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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Boletim 234 – 12 de novembro de 2004
Caros Amigos, Nesta quarta-feira (10/11) a Comissão Especial de Biossegurança da Câmara de Deputados, encarregada de apreciar o Projeto de Lei de Biossegurança (PL 2401/03) foi protagonista de um duro golpe à luta contra a liberação dos transgênicos. Numa manobra que teve o aval de lideranças do governo Lula, aprovou, por ampla maioria, o parecer que adotou o substitutivo enviado pelo Senado, que representa um retrocesso às conquistas obtidas até o momento.
Como já comentamos em edições anteriores (Boletim nº 229 de 08/10/2004), o PL aprovado na Câmara dos Deputados, em 4 de fevereiro de 2004, foi redigido após debates entre os ministérios e entre o governo e a sociedade civil, apoiado pelo governo Lula e defendido pela bancada governista. Além de se basear no princípio da precaução, ele respeitava os acordos da Convenção da Biodiversidade e o Protocolo de Biossegurança, dois tratados internacionais assinados pelo Brasil, garantindo que a liberação comercial de produtos transgênicos no País deveria ser precedida de avaliações de impacto ambiental e de riscos à saúde, conduzidas pelos órgãos de registro e fiscalização dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente (ANVISA e IBAMA).
O substitutivo votado pelo Senado, em 6 de outubro de 2004, dá total poder de decisão sobre pesquisa e comercialização de OGMs à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança/Ministério da Ciência e Tecnologia). Se aprovado, torna a desregulamentação do uso de transgênicos fato consumado. Apesar de ter inconstitucionalidades e divergir do PL original, ele foi aprovado com o apoio da bancada governista, com exceção do senador Flávio Arns (PT-PR). Tabém votou contra a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). Seguindo o processo legislativo, como o PL originário da Câmara foi alterado no Senado ele volta à Câmara para ter suas modificações apreciadas antes de ser sancionado pelo Presidente.
O PL voltou à Comissão Especial de Biossegurança um pouco antes do 2º turno das eleições municipais; ficou acordado que somente seria votado depois de 31 de outubro. Como tramitava em regime de urgência, não havia prazos regimentais a serem observados. Na última terça-feira (09/11), o então relator da Comissão Especial de Biossegurança na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PcdoB-PE) pediu em reunião o adiamento da apresentação de seu parecer.
Queria mais tempo para discutir o projeto com seus pares, com os ministérios, com cientistas e com a própria sociedade civil. Mais de dez parlamentares se posicionaram sobre a questão sem chegar a um acordo. Por esse motivo, o presidente da Comissão, deputado Silas Brasileiro (PMDB-MG), marcou uma nova reunião para a quarta-feira. No início da reunião, Renildo Calheiros solicitou à Comissão duas semanas de prazo, mas foi avisado de que seria destituído da função de relator caso não apresentasse seu parecer.
Ainda na tentativa de estender o prazo para discussão do texto e adiar a decisão da Comissão, Renildo Calheiros apresentou requerimento para prorrogação de prazo, que foi negado pelos integrantes da Comissão Especial. A seguir, o deputado Silas Brasileiro, numa mesma frase, informou que Renildo estava destituído como relator e passou a relatoria para as mãos do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), integrante da bancada ruralista e defensor dos transgênicos – um jogo de cartas marcadas.
Foi pedida a contagem de votos, negada pelo presidente. O Regimento Interno da Câmara determina que, esgotado o prazo destinado ao relator, o presidente da comissão relatará pessoalmente a proposição ou designará outro deputado para relatá-la. Mas como já se disse, nesse caso não havia prazos regimentais estabelecidos. Como o PL está em regime de urgência, o presidente da comissão tem o poder de tomar esta atitude a qualquer momento – assim como poderia, ao contrário, assumir postura mais flexível. Até aí tudo bem. Estranho é que, apesar da tal prerrogativa, a prática da destituição do relator não é usual mas, ao contrário, bem rara. ”A intransigência não é boa conselheira, e a batalha não acaba aqui”, disse Calheiros, prometendo apresentar no plenário da Câmara uma emenda substitutiva global para concorrer na preferência dos deputados com o relatório de Perondi.
