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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 287- 03 de fevereiro de 2006
Car@s Amig@s,
A ONG Friends of the Earth divulgou recentemente um relatório mostrando que após 10 anos de cultivo comercial, as plantas transgênicas não apresentaram benefícios nem para o meio ambiente, nem para os consumidores. Da mesma forma, apesar das promessas das empresas, os transgênicos não trouxeram nenhuma contribuição no combate à fome e à pobreza.
O estudo também mostra que a empresa Monsanto, que controla 90% do mercado global de transgênicos, planeja em 4 anos substituir todo o milho europeu por suas sementes transgênicas. Para isso, nos últimos dez anos a empresa trabalhou insistentemente no sentido de flexibilizar as leis européias de proteção aos consumidores, ao meio ambiente e aos agricultores.
Em novembro de 2005 a Monsanto anunciou a seus investidores que vê na Europa sua “próxima oportunidade”, destacando que até 2010 há mercado potencial para introduzir 9,7 milhões de hectares de seu milho resistente ao herbicida Roundup e mais 8,2 milhões de hectares para o milho transgênico inseticida. Ademais, a companhia crê na possibilidade de se introduzir 400 mil hectares da soja transgênica. Atualmente apenas uma variedade de milho transgênico da Monsanto pode ser cultivada em solo europeu.
No entanto, apesar destes esforços, a Friends of the Earth revela que:
– Não houve nenhuma nova aprovação para plantio de transgênicos na União Européia desde 1998 – e apesar dos 30 anos com pesquisas e dinheiro público, a biotecnologia só produziu duas características de plantas transgênicas (as plantas resistentes a herbicida e as plantas inseticidas).
– O cultivo comercial de transgênicos na União Européia é restrito à Espanha, e lá o número de eventos de modificação genética permitidos caiu para apenas um.
– O número de países proibindo produtos transgênicos cresceu nos últimos anos e o número de regiões européias se declarando livres de transgênicos subiu para 165, com 4.500 localidades também se declarando áreas livres de transgênicos. Em novembro, os suíços votaram um referendo aprovando uma moratória de cinco anos aos produtos transgênicos.
– O povo europeu continua rejeitando os alimentos modificados geneticamente: 70% não querem comer alimentos transgênicos e todas as maiores empresas alimentícias proíbem o uso de produtos transgênicos, em particular a soja RR da Monsanto.
Para maiores informações sobre este relatório, consulte: http://www.foeeurope.org/
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Neste número:
1. Monsanto terá de indenizar sul-coreanos
2. Grécia prolonga embargo contra milho da Monsanto
3. MS alerta produtores rurais sobre milho
4. Semente transgênica deve avançar em Mato Grosso
5. Argentina chama Monsanto de “gananciosa”
6. Pirataria argentina da soja no alvo da Monsanto
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Manga orgânica no Brasil
Dica sobre fonte de informação
Conheça os sites http://www.cop8.org.br e http://www.biodiv.org, com informações sobre o 3º Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena de Biossegurança e sobre a 8º Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica, que serão realizados em Curitiba entre os dias 13a 31 de março.
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1. Monsanto terá de indenizar sul-coreanos
Ficou determinado que Dow Chemical, Monsanto e outras fabricantes americanas do agente laranja paguem indenização por danos aos veteranos da Coréia do Sul que lutaram na guerra do Vietnã, decidiu um juiz local. Às fabricantes norte-americanas de produtos químicos foi determinado que paguem 60,8 bilhões de wons (US$ 63 milhões) aos sul-coreanos que serviram no conflito de 1954 a 1975 e aos seus familiares, afirmou o juiz Choi Byung Duk, da Corte Superior de Seul.
Park Sang Il, advogado da Dow Chemical, disse que a empresa vai responder depois de analisar a sentença. Dow Chemical, Monsanto e outras fabricantes têm enfrentado processos judiciais em casa e no exterior por produzirem o herbicida que as Forças Armadas dos Estados Unidos usavam para pulverizar e desfolhar as florestas e manguezais a fim de destruir alimentos e cobrir as forças do Viet Cong. Sintomas relacionados com a exposição ao agente laranja são câncer, distúrbios nervosos, enfermidades cardiovasculares e diabete. O tribunal da Coréia do Sul decidiu que as empresas norte-americanas da área de produtos químicos deverão pagar indenizações para 6.795 dos 17,2 mil membros da Associação Coreana dos Veteranos Vítimas do Agente Laranja e para as suas famílias que moveram a ação judicial.
