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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 166 – 04 de julho de 2003
Car@s Amig@s,
Grande imprensa distorce efeitos das novas regras européias para produtos transgênicos
A grande imprensa de quase todo o mundo noticiou a aprovação das novas regras de rotulagem para alimentos transgênicos da União Européia (UE) como a derrubada das resistências do bloco ao cultivo e ao consumo destes produtos.
“Agora será suspensa moratória que proíbe os transgênicos na Europa desde 1999”, divulgaram quase todos os veículos de comunicação do Brasil e do mundo.
É verdade que a suspensão das avaliações para liberação de novas variedades transgênicas deverá cair — o que de maneira nenhuma significa que os transgênicos passarão a ser comercializados e consumidos na Europa facilmente.
Não é à toa que os Estados Unidos (incluindo a Associação Americana de Produtores de Soja – ASA), a Argentina e as indústrias de biotecnologia criticaram duramente a normativa e estão defendendo que os EUA levem adiante a disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a União Européia (iniciada em maio deste ano, acusando o bloco de usar barreiras comerciais para impedir a importação de transgênicos).
Há dois anos o Parlamento Europeu vem elaborando as novas regras de rotulagem e rastreabilidade para alimentos de origem transgênica. Em 02 de julho último (quarta-feira), o Parlamento Europeu votou a proposta que já havia sido avaliada pela Comissão Européia, pelo Conselho de Ministros de Meio Ambiente e pelo Conselho de Ministros de Agricultura. Esta foi a segunda leitura da proposta pelo Parlamento. Agora só falta a confirmação pelo Conselho de Ministros, tida como certa e esperada ainda para o mês de julho. As novas regras devem entrar em vigor em setembro e as empresas deverão ter um prazo de seis meses para se adaptarem.
Pelas novas regras, todos os produtos alimentícios, incluindo as rações animais, deverão informar no rótulo a presença de ingredientes transgênicos acima do limite de 0,9%, com os dizeres “Este produto foi produzido a partir de Organismos Geneticamente Modificados”.
Para os produtos transgênicos cuja comercialização não tenha sido aprovada ou avaliada pela UE, este limite será de 0,5% durante os próximos três anos. Após este prazo, será proibida a comercialização de alimentos que os contenham.
O Parlamento aprovou também regras para a rastreabilidade dos produtos transgênicos desde a origem. Eles terão que ser segregados e identificados desde a propriedade rural, até o produto industrializado na prateleira do supermercado — o que os europeus chamaram de “identificação da fazenda ao garfo”. Todas as etapas de transporte e processamento terão que atestar a presença de transgênicos, especificando inclusive a(s) variedade(s) transgênica(s) presente(s) e suas quantidades.
Isto permitirá que os produtos altamente processados, como óleo de cozinha, margarinas e biscoitos, por exemplo, cuja detecção da origem transgênica dos ingredientes não é possível através dos métodos laboratoriais existentes, sejam também rotulados.
A indústria agrícola americana está vendo o novo sistema de rastreabilidade e rotulagem da UE como uma barreira potencialmente maior para o comércio do que a moratória informal sobre autorizações para alimentos transgênicos.
“Várias vezes ao longo dos últimos cinco anos, a UE prometeu começar a aprovar produtos transgênicos em datas próximas, e isto não aconteceu”, disse Bob Stallman, presidente Federação Americana de Agricultura (American Farm Bureau Federation), a maior organização de agricultores nos EUA, em nota divulgada no site da entidade. “Baseados nos fatos passados, não estamos confiantes de que este recente ato do Parlamento Europeu levará a qualquer melhoria no acesso ao mercado para produtos biotecnológicos”.
Segundo a organização, “Com estas novas regras a UE apenas fez uma situação ruim ficar pior”. A entidade está pedindo à administração Bush para continuar a “conduzir agressivamente” o processo contra a UE na OMC.
A Associação Americana de Produtores de Soja (American Soybean Association – ASA) “expressou sua frustração” também em seu comunicado. “A UE decidiu adotar novas regras sobre a rastreabilidade e a rotulagem obrigatórias de produtos transgênicos e derivados que irão restringir ainda mais o acesso para a soja americana e seus produtos derivados”, diz a nota.
