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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 212 – 09 de junho de 2004
Car@s Amig@s,
sementes convencionais de milho, soja e canola comercializadas nos Estados Unidos estão contaminadas por DNA derivado de plantas transgênicas. Este foi o resultado de um estudo publicado este ano pela organização norte-americana The Union of Concerned Scientists (UCS).
Foram testadas no total 18 variedades de sementes comerciais, seis para cada um dos cultivos, em dois laboratórios diferentes. Três variedades de milho, três de soja e cinco de canola apresentaram contaminação com DNA de plantas transgênicas.
Para soja e milho, os pesquisadores compraram sementes recomendadas pelas principais empresas sementeiras para os agricultores de Iowa e Illinois, os dois maiores estados plantadores dessas culturas no país. No caso da canola, foram avaliadas as sementes compradas pelos produtores de Dakota do Norte, estado responsável em 2002 por 89% da área plantada com canola nos EUA. Essas 18 variedades testadas pela UCS representam uma parcela significativa do suprimento de sementes não-transgênicas comercializadas em 2002.
Embora um certo nível de contaminação fosse esperado, os pesquisadores ficaram impressionados ao identificar seqüências transgênicas na maioria das variedades analisadas. A hipótese inicial era a de que o fluxo gênico (polinização), e não a mistura de sementes, fosse a principal fonte de contaminação. Com isso, eram esperados níveis maiores de contaminação nas culturas de polinização aberta, como o milho e a canola.
Os resultados mostraram, no entanto, que a produção e o manuseio de sementes, bem como o plantio, colheita, processamento, armazenagem e transporte são atividades capazes de espalhar a contaminação. Foram identificados níveis de contaminações que variaram entre 0,05% a pouco mais de 1,0%.
A UCS ressalta que o estudo tem caráter piloto, e que apresentou algumas limitações, entre elas, a inexistência de métodos laboratoriais capazes de identificar genes ou seqüências genéticas diferentes daqueles usados comercialmente (que conferem às plantas características de resistência a herbicidas e a insetos).
Com isso, qualquer contaminação resultante de plantios experimentais com outras características transgênicas não puderam ser detectadas. Cabe lembrar que desde 1987 o Departamento de Agricultura Americano recebeu mais de 5.500 solicitações para pesquisa com transgênicos a céu aberto, das quais pouquíssimas foram recusadas.
Não há razão, segundo o estudo, para se acreditar que as características transgênicas detectadas nas amostras são as únicas que estão contaminando as sementes convencionais.
Em meio a uma série de recomendações feitas pela UCS, os cientistas revelaram especial preocupação com o desenvolvimento das chamadas futuras gerações dos transgênicos, formadas por plantas modificadas para a produção de remédios, vacinas e elementos sintéticos.
Até que outras informações provem o contrário, o mínimo de prudência agora indica que devemos assumir que qualquer transgênico produzido e/ou testado a campo nos EUA pode contaminar as sementes convencionais de milho, soja e canola ou de qualquer outra espécie a partir da qual tenham sido desenvolvidas variedades transgênicas.
Esses resultados nos remetem ao debate travado atualmente no Senado Federal em torno da votação do Projeto de Lei (PL) sobre Biossegurança. É forte a pressão das indústrias de biotecnologia e de seus cientistas para a liberação comercial facilitada de transgênicos.
Quando da votação do PL na Câmara dos Deputados, ruralistas e indústrias conseguiram modificar o texto da Lei, conferindo à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) poderes conclusivos para autorizar pesquisas com transgênicos, inclusive aquelas a campo, sem a necessidade de licenciamento ambiental.
O Senado tem agora a obrigação de garantir a realização de estudos prévios de impactos à saúde e ao meio ambiente para a liberação comercial de transgênicos. Fora isso, deve também conferir maior rigor às autorizações para pesquisas. Os membros da CTNBio não devem estar vinculados a atividades de desenvolvimento de transgênicos e as decisões da Comissão devem ser tomadas, se não por unanimidade, pela maioria qualificada de seus membros.