Gazeta Mercantil , 27/01/2006.
2. Grécia prolonga embargo contra milho da Monsanto
A Grécia prolongou a proibição a uma variedade de milho geneticamente modificado desenvolvido pela empresa norte-americana Monsanto Co., apesar da decisão da União Européia (UE), no início desse mês, de retirar o embargo.
O vice ministro da Agricultura da Grécia, Alexandros Kondos, assinou a decisão proibindo a venda de 31 variedades da semente MON810 durante os próximos 18 meses, informou o ministério. A decisão inclui 17 tipos que já tinham sido listados no embargo inicial, feita em abril de 2005.
“A decisão de prolongar a proibição tem bases legais muito mais fortes do que a primeira, pois leva em conta novos dados científicos”, afirmou o comunicado. O ministério destacou a necessidade das autoridades de cada país membro da UE poderem avaliar por mais tempo os perigos inerentes da plantação de safras geneticamente modificadas. Em 10 de janeiro, a Comissão Européia, braço executivo da UE, decidiu que o embargo inicial da Grécia às sementes MON810 não era justificado por motivos de saúde ou de segurança, pois a venda das sementes foi aprovada para venda na UE em setembro de 2004.
Porém, o Ministério da Agricultura da Grécia informou que o cultivo das sementes é “uma ameaça imediata ao meio ambiente” pois atrapalha a biodiversidade ao espalhar pólen geneticamente modificado para as safras tradicionais de milho. A UE acabou com uma moratória de seis anos em registros de novos produtos de biotecnologia iniciada em maio de 2004, sob procedimentos rígidos de aprovação e leis de rotulagem.
No entanto, vários países da UE ainda relutam em autorizar safras de produtos biotecnológicos por preocupações com a saúde pública e o ambiente. As informações são da agência Dow Jones.
Agência Estado, 31/01/06.
3. MS alerta produtores rurais sobre milho
A Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro) alerta aos produtores sobre uma possível presença de milho transgênico no Rio Grande do Sul.
O órgão informa ainda que o plantio de cultivares de milho geneticamente modificado depende de prévio parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e da inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC), conforme estabelecido, na lei nº11. 105/2005 e lei nº10.711/2003. O uso de sementes modificadas sem decisão favorável, constitui crime.
Dourados News, 28/01/06.
4. Semente transgênica deve avançar em Mato Grosso
O aumento nos custos de produção da soja no Mato Grosso e as perspectivas de menor rentabilidade no setor – por causa dos preços internacionais dentro da média histórica e do dólar abaixo de R$ 2,50 devem estimular mais produtores a plantar soja geneticamente modificada na próxima temporada, a 2006/07. A oferta de sementes transgênicas certificadas, que atingiram 600 mil sacas no Estado em 2005, será ampliada para 1,5 milhão de sacas este ano, para atender à safra 2006/07, de acordo com Dario Minoru Hiromoto, diretor superintendente da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT).
“As sementes certificadas plantadas no Estado estão apresentando produtividade superior à das variedades convencionais, o que está atraindo o interesse dos produtores para adotar a tecnologia”, afirma Hiromoto.
Segundo ele, as variedades transgênicas têm produtividade superior a 2.600 quilos por hectare e exigem menos uso de defensivos. Hiromoto informa que em 2005 9% das sementes consumidas no Estado (que utiliza 8 milhões de sacas por ano) eram transgênicas. Mas neste ano o índice deve superar 50%, chegando a 4 milhões de sacas.
Ele observa que algumas indústrias ainda preferem comprar soja convencional porque conseguem prêmios com a venda do produto no exterior, mas devido à baixa rentabilidade da soja, os produtores tendem a comprar sementes transgênicas para reduzir custos de produção.