“A UE alega que estas novas regras irão de alguma maneira restaurar a confiança dos consumidores e permitir o direito de escolha sobre o que eles comem. Para perceber a hipocrisia desta alegação, basta entender que a maior parte das indústrias alimentícias já declarou publicamente que não colocará ‘rótulos de transgênicos’ em seus produtos. Como estas regras darão aos consumidores europeus o ‘direito de escolher’ se os produtos contendo ingredientes transgênicos serão eliminados das prateleiras das lojas?”, continua a nota da ASA.
“Na Europa existe uma clara tendência entre os consumidores de evitar os produtos com o rótulo de transgênico, portanto existe uma clara pressão sobre os produtores para que assegurem que não utilizam transgênicos e que não usarão o rótulo”, disse um oficial da indústria alimentícia alemã Ahold, a terceira maior varejista de alimentos do mundo (Reuters, 03/07).
Ainda segundo a Reuters, “A gigante suíça Nestlé disse que não venderá produtos geneticamente modificados em países onde os consumidores se opõem a eles e que a nova regra não mudará isto” (no Brasil, apesar de a Nestlé ter afirmado tomar medidas para evitar a contaminação com transgênicos em seus produtos, em abril de 2003 a ONG Greenpeace encontrou 60% de soja transgênica Roundup Ready, da Monsanto, na ração para cães da empresa, comercializada com a marca Alpo – Purina).
Segundo o jornal britânico The Guardian, pesquisas de opinião mostram que 70% dos europeus rejeitam alimentos transgênicos e 94% querem poder escolher entre consumi-los ou não.
Outro artigo extremamente importante aprovado pelo Parlamento dá aos governos nacionais o poder de determinar regras adicionais para a “coexistência” entre cultivos transgênicos e convencionais, de modo a prevenir a contaminação por polinização cruzada. A Alemanha, a Itália, a Dinamarca, a Suécia e a Holanda já estão elaborando suas próprias regras. Segundo o The Guardian, “considerando que cientistas franceses relataram no último mês que sementes de beterraba açucareira transgênica foram encontradas em plantas silvestres a uma milha de distância, o cultivo de variedades transgênicas deverá permanecer severamente restrito”.
Segundo o jornal francês Le Monde (02/07), “A porta européia será aberta com tanta prudência que os parlamentares europeus colocaram uma nova mina no arsenal de obstáculos que tentam ultrapassar os partidários dos transgênicos (…). Os parlamentares aprovaram uma medida para incitar que cada Estado membro tome suas medidas a fim de limitar os riscos da contaminação (de cultivos não transgênicos pelos transgênicos, através da polinização). (…) Está claro que um espaço foi aberto aos diferentes países para as novas discussões e bloqueios aos transgênicos: seu cultivo será interditado até que uma legislação nacional sobre a coexistência seja adotada. Tudo dependerá agora da atitude dos governos e do peso da opinião pública”.
A coodenadora da ONG Amigos da Terra, Geert Ritsema, declarou que “Esta nova legislação representa um passo importante na direção certa e permitirá aos países tomar medidas para proteger nossa alimentação e nossa agricultura da poluição genética. Ela também proporcionará aos consumidores e agricultores mais informações, de forma que eles poderão escolher entre fazer ou não parte do maciço experimento transgênico das indústrias multinacionais. Mas há ainda algumas lacunas na legislação, especialmente sobre a responsabilização. A UE precisa tornar as empresas de biotecnologia responsáveis pelas suas ações antes que qualquer cultivo transgênico seja aprovado”.
A nota da Associação Americana de Produtores de soja citada anteriormente diz também que “a obediência às novas regras de rastreabilidade pelos exportadores e processadores de alimentos será difícil, onerosa e impraticável”.
Mais uma vez afirmamos: se o Brasil permanecer livre de transgênicos, terá o mercado de exportação garantido para a Europa. Se liberar estes produtos, além de perder a preferência do mercado, competirá em caráter desigual com os EUA, que têm sua produção subsidiada e muito melhores condições de implementar e arcar com a rastreabilidade exigida.
Agência da ONU aprova acordo sobre métodos de avaliação de transgênicos
O Codex Alimentarius, agência das Nações Unidas para parâmetros alimentares, aprovou, em 01 de julho, em Roma, parâmetros para a avaliação da segurança dos alimentos transgênicos.
