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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Pesquisa revela baixo desempenho de milhos transgênicos
Número 618 – 23 de fevereiro de 2013
Car@s Amig@s,
Embora as modificações genéticas realizadas nas plantas transgênicas atualmente semeadas em escala comercial (soja, milho, algodão e canola) não tenham sido realizadas para aumentar sua produtividade, mas sim para as tornarem resistentes à aplicação de herbicidas e/ou tóxicas a lagartas, boa parte da propaganda em torno da tecnologia faz referência a supostos ganhos de produtividade. E na lógica da mentira que ao ser muito repetida se torna uma espécie de “verdade”, aumentos de produtividade são há bastante tempo frequentemente referidos como consequência direta do plantio de sementes transgênicas.
A edição de fevereiro da revista Nature Biotechnology traz um artigo divulgando pesquisa que avaliou a produtividade e o risco de perdas na colheita de diferentes tipos de milho transgênico (tolerantes a herbicida e/ou tóxicos a lagartas – Bt).
Embora o texto deixe perfeitamente evidente a simpatia dos autores pela tecnologia, pontuando a todo momento argumentações favoráveis aos transgênicos, os dados apresentados colocam em xeque a alegação de que as lavouras transgênicas seriam mais produtivas.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) e financiada pelo Departamento de Agricultura do governo americano (USDA, na sigla em inglês).
Os pesquisadores analisaram dados de experimentos de campo entre 1990 e 2010 em Wisconsin para testar a hipótese de que o milho que expressa uma ou várias características transgênicas combinadas (os chamados “piramidados”) apresenta maior produtividade e menor risco de produção.
Mas, para a surpresa dos pesquisadores, os resultados mostraram que a produtividade dos milhos transgênicos foi, na média, menor que a dos híbridos convencionais: quando as características transgênicas foram testadas isoladamente (milho Bt tóxico à lagarta do cartucho, Bt tóxico à lagarta diabrótica, tolerante ao herbicida glifosato e tolerante ao herbicida glufosinato de amônio), a produtividade variou de -770 kg/hectare a +409 kg/hectare.
Mas o mais interessante da pesquisa foi a avaliação dos milhos piramidados. As interações entre os genes que acontecem quando as modificações genéticas são “piramidadas” são comprovadas nesta pesquisa. Segundo os autores, “se não houvesse interações entre os genes, o efeito dos genes piramidados seria igual à soma dos efeitos isolados correspondentes”. E, segundo relatado no artigo científico, foram encontradas “fortes evidências de interação genética entre as características transgênicas quando elas são piramidadas.” [tema que aqui a CTNBio insiste em afirmar que jamais ocorre]
Os números mostram que, enquanto algumas combinações de transgenes não mostram diferenças estatisticamente significativas de produtividade, outras provocam efeitos negativos significativos. Efeitos positivos provocados pela interação genética foram observados somente em uma combinação, quando foram sobrepostos os transgenes de tolerância à lagarta do cartucho e à diabrótica.
De um modo geral, os resultados levaram os autores a concluir que “a evidência de efeitos negativos decorrentes das interações genéticas entre os transgenes sugere que os híbridos transgênicos podem apresentar desempenho pior do que os híbridos convencionais.”
Passando para a questão do risco de perda de colheita, os pesquisadores verificaram que as lavouras transgênicas tenderam a apresentar menor variação de produtividade de um ano para outro, o que, para eles, representa um menor risco.
No afã de apresentar uma avaliação positiva da tecnologia, em seguida aos resultados negativos relativos à produtividade dos milhos transgênicos os autores do artigo afirmam: “Isso [os resultados negativos de produtividade] mostra que a redução do risco na produção é uma importante fonte de benefícios da tecnologia transgênica, especialmente para as características piramidadas”.
