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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 623 – 05 de abril de 2013
Car@s Amig@s,
Em uma nova pesquisa publicada na prestigiosa revista Toxicology [1], Robin Mesnage, Benoît Bernay e Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França, provaram, através do estudo de 9 herbicidas do tipo Roundup, que o composto químico mais tóxico não é o glifosato (seu princípio ativo e substância mais avaliada pelos órgãos reguladores), mas sim um composto que nem sempre é mencionado nos rótulos, o POE-15. Foram aplicados testes em 3 tipos de linhagens de células humanas e de espectrometria de massa (que avalia a natureza das moléculas) para identificar o composto e analisar seus efeitos.
O contexto: O glifosato é o “princípio ativo” do herbicida Roundup (da Monsanto), o mais utilizado do mundo, e de outras formulações comerciais parecidas. Ele foi avaliado em mamíferos previamente a sua autorização comercial. Mas os líquidos nos quais ele é diluído para compor os produtos comercializados, como em todos os agrotóxicos, contêm também adjuvantes classificados como “inertes”, frequentemente confidenciais, destinados a estabilizar o princípio ativo e permitir que ele seja absorvido pelas plantas, como espalhantes e umectantes. Dessa forma, esses herbicidas podem afetar todas as células vivas, inclusive as humanas. Isso porém acaba sendo negligenciado porque o glifosato e o Roundup são tratados como se fossem uma única coisa e a não toxicidade presumida do primeiro serve de base para as autorizações do segundo. Os órgãos reguladores e os fabricantes de herbicidas à base de glifosato fazem avaliações com o glifosato sozinho, e não com o herbicida em suas formulações comerciais. Os detalhes dessas avaliações são considerados confidenciais e mantidos sob sigilo pela indústria e órgãos de saúde e meio ambiente.
Conclusões e consequências: Este estudo demonstra que todos esses herbicidas à base de glifosato são mais tóxicos que o glifosato sozinho. Os níveis máximos de resíduos autorizados no meio ambiente e nos produos alimentares parecem, portanto, equivocados. A toxicidade de uma bebida (como a água de torneira) regularmente contaminada por resíduos de herbicidas como o Roundup, assim como de uma alimentação de soja ou milho geneticamente modificados para tolerância ao Roudup, já foi demonstrada em estudo com ratos publicado recentemente (2) pela equipe do professor Séralini, que também publicou as respostas a todas as críticas que recebeu (3). Esta nova pesquisa explica e confirma em grande parte esses resultados científicos.
Mas, além disso, trata-se de uma grave questão de saúde pública. Não apenas as autorizações dos herbicidas do tipo Roundup devem ser urgentemente questionadas como também as normas de avaliação de riscos devem ser completamente revisadas e realizadas de forma transparente e independente. Na verdade, os órgãos de avaliação, que sempre chegam à mesma conclusão que a Monsanto a respeito da inocuidade do produto, estão falhando por seu laxismo e suas práticas confidenciais que evitam a realização de avaliações completas. A primeira etapa de uma nova avaliação pelas agências sanitárias é a disponibilização na internet de todos os dados relativos às autorizações e os pareceres favoráveis ao uso do Roundup e produtos similares. Os dados toxicológicos da indústria devem ser publicizados.
Os adjuvantes da família do POE-15 aparecem agora como novos princípios ativos de toxicidade sobre células humanas e devem ser regulados como tais. Devem ser considerados nos testes de toxicidade. Demandamos uma revisão dos processos de homologação dos agrotóxicos de modo a incorporar testes de longo prazo das formulações comercializadas e utilizadas no meio ambiente.
Além disso, uma vez que os compostos tóxicos confidenciais são utilizados de maneira generalizada nas formulações de agrotóxicos, é de se temer, a partir destas descobertas, que a toxicidade de todos os agrotóxicos existentes tenha sido fortemente subestimada.