Para fazer frente à demanda, a Fundação MT, está lançando no mercado quatro variedades de sementes transgênicas, resistentes ao nematóide de cisto e à galha (praga que afeta a raíz da planta), todas com tecnologia Roundup Ready, licenciada pela multinacional Monsanto e que oferece tolerância ao glifosato. As variedades irão se somar às sete já oferecidas pela Fundação MT, que hoje pesquisa 450 mil variedades por ano.
“Em 2009, colocaremos no mercado sementes resistentes à ferrugem da soja, que já estão em estudos em laboratório”, diz Sérgio Suzuki, pesquisador da empresa.
Valor Econômico, 27/01/06.
5. Argentina chama Monsanto de “gananciosa”
O secretário argentino da Agricultura, Miguel Campos, criticou ontem severamente a Monsanto, que na terça-feira pediu ao governo espanhol que teste um carregamento de farelo de soja argentino para transgenia. As cargas contendo traços de transgenia sem o devido pagamento dos royalties à Monsanto devem ser recusadas.
Campos disse que a tentativa de receber royalties das sementes de soja mostra que a Monsanto é uma companhia “gananciosa” que pouco se preocupa com o bem-estar dos agricultores locais. Ele afirmou que as ações judiciais que a empresa moveu na União Européia (UE) equivalem a “extorsão”. A Monsanto diz que vem negociando há dois anos e que a tecnologia da soja transgênica “contribuiu com US$ 1 bilhão por cada ano nos 10 últimos anos para a economia argentina”, informou em comunicado.
Gazeta Mercanti, 28/01/06.
6. Pirataria argentina da soja no alvo da Monsanto
A Monsanto Co. deu início a uma ofensiva mais agressiva contra a pirataria de sua tecnologia da soja transgênica resistente a herbicidas. Ontem a empresa pediu a autoridades portuárias espanholas que verifiquem se um carregamento de farelo de soja argentina contém o gene de sua tecnologia patenteada.
Há cerca de dois anos, a Monsanto havia feito o mesmo em relação à pirataria no Brasil. Na época, dois navios de soja brasileira foram detidos no porto de Roterdã, na Holanda, por conterem soja pirata. A medida causou alvoroço no setor e obrigou os exportadores a analisar a soja exportada.
Em caso positivo, os traders tinham que recolher uma taxa para regularizar a exportação da soja pirata.
Em comunicado oficial, a empresa diz que “não tem outra alternativa a não ser assegurar a proteção de seus direitos, e dessa forma abrir ações na justiça sobre cada navio buscando ressarcimento de suas perdas”.
A Argentina é o terceiro maior exportador mundial de soja em grão e o primeiro em vendas de farelo de soja.
No ano passado, o país embarcou 9,87 milhões de toneladas de soja em grão, volume 38% maior que o exportado no ano anterior, informa o país.
Gazeta Mercantil, 26 /01/2006
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Manga orgânica no Brasil
Na mangicultura convencional, a nutrição da planta e o controle de pragas, doenças e ervas daninhas têm sido feitos através do uso intenso de substâncias químicas, que afetam o ambiente, a sociedade e a saúde dos seres humanos, além de onerarem significativamente os custos de produção com os insumos usados.
Na orgânica não é usado nenhum produto químico, seja fertilizante ou defensivo agrícola, minimizando riscos ao ambiente e consumidores. Na adubação são usados estrumes de curral, pó de rochas, farinha de ossos, fosfatos naturais, restos vegetais triturados e compostos orgânicos.
Para controlar doenças, pragas e matos, são usados produtos naturais como extratos de plantas, rotação de cultura e cobertura vegetal. Um exemplo de extrato vegetal usado é do Nim, que controla diversas pragas e doenças em plantas e animais (Ciociola Junior & Martinez, 2002).
O sistema de produção de mangas orgânicas está sendo seguido por pequeno e médio produtores da região de Patos, estado da Paraíba. Na Fazenda Tamanduá, situada no município de Santa Terezinha, são cultivadas 30 ha de mangueiras das variedades Tommy Atkins (80%) e Keitt (Fazenda, 2003).
