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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Segue a luta contra os transgênicos nos tribunais
Número 620 – 08 de março de 2013
Car@s Amig@s,
Nesta quarta-feira (06), por dois votos a um, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região mudou a sentença da Vara Federal Ambiental de Curitiba que restringia a liberação comercial o milho transgênico Liberty Link, da multinacional Bayer. A recente decisão possibilita que a semente transgênica seja comercializada nas regiões Norte e Nordeste do país, onde atualmente há restrição. Entretanto, a sentença não tem eficácia imediata, uma vez que a divergência nos votos dos desembargadores possibilita novo julgamento pelo próprio TRF4.
A decisão do Tribunal contraria parecer do Ministério Público Federal, publicado em maio de 2012, que requeria a manutenção das restrições à venda do milho geneticamente modificado.
O questionamento sobre a liberação comercial do Liberty Link foi feito através de uma Ação Civil Pública (ACP) proposta em 2007 pela Terra de Direitos, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, a Associação Nacional de Pequenos Agricultores e a AS-PTA. Em 2010 a juíza da Vara Federal Ambiental de Curitiba, Pepita Durski Tramontini Mazini, decidiu restringir a comercialização do milho transgênico da Bayer até que a empresa realizasse estudos de avaliação de riscos à saúde e ao meio ambiente nos biomas da Amazônia e da Caatinga.
Além disso, a juíza decidiu que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio deveria submeter essa variedade a uma avaliação de risco com critérios previamente definidos, o que não ocorreu em 2007, quando da aprovação desse transgênico na CTNBio.
Para o advogado popular da Terra de Direitos, Fernando Prioste, na realidade “a disputa não é pela aprovação ou não do Libert Link, a disputa gira em torno dos critérios que a CTNBio deve utilizar para avaliar os riscos que os transgênicos causam à saúde e ao meio ambiente. As empresas e a CTNBio entendem que não é necessário avaliar os riscos dos transgênicos no Brasil, pois bastariam os estudos feitos pela empresa nos EUA”.
Para os movimentos sociais e organizações de direitos humanos a “empresa e o Estado brasileiro deveriam realizar estudos também no Brasil, já que existem grandes diferenças entre os biomas brasileiros e norte americano”, afirma o advogado.
Para além dos riscos advindos com os transgênicos, discute-se na ACP o direito da sociedade ser ouvida pela CTNBio nos casos de liberação de transgênicos. Na avaliação da Terra de Direitos a participação popular é fundamental no estado democrático de direito e a CTNBio não pode continuar a ignorar os questionamentos da sociedade no tema.
No processo de liberação do milho Liberty Link, a CTNBio se negou a responder os questionamentos feitos em audiência pública. A sociedade continuar a monitorar os riscos dos transgênicos e hoje, na sessão de julgamento, um grupo de agricultoras familiares foi ao TRF para acompanhar o julgamento e pedindo respeito aos direitos das agricultoras, agricultores povos e comunidades tradicionais ao livre uso da biodiversidade.
Em outras etapas de seu julgamento essa ação já logrou passos importantes, como obrigar a CTNBio a criar regras e protocolos para análise de pedidos de liberação comercial de transgênicos, para coexistência entre lavouras de milho e para o monitoramento pós-comercialização. Um outro debate é saber se essas regras são ou não eficazes e se atendem ou não ao princípio da precaução. No caso da coexistência, a eficácia da regra está sendo disputada no Judiciário por meio de uma outra ação civil ajuizada pelos mesmos autores desta julgada esta semana.
O recurso da decisão de hoje deve ser apresentado em até quinze dias, mas não tem data para ser julgado. As organizações seguirão lutando contra a liberação irresponsável dos transgênicos no Brasil, dentro e fora do Judiciário.
– Por Terra de Direitos
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Neste número:
1. Relator da ONU publica relatório sobre Gênero e Direito à Alimentação
2. Brasil Sem Miséria distribui sementes do MPA-SC na Paraíba
3. Shell e Basf deverão indenizar trabalhadores contaminados em Paulínia
4. Bayer CropScience dá novo passo para crescer em sementes
5. ONU lança alerta sobre impacto de produtos químicos do dia a dia
A alternativa agroecológica
Agricultores assentados no RS produzem sementes agroecológicas
Dica de fonte de informação:
Prosa Rural sobre Sementes da Paixão
Em fevereiro de 2013 a rádio da Embrapa levou ao ar um programa sobre as Sementes da Paixão, que descreve a experiência de manejo e conservação de sementes crioulas pelos agricultores no estado da Paraíba e a sua interação com a pesquisa participativa realizada pela Embrapa.
