundo, com a participação de especialistas do Brasil, Colômbia, Holanda e África do Sul.
Leia mais em: III ENA debate o panorama da agroecologia no mundo
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1. CTNBio libera experimentos a campo com mosca das frutas transgênica e preocupa importadores europeus
A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autorizou, em abril deste ano, a realização de experimentos a campo com mosca das frutas (Ceratitis capitata) geneticamente modificada. Os experimentos envolvem a liberação de milhões de insetos transgênicos em pomares brasileiros. A data para o início dos testes ainda não foi anunciada.
Espera-se que, quando liberados, os insetos transgênicos cruzem com insetos “selvagens” e que as larvas fêmeas geradas por esses cruzamentos sejam incapazes de atingir a fase adulta. Contudo, muitos dos insetos gerados através desse cruzamento morrerão na fase larval dentro das frutas. O objetivo da tecnologia é reduzir a população natural de moscas das frutas, que atacam pomares de diversas espécies. Mas para que se possa atingir este objetivo a proporção de insetos transgênicos no ambiente deve ser 10 vezes maior do que a população selvagem, o que demandaria a liberação de milhões de insetos transgênicos.
O Brasil é um grande exportador de frutas como melão, manga, uva, maçã, mamão-papaia e ameixa, sendo a Europa seu maior comprador. Em 2013 a Inglaterra e a Holanda foram responsáveis por quase dois terços das exportações, seguidas pela Espanha, EUA, Alemanha, Portugal, França, Uruguai, Emirados Árabes, Canadá, Bangladesh, Itália e Argentina.
No Reino Unido, a ONG GeneWatch está divulgando um alerta sobre o fato de que, com a liberação concedida pela CTNBio, as frutas importadas do Brasil poderão conter larvas transgênicas não autorizadas na Europa.
Na Europa vigora a exigência de que alimentos contendo organismos geneticamente modificados tenham sua segurança avaliada e sejam rotulados, embora nenhum procedimento específico tenha sido adotado até agora para identificar a presença de larvas transgênicas em frutas importadas. Além disso, como alerta a ONG, como o mecanismo genético que determina a morte das larvas só afeta as fêmeas, larvas transgênicas macho podem ainda ser transportadas vivas dentro das frutas.
Genetically modified maggots expected in fruit imports after go-ahead for Brazil GM fruit fly experiments – GeneWatch UK, 04/06/2014
2. Agricultor é condenado pela Justiça da França por não usar agrotóxicos
Ele se recusou a usar pesticida para combater doença nos parreirais.
Emmanuel Giboulot teve que pagar pouco mais de R$ 1,5 mil.
A Justiça francesa condenou um agricultor que se recusou a obedecer ao governo e colocar agrotóxico em suas parreiras. Emannuel Giboulot foi acusado de cometer uma infração penal, de não ter obedecido, por escolha ideológica, uma ordem do governo. A atitude é considerada uma espécie de delito do Código Rural.
A França é uma terra de castelos majestosos, que dominam a paisagem, e de lugares antigos com mais de 700 anos. A segunda maior atração da cidade de Beaune é um hospital que resistiu por mais de cinco séculos. O lugar, que funcionou de 1451 a 1971, tem por fora uma arquitetura espetacular. A parte interna é preservada como um museu que mostra como era feito o atendimento.
Beaune é como o epicentro da Bourgogne, uma das duas regiões mais famosas de vinho da França. A bebida é um produto fundamental para a economia francesa, mas que sofre uma séria ameaça. Uma doença muito grave ronda os parreirais. A flavescence doree, conhecida no Brasil como amarelo da videira, é uma doença epidêmica bacteriana. O fitoplasma que circula na seiva leva a doença para toda a planta. A cigarra se alimenta da seiva, voa e espalha a doença. Como não se conhece a cura da doença, a maneira de combate é usar um pesticida para atingir a cigarra.
