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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 621 – 15 de março de 2013
Car@s Amig@s,
A IV Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia trouxe para as ruas do município de Solânea, no dia 08 de março, mais de três mil mulheres camponesas dos 15 municípios do Polo da Borborema e de várias regiões que compõem a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), o Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR) e o Coletivo Estadual de Mulheres do Campo e da Cidade. Juntas elas caminharam pelo centro da cidade para denunciar as desigualdades e a violência contra mulher e reafirmar a luta por direitos e por relações mais justas na agricultura familiar.
Nos momentos que precederam a marcha, no palco montado em frente à sede do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Solânea, houve a apresentação da peça “Zefinha vai casar”, encenada pelo Grupo de Teatro do Polo da Borborema, na qual a personagem Zefinha sente a perpetuação das relações patriarcais nos caminhos previamente traçados para sua vida, quando decide se casar. Após a peça, mulheres agricultoras deram depoimentos, compartilhando suas histórias de vida e de superação. A jovem liderança Ana Alice Macêdo, do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Queimadas, sequestrada, violentada e assassinada em setembro do ano passado, foi homenageada. As palavras de sua mãe, Angineide Macêdo, comoveram o público: “Se ela não tivesse sido tirada de nós da forma como foi, hoje ela estaria aqui, participando, animando o ônibus com as agricultoras. As pessoas dizem pra mim, ‘você é muito forte’, mas não é que eu seja forte, é que momentos como esse me ajudam e me dão força. E é por isso que eu estou aqui hoje, pra que não aconteça com mais ninguém o que aconteceu com a minha filha, mas se chegar a acontecer, eu vou estar junto, dando força”, desabafou.
As agricultoras saíram em marcha pelas ruas do centro da cidade e no meio do percurso, a multidão foi surpreendida com a fala de várias agricultoras que com coragem, partilharam momentos de dor sofridos com seus companheiros. Uma, duas, três, várias mulheres denunciaram que a violência doméstica não é um caso isolado, mas acontece com muitas de nós e pode ser superada.
A caminhada seguiu até a Praça 26 de Novembro, onde aconteceu uma feira de exposição de experiências e produtos frutos do trabalho das mulheres. Neste momento a cantora e compositora Gilvanisa Maia, autora da música “Apelo de Mulher”, fez uma apresentação: “Eu soube que a música já se tornou um hino desta marcha, e eu tenho muito orgulho disso, pois a letra surgiu justamente das experiências de vida de várias mulheres que eu fui ouvindo quando trabalhei em um projeto com trabalhadoras rurais”. Ao final da marcha, foi realizada uma homenagem a Margarida Maria Alves, sindicalista de Alagoa Grande, assassinada por desafiar o poder local dos grandes latifundiários da região. As participantes dançaram ao som da animada apresentação das cirandeiras de Caiana dos Crioulos, comunidade quilombola de Alagoa Grande-PB. O encerramento aconteceu por volta das 13h com a leitura da Carta Política da Marcha reafirmando as bandeiras de lutas das mulheres camponesas e suas reivindicações.
Maria do Céu Silva, da direção do Sindicato de Solânea e da coordenação do Polo da Borborema, fez uma avaliação positiva da marcha e mais ainda do trabalho de formação anterior, de mobilização e discussão nas comunidades: “Só aqui em Solânea nós fizemos oito reuniões comunitárias, cada uma reunindo três ou quatro comunidades, além de uma reunião municipal com mais de 50 mulheres, fora as reuniões nos outros 14 municípios da região do Polo. Esse trabalho de preparação foi muito importante, não só por fortalecer as ações que nós, nos sindicatos vimos realizando, mas também para encorajar as mulheres a sair de casa, estimular que elas falem do cotidiano delas, muitas se viram no vídeo e na peça e a partir daí passaram a participar e a refletir sobre a sua condição”, disse. Ainda segundo Maria do Céu, o processo de construção da marcha vem, a cada ano, estimulando a organização de mais mulheres: “aqui em Solânea, nós já vimos grupos de mulheres de formando para a constituição de Fundos Rotativos Solidários de fogões ecológicos, já temos visitas de intercâmbio marcadas sobre esse tema”.