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Evento:
Parcerias público-privadas em alimentação e nutrição: o interesse público
O Coletivo de Desdobramento do World Nutrition Rio2012 convida para o I Ciclo de Debates: conhecimento, política e ação, cujo tema é a relação entre público e privado. O objetivo do encontro é debater e contextualizar os conflitos de interesse presentes na relação público e privado/comercial na área de alimentação e nutrição.
Debatedoras: Mariana Ferraz (USP) & Luciene Burlandy (UFF).
Moderador: Fabio Gomes (INCA).
Data e horário: 15 de março de 2013 de 14 às 17h
Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Auditório 111 – 11º Andar, bloco F
Inscrições gratuitas
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1. Relator da ONU publica relatório sobre Gênero e Direito à Alimentação
Apesar da existência de uma série de instrumentos legais internacionais que proíbem a discriminação contra as mulheres, o problema permanece presente em várias esferas da vida. O fato pode resultar de leis que são elas próprias discriminatórias. Mas o preconceito que as mulheres enfrentam, entretanto, é o resultado de normas sociais e costumes ligados a certos estereótipos sobre o papel da mulher. Resulta também de acesso desigual a recursos produtivos como terra e a oportunidades econômicas como salários dignos. Há ainda problemas na divisão doméstica de trabalho e responsabilidades, que levam a menores níveis educacionais das mulheres e sua marginalização dos processos decisórios.
O autor, que também já publicou relatório sobre o papel da agroecologia na efetivação do direito humano à alimentação, defende que somente atacando-se todas essas diferentes formas de discriminação, inclusive a distribuição de responsabilidades familiares entre homens e mulheres, poder-se-á chegar à raiz do problema. “As mulheres trabalham mais horas do que os homens, embora muito de seu trabalho permaneça informal, essencialmente desempenhado dentro da família e não remunerado, deixando assim de ser valorizado e reconhecido”.
Por outro lado, o relatório cita estudos que mostram que quando a mãe controla o orçamento doméstico aumentam em 20% as chances de sobrevivência de seus bebês. Outro estudo, conduzido em diferentes países, revelou que entre 1970 e 1995 43% da erradicação da fome poderiam ser atribuídos a progressos na educação das mulheres, assim como 26% da disponibilidade de alimentos. Já os países onde as mulheres enfrentam limitações no acesso à terra ou ao crédito, têm, em média, respectivamente 60% e 85% mais casos de malnutrição infantil.
Ao final do relatório são apresentadas algumas recomendações, como o dever de os Estados realizarem investimentos necessários para aliviar as mulheres do peso das atividades domésticas e reconhecerem a necessidade de incorporar as limitações específicas de tempo e de mobilidade das mulheres como resultado de seu papel na economia do cuidado, ao mesmo tempo redistribuindo-se as funções de gênero a partir de uma abordagem transformadora de emprego e proteção social.
– O documento está disponível na página: http://www.srfood.org/
2. Brasil Sem Miséria distribui sementes do MPA-SC na Paraíba
Entidades de agricultores de cidades do Brejo e do Curimataú, na Paraíba, receberam 19 toneladas de sementes crioulas de milho e feijão a partir das ações do Programa Brasil sem Miséria do Governo Federal, através de parceria com o MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores. A entrega que aconteceu no dia 25/02, no centro da cidade de Areia. As sementes foram produzidas no estado de Santa Catarina.
Francisca Paula da Conceição Gonçalves é componente do MPA-PB e, ao dialogar com os ouvintes do Programa Universo Rural desta de 26/02, informou que a semente veio para atender a agricultores e entidades da base do movimento em nove municípios, dizendo que o MPA chega com a entrega de sementes num momento em que não estão sendo entregues sementes pelos governos federal e estadual.