O Codex é uma instância que envolve a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), além de ser o órgão de referência científica da OMC (seus parâmetros podem ser usados para resolver disputas comerciais).
Os três documentos aprovados fornecem diretrizes para a avaliação da segurança de plantas alimentares transgênicas, como milho e soja, e de microorganismos transgênicos, usados na produção de queijo e cerveja. Eles determinam procedimentos detalhados para determinar se um alimento transgênico contém novas toxinas ou substâncias alergênicas, se é alterada nutricionalmente, ou exibe efeitos inesperados.
Nestas diretrizes os delegados dos governos no Codex incluíram o princípio da rastreabilidade como ferramenta para a gestão do risco.
Segundo Julian Edwards, Diretor da ONG Consumers International, que representa mais de 250 organizações de consumidores em 110 países, “Estes parâmetros são uma tremenda vitória para os consumidores, para a ciência, para a boa regulamentação e para o senso comum”.
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Comissão Interministerial que elabora PL do governo ouve indústrias de transgênicos, Ministério Público e SBPC
Hoje (04/07) a Comissão Interministerial do governo que está encarregada de elaborar o Projeto de Lei que deverá ser enviado ao Congresso Nacional em agosto regulamentando os transgênicos no país realizou reunião para ouvir as propostas das indústrias de biotecnologia, da SBPC — Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do Ministério Público Federal.
Esta comissão é composta pelos ministérios de Agricultura, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Saúde, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Segurança Alimentar, Relações Exteriores, Justiça e Casa Civil.
No dia 11 de julho a comissão ouvirá as propostas do setor produtivo, que envolve agricultores, empresas sementeiras, indústrias de processamento e indústrias alimentícias.
No dia 18 de julho serão ouvidas as ONGs e movimentos sociais, inclusive os que fazem parte da Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos, e o Consea — Conselho Nacional de Segurança Alimentar.
O Ministério de Ciência e Tecnologia foi designado pela Casa Civil a elaborar a primeira proposta de PL, que servirá como base para os outros ministérios. O MCT já finalizou sua proposta e já a encaminhou aos outros ministérios, que estão elaborando suas contribuições.
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Neste número:
1. Reação à Monsanto – Governador quer desapropriar multinacional e ministro aciona a AGU
2. EUA punem Egito pela oposição aos transgênicos
3. Projeto de lei não será enviado ao Congresso no prazo previsto em acordo
4. Aprovada na Austrália lei que proíbe os cultivos transgênicos
5. Quimeras humanas provocam indignação
6. Mudanças na Constituição Francesa – Princípio da Precaução será considerado
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Espaço Agroecológico em Recife – PE
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1. Reação à Monsanto – Governador quer desapropriar multinacional e ministro aciona a AGU
Grãos livres
Exportadores ameaçados por cartas da companhia receberam apoio oficial. Diante da movimentação da multinacional americana Monsanto para punir agricultores com inspeção, testes e retenção da soja brasileira em portos do exterior, as autoridades reagiram com atitudes fortes. O governador do Paraná, Roberto Requião, anunciou na segunda-feira 23 a intenção de desapropriar a fazenda de 43 hectares da companhia em Ponta Grossa, usada como estação experimental para a modificação genética de sementes. Ele tomou a decisão a partir da revelação pela DINHEIRO das cartas enviadas pela companhia a importadores de soja brasileira com a ameaça de retenção do produto. “Quero transformar a fazenda em uma unidade experimental orgânica”, afirmou o governador Requião.
Dirceu: Endurecimento nas leis contra os transgênicos.
Em Brasília, o ministro-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, acionou a Advocacia Geral da União (AGU) para tomar providências legais contra a ação da companhia. “As cartas são uma molecagem”, classificou o secretário executivo do órgão, Swedenberger Barbosa. Aguarda-se para os próximos dias um pronunciamento do titular da AGU, Álvaro Augusto Ribeiro da Costa. “Podem ter certeza que a legislação dos transgênicos será cumprida”, garantiu o ministro Dirceu. “O presidente Lula acompanha de maneira pessoal e apaixonada esta questão.”