A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia é organizada pelo Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema. O Polo é um fórum articulador de organizações de 15 municípios e mais de cinco mil famílias do Agreste da Borborema, contando com a assessoria da Organização Não Governamental AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar. Polo e AS-PTA acreditam que a superação das desigualdades entre homens e mulheres e a violência, como expressão mais cruel dessas desigualdades, constituem um caminho para que a agricultura familiar de base ecológica se consolide como modo de produção e de vida para as famílias agricultoras.
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Neste número:
1. Paraíba feminina, mulher forte sim senhora
2. Lagarta devora lavouras e provoca prejuízos de R$ 2 bilhões na Bahia
3. Lavoura furada
4. Lagarta pode levar governo a decretar situação de emergência
5. Monsanto ameaça processar EFSA
A alternativa agroecológica
Colheita – Balanço de dois anos do Projeto Semeando Agroecologia
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1. Paraíba feminina, mulher forte sim senhora
Vestindo suas melhores roupas sobre a pele curtida de sol, cerca de 3 mil agricultoras se reuniram na última sexta-feira (8) para celebrar o Dia Internacional da Mulher na IV Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, realizada no município de Solânea, no agreste paraibano.
A marcha é organizada pelo Polo da Borborema– um fórum aberto de organizações de trabalhadoras e trabalhadores rurais de 15 municípios na região de Campina Grande (PB). Com a assessoria da organização não governamental (ONG) AS-PTA e o apoio dos sindicatos rurais e das prefeituras, caravanas de agricultoras de toda a região participaram da programação, que começou às 7h e prosseguiu sob sol forte até as 14h.
Mulheres dos sete aos 70 anos reivindicavam, entre outros pontos, a valorização do trabalho doméstico, conhecido no meio acadêmico como o trabalho reprodutivo da sociedade: aquele que envolve os cuidados com a casa e a família. Esse trabalho é intenso, não é remunerado nem entra na conta do PIB, o Produto Interno Bruto, e por isso não é identificado na medida de desenvolvimento econômico de um país, apesar de ser imprescindível à formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho.
Outro tema importante para o ato foi a denúncia das diversas formas de violência contra a mulher. A peça “Zefinha vai casar” trouxe risos e reflexão sobre as formas menos visíveis, como a psicológica, a moral e a patrimonial. O enredo foi criado pelo Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema e apresentava a história de Zefinha, uma jovem prestes a se casar, que deseja participar das reuniões comunitárias e vê seu noivo reproduzir as atitudes dominadoras de uma cultura patriarcal que insiste em limitar as possibilidades das mulheres.
Mas nem tudo foi divertido na mobilização. O relato de Dona Angineide, mãe de Ana Alice, foi um dos momentos mais comoventes. Sua filha, uma estudante de 19 anos, foi violentada e assassinada quando voltava da escola em setembro de 2012. O maníaco estava em liberdade condicional e já havia feito outras quatro vítimas em um ano. “Eu venho aqui falar para vocês para que esse tipo de coisa nunca mais aconteça na nossa região”, disse Dona Angineide, muito triste.
Depoimentos como esse e discursos de lideranças sindicais ganhavam a atenção de milhares de mulheres. Para elas, as desigualdades entre de gênero constituem um forte bloqueio para que a expansão da agricultura familiar de base ecológica se consolide como modo de produção e de vida para as famílias agricultoras.
Assentadas da reforma agrária, produtoras de base agroecológica e trabalhadoras rurais assalariadas, todas prestigiaram a marcha. Estimuladas pela peça de teatro e pelos testemunhos, as mulheres marcharam por um trajeto de um quilômetro pelas ruas principais de Solânea, município de 26 mil habitantes.
Leia a íntegra da matéria de Cynthia Sims em http://mercadoetico.terra.com.br
2. Lagarta devora lavouras e provoca prejuízos de R$ 2 bilhões na Bahia
O jornal Valor Econômico publicou matéria que deixou de informar o leitor sobre os motivos que ocasionaram a explosão populacional dessa lagarta. A expansão das lavouras transgênicas Bt, que são plantas inseticidas, está reduzindo fortemente a presença dos predadores naturais da Helicoverpa, até então uma praga secundária, mas que na ausência de seu inimigo natural vem se multiplicando e causando os estragos a que se refere o texto. A indústria da biotecnologia-agrotóxicos lucrou vendendo as sementes transgênicas e junto a promessa de redução do uso de agroquímicos; agora vai lucrar de novo com a venda de inseticidas para a “emergência fitossanitária”. De novo a pergunta, qual a responsabilidade dos que autorizaram esses cultivos no Brasil sabendo que esses danos era previsíveis?