Este estudo foi conduzido na Universidade de Caen com o suporte estrutural do Criigen (Comitê de Pesquisa e Informação Independente sobre Engenharia Genética), que faz parte da Rede Europeia de Cientistas pela Responsabilidade Social e Ambiental (ENSSER www.ensser.org).
Nota à imprensa, Criigen em 21 de fevereiro de 2013.
Tradução: AS-PTA.
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Referências:
(1) Mesnage R., Bernay B., Séralini G-E. (2013, in press). Ethoxylated adjuvants of glyphosate-based herbicides are active principles of human cell toxicity. Toxicology http://dx.doi.org/10.1016/j.tox.2012.09.006
(2) Séralini G. E., et al. (2012). Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize. Food and Chemical Toxicology 50 (11): 4221-4231.
(3) Séralini G. E., et al. (2013). Answers to critics: Why there is a long term toxicity due to NK603 Roundup-tolerant genetically modified maize and to a Roundup herbicide. Food and Chemical Toxicology.
Veja também:
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Milho NK 603 – Está disponível na íntegra o documento elaborado por 14 integrantes e ex-integrantes da CTNBio com defesa fudamentada da pesquisa que demonstrou graves impactos à saúde causados pelo consumo do milho transgênico NK 603. Os autores destacam que as supostas falhas no estudo francês não foram questionadas nos estudos apresentados pelas empresas e que embasaram a liberação comercial dessa variedade.
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Neste número:
1. A contaminação da ética, artigo de Agostinho Vieira
2. Lagartas resistem ao milho Bt e empresas fogem da responsabilidade
3. Debate no Canal Rural sobre lagartas resistentes
4. Promessa brasileira
5. Costa Rica livre de transgênicos
6. O avesso da reforma agrária
A alternativa agroecológica
“A cada seca, um aprendizado”: o Dia Mundial da Água e as estratégias de convivência com o semiárido das famílias do Polo da Borborema
Dicas de fonte de informação:
1 – Mapa das feiras orgânicas
Com o objetivo de tornar os produtos orgânicos mais acessíveis aos consumidores e fomentar uma alimentação saudável, o Idec realiza o Mapa de Feiras Orgânicas e Grupos de Consumo Responsável. Basta digitar um endereço para encontrar todas as feiras especializadas e grupos de consumo responsável mais próximos de você, bem como informações de horários de funcionamento e tipos de produtos encontrados nesses locais. Além disso, o mapa mostra quais são as frutas, verduras e legumes da estação na sua região para que opte pelos produtos locais.
Encontre a feira orgânica ou grupo de consumo mais próximo de você
Assista ao vídeo sobre o Mapa das Feiras Orgânicas
2 – Contaminação e coexistência
Veja no blog Em Pratos Limpos um quadro informativo sobre conceitos relacionados à contaminação genética provocada por plantas transgênicas e comentários acerca dos riscos e medidas de precaução necessárias.
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1. A contaminação da ética, artigo de Agostinho Vieira
Em artigo publicado nesta quinta-feira (04/04) no Globo, o colunista Agostinho Vieira expõe as contradições que enfrenta o país que caminha para o hexacampeonato do consumo mundial de agrotóxicos, e cuja lista dos 50 venenos mais utilizados inclui 24 substâncias banidas nos EUA, Canadá e/ou países da Europa e Ásia.
O jornalista contrapõe a defesa do uso de venenos no campo como única maneira de garantir a balança comercial positiva, a inflação reduzida e os juros comportados com questões éticas que envolvem a propagação de doenças e mortes.
(…) Fico imaginando um plebiscito para ouvir a população sobre o uso desses produtos. Com uma pergunta mais ou menos assim: “A população está crescendo e precisamos alimentá-la. Os agrotóxicos aumentam a produtividade agrícola, mas provocam algumas doenças e mortes. Você concorda com a sua adoção em larga escala no país?” Durante a campanha do plebiscito seriam divulgadas pesquisas e estatísticas de mortes. Cinco mortos no campo e um na cidade é um número razoável? Se forem dez no campo e dois na cidade já seria inaceitável?