Requião: Fazenda de 43 hectares vai servir para experimentos orgânicos
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, criticou a pressão da companhia americana sobre os agricultores brasileiros. “É muito estranho a Monsanto aparecer com cobranças sobre agricultores já que o plantio de sementes geneticamente modificadas é ilegal no Brasil”, diz ela a respeito da intenção da companhia de cobrar royalties dos agricultores que colheram soja transgênica. “Espero que esse episódio sirva de sinalização para os produtores de como será o relacionamento com a empresa se ela puder comercializar seus produtos por aqui”. Nos Estados Unidos, a Monsanto está processando 75 agricultores por violação de propriedade intelectual. Eles são acusados de usar sementes geneticamente modificadas pela empresa sem pagar royalties a ela. “O que está acontecendo no Brasil não me surpreende”, afirmou em Washington o diretor jurídico da ONG Center for Food Center (Centro de Segurança Alimentar), Joe Mendelson. “Aqui, ao negociar os acordos de royalties com os produtores, ela força os agricultores a comprarem outras mercadorias de sua marca.” O secretário executivo do Ministério da Agricultura, José Amaury Dimazio, acredita que os interesses da Monsanto no País ficaram enfraquecidos. “O fato da Monsanto cobrar royalties ajuda a afastar os agricultores dos transgênicos”, avalia.
Procurada pela DINHEIRO, a Monsanto sustentou em carta que é seu direito cobrar royalties sobre a soja transgênica afirmando que a do tipo Roundup Ready, modificada geneticamente, foi desenvolvida pela empresa após anos de pesquisas e investimentos. Neste sentido, acreditam seus executivos, a companhia teria direito de propriedade intelectual garantida pelas leis brasileiras. “A carta enviada pela Monsanto aos importadores não é, de forma alguma, qualquer tipo de intimidação, mas um esclarecimento a respeito do direito legítimo e reconhecido da empresa em cobrar pela tecnologia desenvolvida”, escreveu à DINHEIRO o diretor de Comunicação da Monsanto, Lúcio Pedro Mocsányi. Esta argumentação é falha. A lei brasileira de patentes só pode ser aplicada sobre produtos legalizados. A soja transgênica foi cultivada ilegalmente a partir de sementes contrabandeadas da Argentina. A carta também não explica por que a correspondência enviada aos importadores não fazia discriminação entre soja pura e transgênica, deixando entender que ameaçava toda a produção brasileira de 55 milhões de toneladas anuais de grãos de inspeção e retenção nos portos internacionais. Calcula-se que, de toda esta soja, menos de 30% tenha sido colhida a partir do cultivo de sementes modificadas.
O Brasil não é único palco de polêmica com a Monsanto
Ambientalistas queixam-se de uma estratégia padrão da multinacional, na qual a companhia coloca sementes de transgênicos num determinado país, altera os plantios convencionais e depois passa a cobrar royalties dos produtores. “Quem não paga, vê seu nome na justiça”, afirma Mariana Paoli, diretora para Transgênicos do Greenpeace. Na África do Sul, sementes modificadas de algodão, soja e milho entram no país sem que os produtores precisem pagar a taxa de tecnologia. Ficam, assim, com o preço até 200% mais barato. Mais tarde, porém, eles enfrentam problemas de comercialização internacional, impedidos de vender seus produtos aos países que não aceitam transgênicos.
Istoé Dinheiro, 02/07/03.
2. EUA punem Egito pela oposição aos transgênicos
A administração Bush continua punindo países que considera não estarem ao lado dos Estados Unidos. Agora foi a vez do Egito, tradicional parceiro no Oriente Médio. Washington decidiu congelar as discussões sobre a área de livre comércio, por causa de uma reviravolta do Cairo na briga dos OGM (Organismos Geneticamente Modificados).
O Egito tinha decidido ficar ao lado dos EUA, numa denúncia contra a União Européia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC), por causa da proibição européia de importar produtos com OGM. Ocorre que o Egito não resistiu à forte pressão da União Européia, com a qual tem 40% de seu comércio total. Na semana passada, acabou retirando seu nome do grupo, deixando na briga apenas os EUA, Canadá e Argentina*.