Para finalizar, os autores concluem que “a tecnologia transgênica pode melhorar a habilidade dos agricultores de lidar com um meio ambiente arriscado” e que “a disponibilidade desta tecnologia parece importante dadas as atuais preocupações com relação aos efeitos das mudanças climáticas sobre a incerteza na produção agrícola”.
Uma ginástica e tanto para passar uma imagem positiva dos transgênicos.
Com informações de:
Guanming Shi, Jean-Paul Chavas & Joseph Lauer. Commercialized transgenic traits, maize productivity and yield risk. Nature Biotechnology Volume 31 Number 2 February 2013.
Do GMO Crops Really Have Higher Yields? – Mother Jones, 13/02/2013.
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Neste número:
1. Custo do plantio de milho transgênico teve aumento de 27%
2. Capim-amargoso resistente ao glifosato preocupa produtores
3. Paraguai aprova soja RR2 da Monsanto
4. Paraná cria protocolo para avaliação de intoxicações crônicas provocadas por agrotóxicos
5. Argentina investigará presença de agrotóxicos no sangue de crianças e no leite materno
6. Negado à Monsanto pedido de extensão de patente de soja transgênica
7. Lancet: pesquisas financiadas pela indústria de alimentos tendem a ter conclusões favoráveis às empresas
A alternativa agroecológica
Agroecologia e feminismo em debate no I Encontro Nacional das mulheres camponesas
Dica de leitura:
Mortes no campo, vergonha nacional – artigo de Marcelo Canellas.
“Todo ano a Comissão Pastoral da Terra divulga um balanço das mortes no campo. Em 2011, por exemplo, 29 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários no Brasil. Em 2012, num levantamento ainda parcial, aparece o mesmo número: 29 mortes. A despeito dos avanços da modernidade, essa violência medieval não arrefece.”
Publicado no Diário de Santa Maria – RS em 19/02/2013.
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1. Custo do plantio de milho transgênico teve aumento de 27%
Quanto o produtor de milho transgênico teria que produzir a mais por hectare para recuperar esse custo mais elevado, isso sem considerar que as sementes modificadas não tornam as plantas mais produtivas?
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G1 MS, 17/02/2012
A produção de milho safrinha teve um reajuste de 40% em 2013. É o que aponta os resultados de uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo os dados do estudo, o aumento é reflexo do alta no valor dos insumos que refletem diretamente nas despesas para o produtor.
O levantamento, divulgado pela Embrapa de Dourados, aponta que o custo total do milho nessa safra ficará em torno de R$ 1651 mil por hectare. Na passada, o valor foi bem menor, R$ 1.195,00. O que mais pesou para esse aumento foram os isumos. Para o milho convencional, comprado por meio de consórcio, o gasto na safra passada ficou em R$ 591 por hectare. Agora, o valor deve chegar a R$ 750, um reajuste de 27%.
Para o milho transgênico o produtor vai desembolsar 27% a mais na compra dos insumos, aproximadamente R$ 857 por hectare. [grifo nosso]
O pesquisador José Boniatti informou que esse aumento é proveniente, principalmente, do preço da semente e do fertilizante. “A semente aumentou em torno de 43% em relação ao ano passado e o fertilizante teve praticamente 25% de aumento em relação a safra passada”, declarou.
Para Sério Miranda, dono de uma revendedora de insumos em Dourados, o reajuste é reflexo da boa produtividade da safra anterior. “O agricultor está investindo mais em tecnologia esse ano, Acreditando no potencial do milho que ano passado foi muito. Nós tivemos uma média de 80, 100 sacos por hectare”. Segundo ele, se o produtor perceber que a atividade é lucrativa, ele investe em tecnologia. Isso faz com que o custo de produção aumente.
Para reduzir os custos, o pesquisador Alceu Richetti informou que o produtor deve fazer o manejo integrado de pragas e reduzir o número de aplicações para reduzir os custos.
