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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 206 – 30 de abril de 2004
Car@s Amig@s,
Enquanto o projeto de lei que visa regulamentar a pesquisa e a comercialização de transgênicos no país continua parado no Senado, as falsas promessas das indústrias de biotecnologia vão caindo por terra. As experiências da Argentina e da Espanha vêm demonstrando a inviabilidade da agricultura baseada nas sementes transgênicas.
Conforme artigo publicado na revista New Scientist de 17 de abril de 2004, em apenas seis anos a área cultivada com soja na Argentina cresceu mais de 74%. À custa deste incremento, culturas como milho, trigo e arroz perderam espaço. Os produtores do entorno dessas áreas que mantiveram seus sistemas diversificados de produção têm sido fortemente afetados pelo monocultivo massivo da soja.
A pulverização de herbicidas feita através de aviões acaba por banhar as propriedades que ficaram ilhadas em meio a mares de soja, aniquilando cultivos e animais e prejudicando gravemente a saúde das pessoas expostas à situação.
Ainda segundo o artigo, a monocultura associada a um único método de controle de plantas espontâneas (também chamadas de ervas daninhas), baseado na utilização de um herbicida, o Roundup, tem gerado graves conseqüências à agricultura argentina. Diferentes plantas já adquiriram resistência ao produto, e agora os produtores da soja transgênica aplicam mais que o dobro de herbicidas que os agricultores convencionais. Também em decorrência do desenvolvimento de resistência nas plantas invasoras, esses agricultores têm sido induzidos a usar misturas com produtos mais fortes, inclusive alguns à base de paraquat, ingrediente proibido em vários países.
A própria soja transgênica já está sendo considerada planta daninha, pois os resíduos da colheita brotam e crescem espontaneamente nos campos e não morrem com a aplicação do Roundup. Empresas como a Syngenta, através de campanhas publicitárias, estão estimulando agricultores a aplicarem misturas de outros herbicidas antes do plantio.
Essas pesadas dosagens de agrotóxicos aplicadas às áreas de cultivos transgênicos têm reduzido drasticamente a atividade biológica dos organismos que habitam o solo. Nas áreas de soja transgênica essa “esterilização” do solo tem afetado a decomposição da matéria orgânica, que devolve nutrientes ao solo, e tem aumentado a incidência de doenças causadas por fungos que atacam raízes.
A Espanha é o único país da União Européia que cultiva transgênicos em escala comercial. Lá o milho transgênico da Syngenta, tóxico a lagartas, vem sendo cultivado desde 1998. Além de produzir cerca de 25% menos que a variedade convencional topo de linha, entre 1998 e 2000 não houve diferença entre variedades convencionais e transgênicas em relação ao ataque de lagartas (Instituto Técnico de Gestión Agraria del Gobierno Navarra).
Um relatório publicado em 2002 pelo grupo de trabalho sobre pesticidas do governo espanhol aponta que os prejuízos causados pelo ataque de lagartas no milho são pequenos e não justificariam a adoção de plantas transgênicas (Spanish Ministry of Agriculture – Report of the Working Group on Pests and Diseases in Extensive Crops. April 2002).
Governo e Senado não podem fechar os olhos diante desses casos que evidenciam as falsas promessas da indústria de biotecnologia. É fundamental que essas experiências desastrosas da adoção da biotecnologia na agricultura sejam levadas em consideração na definição da política brasileira sobre biossegurança.
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Neste Número:
1. Entra em vigor nova legislação européia sobre rotulagem de transgênicos
2. Espanha proíbe milho transgênico da Syngenta
3. Hugo Chávez diz não aos transgênicos
4. Pesquisa revela preocupação de chineses quanto a transgênicos
5. Anvisa não fiscaliza transgênicos
6. Casos suspeitos na fiscalização de transgênicos
7. Monsanto oficializa auxílio à FETAG
8. Greenpeace promove inspeção de biossegurança em navio
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura
Assentados do Pontal do Paranapanema colhem safra do “Café com Floresta”
Dica sobre fonte de informação
www.accionecologica.org
Eventos
III Encontro da Jornada Paranaense de Agroecologia
12 a 15 de maio — Ponta Grossa, Paraná.
http://www.jornadadeagroecologia.com.br
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1. Entra em vigor nova legislação européia sobre rotulagem de transgênicos
Entrou em vigor em 18/04 a nova legislação de rotulagem e rastreabilidade da União Européia (UE) para organismos geneticamente modificados (OGMs), que será a mais severa em todo o mundo. Essas novas regras, que são válidas para o maior mercado único do mundo, terão importantes repercussões no futuro mercado de commodities e alimentos para consumo humano e animal produzidos a partir de organismos geneticamente modificados (OGMs).