Emmanuel Giboulot, um dos 500 mil produtores que vivem da viticultura na França, está no começo dessa cadeia econômica, na raiz do processo. Desde 1985, o agricultor passou a produzir um tipo de vinho chamado na França de bio, que é o orgânico no Brasil. O objetivo é praticar uma agricultura o mais respeitosa possível em relação ao meio ambiente. Ele contou que se recusou a praticar o tratamento preventivo que o governo francês obrigava a fazer por achar que usar o pesticida quando as videiras não estavam com a doença seria como envenenar as próprias terras. O produtor foi processado pelo governo. Mais de 20 organizações ecológicas mostraram solidariedade ao agricultor. (…)
Emannuel Giboulot foi acusado de cometer uma infração penal, de não ter obedecido, por escolha ideológica, a uma ordem do governo. A atitude é considerada uma espécie de delito do Código Rural. Ele poderia ter recebido uma pena de até seis meses de prisão e pagar uma multa de 30 mil euros, o equivalente a quase R$ 100 mil. Mas a juíza condenou o agricultor a uma pena quase simbólica. Ele pagou 500 euros, que equivalem a pouco mais de R$ 1,5 mil. Ainda assim, o produtor irá apelar da decisão. (…)
(…) Os parreirais da frança ocupam apenas 4% da área total usada para agricultura, mas são responsáveis por 20% de todos os pesticidas usados no país.
Globo Rural, 18/05/2014
3. Fiscais do Indea-MT recolhem benzoato de emamectina
O Instituto de Defesa Agropecuária do estado de Mato Grosso (Indea-MT) anunciou que seus fiscais recolheram praticamente todos os defensivos [agrotóxicos] que continham o princípio ativo benzoato de emamectina no estado. A apreensão havia sido ordenada em liminar da Justiça Federal expedida no final do mês de abril proibindo o produto utilizado para o controle da [lagarta] Helicoverpa armigera.
O Indea afirmou ainda que tirou de seu site o ‘Termo de Autorização de Aplicação’, um documento para que o produtor rural solicitasse a liberação de importação do agroquímico junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma portaria do Mapa libera a compra do produto, mas o Ministério Público Federal tem empreendido uma verdadeira cruzada contra o benzoato de emamectina em diversos estados brasileiros. (…)
“Cerca de 55 propriedades já tinham adquirido produto, em um total de 41 mil quilos. Nestas propriedades apreendemos 38.800 mil quilos do produto, que foi armazenado em local adequado com registro no Indea. Do total, 2 mil quilos já tinham sido utilizado pelos produtores. É importante ressaltar que o uso foi de forma legal, já que o decreto autorizava o uso, sendo que o manuseio foi feito de maneira correta com a embalagem devolvida na central mais próxima conforme manda a legislação”, explicou Ronaldo [Medeiros, coordenador de defesa sanitária vegetal do Indea].
O Indea aguarda a decisão definitiva da Justiça Federal sobre o defensivo [agrotóxico]. “Encaminhamos toda a documentação e processo para a Procuradoria Geral do Estado. Estamos aguardando para orientar de forma legal os que adquiriram o produto e estão sofrendo com os prejuízos causados pela praga. Mas temos que cumprir a ordem judicial e a legislação”, conclui.
Agrolink, 05/06/2014
N.E.: Saiba mais sobre a autorização para o uso de benzoato de emamectina no Brasil: Portaria libera uso de agrotóxico proibido no Brasil – Em menos de duas semanas, uma lei, um decreto e uma portaria foram aprovados e publicados com o intuito de acelerar o processo de liberação de agrotóxicos não permitidos no país. Por Viviane Tavares – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), 07/11/2013
4. Governo declara estado de emergência contra lagarta em áreas do MA
O Ministério da Agricultura publicou hoje portaria no Diário Oficial da União na qual resolve declarar estado de emergência fitossanitária relativo ao risco de surto da lagarta Helicoverpa armigera nas mesorregiões leste e sul do Estado do Maranhão. A praga provocou prejuízo bilionário aos agricultores, principalmente de soja, na safra passada 2012/13.
O estado de emergência, que tem duração de um ano, possibilitará aos produtores maranhenses importar e usar defensivos agrícolas à base do princípio ativo benzoato de emamectina, ainda não registrados no Brasil, desde que sigam regras determinadas pelo governo, conforme portaria do dia 15 de janeiro deste ano. Eles devem adotar medidas para o manejo integrado da lagarta, como vazio sanitário, áreas de refúgio e destruição de restos das lavouras.