A reunião foi então, suspensa por 30 minutos, com a previsão de que o relatório seria votado no mesmo dia. Para entender melhor os fatos, é bom lembrar que a Comissão Especial de Biossegurança que votou na quarta-feira é a mesma da votação inicial na Câmara, dominada pela bancada ruralista.
O deputado Renildo Calheiros vinha como relator da Comissão desde a 1ª votação na Câmara dos Deputados, em substituição a Aldo Rabello, que havia assumido um ministério. Na 1ª votação do PL na Câmara, em fevereiro, o presidente João Paulo Cunha (PT-SP) não deixou o parecer de Renildo Calheiros passar pela Comissão e o levou diretamente para votação em Plenário. Em função disso se manteve a liberação comercial vinculada ao EIA-RIMA e não a uma decisão soberana da CTNBio. Nesta 2ª votação, os ruralistas ficaram com receio que ocorresse o mesmo e, portanto, decidiram forçar a votação do parecer deles imediatamente.
A repentina nomeação de um substituto, pró-transgênicos, mostrou que o golpe estava bem orquestrado. Tendo 15 minutos para distribuir cópias do parecer e 15 minutos para a leitura, num passe de mágica, Darcísio Perondi fez surgir as oito páginas de seu relatório, justificando por que acatar na íntegra o PL tal como foi modificado no senado. “A aprovação é mais um avanço no processo da Lei de Biossegurança; o relatório anterior, do deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), era ruim porque era contra a pesquisa, contra a ciência, contra os investimentos, contra a riqueza e contra a geração de empregos”, afirmou Perondi.
São também suas palavras: “Embora o projeto de lei de biossegurança aprovado pela Câmara tenha melhorado significativamente o projeto enviado pelo Executivo no que diz respeito às pesquisas com organismos geneticamente modificados, o substitutivo do Senado acrescenta pontos fundamentais ao mesmo, sem os quais o projeto não apresentaria a sistemática necessária à boa regulamentação da matéria nem ofereceria garantia jurídica aos investidores”. Votaram a favor do parecer parlamentares do PMDB, PSDB, PFL, PTB, PL, PSB e PPS. Os únicos partidos a votarem contra foram o PT e o PV.
O PC do B não tinha seus representantes presentes na hora da votação. Também foram rejeitados os cinco destaques apresentados, quatro da bancada do PT e um da bancada do PV. O parecer final foi pela aprovação total do PL nº 2.401/B-03, na forma do substitutivo aprovado pelo Senado Federal e segue para a apreciação do Plenário. Como se não bastasse, estarrecedor foi ouvir o relator afirmar que “Esperamos que o acordo realizado pelo líder do governo no Senado Federal, Senador Aloizio Mercadante, e que contou com o apoio do Palácio do Planalto, possa agora ser cumprido e que possamos aprovar o texto aprovado naquela casa”.
E mais: ver o vice-líder do Governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), afirmar que o Ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, havia orientado para defender a aprovação do relatório de Perondi, por ser o mesmo texto do Senado. “Falei com o ministro Aldo. A Coordenação Política vota favorável ao texto do Senado e o que está sendo relatado pelo deputado Darcísio Perondi me parece ser igual ao que foi aprovado pelos senadores”, afirmou Beto Albuquerque. O deputado ainda elogiou a aprovação do projeto e lembrou que o Planalto defende o texto do Senado.
Quando o Substitutivo foi aprovado no Senado, dissemos que o resultado desse segundo turno na Câmara dependeria fortemente do posicionamento do governo. Apesar de a decisão da comissão ter contrariado a posição da ministra Marina Silva, da reação indignada de Renildo Calheiros, que se retirou da comissão, do PV ameaçar deixar a base governista e do próprio ministro Aldo Rebelo ter, por meio de sua assessoria de imprensa, negado que trabalhou para que Renildo Calheiros, de seu partido, perdesse a relatoria da proposta, o que se questiona é que força terão os que defendem regras mais rígidas para a liberação da produção e venda de produtos transgênicos no País diante dessa posição da Coordenação Política do Governo.