Eulália dos Santos Oliveira, coordenadora nacional do MPA, informou ao Universo Rural que, ao todo, o MPA Sul vendeu para o Governo Federal 420 toneladas de sementes, que receberam o tratamento com inseticidas num sistema convencional: “Nós costumamos brincar: proteger sementes com cinza, tipo 10 quilos, dez garrafas PET de dois litros, beleza, agora 421 toneladas pra gente virar à mão quilo por quilo infelizmente não dá, e o milho tem uma facilidade muito grande de pegar o pulgão, o feijão não, o feijão se fosse pra consumir até que daria porque ele não tem nenhum tipo de agrotóxico, nenhum tipo de conservante, mas o milho infelizmente é tratado e ele não serve para consumir, só para o plantio”.
Euzébio Cavalcante, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio, recebeu 1.000 kg de sementes de milho e feijão com preocupação. Sem desmerecer a iniciativa do MPA, Euzébio lamentou que as sementes sejam tratadas com agrotóxicos, o que contraria o trabalho feito pelo sindicato nas dinâmicas agroecológicas em parceria com as entidades do Polo Sindical da Borborema. Euzébio criticou também o fato de as sementes serem originárias da região Sul do país e, portanto, não adaptada às condições locais de cultivo.
Euzébio levou o produto para colocar em discussão no Sindicato, para que os agricultores decidam se irão ou não plantá-las.
Com efeito, cabe perguntar: a entrada em massa de sementes produzidas em outras regiões, ainda que varietais, não pode desarticular os trabalhos locais com sementes da paixão e seus bancos familiares e comunitários?
Com informações de:
Stúdio Rural / Programa Domingo Rural, 02/03/2013.
3. Shell e Basf deverão indenizar trabalhadores contaminados em Paulínia
Ex-funcionários aceitam indenização menor da Shell e Basf
Empresas terão de pagar R$ 200 milhões e dar assistência médica vitalícia. Acordo encerrou caso, considerado o maior da Justiça do Trabalho no país.
Representantes dos trabalhadores entraram em acordo com advogados das empresas Basf e Shell nesta terça (05) em audiência de conciliação realizada no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Para finalizar a negociação, eles aceitaram uma redução na indenização que receberão das empresas pela suposta contaminação de uma fábrica de pesticidas [agrotóxicos] que pertenceu às duas em presas em Paulínia, no interior de São Paulo.
As empresas terão de pagar, em média, cerca de R$ 180 mil para cada uma das 1.068 pessoas afetadas, segundo o advogado Mauro Meneses. Na decisão, ficou estabelecido que cada um receberá 70% da indenização definida em 2007 pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas.
Além disso, Shell e Basf deverão pagar indenização coletiva de R$ 200 milhões e fornecer atendimento médico e hospitalar vitalício ao trabalhadores e demais pessoas afetadas pela contamitação.
A negociação envolvendo processo que o TST considera como o maior na área trabalhista em curso na Justiça do trabalho do Brasil. Em 2007, o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com uma ação civil pública para pedir indenização.
Na época, Shell e Basf foram condenadas a pagar uma indenização que somava cerca de R$ 1 bilhão. A Basf estima que a proposta definida nesta terça (5) deva atingir o montante de R$ 370 milhões, além do custeio médico.
As empresas recorreram ao TST que, em quatro audiências oficiais, tentou concretizar a conciliação entre as partes.
Nesta terça, as empresas aceitaram aumentar o número de pessoas beneficiadas com atendimento médico e hospitalar vitalício expostas à contaminação durante as atividades. Até a última audiência, realizada na segunda (4), as empresas só queriam atender 884, sob o argumento de que as demais não comprovaram vínculos.
A indenização moral por dano coletivo também terá uma nova aplicação. Dos R$ 200 milhões, uma parte (R$ 50 milhões) será destinada à construção de uma maternidade, que deve ser doada à Prefeitura da cidade de Paulínia.
Os outros R$ 150 milhões serão pagos em 5 parcelas iguais e anuais de R$ 30 milhões. O montante será partilhado igualmente entre o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), ligado à Prefeitura de Paulínia, e a Fundacentro, fundação de pesquisa relacionada à saúde e segurança do trabalhador.