Globo Rural (Agência Estado), 16/05/2014
5. Geraizeiros seguem pelo segundo dia em greve de sede!!
Dezesseis manifestantes afirmam que só vão voltar a comer e beber quando o decreto com a criação da RDS for assinado pela presidenta Dilma Rousseff
Na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, cerca de 120 pessoas de comunidades tradicionais e extrativistas vieram do norte de Minas Gerais a Brasília para reivindicar a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes dos Gerais. A região de 37 mil hectares tem sido alvo de desmatamento e exploração de empresários, o que tem destruído nascentes de água e plantações, de acordo com os representantes das comunidades.
Dezesseis manifestantes começaram greve de fome e de sede na tarde de hoje (4) na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, e afirmam que só vão voltar a comer e beber quando o decreto com a criação da RDS for assinado pela presidenta Dilma Rousseff.
Mais informações sobre o tema:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-06/povos-tradicionais-de-mg-fazem-greve-de-fome-por-criacao-de-reserva
http://racismoambiental.net.br/2014/06/dos-gerais-para-o-planalto-central-geraizeiros-levam-seu-grito-pela-preservacao-dos-cerrados/
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/532033-povos-tradicionais-iniciam-greve-de-fome-e-sede-em-brasilia-por-criacao-de-reserva
Em Pratos Limpos, 05/06/2014
A alternativa agroecológica
Os tesouros e desafios de Rondônia
Localizado a 3.800 quilômetros de Juazeiro (BA), território do III Encontro Nacional de Agroecologia, o estado de Rondônia apresentou suas conquistas e disputas no campo agroecológico, durante as sessões simultâneas, realizadas hoje (17/05). Mais de 50 pessoas acompanharam a apresentação, que teve como ponto de partida a contextualização deste território de mais de 257 mil metros quadrados, caracterizado pela ocupação de migrantes em busca de melhores condições de vida, impulsionados pelo Plano de Integração Nacional (PIN), na década de 1970.
A proposta era baseada na utilização de mão de obra nordestina liberada pelas grandes secas de 1969 e 1970 e a noção de vazios demográficos amazônicos e tinha como lemas “integrar para não entregar” e “uma terra sem homens para homens sem terra”. A falta de planejamento e estrutura para essa população, bem como o fato dessa política desconsiderar as populações tradicionais e o seu modo de viver, acabou gerando conflitos agrários, doenças, desemprego, ocupação de áreas de reservas florestais e indígenas, além de uma grande degradação ambiental.
No entanto, novas histórias de vida e de relação dos homens e mulheres com a terra mostram um Estado diferente, onde suas riquezas naturais são aproveitadas de forma sustentável, integrando o cultivo, comercialização, fortalecimento do saber e da cultura local, favorecendo a permanência do povo na região. “Viajamos 68 horas para estarmos aqui porque acreditamos na agroecologia como uma alternativa para esse modelo de desenvolvimento que está posto”, explica Renata Garcia, da Rede de Agroecologia Terra Sem Males.
Maria Estélia Araújo e Lucimar Monteiro, ambos do Assentamento 14 de agosto, localizado em Jaru (RO), falam com sabedoria como eles e um grupo de mais 10 famílias transformaram o local onde vivem num oásis, através do reflorestamento. “Tem gente que pensa que porque no Norte chove, não temos problemas para plantar. Mas a terra é frágil, precisa de cuidado. Se você for na minha propriedade hoje, verá que parece uma floresta. Bem diferente de como quando chegamos lá”, conta ela.
Todas as famílias trabalham numa mesma área, com um total de 60 alqueires. Eles cultivam frutas tropicais, entre elas: acerola, açaí e pupunha; além de milho, mandioca e feijão, entre outras variedades. O excesso da produção é comercializado na vizinhança e também nos centros de Jaru e Ariquemes.
O trabalho dos assentados não se resume à produção e comercialização dos alimentos. Eles criam pequenos animais que são tratados através da homeopatia. Há também uma preocupação com o fortalecimento da identidade local e com o resgate cultural. “A mídia que está aí diz qual a música que a gente tem que ouvir, o que tem que dançar. Por isso temos um grupo de teatro que já levou para muitos lugares a nossa cultura, a forma como vivemos, falando, inclusive, sobre a agroecologia”, explica Lucimar.