É importante, mais uma vez, intensificarmos a pressão sobre o governo e deputados até a votação no Plenário. A Agência Estado, em 11/11, diz que por 15 votos a 1 a bancada do PT na Câmara decidiu apoiar o projeto original de biossegurança, aprovado anteriormente na Câmara. O fato é que o PL irá a Plenário com o parecer de Darcísio Perondi. Diante disso, podemos trabalhar com três hipóteses: 1ª – que a Câmara aprove na íntegra o parecer do relator, que é o texto do PL do Senado; 2ª que a Câmara aprove o PL com emendas.
Nesta fase, cada partido só pode apresentar de 1 a 4 destaques, conforme o tamanho da bancada. Por exemplo, o PT pode quatro, e PV apenas um. A 3ª hipótese é que o Plenário rejeite na íntegra o PL do Senado. Nesse caso, o presidente da Câmara nomeia um novo relator de Plenário, com direito a apresentar imediatamente um novo relatório que irá à votação no Plenário, na hora. Após a votação, o texto poderá ser vetado total ou parcialmente pelo Presidente Lula.
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Neste número:
1. Agricultura familiar quer Paraná sem transgênicos
2. Áustria também quer conhecer produção paranaense de soja convencional
3. Ministério interdita sementeiras
4. Feijão orgânico da EMBRAPA não sofre com vírus do mosaico dourado
5. Soja transgênica consome 30% mais herbicida a partir do terceiro ano de plantio
6. Governo Americano e Monsanto tentam omitir dados sobre OGMs
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura Em defesa da própria vida, do solo e do consumidor
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1. Agricultura familiar quer Paraná sem transgênicos Organizações e associações que representam os agricultores familiares do Estado divulgaram ontem posição favorável para a transformação do Paraná em área livre de transgênicos. As entidades estão promovendo debates e abaixo-assinados entre a população paranaense.
Elas ainda enviaram cartas ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sobre o assunto. Cerca de 40% da produção de soja no Brasil é proveniente da agricultura familiar. No Paraná, o índice é de 48%, segundo o último censo agropecuário, de 1995. O coordenador adjunto da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Sul do País (Fetraf), no Paraná, Luís Pirin, explica que existem vários motivos para que os agricultores tomem essa posição.
O primeiro é o processo de soberania. Há vários tipos de semente que correm o risco de serem exterminadas com a entrada das sementes transgênicas. “É preciso ter cuidado para não eliminar a semente crioula, a vida da agricultura familiar”, afirma. Pirin avalia que a propensão do consumidor em não consumir produtos geneticamente modificados também é um aliado para a transformação.
Além disso, há o impacto ao meio ambiente. “No momento em que as plantas são mudadas geneticamente, se muda o comportamento dos produtos químicos. Eles serão mais fortes e aplicados em grandes doses, o que trará danos ao meio ambiente, à saúde dos humanos e aos seres vivos em geral”, comenta.
O coordenador da organização não-governamental (ONG) Terra de Direitos, Darci Frigo, explica que o Paraná tem uma posição histórica contra os transgênicos que acabou sendo transformada em política pública. “Não se pode levar em conta apenas a posição de grandes organizações que representam os magnatas da agricultura.
Nós repudiamos a atitude do delegado do Ministério da Agricultura no Paraná de levar somente a reivindicação destas organizações. Queremos que leve as nossas também. As organizações patronais querem entregar toda a agricultura para a mão de uma única multinacional.
Qual é a explicação para isto?” Outra reivindicação dos agricultores familiares, segundo Frigo, é a declaração do Ministério do Meio Ambiente de áreas prioritárias livres de transgênicos. “Precisamos cobrar ações mais efetivas quanto a esse tema”, diz. O integrante do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Rio Grande do Sul), Marcelo Souza, avalia que a resistência dos consumidores quanto aos transgênicos, principalmente na Europa, é uma prova de que existe mercado para os produtos convencionais.
“Os países que passaram por situações como o mal da vaca louca e fortíssimos venenos, têm muita resistência”, revela. A partir do momento que a lei de rotulagem dos organismos geneticamente modificados for aplicada no Brasil, a recusa será ainda maior. “A rotulagem causaria um impacto na Europa, por exemplo. Os produtores estão preocupados em não dar ração com ingredientes transgênicos.