3. Lavoura furada
A revista Agro DBO publicou reportagem sobre “o ataque das lagartas”informando que praga devasta lavouras de milho transgênico em várias regiões do país e pergunta: tecnologia falha ou dscuido no manejo?
Confira o texto na íntegra em: pratoslimpos.org.br
4. Lagarta pode levar governo a decretar situação de emergência
Matéria da Rural BR mostra o desequilíbrio ecológico causado pela expansão das lavouras transgênicas. São efeitos previstos para os quais foram feitos alertas insistentes e fudamentados dentro e fora da CTNBio. Como manda a lógica mercantil e não a da ciência independente nem a da precaução, os prejuízos se multiplicam. Quem assumirá o prejuízo? Não é possível culpabilizar o produtor. Problema semelhante já fora detectado na soja em 2012.
5. Monsanto ameça processar EFSA
A Monsanto ameaçou processar a EFSA Agência Europeia de Segurança dos Alimentos por ter publicizado os dados usados para autorizar a comercialização de seu milho NK 603.
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, Corinne Lepage, que é advogada e membro do Parlamento Europeu disse que é improvável que a empresa tenha sucesso no judiciário, uma vez que a legislação do bloco estipula a transparência como princípio para o tratamento de dados relativos à saúde humana e ao meio ambiente.
Fossem consistentes os estudos a empresa não estaria preocupada com sua divulgação.
Com informação do GMWatch
A alternativa agroecológica
Colheita – Balanço de dois anos do Projeto Semeando Agroecologia
Nos últimos dois anos, a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia implementou na região metropolitana do Rio de Janeiro o Projeto Semeando Agroecologia. Nesse tempo, o Projeto surpreende com seus números e acumula importantes reflexões a cerca da agricultura familiar urbana e periurbana da região Metropolitana do Rio de Janeiro.
No início do trabalho, em 2011, foi realizado um diagnóstico sobre a realidade da agricultura urbana e periurbana junto às comunidades participantes e em parceria com cooperativas e organizações locais. Foi a partir das informações coletadas, que as ações do Projeto foram tomando forma.
Para cumprir as metas de promover a intensificação produtiva em 200 estabelecimentos agrícolas familiares na periferia do Rio de Janeiro a partir de tecnologias e práticas agroecológicas, ampliar o acesso dos agricultores aos mercados consumidores locais e institucionais e irradiar as experiências do projeto para outros agricultores familiares, e nos espaços de governança e usando as redes sociais, foram realizadas diversas ações nestes dois anos de atuação. Podemos dar destaque especial aos cursos de capacitação para produção agrícola em bases agroecológicas, 9 realizados, nos quatro municípios onde o Projeto atuou. Destes cursos os principais frutos são 4 feiras agroecológicas com funcionamento semanal e diversos agricultores adotando práticas agroecológicas de produção.
(…)
O fortalecimento e a ampliação das feiras e espaços de comercialização direta de produtos da roça, foram avanços importantes para a geração de renda e valorização da agricultura familiar conquistados pelo Projeto Semeando Agroecologia. Assim como o fortalecimento das Feiras da Roça de Nova Iguaçu e de Queimados o projeto apostou na abertura de novas feiras como Feira da Agricultura familiar de Magé e na reformulação da Feira Orgânica de Campo Grande. A equipe do Projeto auxiliou as organizações locais nos processos de negociação junto aos governos municipais, assim como na formulação da identidade visual das barracas, produção de ecobags e folhetos para serem distribuídos para os consumidores, ajudando a enfatizar a importância dos agricultores familiares na produção de alimentos agroecológicos frescos e vendidos diretamente aos consumidores.
Leia a íntegra da matéria em: https://aspta.org.br
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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