A euforia com os recentes desenvolvimentos no campo da bilionária indústria da engenharia genética não pode suplantar a integridade de nosso abastecimento de sementes e, por conseqüência, de alimentos.
Interessados podem acessar o relatório completo do estudo no endereço http://www.ucsusa.org/food_and_environment/biotechnology/page.cfm?pageID=1315
***************************************************Neste número:
1. França autoriza novos testes de campo com transgênicos
2. Ministra diz que transgênico não terá nova MP
3. Coréia do Sul compra grão não-transgênico da ADM
4. Anvisa não monitora resíduos de agrotóxicos em alimentos
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura
Palma consorciada com leguminosas: alimento farto para o gado
Dica sobre fonte de informação
www.panna.org
Eventos
I Seminário de Segurança Alimentar em Gestão Ambiental
25 e 26 junho, Porto Alegre, RS – informações pelo endereço [email protected]
1. França autoriza novos testes de campo com transgênicos
O governo Francês decidiu permitir novos testes de campo com o milho doce geneticamente modificado. Serão no total oito áreas distribuídas pelo país.
O ministro francês da Agricultura, Hervé Gaymard, numa declaração conjunta com o ministro da Ecologia, Serge Lepeltier e com o representante do ministro da pesquisa, François d’Aubert, explicou que os experimentos fazem parte de um programa regular de pesquisas da França.
“Os testes de campo têm como objetivo avaliar o comportamento das novas variedades em condições reais”, diz a declaração.
Ciente da forte opinião pública sobre essa questão, o Estado francês submeteu os oito requerimentos de testes de campo da Monsanto, Pioneer, Biogemma e do laboratório francês Geves, a consulta antes da aprovação. A página da internet recebeu 2.700 mensagens, em sua maioria expressando opinião contrária aos testes.
Ecologistas, vários conselhos regionais e a Confederação Camponesa, também expressaram sua oposição. Apesar disso, os três ministros mantiveram a autorização dos testes.
www.foodnavigator.com, 07/06/2004
2. Ministra diz que transgênico não terá nova MP
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou ontem que o governo federal não irá editar uma terceira medida provisória para legalizar a próxima safra de soja transgênica caso o projeto de lei de biossegurança não seja aprovado pelo Congresso antes do plantio deste ano, que começa em outubro. O impasse pode ocorrer se o Senado alterar a proposta aprovada no início de maio pela Câmara, o que obrigaria o retorno do projeto para apreciação dos deputados.
“Agora é responsabilidade do Congresso e mais particularmente do Senado”, afirmou a ministra, que participou ontem da abertura da semana do meio ambiente em Porto Alegre. Segundo ela, o projeto está em discussão há mais de um ano e o governo já transigiu “tudo o que podia transigir”.
A possibilidade de mudanças no projeto aprovado pela Câmara cresceu com as discussões sobre a separação da parte que trata dos transgênicos da utilização das células-tronco e embriões humanos para fins medicinais. A divisão vem sendo defendida pelo senador Osmar Dias (PDT-PR), que considera o formato aprovado pelos deputados inconstitucional por tratar de temas diferentes em uma só proposta.
Valor Econômico, 08/06/2004.
3. Coréia do Sul compra grão não-transgênico da ADM
Uma empresa agrícola estatal sul coreana AFMC e a Fishery Marketing Corporation compraram 25.000 toneladas de soja da trading norte-americana ADM em uma licitação concluída nesta terça-feira. As informações são de um representante da AFMC, em Seul.
A soja, que não passou por modificações genéticas, foi comprada a US$ 448,54/tonelada, com custo e frete baseados na rota para a Coréia do Sul através do golfo do México. O embarque deve ocorrer entre 7 a 26 de agosto, de acordo com o representante da AFMC. As informações são da DowJones.
