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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 379 – 08 de fevereiro de 2008
Car@s Amig@s,
A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados está pedindo o fim da tarifa de importação do glifosato produzido na China. A Comissão enviou ontem (08/02) um ofício à Camex (Câmara de Comércio Exterior) solicitando a não renovação da tarifa para a matéria prima do herbicida Roundup.
Todos sempre soubemos que a aprovação e difusão da soja transgênica multiplicaria o consumo de glifosato no Brasil. Para quem não se lembra, a soja transgênica RR (Roundup Ready), da Monsanto, foi desenvolvida para resistir à aplicação do herbicida à base de glifosato (cujo nome comercial da Monsanto, que domina o mercado, é Roundup). Com o uso da soja transgênica RR, os agricultores pulverizam o agrotóxico sobre a lavoura, eliminando todas as plantas invasoras mas deixando intacta a soja transgênica (¾ dos transgênicos produzidos no mundo foram desenvolvidos para resistir à aplicação de herbicidas).
Se por um lado as empresas alegam que a tecnologia simplifica o trabalho de controle do mato, por outro, é evidente que o consumo do produto tende a aumentar em muito pouco tempo. Isto porque as plantas invasoras rapidamente também adquirem resistência ao produto, o que força os agricultores a usar quantidades cada vez maiores do veneno para garantir sua eficácia. Outro resultado deste fenômeno é que as alegadas vantagens econômicas da tecnologia em pouco tempo são anuladas, pois a aquisição de veneno é um dos fatores que mais pesam nos custos de produção da agricultura convencional. Mais veneno, mais custos.
Um estudo recente de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna – SP) voltado a analisar os potenciais impactos da soja transgênica no Brasil já listou nove espécies de plantas capazes de driblar o glifosato. Quatro delas já desenvolveram resistência ao veneno nas lavouras brasileiras de soja transgênica e apresentam “grande potencial de se tornarem um problema”.
Essa pesquisa complementa dados do Ibama que indicam que para cada quilo de princípio ativo [de herbicida] reduzido no Rio Grande do Sul, houve um aumento de 7,5 kg de glifosato no período de 2000 a 2004, época de expansão da área da soja RR resistente ao glifosato no estado.
Em artigo publicado em ontem pela revista Ethical Corporation, uma porta voz do EuropaBio, um grupo de lobby da indústria biotecnológica, admitiu que “os cultivos Roundup Ready levaram as plantas invasoras a se tornarem resistentes ao Roundup, o que resultou em maiores aplicações do produto, comumente em combinação com outros químicos”.
A demonstração científica dos efeitos cancerígenos, ação mutagênica, contaminação de alimentos e persistência do produto no solo e em cultivos recentemente motivou a reclassificação do glifosato pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) de “produto que não oferece perigo” para produto “altamente tóxico”. [ERRATA: leia aqui correção a respeito dessa informação]
Voltando à Comissão de Agricultura, não é a toa que os mesmos deputados que vêm arduamente defendendo a liberação dos transgênicos no País durante os últimos anos agora defendem o barateamento do agrotóxico. São os mesmos deputados que sempre alegaram que a soja transgênica diminuiria o uso de agrotóxicos na agricultura, como Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Luis Carlos Heinze (PP-RS).
Após conseguir a liberação da soja transgênica, a Monsanto, que domina a produção das sementes transgênicas e controla 80% do mercado de glifosato no País, subiu o preço do veneno em 50%. E os agricultores que embarcaram na onda transgênica estão agora pagando o preço duplamente: não só se vêem forçados a usar maiores quantidades de agrotóxicos, como têm que pagar mais caro por eles. Negócio da China.
Explica-se o interesse dos deputados ruralistas em diminuir a tarifa de importação do agrotóxico barato chinês: deputados precisam de votos para se eleger e confiança da base eleitoral tem limite.
Aliás, a empresa Nortox, que produz um herbicida genérico à base de glifosato, foi uma das financiadoras da campanha do deputado Heinze e de outros ruralistas.
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Neste número:
1. Preço obtido na exportação de milho cresceu 25,6%
2. Resíduos de agrotóxicos encontrados em todos os humanos testados
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Apicultura ajuda a preservar o meio ambiente no Ceará
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1. Preço obtido na exportação de milho cresceu 25,6%
O preço do milho exportado pelo Brasil em janeiro foi 25,6% superior ao de dezembro e 68% maior que o obtido em janeiro de 2007. É o que informa hoje a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O preço médio do milho embarcado em janeiro foi de US$ 246,7 a tonelada, contra US$ 196,4 a tonelada em dezembro e US$ 146,9 a tonelada em janeiro do ano passado.
A alta reflete a valorização do milho no mercado internacional e o prêmio pago pelo importador pelo milho não transgênico do Brasil.
O volume embarcado em janeiro caiu em relação a dezembro e também ante janeiro de 2007, resultado da demanda mais fraca pelo produto do Brasil verificada desde novembro. Segundo dados da Secex, o volume do cereal embarcado em janeiro atingiu 392 mil toneladas. Em dezembro, o Brasil havia exportado 901,7 mil toneladas. E, em janeiro de 2007, o volume registrado foi de 462,8 mil toneladas.
Fonte:
Agência Estado – Últimas Notícias, 01/02/2008.