O ministro do TST João Oreste Dalazen acredita que não haverá grandes mudanças no acordo estabelecido nesta terça (04). “Os advogados dos trabalhadores e das empresas chegaram a um acordo, mas não dispõem de poderes para assinar esse acordo de imediato. Vão submeter esse acordo aos trabalhadores e às empresas. O Ministério Público já manifestou concordância. De modo que o acordo está praticamente selado.”
A conciliação realizada nesta terça (5) no TST deve ainda ser discutida em assembleia pelos trabalhadores. Se algum dos ex-funcionários não concordar com a negociação, terá de entrar sozinho na Justiça com uma ação individual, de acordo com o advogado Mauro Meneses.
O processo pode ser levado a julgamento se as partes não entrarem em consenso sobre as alterações. Elas terão até o dia 11 de março para fazer ajustes nas propostas fechadas em audiência no TST.
Esta conciliação foi o último caso mediado por Dalazen enquanto presidente do Tribunal. Ele passará o cargo para o ministro Carlos Alberto Reis de Paula, que também é conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“Considero que houve uma vitória extraordinária, porque é um processo extremamente intrincado, de difícil solução, de grande repercussão social, política e econômica. É um processo que tenderia a arrastar-se talvez por uma geração”, disse Dalazen.
A Basf, em nota, disse que “continua disponível para negociar a solução do caso; da mesma forma, a empresa seguirá cumprindo com as determinações da justiça, confiante em uma decisão equânime do TST em relação ao caso. Finalmente, a Basf reforça mais uma vez seu compromisso em posicionar-se com transparência em todos os aspectos relacionados a este assunto”, disse.
A Shell também divulgou nota informando que o acordo será encaminhado para a aprovação dos acionistas. “Infelizmente, face à natureza das questões, o tempo disponível para esta análise foi insuficiente, e não foi possível uma resposta no prazo estabelecido, ou seja, até o dia de hoje. Portanto, a empresa solicitou que seja concedido um novo prazo para que as negociações continuem e possam ser obtidas as aprovações necessárias”, diz o comunicado.
G1, 05/03/2013.
4. Bayer CropScience dá novo passo para crescer em sementes
A Bayer CropScience anunciou ontem mais um passo em sua estratégia para crescer em sementes de soja no Brasil – um mercado no qual ainda é incipiente.
A múlti alemã oficializou a aquisição do banco de germoplasma da Agropastoril, de Cascavel (PR), e um acordo para comprar a unidade de sementes de soja da Agrícola Wehrmann e a sua divisão de melhoramento genético (a Wehrtec), com sede em Cristalina (GO). A multinacional não revelou quanto desembolsou nos dois negócios.
A Bayer CropScience já havia adquirido outras duas companhias de perfil semelhante – a CVR, em 2010, e a Soytech, no ano seguinte. Com isso, a múlti tenta criar um banco de germoplasma que a permita acelerar o desenvolvimento de novas variedades e a sua pesquisa com transgênicos.
Desde que decidiu entrar no mercado de sementes, hoje dominado por Monsanto, DuPont e Syngenta, há apenas quatro anos, a gigante do setor químico elegeu como prioridades os mercados de soja e trigo, o que colocou o Brasil no centro de sua estratégia global. (…)
No ano passado, as vendas da Bayer CropScience no Brasil cresceram 38% em moeda local, para R$ 3,085 bilhões (cerca de € 1,2 bilhão). Contudo, a maior parte da receita ainda está atrelada ao mercado de defensivos agrícolas [agrotóxicos]. Em 2012, o segmento respondeu por quase 80% do faturamento global de € 8,4 bilhões, enquanto a participação das sementes foi inferior a 12%.
Em 2012, a Bayer CropScience registrou um crescimento nominal de 15% (12,4% considerando os ajustes de câmbio e portfólio). O resultado foi puxado pelas vendas para América do Norte e América Latina (bloco que inclui ainda os países da África e do Oriente Médio), que cresceram respectivamente 26,5% e 18,5%, em termos nominais, seguida por Ásia, com avanço de 11,4%, e Europa, com 8%.
Embora cresça menos, a Europa ainda é o principal mercado da companhia em volume de vendas (€ 2,7 bilhões), seguida por América do Norte (€ 2,15 bilhões), América Latina (€ 2,13 bilhões) e Ásia (€ 1,3 bilhões). (…)
Valor Econômico, 07/03/2013 – via Em Pratos Limpos.