As duas mudanças mais importantes com relação às duas legislações anteriores e que afetarão 90% de todas as importações para a União Européia são:
1) A exigência de rotulagem de alimentos transgênicos para consumo animal (até o momento, esta exigência só se aplicava a alimentos para consumo humano).
2) A exigência de rotulagem de todos os produtos derivados de ingredientes transgênicos, sejam tais ingredientes detectáveis ou não no produto final (até o momento, a rotulagem só era exigida quando o DNA ou a proteína do OGM pudessem ser detectados no produto final).
Após anos de debate público sobre a questão, os consumidores europeus continuam a ter uma atitude desfavorável à presença de OGMs nos alimentos, e a maioria dos varejistas e produtores de alimentos têm um política contrária aos OGMs ou, pelo menos, evitam produtos rotulados como transgênicos. Com a nova ampliação das exigências de rotulagem, o mercado europeu se tornará ainda mais fechado à importação de alimentos transgênicos. Isso se aplica não somente à importação de commodities a granel como milho e soja, mas também a todos os alimentos processados ou ingredientes alimentícios importados para a União Européia.
Os países que exportam seus produtos para o mercado europeu serão diretamente afetados pelas novas regras de rotulagem e podem vir a reconsiderar suas políticas de importação de mercadorias transgênicas tais como óleo, amido e adoçantes derivados do milho. O Brasil, segundo maior produtor mundial de soja, beneficiou-se significativamente do fato de a maioria de seus produtos ainda não conterem OGMs. Com a aprovação provisória do plantio e comercialização da soja transgênica em 2003, porém, o país arriscou perder mercado e colocou em risco a enorme vantagem econômica dos produtores brasileiros que optaram pela soja não transgênica. (…)
De fato, o mercado europeu de alimentos para consumo animal, o maior do mundo, tem se voltado cada vez mais para suprimentos não transgênicos. Ainda que a rotulagem de produtos animais não venha a ser obrigatória, a maioria dos produtores e varejistas de carne, leite e ovos começam a dar voluntariamente garantias de alimentação animal isenta de OGMs. E como a rotulagem de todos os alimentos para consumo animal importados e preparados para animais passa a ser obrigatória, a diferenciação no mercado de alimentos para consumo animal tende a ser acelerada.
O Greenpeace publicou um relatório completo sobre a nova legislação de rotulagem na União Européia, intitulado “As novas regras de rotulagem da União Européia sobre alimentos para consumo humano e animal resultantes de engenharia genética – Implicações no mercado de produtos transgênicos (OGMs) e não- transgênicos”.
N.E.: Veja a íntegra deste documento em:
http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/eu_food_feed.pdf/
2. Espanha proíbe milho transgênico da Syngenta
A Espanha, único país da União Européia em que os produtos geneticamente modificados são cultivados comercialmente, proibiu o plantio de uma variedade de milho da Syngenta AG a partir de janeiro. O argumento é que ela pode aumentar a resistência a antibióticos.
A variedade Bt176 de milho para ração da Syngenta, maior fabricante mundial de defensivos agrícolas, “não terá mais seu plantio e cultivo autorizados”, disse o órgão de segurança alimentar da Espanha.
A Syngenta, com sede na Basiléa, Suíça, vende milho na Espanha desde 1998. A Bt176 ocupa quase dois terços dos 32.000 hectares da terra agricultável espanhola reservada para produtos transgênicos.
Os alimentos e produtos agrícolas geneticamente modificados ainda geram desconfiança na Europa, onde estão sendo proibidos para emprego comercial desde 1998. Uma pesquisa publicada no ano passado detectou que apenas 2% da população britânica consumiria alimentos geneticamente modificados. Os produtos transgênicos responderam por 3% dos US$ 6,6 bilhões contabilizados em vendas pela Syngenta em 2003.
Gazeta Mercantil, 30/04/2004.
3. Hugo Chávez diz não aos transgênicos
Caracas — O presidente Venezuelano Hugo Chávez Frias anunciou que o cultivo de plantações geneticamente modificadas será proibido no país, possivelmente estabelecendo as restrições mais radicais para plantações transgênicas no hemisfério ocidental. Apesar de o detalhamento da política de administração dos transgênicos ainda estar por vir, a declaração de Chávez conduzirá imediatamente o cancelamento de um contrato firmado com a Monsanto.
