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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 238 – 10 de dezembro de 2004
Caros Amigos,
A Câmara dos Deputados aprovou ontem a medida provisória (MP) 223, que libera a produção e a comercialização da soja transgênica plantada este ano. A medida representa mais um passo em direção à introdução forçosa e definitiva da soja transgênica no País. Antes de ir à sanção do Presidente, a matéria deverá ser votada pelo Senado.
O relatório apresentado pelo deputado Paulo Pimenta (PT/RS) permite que a soja transgênica seja plantada por produtores que não assinaram o termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta no ano passado, desde que eles o assinem este ano e usem as sementes que eles mesmos colheram. Ou seja, teoricamente, plantará soja transgênica este ano quem plantou no ano passado independente de ter assinado o Termo ou não. Só que sem a necessidade de comprovação documental, o agricultor que não plantou transgênico no ano passado fica “liberado” para adquirir ilegalmente as sementes transgênicas.
Pouco a pouco o PT vai legalizando todo o rastro de ilegalidade deixado pela soja transgênica. Não só legaliza como ainda premia os infratores. Por exemplo, o texto aprovado ontem libera a multiplicação de sementes de soja transgênica. Com isso, o resultado mais óbvio é que no próximo ano as indústrias sementeiras pressionem pela autorização para o registro definitivo e venda das sementes, já que elas não poderão arcar com os prejuízos de ficar com seus estoques parados. Isso sem que até hoje tenham sido realizados no País estudos de impactos da soja transgênica à saúde e ao meio ambiente.
Na tentativa de passar a perna na Monsanto, o deputado Pimenta inseriu um artigo no texto no qual a empresa detentora dos direitos de propriedade intelectual da semente transgênica só poderá cobrar royalties mediante a apresentação de nota fiscal que comprove a venda das sementes. Como toda semente usada é derivada de contrabando da Argentina, a Monsanto não poderá faturar sobre os produtores como fez no ano passado. Agora é contar os dias até que a empresa entre com um processo contra a União caso a lei (convertida da MP) seja promulgada pelo presidente Lula com esse artigo.
Na outra ponta da cadeia de produção de alimentos, a rotulagem é vista como uma pedra no caminho dos setores pró-transgênicos, já que é certo que a esmagadora maioria dos consumidores prefere produtos não-transgênicos. Sabendo disso que, com o aval do governo, o relator inseriu um parágrafo na MP mudando a definição de produtos derivados de transgênicos. Pela nova redação, produtos processados como óleo extraído de soja transgênica, lecitina de soja e outros ficam isentos de rotulagem.
Como a votação do projeto de lei de Biossegurança está no horizonte da Câmara, com tendência ao liberou geral, os deputados ruralistas não forçaram tanto para que esta medida provisória fosse mais permissiva. Devem estar confiantes de que terão o apoio do governo para a votação do PL.
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Neste número:
1.Grupo Carrefour declara apoio às medidas de Requião contra a soja transgênica
2. Fetraf-Sul impetra mandado de segurança contra decisão da Justiça Federal
3. Lei dos transgênicos da Alemanha entrará em vigor em 2005
4. Ativistas desmentem estudo sobre segurança de OGMs
5. Monsanto reduz preço de herbicida
6. Herbicida usado nos cultivos transgênicos da Bayer causa danos ao cérebro
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos na são solução para agricultura
Diversificar para preservar: a experiência de Sezefredo da Cruz
Dica sobre fonte de informação
Livro: “Plantas transgênicas: uma ameaça aos agricultores”
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1. Grupo Carrefour declara apoio às medidas de Requião contra a soja transgênica
O governador Roberto Requião recebeu no último sábado representantes do Grupo Carrefour que vieram ao Paraná manifestar apoio pelas medidas adotadas contra a presença de soja transgênica no Estado. “Ficamos realmente felizes em saber que um governador de um Estado brasileiro adotou o mesmo princípio da precaução que nós adotamos na França. Viemos felicitar o governador Requião pelas medidas tomadas e trazer o apoio comercial do Grupo Carrefour”, declarou Gilles Desbrosse, diretor de produtos frescos do Carrefour na França.