A produção média de frutos gira em torno de 250 toneladas, colhida em duas safras, sendo a principal de outubro a janeiro com 55 mil caixas de quatro quilogramas cada (2002 e 2003) e, a segunda, em julho com uma produção de 15 mil caixas. O produto é exportado para a Europa via marítima com embarque feito no Porto de Natal, RN. O sistema de irrigação usado é por gotejamento e a adubação das mangueiras é realizada com um composto orgânico feito na própria fazenda. Nesse composto são usados restos vegetais triturados das podas das mangueiras e jurema-preta (2/3 da mistura), estrume de gado (1/3 da mistura), 1% de MB4 (produto produzido pela Empresa Mibasa, constituído de macro e micro elementos), pó de rocha moído, 1,5% de fosfato da Bahia, 0,5% de cinzas e soro de leite oriundo do processo de produção de queijo.
Com a alta temperatura do sertão nordestino, obtém-se em seis meses o composto orgânico que é aplicado em sulcos situados por baixo das mangueiras de irrigação.
Outra empresa, a Agropecuária Cachoeira, localizada na Rodovia Juazeiro-Curaçá, quilometro 86, no município de Curaçá, BA, possui 30 ha de mangueiras com cultivo orgânico, produzindo 300 toneladas que são exportadas para o mercado europeu (Qualidade, 2003). Nesse local, a produtividade por hectare do cultivo orgânico em relação ao cultivo convencional é menor, porém o lucro é maior por causa dos preços obtidos pelos produtos orgânicos na Europa, bem como os menores custos de produção. As adubações das plantas são feitas de estrume e urina de caprinos e ovinos adquiridas na região.
Um fato inédito no Brasil ocorreu em 2002, no Mato Grosso do Sul, onde indígenas dos municípios de Aquidauana e Miranda exportaram duas mil toneladas de manga orgânica da variedade Bourbon para Holanda e Portugal com boa aceitação (Manga, 2003).
No semi-árido nordestino, o método convencional de estímulo ao florescimento da mangueira Tommy Atkins é o uso do agroquímico paclobutrazol (PBZ) que representa cerca de 25% dos custos da produção nos perímetros irrigados (Embrapa, 2003). O método orgânico é pelo sistema de estresse hídrico, onde reduz-se a quantidade de água destinada ao pomar até atingir níveis de irrigação que provoquem o mesmo efeito do PBZ, que atua como inibidor do crescimento vegetativo, forçando o florescimento da planta.
O estresse hídrico ainda é pouco utilizado no país, no entanto esse método apresenta algumas vantagens importantes como redução do custo de produção em mais de 30% (Embrapa, 2003) e diminuição da quantidade de água usada na irrigação da planta (Mostert & Hoffman, 1996).
Numa pesquisa realizada por Fonseca (2002), em Petrolina, PE, não foi obtida nenhuma diferença estatística no florescimento e produção da mangueira ‘Tommy Atkins’ entre o uso de PBZ e estresse hídrico na planta. Apenas ocorreu uma antecipação das épocas de florescimento e colheita quando se usou o PBZ no solo ao redor da planta. No estresse hídrico não foi usada nenhuma irrigação da planta durante o período de indução ao florescimento.
Outra prática importante está relacionada com a quebra de dormência das gemas na época de indução ao florescimento da planta. No método convencional, os produtos mais usados nas pulverizações foliares são os nitratos de potássio (KNO3) e cálcio Ca(NO3)2. No método orgânico são usados os biofertilizantes à base de microrganismos eficazes (EM4 e EM5) que associados ao estresse hídrico monitorado já provocaram o florescimento em 86,8% das plantas (Queiroz Filho, 2000, citado por Aguiar, 2001). Outros produtos são a urina de vaca e sal marinho (NaCl), no entanto, eles têm índices salinos elevados e devem ser usados em concentrações inferiores ou iguais a 1%, até que as pesquisas certifiquem as doses e os intervalos corretos de aplicação.
Embrapa Mandioca e Fruticultura, 27/01/06.
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
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