2. Capim-amargoso resistente ao glifosato preocupa produtores
Segundo matéria publicada pelo jornal Gazeta do Povo em 05/02, o capim-amargoso resistente ao glifosato virou tema central do Dia de Campo da Coamo, evento que reuniu em Campo Mourão (PR) 4 mil cooperados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso no início do mês.
Para o agrônomo responsável pela Fazenda Experimental da Coamo citado na matéria, o controle do capim-amargoso resistente ao glifosato é mais difícil que o controle da buva resistente ao herbicida.
O surgimento de matos resistentes ao veneno sempre foi um dos efeitos colaterais previsíveis das lavouras transgênicas tolerantes a herbicidas. O controle do mato que não é eliminado pelo glifosato representa um grande problema para agricultores que adotaram o sistema transgênico que, em muitos casos, têm sido forçados a fazer o controle manual do mato resistente.
Conforme a reportagem, “Não há pesquisa sobre a área de lavouras atingida pelo capim-amargoso [resistente ao glifosato]. O pesquisador Dionísio Gazziero, da Embrapa Soja, estima que 600 mil hectares enfrentem o problema, principalmente em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Em áreas com quatro a oito plantas por metro quadrado que poderiam render 3,3 mil quilos de soja por hectare, a produtividade cai para 1,88 mil kg/ha, mostra projeção também da Embrapa Soja.”
AS-PTA, 22/02/2013.
3. Paraguai aprova soja RR2 da Monsanto
A soja INTACTA RR2 PRO™, desenvolvida pela Monsanto, também foi aprovada no Paraguai, nesta semana. O Ministério da Agricultura e Pecuária do Paraguai (MAGP), assessorado tecnicamente pela Comissão Nacional de Biossegurança (CONBIO), liberou comercialmente a soja INTACTA RR2 PRO™ no país.
A soja INTACTA RR2 PRO™, desenvolvida pela Monsanto ao longo dos últimos dez anos especialmente para o mercado brasileiro, reúne três benefícios em um único produto: resultados de produtividade sem precedentes, devido a tecnologias avançadas no mapeamento, seleção e inserção de genes em regiões do DNA com potencial aumento na produtividade; proteção contra as quatro principais lagartas que atacam a cultura da soja (lagarta da soja, falsas medideiras, broca das axilas e lagarta das maçãs); e tolerância ao herbicida glifosato proporcionada pela tecnologia Roundup Ready (RR).
Além do Paraguai, a nova soja também já está aprovada em diversos países, como Brasil (desde agosto de 2010), Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Colômbia, México, Argentina, Uruguai, Japão, Coréia do Sul e Taiwan, além da União Europeia (UE). A Monsanto ainda aguarda a aprovação da tecnologia pela China, importante mercado de exportação brasileiro, para lançar comercialmente a nova soja.
Agrolink, 15/02/2013 – via Em Pratos Limpos.
N.E.: Aqui no Brasil essa variedade já foi liberada em 2010. Seu plantio comercial, contudo, depende de posição do mercado chinês e de definição sobre modelo de cobrança de royalties. Em agosto de 2012, produtores ligados à Aprosoja demandaram da Casa Civil uma intervenção junto à China pela derrubada do veto ao grão.
Já no Paraguai, o golpe que derrubou o presidente Lugo foi por muitos ligado a articulação dos ruralistas do país, que entre outros, queixavam-se da não liberação de sementes transgênicas.
4. Paraná cria protocolo para avaliação de intoxicações crônicas provocadas por agrotóxicos
A Secretaria de Saúde do Estado do Paraná publicou em 14 de fevereiro a Resolução 094/2013, que institui um Protocolo de Avaliação de intoxicações crônicas provocadas por agrotóxicos.