N.E.: Assim avança o controle das multinacionais sobre as sementes, que definem as estratégias de melhoramento genético e lançamento de cultivares de acordo com seus interesses na venda de insumos. Restam cada vez menos opções para os agricultores.
5. ONU lança alerta sobre impacto de produtos químicos do dia a dia
Componentes químicos artificiais presentes no nosso dia a dia podem ter um impacto significativo no sistema hormonal, favorecendo o desenvolvimento de doenças, de problemas de fertilidade e males congênitos, informa um estudo da ONU
O estudo diz que o número de químicos EDCs – químicos com efeitos endocrinológicos, na sigla em inglês – aumentou “dramaticamente” entre 2000 e 2012, e muitos não são testados quanto a seus efeitos na saúde humana e na vida selvagem.
Eles incluem aditivos em embalagens, brinquedos, bens de consumo (eletrônicos, móveis, produtos de limpeza), produtos de cuidados pessoais (xampus, cremes, sabão) e farmacêuticos.
“Humanos estão expostos a EDCs por diversas formas, incluindo ingestão de comida, poeira, água, inalação e pela pele”, aponta o relatório, feito em parceria da Organização Mundial da Saúde e a agência da ONU para o meio ambiente (Unep).
“Esses químicos vêm de fontes variadas, entram no meio ambiente durante a produção, o uso ou a eliminação de químicos e produtos e provocam diferentes (efeitos).”
O problema, diz o relatório, é que é ainda há poucos dados sobre como esses EDCs são produzidos e onde são colocados. Também faltam estudos detalhados sobre seus efeitos no sistema hormonal e sua relação com doenças específicas.
O que se acredita é que a exposição a muitos desses químicos pode estar ligada a casos de câncer de mama, tireoide e próstata, deformações em bebês, hiperatividade em crianças, diabetes, asma, obesidade, males de Alzheimer e Parkinson, derrames e queda de fertilidade.
Crianças podem entrar em contato com EDCs no ventre da mãe ou na infância, colocando coisas na boca.
Produtos químicos
Entre os produtos químicos que, segundo a ONU, podem alterar o sistema hormonal estão ftalatos (usados em plásticos maleáveis e na produção de brinquedos, perfumes e farmacêuticos, inclusive desodorantes); bisfenol A (também chamado BPA, substância usada para endurecer plásticos e encontrada em embalagens de bebidas e alimentos).
O relatório diz também que níveis relativamente altos de bifenil policlorado já foram encontrados em atuns coletados na costa do Brasil; o componente é um dos fatores de risco para câncer de mama.
Por enquanto, são poucos os países – EUA, Canadá e algumas nações europeias – que baniram o uso de alguns EDCs, especialmente em itens usados por crianças.
“No momento, apenas uma pequena parcela de químicos e poucos tipos de EDCs são medidos, fazendo deles a ponta do iceberg”, prossegue o estudo, agregando que muitos produtos não declaram esses aditivos químicos em suas embalagens.
“Deve ser uma prioridade global desenvolver habilidades para medir possíveis EDCs e desenvolver um mapa detalhado das exposições (a que estamos sujeitos).”
Vida selvagem
O relatório da ONU também levanta preocupações quanto ao impacto dos EDCs na vida selvagem.
No Alasca (EUA), a exposição a alguns químicos pode ter contribuído para defeitos reprodutivos, infertilidade e má-formação em algumas populações de veados.
Grupos de lontras e leões marinhos também estão sob risco por estarem em contato com químicos presentes em pesticidas [agrotóxicos].
“Uma vez que um EDC entra no corpo de um (animal) invertebrado, um peixe, ave ou mamífero através da água ou da comida, o químico pode ser transportado a diferentes tecidos, onde pode ser metabolizado, excretado ou armazenado”, aponta o estudo.
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Substâncias que são ou podem ser EDCs (químicos de efeitos endocrinológicos):
– Galaxolide (presente em cosméticos e outros produtos de cuidados pessoais)
– Metil siloxano cíclico (presente em solventes)
– Paraben (presente em preservativos)
– Ftalatos (presentes em plásticos maleáveis)
– Triclosan (presente em antimicrobianos)
– Foram identificados EDCs também em anticoncepcionais, terapias hormonais, beta-bloqueadores, antidepressivos e antibióticos
Fonte: Relatório ‘State of the Science of Endocrine-Disrupting Chemicals’, da ONU
BBC Brasil, 19/02/2013.