Os consumidores da França estão pressionando para que a carne desses animais também seja rotulada”, classifica Souza, informando que 60% dos produtos nos supermercados possui soja como uma das matérias primas. (…) Como já existem alguns agricultores plantando soja modificada no Estado, o coordenador Pirin, da Fetraf, defende o isolamento dessas áreas em todas as fases de produção e transporte. “Dificilmente eles voltariam à semente comum, pois têm a visão estritamente econômica. Mas não se pode pensar em economia sem pensar no futuro”, observa. (…) O Estado do Paraná, Curitiba, 09/11/2004.
2. Áustria também quer conhecer produção paranaense de soja convencional O embaixador da Áustria no Brasil, Werner Brandstetter, enviou ofício ao governador Roberto Requião falando do interesse do país em conhecer a produção paranaense de soja convencional.
Segundo Brandstetter, nos dias 12 e 13 de dezembro o ministro da Áustria para Agricultura, Silvicultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Josef Pröll, estará no Paraná e gostaria de conhecer uma plantação de soja não transgênica e a industrialização do grão no Estado.
No mês de agosto, a vice-governadora da Bretanha, Pascale Loget, liderou uma missão francesa que veio ao Paraná conhecer toda a cadeia produtiva da soja convencional. Segundo ela, na Europa a opção paranaense por uma agricultura sustentável é clara é conhecida. “Não foi por acaso que nós viemos ao Paraná. Viemos aqui para manifestar de maneira clara todo o nosso apoio ao Governo.
A decisão do governador Roberto Requião foi politicamente corajosa e tecnicamente confiável”, declarou Loget. A vinda dos franceses ao Paraná culminou com a assinatura de uma declaração de intenções entre os dois Estados para a comercialização de soja convencional.
A França importa entre cinco e seis milhões de toneladas de soja brasileira por ano. Segundo Pascale, o país não tem intenção de aumentar a importação, mas direcionar a compra para garantir um produto de maior qualidade, livre de transgênicos. http://www.paginarural.com.br/noticias_todas, 8/11/2004.
3. Ministério interdita sementeiras A Delegacia Federal de Agricultura do Rio Grande do Sul (DAF/RS) interditou 27 empresas de produção e comercialização de sementes de soja. Elas são suspeitas de vender ilegalmente grãos geneticamente modificados. A delegacia conclui recentemente 54 processos administrativos com resultados positivos para transgenia.
O produto foi apreendido com agricultores que não assinaram o Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta (TCRAC) em 2003. Os produtores serão notificados e multados em R$16.100, de acordo com a Lei 10.814, que autorizou o plantio e comercialização de soja transgênica na safra passada. Gazeta Mercantil, 12/11/2004.
4. Feijão orgânico da Embrapa não sofre com vírus do mosaico dourado Quatro experimentos conduzidos em duas fazendas no Distrito Federal, entre 2002 e 2003, mostram que o feijão orgânico tem produtividade comparável ao feijão plantado no sistema convencional.
Nas experiências, foram avaliadas dez variedades da Embrapa, nos regimes de feijão irrigado e feijão das águas. Este é o primeiro experimento com feijão orgânico no DF. Os experimentos foram conduzidos pelo pesquisador Wellington Pereira de Carvalho, da Embrapa Cerrados.(…) Resistência (…) Os feijoeiros orgânicos foram menos atacados nas águas em comparação aos plantados em sistema convencional.
Carvalho explica que isso se deve a condições de manejo do sistema orgânico, como a rotação de culturas e a criação de faixas em nível com barreiras vegetais altas que, além de proteger contra erosão, vento e agrotóxico de propriedades vizinhas, separava o feijoeiro de outras culturas, impedindo a proliferação de pragas, como a mosca branca. (…) http://www.paginarural.com.br/noticias_detalhes.asp?subcategoriaid=5&id=18513,11/11/2004. N.E.: A mosca branca, que não atacou a plantação orgânica de feijão, é o inseto vetor que dissemina o vírus do mosaico dourado.
A própria Embrapa já investiu milhões de reais para desenvolver um feijão transgênico resistente a este vírus. Certamente custa muito menos, é mais saudável e sustentável simplesmente mudar o sistema de produção do que investir em transgênicos. O exemplo serve bem para mostrar o quanto é desnecessária a transgenia da Embrapa, especialmente quando a verba é pública e escassa.