A publicação da norma leva em conta o fato de que “os profissionais da saúde no Brasil carecem de instrumentos clínicos no campo da Toxicologia que orientem o diagnóstico das intoxicações crônicas dos trabalhadores expostos ambientalmente e ocupacionalmente a substâncias químicas reconhecidamente tóxicas e o estabelecimento da relação com o trabalho e/ou o ambiente”; bem como “a necessidade de estabelecer instrumentos facilitadores para a vigilância à saúde de populações expostas a agrotóxicos, com orientações para diagnóstico, tratamento, notificação, reabilitação, prevenção e ações de vigilância sanitária e epidemiológica das intoxicações”.
O protocolo é constituído por uma Ficha de Exposição Ocupacional e Ambiental, que inclui informações sobre moradia, caracterização do contato com os agrotóxicos; uma Ficha de Avaliação Clínica/Anamnese, que trata da história clínica atual e pregressa do paciente; uma Ficha de Avaliação Clínica/Exame Físico, com ênfase em exames neurológicos e complementares; e um Questionário Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), um questionário padronizado pela Organização Mundial de Saúde para avaliação da saúde mental.
Este instrumento será de grande importância para os profissionais da área da saúde que atendem pacientes intoxicados e sofrem grande carência de treinamento e orientação para diagnosticar e tratar casos de intoxicação por agrotóxicos, sobretudo considerando-se que elas constam na Lista de Notificação Compulsória (LNC) – ou seja, o seu registro junto ao Ministério da Saúde é obrigatório. Mais ainda, será de enorme importância para os pacientes, que tendo suas intoxicações corretamente diagnosticadas (o que rarissimamente acontece) terão mais chances de receber tratamento e acompanhamento adequados.
A iniciativa da Secretaria de Saúde do Paraná é um exemplo a ser seguido em outros estados.
5. Argentina investigará presença de agrotóxicos no sangue de crianças e no leite materno
Segundo informações da agência Notícias Argentinas, ao longo deste ano terá início um trabalho conjunto entre a Universidade da Califórnia (EUA) e a Universidade Nacional de Córdoba (Argentina), em que será analisada a presença de agrotóxicos no sangue de crianças e no leite materno na província do Chaco, na Argentina, onde acontecem massivas aplicações de agroquímicos.
O estudo será realizado com pessoas expostas à aplicação de diversos tipos de agrotóxicos, explicou o pesquisador e militante ambientalista Raúl Montenegro. O governo da província do Chaco apoiará o trabalho de pesquisa, segundo confirmou o Secretário de Planejamento e Meio Ambiente da província Raúl Codutti.
Os agrotóxicos são acusados de serem responsáveis pelo desenvolvimento de diferentes tipos de doenças, entre elas malformações congênitas e câncer, o que tem sido respaldado por pesquisas jornalísticas.
Na Argentina anualmente 33 milhões de hectares são fumigados com agrotóxicos. Para Montenegro, há uma “escassa visibilidade desta problemática”, que se deve, por exemplo, “à ausência de registros e à falta de monitoramento de resíduos de agrotóxicos”. (…)
Algumas investigações jornalísticas mostraram que nos povoados rodeados por cultivos onde se aplicam agrotóxicos são registrados diversos casos de doenças que afetam crianças e adultos. A falta de estudos é um dos principais argumentos que se utilizam para endossar o uso – em alguns casos indiscriminados – de agrotóxicos. (…)
O secretário Codutti ratificou que a província vai “apoiar” o trabalho porque “um estudo com essas características nos permitiria conhecer a real relação que existe entre as doenças que são denunciadas e os agrotóxicos”.
Terra – Argentina, 09/01/2013.
6. Negado à Monsanto pedido de extensão de patente de soja transgênica
O ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou nesta quinta-feira (21) recurso especial da Monsanto Technology LLC, que pretendia ampliar a vigência da patente de soja transgênica. Seguindo jurisprudência consolidada pela Segunda Seção, o ministro entendeu que a patente vigorou até 31 de agosto de 2010.