De acordo com Desbrosse, o Carrefour adotou o princípio da precaução e, desde 1999, encontrou no Paraná a garantia de comprar produtos livres de transgênicos. “O Grupo Carrefour tem um estudo com 60 milhões de consumidores que mostra que 80% dos entrevistados não querem consumir produtos que contenham organismos geneticamente modificados. Isso foi um indício de que estávamos no caminho certo”, contou o diretor francês. Desbrosse explicou que, para o Grupo Carrefour, o princípio da precaução é primordial para todas as ações da rede. “Ainda não estão claros quais são os riscos dos organismos geneticamente modificados para a saúde humana e o meio ambiente. Pelo contrário, há provas de danos ambientais”, salientou. Além disso, o diretor francês lembrou que, ao optar pela cultura de sementes transgênicas, o produtor perde a sua autonomia.
“A agricultura com a soja transgênica significa dizer que os agricultores do mundo inteiro seriam como uma grande fazenda de multinacionais americanas, ou seja, grandes fazendeiros trabalhando para uma multinacional americana, perdendo a soberania e se submetendo a um domínio, o que preocupou os franceses”, contou.
Qualidade
Para o governador Roberto Requião, a declaração de apoio do Carrefour demonstra que o Governo do Estado está no caminho certo ao proibir a presença de organismos geneticamente modificados no Paraná. “Esta visita é a consolidação de negócios já existentes e a abertura para novos negócios. Mas, acima de tudo isso, esse encontro mostra que o Paraná está certo na luta contra os produtos transgênicos”, disse o governador. Requião propôs ao Grupo Carrefour que seja criado um selo para certificar os produtos que contenham elementos comprados no Paraná. “Nós estamos propondo uma soma da qualidade Carrefour com a qualidade Paraná. Nós damos garantia de rastreabilidade e da ausência absoluta de transgênicos no produto”, explicou o governador.
Para Olivier Kriegk, diretor científico da cooperativa Terrena, um dos principais fornecedores do Grupo Carrefour, a principal preocupação da cooperativa é o respeito pelos seus consumidores. “Para nós, está bastante claro que o consumidor francês não quer se alimentar com produtos transgênicos”, constatou. Segundo ele, “a luta contra os organismos geneticamente modificados está crescendo no mundo e para nós é extremamente importante estarmos unidos com aqueles que estão lutando do nosso lado, contra a cadeia da soja transgênica”.
Terrena
Toda a soja usada pela cooperativa francesa Terrena é comprada exclusivamente no Paraná. “Pretendemos aumentar esse montante. A parceria com o Carrefour e o Estado do Paraná tem o objetivo de aumentar a importação de soja, que hoje é de cerca de 300 mil toneladas por ano”, afirmou Hubert De La Hamelinaye, diretor de nutrição animal da Terrena. A soja e o farelo de soja paranaenses são usados para ração animal.
Os franceses visitaram plantações de soja convencional no interior do Estado e no Porto de Paranaguá acompanharam as análises feitas pelo Governo nos carregamentos de soja. “Confirmamos o que já sabíamos, porque o resultado das análises feitas na França do material que vem do Paraná sempre foi zero para transgênicos”, comentou Hamelinaye. No ano passado, o grupo movimentou quase 3 milhões de euros só na compra e venda de alimentos e dispõe, atualmente, de 360 milhões de euros em fundos para investimentos.
A Terrena conta com 28 mil agricultores associados e 12,6 mil funcionários diretos. Já o grupo Carrefour atua em 30 países e possui cerca de 9 mil lojas que empregam 350 mil funcionários. Responsável pelo atendimento médio de 2 milhões de consumidores anualmente, o Carrefour se instalou no Brasil em 1975 e hoje conta com 98 supermercados e 98 hipermercados em todo o país.
Mercado
O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, também participou da reunião e lembrou que outras comitivas estrangeiras já estiveram no Estado em busca de alimentos orgânicos ou livres de transgenia. “Nesses dois anos que estamos no Governo, já recebemos missões chinesas, francesas, coreanas, italianas, e todos que nos procuram querem comprar produtos orgânicos ou livres de transgenia. Por isso mesmo nós temos mantido essa posição de precaução de recomendar ao produtor do Paraná que não plante transgênicos”, justificou.