A educação também tem um papel fundamental para a consolidação da agroecologia no território. Além das escolas dentro das comunidades, Rondônia possui seis Escolas Família Agrícola (EFAs), abrangendo 20 municípios. Baseadas no regime de alternância e com uma disciplina específica sobre agroecologia, as EFAs permitem que os alunos coloquem em prática o que vêm aprendendo no universo escolar.
Todas essas iniciativas são acompanhadas pelo Projeto Pe. Ezequiel, criado pela Diocese de Ji-Paraná, em 1988. Até hoje o projeto desenvolve atividades relacionadas à agricultura familiar, saúde, educação popular e crianças e adolescentes.
Uma proposta inovadora para fortalecer a comercialização
Uma situação comum nas pequenas feiras agroecológicas é a ausência de moedas de pequeno valor para passar troco aos clientes. Quem vai para Feira de Produção Agroecológica da Agricultura Camponesa (Fepac), em Mirante da Serra (RO), pode se surpreender com a saída encontrada pelos feirantes para resolver esse problema.
Eles criaram o “caixa comum”. Na feira, que funciona todas às quartas-feiras, a partir das 16h30, os clientes depois de escolherem seus produtos, dirigem-se a um único caixa, de posse apenas de uma ficha, contendo a indicação do feirante que vendeu o produto e o valor devido. “Dessa forma, acabamos com os problemas relacionados a falta de dinheiro trocado, pois o caixa único possibilita que sempre tenhamos troco. Além disso, essa estratégia contribuiu para fortalecer nosso processo organizativo”, explica Edemar Ezequiel de Almeida, um dos coordenadores da Feira.
Ele explica que, ao final da feira, todos os comerciantes precisam se dirigir ao caixa-comum para receber o valor correspondente ao apurado pelo sua barraca no dia e “ainda aproveitamos esse momento para fazer reuniões e tomar encaminhamentos”, conta.
Participam da feira 23 produtores e produtoras, que contribuem com uma mensalidade e também uma quantia não determinada a cada semana. Edemar salienta que o valor é de acordo com o apurado e com o desejo de cada comerciante. “Normalmente, deixamos os centavos para o caixa-comum. Se eu tenho que receber R$ 240,50, deixo os R$0,50 para o caixa”, explica.
A Feira de Produção Agroecológica da Agricultura Familiar chega a movimentar R$ 20 milhões por ano.
Os indígenas e o caso das PCHs
Ainda existem muitos desafios e conflitos a serem superados em Rondônia, principalmente aqueles que agridem e violam os direitos das populações indígenas. No estado vivem 56 etnias, entre elas os Tupari, Arara, Ororam, Zoró e Gavião, que são acompanhados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Além desses, outros 16 povos indígenas vivem isolados nas florestas.
Além dos recorrentes conflitos agrários, alguns povos indígenas vêm sendo ameaçados pela construção de Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs), na região de Alta Floresta do Oeste, mais especificamente na bacia do Rio Branco, afluente do Rio Guaporé. Com esta série de PCHs, o Rio Branco teve seu curso fortemente afetado, o que gerou vários impactos: as águas baixaram; morreram peixes, tracajás e outros animas; a navegação ficou comprometida; além de outros prejuízos ambientais. Os índios que vivem na região nunca foram consultados sobre os empreendimentos nem tiveram compensações dos prejuízos sofridos.
Com o objetivo de alertar a sociedade para os impactos socioambientais decorrentes da implantação dessas PCHs e provocar o debate em torno do tema, foi produzido o documentário: “O Canto da Esperança do Rio Prisioneiro”. O vídeo, produzido pela Verbo Filmes com o apoio da SAAP/FASE-RJ, recolhe posicionamento de autoridades e o testemunho de algumas famílias de pequenos agricultores e lideranças indígenas sobre os impactos causados pelas PCHs, que foram licenciadas de forma individual, porém que unidas na mesma bacia têm provocado grandes impactos na região, comparáveis aos de uma grande hidrelétrica.
“O Canto da Esperança do Rio Prisioneiro” está disponível na internet: https://www.youtube.com/watch?v=fgTHJf0QgfM
Articulação Nacional de Agroecologia (por Fernanda Cruz, da Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA), 17/05/2014
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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