Antes de uma recente reunião internacional com os partidários em Caracas, o presidente Hugo Chávez advertiu que as plantações geneticamente modificadas são contrárias aos interesses e necessidades das nações de agricultores e trabalhadores rurais, anulando então os planos da Monsanto de plantar cerca de 200.000 hectares de soja transgênica na Venezuela.
O presidente enfatizou a importância da soberania e da segurança alimentar requeridas pela Constituição venezuelana como as bases da decisão. Ele também anunciou a criação de incentivos para um grande banco de sementes, destinado à manutenção de sementes indígenas que servirão para os movimentos campesinos em todo o mundo.
A organização internacional de movimentos campesinos, Via Campesina, representando mais de 60 milhões de agricultores e trabalhadores rurais, trouxe essa questão para a atenção da Administração de Chávez, quando soube do contrato com a Monsanto. De acordo com Rafael Alegria, Secretário para Operações Internacionais da Via Campesina, a Monsanto e a Cargill estão tentando conseguir autorização do governo venezuelano para a produção de gêneros à base de soja geneticamente modificada.
“O acordo foi contra os princípios da soberania alimentar, que guiam a política de agricultura na Venezuela”, disse Alegria quando informado da decisão presidencial. Isso é muito importante para os camponeses e povos indígenas da América Latina e do mundo.
Alegria tem um bom motivo para estar preocupado. Com uma longa história de problemas sociais e ambientais, a Monsanto ganhou fama internacional cedo, com a produção do químico Agente Laranja, o desfoliante da Guerra do Vietnã relacionado com abortos, tremores e perda de memória, ao qual mais de um milhão de pessoas foram expostas. Mais recentemente está sendo criticada pelos efeitos adversos que as plantações transgênicas e o hormônio de crescimento bovino (rBGH) podem provocar sobre a saúde humana e para o meio ambiente.
“Se nós quisermos alcançar a soberania alimentar, nós não podemos confiar em transnacionais como a Monsanto”, disse Maximilien Arvelaiz, um assessor de Hugo Chávez. “Nós precisamos fortalecer a produção local, respeitando nosso patrimônio e nossa diversidade”.
Alegria espera que o movimento da Venezuela sirva como encorajador para outras nações, contemplando como discutir a questão dos OGMs. “A população dos EUA, da América Latina, e do mundo precisa seguir o exemplo da Venezuela, livre de transgênicos”, disse ele.
Venezuelanalysis.com
4. Pesquisa revela preocupação de chineses quanto a transgênicos
Se puderem optar, consumidores da China escolherão produtos não transgênicos; Brasil é o único país capaz de atender à crescente demanda mundial por soja não transgênica
Pequim/Hong Kong (China), 19 de abril de 2004 — O Greenpeace divulgou hoje a primeira pesquisa sobre a atitude dos consumidores na China continental com relação aos alimentos transgênicos. O levantamento demonstra que a maioria dos chineses (87%) exige o direito de ser informado se os alimentos contêm ou não organismos geneticamente modificados (OGMs). O estudo revelou ainda que 40% dos consumidores preferem comida não transgênica e que apenas 24% optariam pelos transgênicos. A pesquisa, encomendada pelo Greenpeace, foi realizada pelo Research International em fevereiro deste ano, por telefone, com 600 pessoas de Pequim, Xangai e Guangzhou.
Dada a forte demanda pelo direito à informação sobre os produtos presentes nos alimentos, 70% dos participantes afirmaram que perderiam a confiança em uma marca, se fosse descoberto que seus produtos contêm ingredientes geneticamente modificados e se essa informação não estivesse exibida no rótulo. Além disso, 40% das pessoas que responderam à pesquisa disseram que teriam mais confiança em marcas que se comprometessem com uma política de não transgênicos.
“O debate global sobre alimentos transgênicos cresceu, já que a Europa introduziu uma legislação mais rígida sobre a rotulagem de transgênicos, garantindo a rastreabilidade”, disse Xu Lijun, da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace na China. Xu Lijun no momento está no Brasil, participando de atividades de consumidores no Rio Grande do Sul. “Os consumidores estão enviando um claro sinal para a indústria alimentícia de que exigem o direito de escolher. Se apostarem nos transgênicos as companhias arriscarão perder um mercado significativo, além da confiança das pessoas”.