A alternativa agroecológica
Agricultores assentados no RS produzem sementes agroecológicas
Cooperativa conta com 135 associados de 25 assentamentos. Em 2012, produziram cinco toneladas de sementes orgânicas de hortaliças.
Toda a produção é agroecológica. Orgânica. Eles não usam agrotóxicos e nem adubos químicos. Sérgio e Loreni de Almeida vivem num lote de vinte hectares no assentamento Santa Elmira, que fica no município de Hulha Negra. Desde 1998, o casal produz sementes em duas safras anuais, principalmente de couve. O agricultor diz que vende o quilo por R$20.
Produzir e vender semente orgânica de hortaliça com alguma escala parecia negócio inviável. Ainda hoje, no Brasil, grande parte dos cultivos orgânicos se utiliza de sementes convencionais – tratadas com fungicidas e outros defensivos químicos. O mercado nunca dispôs de sementes orgânicas de qualidade e em quantidade para atender a demanda.
Não basta reproduzir as sementes híbridas disponíveis hoje. É preciso buscar junto a empresas de pesquisa variedades mais resistentes e adaptadas a esse tipo de cultivo.
A nova cooperativa foi fundada com apenas 12 agricultores, mas com o passar dos anos, o negócio cresceu, e hoje a chamada Bionatur conta com 135 cooperados de 25 assentamentos, espalhados por 13 municípios do Rio Grande do Sul.
Em dois dos 20 hectares do lote do agricultor Vanderlei Berté, que fica no município de Candiota, ele plantou salsa crespa, cebola, cenoura e repolho. Assim como as sementes da couve, as do repolho também ficam dentro de vagens que a planta solta depois que as flores são polinizadas. O ideal é colher e levar essas vagens para uma lona ainda amarelinhas, antes que elas amadureçam por completo.
Berté plantou pouco menos de um quarto de hectare com repolho e espera colher 25 quilos de semente, que vai vender a R$15 o quilo.
Seguindo orientação da Luana Vais, técnica agropecuária da cooperativa, para o ano que vem o agricultor pretender mudar a área plantada de lugar para aumentar a produtividade. Luana explica que para produzir semente de repolho tem que plantar a hortaliça fora da época recomendada.
Produção
Todos os agricultores da cooperativa contam com assistência técnica gratuita e aprendem logo a importância de manter o solo saudável, de fazer boas mudas, adubações orgânicas sistemáticas, plantar as mudas viradas para onde nasce o sol.
O custo de produção é mínimo. A cooperativa fornece as sementes e financia o aluguel de máquinas para fazer o preparo do solo. O biofertilizante, praticamente único produto aplicado nas lavouras, é feito lá mesmo.
A cooperativa beneficia toda a produção de agricultores em sua sede, no município de Candiota. As sementes são separadas por tamanho e peso. Dependendo da umidade, elas passam ainda por um secador. Só então, seguem para as câmaras frias. Uma amostra de cada lote é enviada para um laboratório que testa o grau de pureza e de germinação da semente.
Hoje, a Conab compra a maior parte das sementes da cooperativa. O restante é vendido em feiras, lojas agropecuárias e supermercados locais. O preço é praticamente igual ao das sementes convencionais.
Certificação
A cooperativa encara agora um grande desafio: certificar todas as propriedades que entregam as sementes agroecológicas. O processo é lento e custoso. Até agora, 41 propriedades foram certificadas e estão em processo de renovação.
O agrônomo Gilberto Zibetti, inspetor do IBD Certificações visita os lotes para identificar possíveis alterações e irregularidades.
Ao longo da última década a produção de sementes agroecológicas vem se consolidando como alternativa de renda importante para os agricultores assentados do Rio Grande do Sul. Não é mais só o dinheiro do leite. Sem contar os muitos produtos cultivados também de forma orgânica para a subsistência das famílias.
G1 – Do Globo Rural, Edição do dia 03/03/2013.
Assista também à reportagem em vídeo do Programa Globo Rural sobre essa experiência, veiculada pela TV Globo em 03/03/2013.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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