Segundo Pessuti, nos próximos dias 12 e 13, uma missão austríaca virá ao Estado visitar propriedades e cooperativas interessadas em comprar produtos orgânicos ou livres de transgenia. “O mercado de produtos convencionais e orgânicos é crescente porque o mundo busca uma segurança alimentar”, afirmou. Além disso, conforme destacou Requião, há uma valorização comercial da soja não transgênica, já que o mercado internacional paga mais pela soja pura.
http://www3.pr.gov.br/noticias/seab/noticias.php# 06/12/2004.
2. Fetraf-Sul impetra mandado de segurança contra decisão da Justiça Federal
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul/CUT) protocolou nesta segunda-feira (06) um mandado de segurança contra decisão da Juíza Federal Gisele Lemke. A magistrada autorizou o plantio de soja transgênica por agricultores que não haviam assinado o Termo de Responsabilidade, Compromisso e Ajustamento de Conduta com o Governo Estadual.
A Fetraf-Sul considera que a decisão da Juíza é ilegal porque, ao dar margem para a produção indiscriminada de sementes geneticamente modificadas, os agricultores que optarem por não plantar transgênicos podem ser prejudicados pela contaminação de suas lavouras. A disposição da Juíza já está suspensa por determinação do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4º Região, mas a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) recorreu na última quinta-feira (02). A alegação da FAEP é que a maioria dos produtores de soja do Paraná são grandes proprietários de terra. No entanto, pesquisa realizada pela FAO, organização da ONU para agricultua e alimentação, mostra que 48% da soja colhida no Paraná é proveniente da agricultura familiar.
A intenção da Fetraf-Sul é proteger os produtores tradicionais contra a contaminação e evitar que os agricultores familiares tenham que pagar royalties à Monsanto. A entidade argumenta que o plantio indiscriminado de transgênicos dá origem a uma série de ilegalidades, como, por exemplo, a venda de sementes modificadas em virtude da falta das convencionais, a aplicação em pós-emergência do glifosato — agrotóxico que mais causa contaminações no Paraná — sem a autorização da Anvisa, e a ausência dos mecanismos de rastreabilidade e segregação que impossibilitam a rotulagem dos transgênicos. O mandado de segurança foi elaborado pela organização civil pelos Direitos Humanos, Terra de Direitos.
Informa Cut — Paraná, Nº 126, 07/12/2004.
3. Lei dos transgênicos da Alemanha entrará em vigor em 2005
Foi aprovada pelo parlamento alemão a lei que regulamenta o cultivo de transgênicos no País. A preocupação do governo foi assegurar a integridade dos métodos convencionais e orgânicos.
Os agricultores alemães precisarão ter em mente a nova regulamentação do plantio de transgênicos quando forem semear seus campos, passado o inverno. Nesta sexta-feira (26/11), o Bundestag (equivalene à Câmara dos Deputados) aprovou definitivamente a lei, que sofreu forte resistência da oposição e de governos estaduais. A nova lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2005.
A maioria constituída pelos parlamentares da coalizão governamental social-democrata e verde foi suficiente para rejeitar um recurso imposto pelo Bundesrat (equivalente ao Senado), na qual os Estados estão representados e os partidos oposicionistas têm maioria. Para a oposição, as regras rígidas impostas pela legislação teriam por meta impedir o cultivo dos transgênicos no País.
Já a ministra da Agricultura Renate Künast, do Partido Verde, acentua que a legislação garante maior segurança e transparência, possibilitando que os métodos convencionais e orgânicos de cultivo continuem subsistindo mesmo que a agricultura transgênica se expanda.
Registro, regras e responsabilidade
Todos os campos em que for praticada a agricultura transgênica serão lançados num registro especial. Com isso, outros produtores agrícolas, pecuaristas e apicultores das redondezas poderão informar-se sobre a possibilidade de contaminação de seus produtos por plantas transgênicas.
As regras ancoradas na nova lei determinam com precisão como o agricultor deve proceder para proteger a vizinhança de contaminação por pólen proveniente de suas plantações, impõem distâncias mínimas e indicam barreiras naturais contra a proliferação de pólen.