5. Soja transgênica consome 30% mais herbicida a partir do terceiro ano de plantio A queda do custo de produção com o cultivo de soja transgênica é ilusória. Estudos apontam que o consumo de herbicidas é 30% maior com o cultivo da soja geneticamente modificada a partir do terceiro ano de plantio, informa o professor Victor Pelaez, mestre e doutor em Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). (…) Pelaez fez a projeção de aumento no consumo de insumos com base em trabalhos científicos feitos nos Estados Unidos (EUA), onde o plantio está legalizado.
Ele apontou o estudo do pesquisador norte-americano Richard Benbroock, feito para o departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, de que naquele país foi constatado o aumento do uso do glifosato sobre a soja geneticamente modificada a partir do terceiro ano de plantio. (…) O economista, que vem fazendo um acompanhamento econômico do rendimento da soja transgênica há dois anos, disse que essa avaliação está se confirmando nos Estados Unidos.
Segundo ele, realmente nos dois primeiros anos há uma redução no uso de herbicidas. Mas depois essa situação se inverte por causa da resistência da erva daninha ao uso freqüente do glifosato. (…) Para Pelaez, cabe às lideranças governamentais e dos produtores, que têm a visão de médio e longo prazo, a função de alertar os agricultores que estão sendo iludidos com uma falsa informação de redução dos custos.(…) http://www.paginarural.com.br/noticias_todas , 10/11/2004.
6. Governo Americano e Monsanto tentam omitir dados sobre OGMs A Monsanto e o governo americano têm afirmado ao mundo todo que os cultivos geneticamente modificados não oferecem riscos de contaminação às espécies nativas. Mas o Greenpeace descobriu, devido a um vazamento de dados, que o NAFTA discorda e está recomendando atitudes para evitar a contaminação genética do milho no México. No entanto, a administração do presidente reeleito, George W. Bush, está tentando omitir os dados.
O relatório, escrito pela Comissão para Cooperação Ambiental (CEC, da sigla em inglês) do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (EUA, Canadá e México) recomenda que todas as importações de milho geneticamente modificado sejam rotuladas como tais, e que todo o milho que entrar no México, proveniente dos EUA, seja moído para evitar que sementes sejam plantadas intencional ou acidentalmente.
O Governo Bush interviu várias vezes no sentido de atrasar a publicação do relatório, concluído há 3 meses, mas que ainda não dispõem de data para publicação. O escândalo começou em setembro de 2001 quando o governo mexicano anunciou que cientistas haviam descoberto a contaminação de variedades nativas de milho com variedades geneticamente modificadas.
Tendo como origem mais provável o milho importado dos EUA. (…) Uma das primeiras coisas que o México vez foi pedir ao CEC para checar o assunto. O CEC então começou um processo de investigação de contaminação, possíveis impactos a saúde humana, das comunidades e ao meio ambiente, e eventualmente fornecendo informações aos três governos do NAFTA de como tratar a contaminação. O CEC terminou o relatório sobre a contaminação do milho mexicano pelo milho dos EUA em junho. “O reconhecimento dos riscos reais do milho geneticamente modificado ao meio ambiente e as conseqüentes recomendações de moer o milho, antes de sua entrada no México, irão prejudicar a posição dos EUA no caso movido contra a União Européia na Organização Mundial de Comércio.
Não é surpreendente que eles tenham trabalhado tanto para evitar este relatório”, disse Doreen Stabinsky, da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Internacional. (…) O relatório também terá efeito sobre o atual esforço dos EUA em enviar milho geneticamente modificado como ajuda alimentar. Vários países africanos rejeitaram o milho grão inteiro dos EUA como uma ameaça potencial ao meio ambiente e pediram apenas milho moído. http://www.gmwatch.org/archive2.asp?arcid=4547, 10/11/2004.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são a solução para agricultura Em defesa da própria vida, do solo e do consumidor Agricultores de Lambedor (Lages) estão apostando na produção de hortaliças sem qualquer tipo de insumo químico. Trabalho ainda é inicial, mas já existem bons resultados na melhora da qualidade de vida dos envolvidos.