Agência Estado, 08/06/2004.
4. Anvisa não monitora resíduos de agrotóxicos em alimentos
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que seria a responsável pelo monitoramento de resíduos agrotóxicos na soja consumida no mercado interno, admite não fazer esse serviço.
Segundo o gerente-geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, depois da “celeuma” com a soja recusada pela China, o órgão pensa em implementar o monitoramento até o final do ano. “A intenção é essa, mas não podemos garantir que isso vá ocorrer, por problemas estruturais”, afirmou.
Nos últimos dois meses, a China recusou quatro carregamentos de soja oriunda do Brasil sob a alegação de que os grãos estavam misturados a sementes com herbicidas e, portanto, contaminados. (…)
“No caso da soja é um processo complexo, já que a simples análise de multi-resíduos custa R$ 900”, disse Meirelles. O Ministério da Agricultura fiscaliza apenas produtos destinados à exportação. (…)
O plantio de soja transgênica aponta para outro risco de contaminação, que é o uso de glifosato. O produto, na soja convencional, é aplicado no período de pré-emergência (antes do plantio). No caso da soja transgênica, o glifosato é aplicado no período de desenvolvimento da cultura. O prazo de carência do glifosato é de 56 dias antes da colheita. Mas não existe fiscalização caso o produtor decida desrespeitar a carência.
“O glifosato entra no caso de [herbicidas] dessecantes [usado para uniformizar a maturação da soja para colheita], que, na sua maioria, têm carência de sete dias, mas o respeito a isso fica a critério do produtor”, diz Reinaldo Skalisz, chefe do Receituário Agronômico da Secretaria da Agricultura do Paraná.
Segundo o gerente-geral de toxicologia, a Anvisa precisa ampliar o número de laboratórios conveniados (hoje são quatro) para enfrentar a nova realidade. “No caso do glifosato, a análise tem que ser diferente da de multi-resíduos e isso requer tempo para estruturação da Anvisa.” (…)
Agência Folha, 07/06/2004.
N.E.: em fevereiro deste ano a Anvisa aprovou o aumento de 50 vezes no limite de resíduos de glifosato encontrado na soja.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura
Palma consorciada com leguminosas: alimento farto para o gado
Euro Barbosa é um jovem e agricultor que mora com sua família no Curimataú de Solânea, Paraíba. Euro tem apenas 17 anos e já desenvolve muitas experiências nas terras da família.
Antigamente, a família usava apenas os restos dos cultivos do roçado para alimentar os animais, mas encontrava dificuldade para criar seus animais. A partir de 1999, participando de reuniões e visitas de intercâmbio a outras propriedades, o agricultor conheceu a técnica da palma consorciada.
Animado com a proposta, separou meio hectare de terra e com os recursos obtidos de um fundo rotativo plantou palma consorciada. A cada duas linhas de palma, plantou uma de gliricídia, leucena ou guandu. E entre as palmas, ainda plantou o capim gramão.
Nesta área a família ainda conserva algumas plantas nativas como o umbu, a catingueira, o juazeiro e o cardeiro, que também é utilizado como cerca-viva.
Nos primeiros anos a palma apresentou problema de mofo, que foi tratado com calda de cal. Hoje os resultados deste trabalho são plantas completamente sadias e Euro conta que consegue alimentar com mais facilidade 30 cabras e ovelhas e o gado. Neste espaço ainda é produzido feijão para consumo da família.
I Seminário de Criação Animal, AS-PTA.
Dica sobre fonte de informação
O Pesticide Action Network é uma organização internacional voltada para a promoção de alternativas aos agrotóxicos que sejam mais ecológicas e seguras. Seu endereço na internet www.panna.org traz uma repleta base de dados sobre agrotóxicos, com informações sobre riscos, toxicidade e legislação referente ao uso de agrotóxicos.
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa [Tel.: (21) 2253-8317 / E-mail: [email protected]]
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