Produtores que adoterm sementes transgênicas se responsabilizarão por possíveis prejuízos em campos vizinhos. Agricultores convencionais ou orgânicos poderão exigir indenizações na Justiça. Não sendo possível determinar de onde veio a contaminação, todos os plantadores de transgênicos da vizinhança dividem a responsabilidade entre si e pagam as indenizações em partes iguais. Os comerciantes de sementes transgênicas também podem ser responsabilizados se não alertarem sobre os riscos e não fornecerem instruções de cultivo.
http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1408693,00.html, 08/12/2004.
4. Ativistas desmentem estudo sobre segurança de OGMs
Organizações ambientalistas reagiram às afirmações contidas em um recente estudo publicado na Inglaterra, alegando que os organismos geneticamente modificados não provocam danos ao meio ambiente.
Uma das principais alegações do estudo, que os OGMs não eliminam do solo as sementes de plantas espontâneas necessárias aos pássaros e outros animais, foi refutada pelo próprio organizador do estudo que admitiu que a reduzida sensibilidade dos testes empregados pode significar que algumas diferenças entre os ensaios transgênicos e os convencionais foram perdidas, segundo a organização Friends of the Earth.
O projeto “Implicações rotacionais e botânicas da tolerância geneticamente modificada a herbicidas” (BRIGTH, na sigla em inglês) foi conduzido por um grupo de pesquisadores e parceiros de indústriais, coordenados por Jeremy Sweet, do Instituto Nacional de Agricultura. Por um período de 4 anos, foram cultivadas a beterraba açucareira e oleaginosas geneticamente modificadas para serem resistentes a herbicidas, em rotação com cultivos de cereais e comparados os resultados com o dos cultivos convencionais de beterraba açucareira e oleaginosas na mesma rotação de culturas.
O objetivo do projeto Bright era de imitar as práticas normais da agricultura e medir a performance dos OGMs numa rotação de culturas.
Segundo Sweety, “Nossa pesquisa indica que não houve diferença a longo prazo nas populações de ervas daninhas, tanto nos campos cultivados ou não com OGMs. Além disso, o cultivo de plantas geneticamente modificadas tolerante ao herbicida pode fornecer aos agricultores a flexibilidade de aumentar a diversidade vegetal apenas controlando as ervas daninhas quando essas estão competindo com seus cultivos.”
Emily Diamand, da Friends of the Earth, diz que os resultados parecem confirmar o temor de que se liberados comercialmente os cultivos transgênicos seriam difíceis de controlar e poderiam realizar polinização cruzada com cultivos convencionais, o que impõem um “risco real” de contaminação das variedades convencionais.
“As oleaginosas convencionais estariam ameaçadas com a contaminação por plantas geneticamente modificadas, e as “pragas” geneticamente modificadas trariam problemas adicionais ao agricultores. Não surpreende, o fato de os alimentos e os cultivos geneticamente modificados serem tão impopulares”, disse Diamand.
O Greenpeace também criticou as descobertas do projeto Brigth, o qual foi patrocinado pelo Departamento para o Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra, da sigla em inglês), pelo Departamento Executivo Escocês para o Meio Ambiente e Assuntos Rurais, pela Associção de Produtores de Cereais e por cinco empresas de biotecnologia.
“Estudos muito mais extensos mostraram que esses cultivos transgênicos são prejudiciais para a vida animal e nenhuma soma de testes em pequena escala vai mudar o fato de que, no mundo real, a contaminação cruzada é inevitável”, disse Doug Parr, cientista chefe da organização.
“Na prática é impossível que os agricultores do Canadá plantem oleaginosas orgânicas por causa da contaminação, enquanto nos EUA os cultivos geneticamente modificados recebem maiores quantidades de herbicida, apesar das afirmações de que seriam usados em menores quantidades. Além disso os consumidores não querem cultivos transgênicos e o meio ambiente, definitivamente não precisa deles.” (…)
Em setembro, uma pesquisa de opinião mostrou que a opinião pública em relação aos OGMs está se solidificando. 61% das pessoas argüidas pela revista “Wich?” disseram estar preocupadas com relação ao uso de ingredientes geneticamente modificados nos alimentos, comparada a 56% em 2002.
http://www.gmwatch.org, 09/12/2004.