O grupo de agricultores agroecologistas de Lambedor, distrito de Índios, município de Lages, está buscando melhorar a qualidade de vida de sua comunidade. Depois de uma série de trabalhos na prevenção de doenças, cuidados sanitários e proteção de fontes de água, através da Comissão Comunitária de Saúde local, eles resolveram partir para a produção agroecológica de verduras e hortaliças. “Estamos fazendo isso em defesa da própria vida, da vida do solo e do consumidor”, declarou Elisonete Matteuci Neto, a Preta, uma das sócias.
O trabalho com a produção agroecológica começou quando a Preta, que é professora e importante liderança na comunidade, fez um curso de Educação Popular, no Centro Vianei, em Lages, no ano de 1994. “Ali eu ouvi falar pela primeira vez em agroecologia”, disse. “Achei muito interessante levar a idéia para o meu grupo. Quem sabe a gente poderia mudar o sistema de produzir verduras, sem usar venenos e adubos químicos”, informou. O grupo aprovou a idéia e através do Centro Vianei foram até o Rio Grande do Sul, no Centro de Agricultura Ecológica (CAE-Ipê), participar de três dias de formação sobre o assunto.
Na oportunidade tiveram contato com outros agricultores que já produziam neste sistema e estavam muito satisfeitos. Começo foi através de cursos Conhecendo a importância da formação, os associados também sentiram a necessidade de saber mais sobre plasticultura, uma tecnologia que permite produzir durante a maior parte do ano. Participaram, juntamente com outros agricultores, de um curso sobre o assunto, no Centro Vianei, em Lages. Pouco depois retornaram ao Rio Grande do Sul, desta vez para Flores da Cunha.
Naquele município visitaram diversos sistemas de produção em estufa e aprenderam coisas novas para levarem até Lages. “Meu primeiro impacto, no CAE, ao ver aquelas hortaliças no meio do mato, foi de que aquilo não poderia dar certo”, confessou Preta.
Eles eram acostumados a deixar o terreno limpinho, sem mato e ervas invasoras. Os associados afirmam que depois, na prática, começaram a entender que as ervas, antes consideradas prejudiciais à cultura, na verdade ajudam a controlar as pragas e doenças e a conservar o solo coberto. “Agora o mato é nosso aliado, não precisamos mais usar veneno e dá muito menos trabalho”, explicou Antônio Donizetti Valente, um dos sócios.
Espécies produzidas e retorno Os agricultores agroecologistas de Lambedor, nome que fazem questão de usar, começaram a produzir couve-flor, pepino, pimentão, cenoura, brócolis, beterraba, abobrinha, cará aéreo, couve chinesa, batatinha, mandioca, entre outros. A maioria desta produção é comercializada em um sacolão, no município de Otacílio Costa.
Até agora não tiveram grandes lucros. Isso por não produzirem grandes volumes e também por ainda não conseguirem dispor de produtos durante todas as épocas do ano. Outro desafio é conseguir um mercado fixo na cidade de Lages, o que ainda não está acontecendo. “Estamos reinvestindo tudo o que entra no negócio”, informou João Maria Barbosa, um dos associados. “Nossos maiores desafios são melhorar as condições do solo que estava muito ruim, aumentar o volume da produção, consolidar o mercado comprador, conseguir assistência técnica que trabalhe e acredite na agroecologia e ter um maior domínio na produção de algumas culturas, principalmente durante o inverno”, acrescentou.
Na questão de investimentos, o grupo já adquiriu um equipamento para irrigação e também plástico para a confecção de estufas. “Por enquanto não está sobrando dinheiro. Mas estamos sentindo uma grande melhora na variedade de alimentos saudáveis de que dispomos à mesa”, deixaram claro os associados.
O grupo de agricultores agroecologistas de Lambedor é formado por seis pessoas, de quatro famílias diferentes. Eles colocaram em comum a área de um hectare usado na produção. Estão utilizando adubos orgânicos como esterco bovino e cama de aviário, além de adubação verde, para recuperar o solo. Também dispõem de um minhocário para produção de húmus, trabalham com adubo foliar natural (Super Magro) e abandonaram qualquer espécie de insumo químico.
Dispõem de um caixa comum de entradas e saídas de dinheiro e recebem remuneração pelas horas trabalhadas. “Nossa idéia é fazer o grupo prosperar para que mais gente venha a produzir desta maneira”, encerrou Elisonete. http://www.cav.udesc.br/~vianei/lambedor.htm
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