O recurso é contra decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que reconheceu o vencimento da patente, pois a vigência de 20 anos começou a contar da data do primeiro depósito da patente no exterior, em 31 de agosto de 1990. No outro polo da ação está o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
No recurso, a Monsanto contestou o termo inicial da contagem do prazo de vigência da patente, que foi a data do primeiro depósito no exterior, pois este foi abandonado. Também sustentou que o processo deveria ser suspenso porque tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4.234) dos artigos 230 e 231 da Lei 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial), que tratam do depósito de patentes.
Inicialmente, o ministro ressaltou que a pendência de julgamento no STF de ação que discute a constitucionalidade de lei não suspende a tramitação de processos no STJ. Há precedentes nesse sentido.
No mérito, Cueva destacou que a Segunda Seção, que reúne as duas Turmas de direito privado, uniformizou o entendimento de que “a proteção oferecida às patentes estrangeiras, as chamadas patentes pipeline, vigora pelo prazo remanescente de proteção no país onde foi depositado o primeiro pedido, até o prazo máximo de proteção concedido no Brasil – 20 anos –, a contar da data do primeiro depósito no exterior, ainda que posteriormente abandonado”.
STJ, 21/02/2013 (via Em Pratos Limpos).
7. Lancet: pesquisas financiadas pela indústria de alimentos tendem a ter conclusões favoráveis às empresas
Indústria de alimentos deveria ser mais regulada, defende artigo
Artigo publicado em uma edição especial da revista médica “Lancet” sobre o combate às doenças crônicas afirma que a indústria de alimentos tem se comportado de forma similar às fabricantes de cigarro na hora de influenciar governantes e profissionais a implementar políticas para reduzir o consumo de gordura, açúcar e sódio.
De acordo com o trabalho assinado por Rob Moodie, da Universidade de Melbourne, na Austrália, e Carlos Monteiro, professor de nutrição da USP, pesquisas científicas financiadas pela indústria de alimentos tem uma chance até oito vezes maior de ter conclusões favoráveis a essas empresas do que estudos independentes.
Para eles, acordos entre o governo e a indústria para cortar sódio, gorduras e açúcar de alimentos acabam tomando o lugar de regulamentações mais rígidas.
Segundo o artigo, não há evidência de que acordos voluntários surtam efeito.
Além da influência política, as fabricantes de alimentos também teriam em comum com as de cigarro a migração de seus esforços para países de renda média e baixa, já que os ricos estão com seus mercados saturados.
Nos últimos anos, a ONU foi criticada por supostamente ceder aos interesses da indústria ao formular políticas para o controle de doenças como hipertensão e diabetes.
No entanto, o modelo de parcerias com a iniciativa privada vem sendo adotado em muitos países, inclusive no Brasil, onde as fabricantes se comprometeram a reduzir os níveis de sódio dos alimentos.
O acordo também é alvo de críticas por aqui. Um levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) mostrou que as metas de corte de sódio são tímidas demais para ter impacto, conforme a Folha noticiou na semana passada.
Para a indústria, a redução depende de adaptações tecnológicas e também do hábito do consumidor.
Folha de S. Paulo, 12/02/2013.
A alternativa agroecológica
Agroecologia e feminismo em debate no I Encontro Nacional das mulheres camponesas
Brasília (DF) – Na manhã de ontem (20) ocorreu, no I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), em Brasília, um debate sobre alimentação saudável e feminismo. Nenhuma luta revolucionária foi feita sem a mulher, mesmo que a história depois oculte, destacou Nalu Faria, representante da Marcha Mundial das Mulheres. À medida que se faz esse resgate, o feminismo se mostra presente, complementou.
“A gente vê o feminismo, a crítica ao patriarcado, que está articulado com outras discriminações como o racismo, de uma sociedade que se organiza com domínio dos homens sobre as mulheres. O movimento se inicia no século XIX, e uma de suas marcas é colocar peso na igualdade. Uma história de luta que passa por todos os temas”, destacou.