A China é o centro de origem e diversidade da soja, com mais de seis mil variedades da espécie, correspondentes a 90% do total existente no mundo. O país, que proíbe o plantio comercial da soja geneticamente modificada, importou 20,7 milhões de toneladas do grão em 2003. Especialistas chineses estimam que mais de 70% da soja importada pelo país é transgênica, já que a maior parte vem dos EUA, Argentina e Brasil. As importações de soja transgênica em larga escala correspondem a uma ameaça para a biodiversidade da espécie, pois pode acarretar a contaminação genética das variedades tradicionais.
A China está importando mais soja para atender à demanda crescente de carne e óleo, e os consumidores de seus centros urbanos estão reforçando suas exigências pelo direito a um alimento saudável. A pesquisa do Research International também apontou que 55% dos participantes não comprariam alimentos com OGMs para seus filhos.
N.E.: As novas normas de rotulagem da União Européia são mais
rígidas garantindo um sistema de rastreabilidade para os transgênicos.
Segundo as novas normas, a ração animal agora terá que ser rotulada.
Cerca de 80% da soja exportada para a Europa é usada com esta
finalidade. O sumário da pesquisa pode ser encontrado em: www.greenpeace.org.hk/eng/document/2004_MLGE_survey_sum mary_e.pdf (em inglês). Para mais informações:
www.greenpeace.org.br
5. Anvisa não fiscaliza transgênicos
A fiscalização de alimentos produzidos com organismos geneticamente modificados em comercialização no Brasil não está entre as prioridades da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para este ano. Responsável pela regulamentação, controle e fiscalização de alimentos, a agência também não tem laboratórios para realizar esse tipo de teste.
Isso praticamente torna inócua a decisão do governo de rotular produtos que contenham mais de 1% de soja transgênica. A fiscalização deveria ter começado no início de abril, já depois de prorrogação de prazo concedida às empresas que comercializam alimentos com transgênicos para se adaptarem às regras.
“Rotular é fácil. O problema é fiscalizar. Certamente não é viável fazer amostragem significativa do mercado para verificar se os produtos têm mais de 1% de transgênicos”, afirmou ontem o diretor-presidente da Anvisa, Cláudio Maierovitch Henriques.
Segundo o diretor, o controle possível do uso de transgênicos nos alimentos é por meio da cadeia produtiva, por isso, “está mais ao alcance do Ministério da Agricultura do que do da Saúde”.
“A verificação possível é de documentos, não dos produtos especificamente. Não é possível a Vigilância Sanitária coletar material para fazer exame laboratorial. Isso caberá apenas em casos excepcionais”, disse Henriques.
O Ministério da Agricultura, também responsável, disse que terá 1.623 agentes para fiscalizar a venda, o plantio, o transporte e o armazenamento dos produtos.
Segundo Henriques, o índice adotado pelo governo para a rotulagem (1%) é baixo, ou seja, capta níveis de “contaminação”. Isso dificulta a fiscalização porque as indústrias podem alegar, por exemplo, que usaram soja “comum” na fabricação do produto, mas, quando compraram a matéria-prima, ela pode ter sido transportada em local onde havia anteriormente transgênico.
Henriques destacou ainda o caso do óleo de soja, em que não seria possível detectar se foi usada matéria-prima transgênica.
Para o diretor-presidente da Anvisa, ainda não é possível dizer que alimentos transgênicos causem males à saúde. “A sombra é maior do que o monstro.” Até ontem, a Abia (Associação das indústrias da alimentação) não tinha notícia da comercialização de nenhum produto com o rótulo.
Folha de São Paulo, 27/04/2004.
6. Casos suspeitos na fiscalização de transgênicos
A Delegacia Federal da Agricultura coletou 108 amostras de soja na primeira semana de fiscalização sobre o registro e rotulagem de produtos geneticamente modificados comercializados no Rio Grande do Sul, entre os dias 12 e 16 deste mês. Nas 36 empresas processadoras, armazenadoras, cooperativas e indústrias de rações animais e alimentos visitadas foram detectados pelo menos dez casos suspeitos de irregularidades, informou ontem o delegado Francisco Signor.
Também foram fiscalizados 84 produtores, e entre eles, segundo o delegado, a ocorrência de problemas pode ser bem maior. Os fiscais da delegacia recolheram para análise a soja que não estava identificada como transgênica e mesmo produto com identificação, mas que eles julgaram necessário verificar se o produtor havia assinado o Termo de Ajustamento e Conduta (TAC) exigido pelo Ministério da Agricultura nesta safra 2003/04.