5. Monsanto reduz preço de herbicida
A americana Monsanto reduziu os preços de seus herbicidas da família Roundup em 18% no Brasil. A estratégia faz parte de um programa de ações para alavancar as vendas na safra 2004/05, face às perspectivas de redução na rentabilidade dos produtores, reflexo do aumento de custos e da queda das cotações internacionais da soja. “A intenção é adequar a atividade da empresa ao cenário atual”, disse José Carlos Carramate, gerente de negócios de soja da Monsanto.
Para a estratégia da Monsanto de conter quedas das vendas, também colaborou a liberação, pelo governo do uso de herbicidas à base de glifosato (caso da família Roundup) para pós emergência nas lavouras de soja transgênica.
Segundo Carramate, a revisão da Monsanto nos defensivos sinaliza, também, uma possível redução no valor dos royalties que a empresa cobrará em 2004/05 pela comercialização de soja transgênica no país. Até agora, o valor está fixado em R$1,20 por saca de 60 quilos colhida, ante R$0,60 em 2003/04. A múlti tem discutido a revisão do valor com produtores e com os governos gaúcho e catarinense, mas não crê que o valor seja definido este ano. “Haverá uma discussão ampla com o setor até o início da colheita, quando os royalties começam a ser cobrados”.
A Monsanto não informou quanto devem render suas vendas de defensivos ou os ganhos com royalties no país. Mas, conforme adiantou o Valor, estima-se que os ganhos da empresa com royalties no Rio Grande do Sul — que concentra a produção brasileira de soja transgênica tenha superado R$44 milhões no ciclo 2003/04.
A Monsanto também negocia, desde outubro, a definição de um sistema de cobrança de royalties na Argentina para a Safra 2004/05, mas ainda não houve acordo. Nos nove primeiros meses do ano fiscal de 2004, a empresa teve lucro líquido global de US$ 309 milhões, 21% acima do obtido em igual período no ano anterior. A receita líquida aumentou 16% no período, para US$ 4,199 bilhões.
Valor Econômico, 10/12/2004.
6. Herbicida usado nos cultivos transgênicos da Bayer causa danos ao cérebro
Yoichiro Kuroda, o principal investigador do projeto intitulado “Effects of Endocrine Disrupters on the Developing Brain”, realizado pelo programa governamental do Centro de Pesquisa para Evolução da Ciência e Tecnologia (CREST, da sigla em inglês), acredita que os bifenóis policlorados (PCBs) e o glufosinato podem atrasar o desenvolvimento e a atividade cerebral.
Os PCBs são “falsos hormônios” — disruptores endócrinos que causam defeitos no desenvolvimento neural através da disrupção das funções dos genes e da formação das comunicações neurais em crianças — resultando em baixo QI e tendências a hiperatividade, disse ele.
O glufosinato, amplamente utilizado nos Estados Unidos como um potente herbicida para os cultivos geneticamente modificados, age como uma “falso neurotransmissor” que tem um efeito agressivo no cérebro, diz.
Dez anos atrás, Toshiko Fujii, professor de medicina da Universidade TeiKYO, conduziu uma pesquisa na qual descobriu que o principal componente do herbicida usado nos transgênicos causava efeitos adversos no cérebro de ratos.
“Ratos machos normalmente brigam uns com os outros, mas as fêmeas são pacíficas”, disse Kuroda, explicando a pesquisa de Fujii.
“Mas as fêmeas nascidas de mães que receberam altas doses de glufosinato tornaram-se agressivas e começaram a morder umas as outras, chegando a causar a morte de algumas”.
Kuroda diz que existe uma possibilidade considerável de que fetos e bebês também sejam afetados pela substância.
http://www.organicconsumers.org, 10/12/2004.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos na são solução para agricultura
Diversificar para preservar a experiência de Sezefredo da Cruz
“Eu nasci e me criei na roça. Não tive oportunidade de estudar. Desde os 8 anos acompanhei meu pai plantando milho e feijão”, conta Sezefredo da Cruz, 62 anos, morador de Barra do Turvo, Vale do Ribeira, divisa de São Paulo com o Paraná.