É claro que esse exercício é absurdo. E não existe nenhum número “aceitável” de mortes. Na prática, no entanto, é mais ou menos isso que acontece. Sem a consulta popular. Na verdade, a questão principal não é se devemos ou não usar agrotóxicos. Tema polêmico no mundo todo. A pergunta que não quer calar é: por que ainda usamos produtos que já foram banidos no resto do mundo?” (…)
Leia a íntegra do artigo.
2. Lagartas resistem ao milho Bt e empresas fogem da responsabilidade
Lagartas atacam plantações de milho transgênico no Paraná e no DF
Agricultores do DF utilizam cada vez mais agrotóxicos para combater praga
A tecnologia que deveria matar as lagartas na lavoura de milhos transgênicos, não está conseguindo eliminar a praga. Em algumas regiões do país, como o Paraná e Distrito Federal, produtores estão preocupados com o prejuízo.
O agricultor Ildefonso Ausec plantou na safrinha 60 hectares de milho no município de Ourizona, norte do Paraná. A lavoura é transgênica, que deveria ser resistente à lagarta. A praga também atacou o milharal de seu irmão, João Paulo. “É só procurar que tem. Essa é a lagarta do cartucho. Não tem dúvida”, conta o agricultor.
A lagarta tem esse nome popular, porque fica escondida no funil da planta, no chamado cartucho, onde as folhas se formam. O nome científico dela é bem mais complicado: Spodoptera frugiperda.
O agrônomo Erico Rigolim explica como o milho transgênico foi programado para resistir ao ataque das lagartas, através da inserção de um bacilo na semente. “Um determinado bacilo ataca no intestino, no aparelho digestivo da lagarta transformando em cristais e matando o bicho, mas não está funcionando porque está criando resistência”.
Apenas em uma área, o produtor Ildefonso já passou veneno quatro vezes, e ainda assim a infestação é grande. A maioria das plantas está com as folhas bem estragadas, cortadas.
A nota fiscal do agricultor comprova a aquisição das sementes transgênicas com a tecnologia Herculex. Ele adquiriu sementes da empresa Pioneer, da variedade P-3431 H.
Ildefonso começou a passar inseticida 15 dias após o plantio. “O tamanho que ela [a lagarta] está não tem condições. O prejuízo será muito maior agora se insitir em passar veneno. Até quando?”, questiona Ildefonso.
O problema não está acontecendo apenas no Paraná. Em Tabatinga, no Distrito Federal, os produtores que cultivaram milho transgênico, enfrentam o mesmo problema. O agrônomo Gilson Rodrigues diz que isso está ocorrendo com uma determinada tecnologia. “Observamos principalmente na tecnologia Herculex”.
O que intriga os produtores e técnicos é que, mesmo seguindo as orientações do cultivo de transgênicos, o ataque das lagartas persiste. O agricultor Eduardo Tiggemann, por exemplo, fez a chamada área de refúgio. A parte do milho transgênico é de 450 hectares. Ao lado, ele cultivou um talhão de 45 hectares com a variedade convencional.
O objetivo do refúgio é permitir que aconteça na área o cruzamento das lagartas que frequentam os dois tipos de milho e assim evitar que elas criem resistência ao transgênico. “Em relação ao número de lagartas hoje você não consegue ver diferenças entre as duas plantações. O número de lagartas por planta é a mesma nas duas tecnologias”, conta o agricultor.
O Globo Rural procurou a resposta das duas empresas que vendem essa tecnologia no Brasil. Nós procuramos a empresa Dow Agrosciences, que desenvolveu a tecnologia do milho transgênico. Ela nos informou que a responsabilidade cabe a outra empresa, a Pioneer, do município gaúcho de Santa Cruz do Sul. É ela que produz e vende a semente Herculex no mercado brasileiro. A Pioneer não quis dar entrevista gravada e respondeu através de nota, que a maioria dos agricultores não adota todas as práticas de controle, como áreas de refúgio, monitoramento e rotação de culturas.