De acordo com Signor, em alguns casos os fiscais verificaram que a soja entrava na indústria registrada na nota fiscal como transgênica e depois saía processada sem a identificação. Noutras vezes, a situação era inversa: entrava como convencional e saía como transgênica. “Aí quebram-se os elos da cadeia de produção”, afirmou o delegado.
Até agora ninguém foi multado no Estado. “Ainda não temos os laudos na mão e não queremos cometer injustiças”, explicou. Em caso de irregularidade comprovada, a multa pode chegar a R$ 16,1 mil por ocorrência mais 15% por tonelada comercializada. As amostras estão sendo analisadas nos laboratórios do próprio ministério, em Porto Alegre, e da Embrapa, em Passo Fundo. Os primeiros resultados devem sair em duas semanas.
De acordo com informações de Francisco Signor, a soja transgênica que chega nas indústrias deve claramente ser identificada na nota fiscal. O mesmo ocorre quando o farelo é comercializado a granel para as fábricas de rações e depois, na venda ao consumidor, é necessária a rotulagem nas embalagens, explicou.
Segundo o delegado, dez equipes estão percorrendo as indústrias, as armazenadoras e as lavouras de soja. Nas fábricas de embutidos que utilizam proteína vegetal, os fiscais acompanham a produção. A intenção, afirmou Signor, é garantir que os consumidores possam comprar os produtos seguros de que a regulamentação da rotulagem está sendo cumprida. A fiscalização prosseguirá até o fim da colheita. (…)
Valor Econômico, 20/04/2004.
7. Monsanto oficializa auxílio à FETAG
A Monsanto apresentou ontem a líderes sindicais da Fetag [Federação dos Trabalhadores na Agricultura], na capital [gaúcha], proposta de auxílio aos produtores de soja atingidos pela estiagem no RS. Os agricultores querem anistia dos royalties para quem produziu até 500 sacas, mas a multinacional oferece o fornecimento gratuito de insumos para a próxima safra de verão para quem plantou até 20 hectares com a oleaginosa. Dados da Fetag, considerando a quebra na safra, indicam que os agricultores familiares gaúchos pagarão cerca de R$ 20 milhões em royalties à Monsanto pelo uso da tecnologia transgênica. O custo é de R$ 0,60 por saca.
O presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro, entende que o teto precisa ser ampliado para 40 ha, pois excluirá muitos, devido à frustração da safra. O diretor da Monsanto, Felipe Osório, sugeriu que um grupo técnico promova ajustes na proposta.
O encontro amistoso revelou intenção dos dois lados em estabelecer parcerias futuras. Osório enfatizou que a Monsanto precisa dos produtores, tentando desmistificar a imagem de poder que está atrelada à empresa. Os dirigentes voltam a se encontrar dia 30 quando a Fetag apresenta a demanda e a Monsanto deverá ter confirmação de 90% dos recursos a serem empenhados. A intenção é de que o ressarcimento se aproxime do valor que os produtores terão de pagar de royalties sobre as perdas.
A mutinacional articula parcerias como a firmada com a Abrasem, que fornecerá sementes aos agricultores e acertará direto com a Monsanto. Para motivar a indústria, a multinacional oferece contrapartida de 50% para cada real aplicado na ajuda à seca no RS.
O termo de compromisso para quem cultivou OGMs na safra 2003/2004 e critérios microregionais na produtividade são exigências para o repasse. Esta é outra divergência. Pinheiro defende que o cálculo do rendimento seja individual.
Correio do Povo, Porto Alegre, 21/04/2004.
N.E.: tomando a dianteira da situação e se antecipando à elaboração de um plano de auxílio aos agricultores atingidos pela seca no estado por parte do governo, a Monsanto tenta usar todas as entradas para forçar a introdução dos transgênicos no país.
8. Greenpeace promove inspeção de biossegurança em navio
Ativistas do Greenpeace invadiram o navio Saturn V terça-feira no porto de Rio Grande, para uma ação denominada “inspeção de biossegurança”. Como o comandante da embarcação não mostrou documentos da carga de 58 mil toneladas de farelo de soja destinadas à Coréia do Sul, os ecologistas pintaram a palavra “transgênico” no casco da embarcação e partiram em dois botes. Chamados por funcionários do terminal de embarque, policiais federais e guardas portuários acompanharam os atos. Não houve conflito. Os militantes chegaram nos botes e se dividiram. Seis ficaram no cais e quatro subiram ao navio para pedir comprovantes de que a carga não era transgênica. Sem resposta, decidiram deixar uma identificação da carga no casco.