A retirada egípcia foi uma derrota diplomática americana. A retaliação não tardou. O jornal “Financial Times” conta que a dura mensagem do atraso do acordo bilateral e suas razões, foi dada por Robert Zoellick, negociador-chefe comercial americano, a uma delegação do Egito.
Recentemente, num encontro de ministros de Comércio no Egito, Zoellick já manifestara o mau humor americano. Indagado por um jornalista egípcio sobre o acordo bilateral, retrucou, segundo testemunhas, que o Egito ainda precisa fazer mais para merecer o entendimento que melhoraria seu acesso ao mercado norte-americano, o maior e de maior consumo do planeta. (…)
Gazeta Mercantil, 03/07/03.
* N.E.: Estes três países concentram 95% da área plantada com transgênicos no mundo. Em quarto lugar vem a China, com 4% (a China não produz nenhum alimento transgênico, a produção geneticamente modificada se restringe ao algodão Bt — tóxico a insetos).
3. Projeto de lei não será enviado ao Congresso no prazo previsto em acordo
O governo quer prazo maior para enviar ao Congresso proposta que reformula a Lei de Biossegurança. Para aprovar a Medida Provisória 113, que liberou a venda da safra de soja transgênica ilegal deste ano, o governo acertou com parlamentares que mandaria um projeto de lei sobre biossegurança em 30 dias.
A secretária-executiva da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Eliane Moreira, em nome da Casa Civil, disse ontem a deputados da Subcomissão Especial para Analisar a Situação dos Alimentos Transgênicos que o prazo de um mês acertado com o legislativo é insuficiente.
— É necessário que se esgote todo o diálogo necessário. A pressa poderá fazer com que se comece tudo de novo — advertiu Eliane aos parlamentares.
A secretária informou que tem autorização da Casa Civil para defender a revisão do prazo. Não quis adiantar, porém, quanto tempo ainda será necessário. A pressa, na sua avaliação, poderá levar à aprovação de uma lei que não resolva o problema da transgenia no Brasil.
Eliane informou que um grupo interministerial está discutido a nova proposta para simplificar e harmonizar o processo. O que não significa dispensar todas as exigências necessárias. (…)
Zero Hora, 27/06/03.
4. Aprovada na Austrália lei que proíbe os cultivos transgênicos
O plantio comercial de cultivos transgênicos em New South Wales, na Austrália, terá uma moratória de três anos de acordo com a lei aprovada ontem (17/06), na Câmara dos Deputados.
O ministro da Agricultura e Pesca, Ian Macdonald, disse que a aprovação da lei foi uma vitória para os produtores e consumidores, e disse: “Esta lei é o cumprimento dos compromissos de campanha e do mandato sobre transgênicos deste governo”. A lei teve o apoio da Associação dos Produtores de NSW.
Ambas as casas do Parlamento debateram o assunto longamente.
Australian Associated Press/Sydney Morning Herald, 18/06/03.
5. Quimeras humanas provocam indignação
Clínica dos Estados Unidos desenvolveu embriões meio masculinos meio femininos para experiência genética
Uma experiência para criação deliberada de embriões humanos hermafroditas foi considerada ultrajante ontem, num congresso internacional sobre reprodução humana, em Madri.
Os embriões-quimera, como foram chamados, foram formados por meio da implantação de um recém-concebido embrião masculino num embrião feminino de três dias. Os embriões resultantes eram parte masculinos e parte femininos e poderiam, potencialmente, se desenvolver num feto.
Norbert Gleicher, da clínica Fundação para Medicina Reprodutiva, em Chicago, líder da equipe que fez a experiência, disse que as quimeras podem ser úteis para estudar doenças genéticas. Porém, cientistas presentes à reunião anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, em Madri, condenaram amplamente a experiência, que ameaça a reputação da pesquisa na área. (…)
Gleicher e seus colegas criaram 12 embriões-quimera. Foram usados embriões de três dias, período em que consistem de apenas oito células-tronco muito primitivas. (…)
O que são quimeras
O nome científico dado aos embriões hermafroditas criados em laboratório (embriões-quimeras) é uma alusão ao monstro da mitologia grega com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão.
Quimeras humanas podem ocorrer naturalmente, quando embriões gêmeos se fundem no útero logo após a concepção. Os bebês resultantes contêm material genético de ambos os embriões. Se os embriões forem de sexos diferentes, os bebês poderão parecer meninos, mas terão características de ambos os sexos.