Para ela, o sistema proporciona privilégios aos homens, que não se manifestam somente em espaços públicos. Nesse sentido, na sua opinião, é preciso rediscutir a divisão do trabalho e a sociedade. Exercer o direito à sexualidade sem o dever de ser mãe é uma das reivindicações feministas. “Trabalhar outra ideia de sociedade, transformar o cotidiano, os homens têm uma grande dívida social”, concluiu.
O patriarcado se estrutura com base em quatro elementos, explicou Silvia Camurça, da Articulação de Mulheres Brasileira: controle do corpo, principalmente em relação à reprodução e sexualidade, explorada pelo capitalismo; impossibilidade da paridade política; divisão do trabalho e violência. Segundo Silvia, a luta patriarcal é a primeira que une as mulheres.
“Não há nada mais radical do que a mulher se organizar contra aquilo que a oprime, que diz que não temos valor. É preciso também discutir o agronegócio, porque ele modernizou o latifúndio. Estamos melhorando graças aos governos de esquerda na região, mas a coalizão com a direita em alguns deles traz o agronegócio por dentro, como no Brasil. Há contradições, críticas e alianças, mas não vamos deixar nos abater. Ainda assim estamos conseguindo oportunidades e espaços”, afirmou Camurça.
A presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, anunciou a participação do MMC no órgão vinculado à presidência da república. Ela contextualizou a produção de comida atual no Brasil, alertando para a gravidade da extinção e perda da diversidade de alguns alimentos.
“Falar de alimentação saudável, sem agrotóxicos e transgênicos, é preciso estar atento também para o aumento de produtos industrializados. Não sabemos o que estamos consumindo nos supermercados, alimentos super processados. Outro fenômeno importante é a concentração de alimentos em regiões, como o arroz no Rio Grande do Sul, o que representa um risco à soberania alimentar. Estamos importando feijão da China, enquanto os movimentos agroecológicos mostram que é possível cultivá-lo”, alertou.
Pacheco lembrou ainda que as 3 mil mulheres presentes no encontro não representam somente seus estados, mas também biomas e identidades próprias: extrativistas, ribeirinhas, quebradeiras, camponesas, indígenas, quilombolas, etc. Isso, na sua visão, compõe a riqueza da nossa sócio biodiversidade. Há, no entanto, um processo contínuo de ameaça a esses bens porque o Brasil se baseia num modelo de economia de exportação, como a soja. Precisamos, completou a antropóloga, trabalhar nossa identidade e soberania alimentar através da diversidade.
A LUTA AGROECOLÓGICA
Em paralelo a esse processo hegemônico de produção no campo, Maria Emília contou a trajetória de resistência do movimento agroecológico, representado principalmente na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Um crescimento em todo país que tem paralelo com a perspectiva feminista, é uma ciência com um conjunto de práticas e agrega diversos movimentos, descreveu. Ela explicou que, baseada em alguns princípios ligados ao conhecimento tradicional, a agroecologia funciona com base na diversidade utilizando ao máximo os insumos locais. É um sistema com a natureza, e não contra ela.
“Capacidade de uso máximo dessa riqueza interna, não se reduz a uma dimensão tecnológica. Tem o ponto de vista social e econômico, não se faz sem o direito à terra. Por isso, defende a retomada da reforma agrária”, descreveu.
Os movimentos em torno da ANA conquistaram recentemente uma Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, decretada em agosto de 2012 pela presidente. Foi proposto um programa específico para mulheres, com assistência técnica, reconhecimento dos saberes e fundos solidários. A ANA defende um plano nacional de redução de agrotóxicos, exigindo que o governo retire o subsídios às empresas, inclusive de venenos banidos no exterior, para apoiar a transição agroeocológica pela vida. A ampliação das compras institucionais, como o PAA e PNAE, é outra pauta junto com uma revisão profunda da DAP, documento necessário para o agricultor acessar as políticas rurais, dentre outras reivindicações.
Por http://www.agroecologia.org.br
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