Jornal do Commercio, 21/04/2004.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura
Assentados do Pontal do Paranapanema colhem safra do “Café com Floresta”
Primeira colheita dos reflorestamentos de nativas com café orgânico já obtém a classificação de gourmet de alta qualidade e preço duas vezes maior.
Campinas – Assentados, pesquisadores e comerciantes comemoraram com um café da tarde, a primeira colheita do Programa “Café com Floresta”, na sede do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), no Pontal do Paranapanema — SP. A safra resulta dos primeiros quatro projetos piloto, implantados em 2000. Sua qualidade já supera as expectativas: o café foi classificado como gourmet de alta qualidade e cotado a R$ 350 a saca, mais do que o dobro do café comum. Os agricultores esperam vender o produto na capital paulista, em embalagens de 250 gramas, com o slogan “Mais sabor para você, mais saúde para o planeta”, ao preço sugerido de R$ 2,50.
O “Café com Floresta” é um programa de reflorestamento que incentiva assentados das vizinhanças do Parque Estadual Morro do Diabo, no extremo oeste de São Paulo, a plantar pelo menos um hectare de árvores nativas em cada lote de 17 a 20 hectares, enriquecendo as trilhas usadas por alguns animais silvestres. O objetivo de médio e longo prazo é formar corredores para a fauna, reconectando a floresta do parque com fragmentos florestais localizados dentro de fazendas e nas reservas dos assentamentos. A combinação das mudas de árvores nativas com o café agrega valor à atividade de reflorestamento e facilita o cultivo orgânico. O programa recebe o apoio da Ashoka Empreendedores Sociais, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Fundação Interamericana, Instituto Florestal de São Paulo e Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
“O resultado da primeira colheita animou muito os assentados, mas o ganho mais significativo não está na cotação do café, está na mudança cultural do assentado que optou pelo programa”, ressalta Jefferson Ferreira Lima, do IPÊ, responsável pela assistência técnica. “As 43 famílias (de 9 assentamentos) que entraram no programa mudaram seu paradigma de produção. Não queimam mais lixo, folhas ou restos de cultura, juntando tudo na composteira para fazer o adubo orgânico usado no café. Eles estão conquistando autonomia nos sistemas de produção de seus lotes, com alto índice de aproveitamento dos recursos locais. Também aprenderam a valorizar a diversidade, tanto nas pequenas manchas de floresta como no meio do cafezal, onde plantam milho, feijão, mandioca, abóbora, melancia, tomatinho e outros”.
Com esta mudança, garante Lima, “em apenas três anos se tornaram famílias diferenciadas, que deixaram de ver a terra como uma máquina de produção para viver a integração entre as espécies, as plantas, os animais, os insetos e o homem”. O resultado prático é um baixo índice de ataque de pragas e doenças no café cultivado e a alta qualidade dos alimentos obtidos.
Para melhor adequação do sistema de produção à mão de obra familiar, o café é colhido manualmente, três ou quatro vezes por safra, “nos panos”. Isso quer dizer, que só se colhe o café cereja, amadurecido no pé, sem mistura com frutos verdes ou secos. Os grãos são derrubados sobre lonas estendidas no chão ou panos amarrados à cintura, para evitar batidas — fatores determinantes para o sabor diferenciado do café gourmet. A partir desta colheita, os técnicos e pesquisadores do IPÊ vão investir no desenvolvimento de uma logística de mercado, orientando os produtores na formação de uma associação. A idéia é que eles mesmos assumam os negócios, enquanto a ONG mantém o projeto de educação ambiental, trabalhando a importância dos corredores e das culturas orgânicas para a conservação da biodiversidade.
Adaptado de:
Café orgânico ajuda a conservar entorno do Parque Estadual Morro do Diabo, de Ronaldo Weigand Jr.
Dica sobre fonte de informação
Conheça em http://accionecologica.org o movimento equatoriano que trata de impactos causados por atividades como extração de petróleo, mineração, silvicultura, biotecnologia, bioprospecção e biopirataria. A Acción Ecológica analisa também temas mais amplos como impactos ambientais em meio urbano, globalização, ALCA e mudanças climáticas.
Eventos
III Encontro da Jornada Paranaense de Agroecologia Construindo um projeto popular e soberano para a agricultura. Este será o tema do encontro, que será composto por conferências, oficinas, festival de filmes e feira agroecológica. Conheça a programação e saiba de outras informações em http://www.jornadadeagroecologia.com.br .
De 12 a 15 de maio — Ponta Grossa, Paraná.
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