Quimeras animais, como misturas de ovelhas e cabras, já foram criadas por cientistas.
O Globo, 03/07/03.
6. Mudanças na Constituição Francesa – Princípio da Precaução será considerado
No segundo semestre, os franceses deverão modificar sua Constituição para nela introduzir o conceito de proteção ambiental. Se a proposta capitaneada pelo presidente Jacques Chirac for aprovada sem grandes modificações, a noção de direito a um ambiente saudável entrará já no preâmbulo da Carta, logo depois das referências à Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1789, e aos direitos econômicos e sociais, do texto de 1946.
Pela proposta, afirma-se o direito a um ambiente — “patrimônio comum dos seres humanos” — equilibrado, saudável e protegido. Mais do que isso, o texto sugerido torna a proteção ambiental “norma que se impõe a todos, poderes públicos, jurisdições e sujeitos de direito”. O projeto também consagra o chamado princípio da precaução, isto é, a noção de que, quando houver dúvida, ainda que pequena, sobre os efeitos de uma determinada medida, deve-se optar pela solução que resguarde o meio ambiente.
A preocupação de Chirac e dos franceses é certamente justificável. A colocação do problema é precisa. Depois dos direitos individuais, também chamados de direitos de primeira geração, e dos sociais (segunda geração), é preciso mesmo voltar a atenção para outras áreas. São os casos do direito a um ambiente íntegro, que alguns autores chamam de terceira geração, e ao patrimônio genético (quarta geração). (…)
Folha de São Paulo, 30/06/03.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Espaço Agroecológico em Recife – PE
Venda garantida da produção e retorno financeiro sem atravessador. Talvez duas das maiores dificuldades da agricultura familiar têm sido resolvidas por agricultores ecológicos de Bom Jardim, Abreu e Lima, Chã Grande, Gravatá, Sirinhaém, Ribeirão, Glória do Goitá e Lagoa de Itaenga, municípios do Litoral, Zona da Mata e Agreste de Pernambuco, com a criação e crescimento do Espaço Agroecológico no Recife.
Funcionando todos os sábados em dois bairros de classe média — Graças (desde 1997) e Boa Viagem (há seis meses), o Espaço Agroecológico reúne a produção de 60 famílias, todas envolvidas em alguma associação, sendo esta inclusive uma condição para participar do Espaço. Além do atendimento no local, o Espaço lançou há um mês o serviço de entrega em domicílio, que ainda está em fase de experiência, abrangendo Olinda, o centro de Recife e proximidades dos bairros onde fica a feira. São seis entidades envolvidas no trabalho: Centro Sabiá, Associação dos Agricultores e Agricultoras Agroecológicos de Bom Jardim (Agroflor), Amigos do Meio Ambiente (AMA), Gravatá, Terra Viva e o Serviço de Tecnologias Alternativas (Serta), de Glória do Goitá.
Para os agricultores que comercializam no Espaço Agroecológico, este tem sido o principal mercado para escoar a produção. O Espaço das Graças movimenta 20 mil reais por mês, dos quais 25% são despesas com transporte e infra-estrutura. A renda média das famílias fica em torno de dois salários mínimos por mês, sendo que 10% delas já atingem até cinco salários mínimos. De acordo com o agente de comercialização, Marcelino Bezerra de Lima, a participação do agricultor no Espaço “provoca uma mudança econômica nas condições de vida, melhora sua auto-estima, fazendo-o se realizar e se reconhecer como agricultor”.
Cerca de 140 itens são oferecidos, como hortaliças, legumes, frutas, tubérculos, cereais, mel, própolis, sucos, bolos, bolachas, pastéis e doces. Segundo Marcelino, “a relação com o público consumidor é diferenciada, não é uma simples comercialização. Ao comprar o produto, nosso cliente apóia uma proposta de vida, a melhoria do meio ambiente e da agricultura familiar. O nome Espaço tem esse sentido”. Eventualmente, os clientes são convidados a participar de assembléias das associações e a visitar os roçados.
Adaptado de Dois Dedos de Prosa. Recife: Sabiá, julho/2002.
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
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