Globo Rural, 31/03/201 [clique no link para assistir à reportagem].
3. Debate no Canal Rural sobre lagartas resistentes
A adoção de áreas de refúgio plantadas com milho convencional resolveria o problema do desenvolvimento de insetos praga resistentes? Há evidências de que não.
A maioria da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) sempre entendeu que as chamadas medidas de “preservação da tecnologia” nada têm a ver com biossegurança e portanto não deveriam ser por ela reguladas. Delegaram ao mercado, e hoje nada obriga o produtor a plantar essas áreas. Disse ainda a CTNBio que as empresas seriam as primeiras interessadas a fazer pegar a ideia do refúgio.
Os entrevistados de programa veiculado pelo Canal Rural em 01/04, mais enfaticamente o advogado Neri Perin, afirmam que o produtor não é orientado no momento da compra da semente e não recebe informações suficientes sobre o que é o refúgio, como, quanto e o que plantar. Para o advogado, as empresas devem ser responsabilizadas por vender um resultado que não está sendo entregue.
Em Pratos Limpos, 03/04/ 2013.
4. Promessa brasileira
As promessas dos transgênicos das multinacionais foram caindo por terra uma a uma. Agora é a vez das promessas nacionais.
Nos testes feitos pela Embrapa, a primeira geração das plantas de feijão transgênico apresentou até 36% de plantas suscetíveis à doença que deveria controlar. Afirmam os pesquisadores que o evento de modificação para controle da doença ainda precisa ser melhor estudado. Pode-se falar em plantas resistentes?
O milho Bt veio para acabar com as lagartas, criou em 2 anos lagartas resistentes e deu a uma praga secundária o poder de causar grandes danos econômicos. Quanto tempo será necessário até que se crie um vírus resistente a esse feijão transgênico e ainda mais danoso às lavouras?
A matéria abaixo, publicada pelo DCI em 01/04, informa que as normas de segurança para uso do feijão transgênico serão feitas pela própria Embrapa, o que mostra que a CTNBio liberou as sementes sem cumprir aquilo que deveria ser sua função.
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Feijão transgênico brasileiro espera por normas de segurança
O feijão geneticamente modificado pela Embrapa, que será a primeira semente transgênica desenvolvida no Brasil e o primeiro feijão transgênico do mundo, espera por mais testes e pela confirmação de normas de segurança antes de ser distribuído ao mercado nacional, segundo a gerente-geral interina da Embrapa Produtos e Mercados, Soraya Araújo. “Temos que seguir uma série de normativas de segurança”.
Ela confirmou que a previsão é que somente em 2015 o sistema de produção estará fechado, com padrão de qualidade garantido. Por enquanto, a Embrapa busca estruturar o sistema de segmentação e identificação da semente. A comercialização do feijão transgênico já foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) há dois anos.
A semente da Embrapa é resistente ao mosaico dourado, uma doença causada por um geminivírus transmitido pela mosca branca e que provoca o amarelecimento das folhas, nanismo, deformação das vagens e grãos e abortamento das flores. Uma plantação acometida pela doença tem perdas de 40% a 100%.
Segundo levantamento da Embrapa, outro produto que ainda está em desenvolvimento, também pela ela, é a alface transgênica, que teria mais ácido fólico em suas folhagens. Porém, essa hortaliça ainda não passou pela avaliação da CTNBio.
DCI, 01/04/2013.
5. Costa Rica livre de transgênicos
Na Costa Rica, já são 53 cantones (municípios), de um total de 81, que se declararam zonas livres de transgênicos.