N.E.: Esta notícia revela dois fatos importantes: primeiro que o Brasil possui uma posição de vantagem no mercado internacional por ser capaz de fornecer grandes volumes de milho não transgênico aos países importadores que rejeitam a comida frankenstein, posição esta que será perdida se o milho transgênico for autorizado por aqui, contaminando todo o suprimento nacional.
Segundo, confirma-se a informação de que não faltou milho no Brasil nos últimos meses, como tentaram fazer crer os defensores dos transgênicos que fizeram de tudo para forçar a importação de milho transgênico da Argentina. Basta ver o volume de milho exportado somente em dezembro último: quase um milhão de toneladas.
2. Resíduos de agrotóxicos encontrados em todos os humanos testados
Um estudo conduzido por pesquisadores do Departamento de Radiologia e Física Médica da Universidade de Granada, em colaboração com a Escola de Saúde Pública de Andaluzia, na Espanha, descobriu que 100% dos espanhóis analisados tinham em seus corpos pelo menos um tipo de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), substâncias internacionalmente classificadas como potencialmente perigosas para a saúde. Estas substâncias entram no corpo através da comida, da água e até mesmo do ar. Todas elas tendem a se acumular nos tecidos adiposos do corpo.
Na pesquisa foram usadas duas amostras de pessoas, uma em área urbana (Granada, capital) e uma em área semi-rural (Montril) — um total de 387 adultos, de ambos os sexos. O estudo buscou identificar fatores associados aos níveis de POPs encontrados: dieta, estilo de vida, atividades ou local de residência.
Os pesquisadores analisaram amostras e mediram os níveis de concentração de 6 POPs: DDE (metabólito principal do DDT, agrotóxico usado na Espanha até a década de 1980); hexaclorobenzeno (um composto usado como fungicida e comumente liberado em processos industriais); PCBs (compostos relacionados a processos industriais) e Hexaclorociclohexano (usado como inseticida e atualmente usado no tratamento de sarna e piolhos).
O estudo concluiu que 100% dos sujeitos analisados continham DDE em seus corpos — uma substância banida da Espanha –, além de outros compostos muito freqüentes: PCB-153 (presente em 92% das pessoas), HCB (91%), PCB-180 (90%), PCB138 (86%) e HCH (84%).
Níveis mais altos de substâncias tóxicas foram detectados em mulheres em comparação aos homens, e em pessoas mais velhas comparando-se com os jovens. Uma possível explicação para este último resultado é a grande persistência destas substâncias no meio ambiente, na cadeia alimentar e a sua bioacumulação ao longo do tempo. Outra hipótese considera que aqueles que nasceram nos períodos de maior contaminação sofreram mais as conseqüências do que aqueles nascidos após a proibição de tais pesticidas.
O estudo indica também que a dieta é um fator importante na concentração de POPs, uma vez que alguns alimentos, especialmente aqueles de origem animal e ricos em gordura, provocam uma maior presença destas substâncias tóxicas no organismo humano.
Fonte:
Science Daily – Science News, 06/01/2008.
http://www.sciencedaily.com/releases/2008/01/080104102807.htm
N.E.: Na época em que estes produtos foram liberados a indústria “garantia” que eles eram seguros. As provas de então eram a “ausência da prova de riscos”. Exatamente as mesmas “provas” que hoje se usa para atestar a segurança dos produtos transgênicos.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Apicultura ajuda a preservar o meio ambiente no Ceará
A Associação Comunitária de Lagoa dos Cavalos (CE) possui 40 sócios que, organizados em grupos, desenvolvem atividades agroflorestais e agrossilvipastoris, casa de sementes, produção de ovinos, construção de barragens subterrâneas e casa de farinha. Todos os trabalhos vêm dando vida nova à caatinga e melhorando a vida na comunidade. Porém, apicultura é a atividade que se destaca.
O grupo de apicultura começou com 8 pessoas ainda no final da década de 1980, com apenas uma colméia. Entre os anos de 1989 e 2006, o grupo conseguiu apoio de várias entidades, o que foi importante para o fortalecimento do trabalho. Em 2005, o grupo adquiriu uma casa de mel com equipamentos para a retirada e o processamento do produto. E em 2006, o apiário comunitário, denominado Floremel, já possuia 314 colméias coletivas e 20 associados, entre homens, mulheres e jovens.
Os participantes se dividem em três grupos para desenvolver atividades de colheita, preparação das caixas e processamento do mel. A casa de mel possui um fundo rotativo que recebe 30% da produção vendida. Esse fundo é destinado à manutenção da casa de mel e aos gastos nas colheitas.
Toda a produção é vendida coletivamente e dividida igualmente entre os participantes. Embora a comercialização seja fácil, a associação ainda busca alternativas para escapar dos atravessadores. A saída mais interessante neste sentido é a venda direta ao consumidor, que já está acontecendo na Budega Nordeste Vivo e Solidário e no comércio do município.
O grupo presta serviço também a apicultores de outras comunidades, que deixam 7% para a casa (2% para o fundo rotativo e 5% para o pagamento de quem tiver trabalhado para estes apicultores “de fora”). Atualmente uma média de 50 agricultores/as utiliza a casa, processando 20 toneladas de mel.
A apicultura aumentou na comunidade o cuidado com o meio ambiente, transformando a forma das famílias trabalharem o roçado: não queimam e nem usam mais veneno. Passaram a preservar a natureza e valorizar e replantar as árvores nativas.
Agroecologia em Rede – Experiência sistematizada para o VI Enconasa
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
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