Proprietário do Sítio Ana Rosa, situado em uma área remanescente de Mata Atlântica, o agricultor chegou a ter nove mil pés de banana. Mas quando a produção caiu, o sonho de levar uma vida digna na região mais pobre do Estado de São Paulo se foi. Sezefredo colocou o sítio à venda e quase abandonou o campo. “Eu e a minha família trabalhávamos muito.
O trabalho era tanto que quase cheguei no ponto de maltratar a minha terra. A enxada é uma excelente companheira, desde que o solo seja rico. Se capinar demais, sol e chuva, chega uma hora que a terra fica seca e pobre”, relata.
Sezefredo estava completamente sem esperança. Até que os extensionistas rurais da Secretaria de Agricultura do Governo de São Paulo chegaram à região com um projeto que estabelecia uma mudança radical. Ao invés de trabalhar com a monocultura da banana, que vinha gerando problemas como o desgaste do solo e baixa renda para o agricultor, foi proposta a utilização das áreas degradadas para o plantio de várias culturas, formando uma floresta. Era o início, aqui no município de Barra do Turvo, dos Sistemas Agroflorestais.(…)
De lá para cá, o apoio de organizações não governamentais, como a Visão Mundial e a Rede EcoVida, foram essenciais para o desenvolvimento do trabalho. No início foi plantado feijão guandu, que funciona como adubo verde e prepara o solo para receber outros cultivos.(…)
Hoje, cerca de 5 hectares dos 39 que compõem o sítio são ocupados pelas bananeiras, que crescem ao lado de outras espécies frutíferas, como a jabuticabeira e a mexeriqueira; plantas medicinais, como a quina branca, e plantas alimentícias de crescimento rápido, como o milho. A variedade incrementa a subsistência do produtor e permite a comercialização do excedente. Parte do que é produzido segue principalmente para Curitiba, por meio da Associação de Agricultura Orgânica do Paraná.
A Agrofloresta também mantém a qualidade das nascentes. Nessas áreas, originariamente de Mata Atlântica, a biodiversidade sai ganhando com o retorno de várias espécies. “Agora temos uma variedade de passarinhos que antes não apareciam por aqui. Até os tucanos passam pelo telhado da casa. Os bichos foram atraídos pelos alimentos”.
No município de Barra do Turvo, Sezefredo é pioneiro no uso de sistemas agroflorestais. Hoje, já existem 73 famílias apostando nesse tipo de cultivo. Os trabalhos são articulados pela a Associação dos Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo, a Cooperafloresta, que depois de um longo período de discussões para a sua formação foi registrada em maio de 2003″.
“Nós continuamos agricultores, mas agora somos agricultores diferenciados. Isso provoca uma mudança profunda no ser humano. Acho que esse é um dos maiores lucros da Agrofloresta”.
Áreas como a de Sezefredo contrastam com as de outros agricultores do Vale do Ribeira. A Agrofloresta ajuda a formar corredores para a circulação de animais que vivem nas áreas de Mata Atlântica. O agricultor cuida, ainda, de um pequeno viveiro, preparando mudas de espécies nativas para incrementar as áreas de outros produtores. “Quem cuida tem. Quem só sabe colher mas não sabe plantar não vê resultados futuros. Conviver com a natureza é uma coisa; viver dela é outra. O Sistema de Agrofloresta nos ensina a conviver com a natureza, contribuir para que ela possa ser essa mãe que tanto nos dá — água, oxigênio e saúde. Não somos só nós que precisamos dessa floresta. São todos os seres vivos da face da Terra”.
http://www.biodiversidadebrasil.com.br/programas/sinopse.asp?pin=0&ID=665, 09/12/2004.
Dica sobre fonte de informação
O livro “Plantas transgênicas: uma ameaça aos agricultores” traz para a América Latina as reflexões e propostas de um numeroso grupo de pessoas de todos os continentes (militantes ecologistas, agricultores, membros de organizações da sociedade civil, jornalistas, cientistas e professores), que se reuniram na Índia com o objetivo de analisar os possíveis impactos dos transgênicos nos países do Sul.
Plantas Transgênicas: uma ameaça aos agricultores. De Robert Ali Brac de la Perrière, Franck Seuret e Arnaud Trollé (colab.). Petrópolis: Vozes/Tríplice, 2001. 142p.
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
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