O artigo Transgénicos y autonomía municipal, de Sofía Barquero e Mauricio Álvarez M., ecologistas da Fecon (Federación Conservacionista de Costa Rica), traz mais detalhes da mobilização contra os transgênicos no país.
(…) “A relação de nossas comunidades com a biodiversidade foi manifestada através de movimentos em todo o país. Principalmente com a medida adotada por mais de 50 municipalidades que se declararam ‘Territórios Livres de Cultivos Transgênicos’. Essa decisão reflete os interesses e necessidades dos munícipes e, assim, tem legitimidade e sustentação constitucional”. (…)
(…) Enquanto isso, cada dia mais municipalidades se somam à iniciativa e se declaram livres de cultivos transgênicos. Isso significa que dentro de pouco tempo, 100% terão adotado a declaração. Quando isso acontecer, que ações tomará o governo central? Definitivamente, não poderá seguir indiferente, nem menosprezar a autonomia municipal. Deverá considerar este tipo de ‘iniciativa popular-municipal’ e, então, talvez ocorra o mesmo que ocorreu no Peru e a pressão dos governos locais se traduza em uma política ou lei nacional”.
Em Pratos Limpos, 03/04/52013.
6. O avesso da reforma agrária
Dez grupos têm um terço da nova fronteira da soja
De Bom Jesus (PI) e Balsas (MA) | O avanço da soja no Mapito – região fronteiriça entre os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, além da Bahia – nos últimos anos foi impulsionado pela presença de grandes grupos empresariais e fundos de investimento. Um levantamento feito pelo Valor mostrou que dez grandes companhias já controlam – direta ou indiretamente – uma área superior a 1 milhão de hectares na região. Embora nem toda essa área já esteja cultivada, ela representa cerca de um terço dos 3 milhões de hectares em que a soja está sendo colhida na região na atual safra.
Quem percorre os quase 120 quilômetros de chão batido da rodovia PI-397, que corta a Serra do Quilombo, no Piauí, vê um cenário em transformação. Longas extensões de vegetação nativa postas no chão anunciam o avanço das lavouras de soja e milho sobre o chapadão, naquela que é conhecida como a “última fronteira agrícola” do país – a porção de Cerrado que engloba o sul do Maranhão e do Piauí, o leste do Tocantins e o oeste da Bahia, também conhecida pelo acrônimo “Mapitoba”. (…)
Nos últimos 10 anos, a área plantada com soja nessa região cresceu em mais de 1,7 milhão de hectares, para quase 3 milhões – pouco mais de 10% da área dedicada ao grão em todo o país na última safra. No período, a área ocupada com lavouras mais do que dobrou no Maranhão, triplicou no Tocantins e praticamente quintuplicou no Piauí. Mais de dois terços desse crescimento aconteceu a partir do ciclo 2005/06 – não à toa, quando os preços internacionais da commodity iniciaram sua escalada.
O que mais chama atenção em relação ao avanço da produção em uma das regiões mais pobres do país é o perfil desse crescimento. Trata-se de um fenômeno impulsionado pela chegada de grandes empresas de capital aberto, controladas por fundos estrangeiros ou por empresários nacionais ligados a outros ramos da economia. E que exploram um modelo de produção que combina altíssima escala, gestão profissional e acesso aos mercados de capitais. (…)
Valor Econômico, 01/04/2013.
A alternativa agroecológica
“A cada seca, um aprendizado”: o Dia Mundial da Água e as estratégias de convivência com o semiárido das famílias do Polo da Borborema
Em 22 de março se comemora o Dia Mundial da Água, a data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 e é destinada à discussão sobre os diversos temas relacionados a este importante bem natural. Para as famílias agricultoras do semiárido, que atravessaram em 2012 e ainda sentem em 2013 os reflexos da estiagem mais severa dos últimos 30 anos, esta data tem um significado a mais: o da valorização das experiências que permitem a convivência nos momentos em que a água é extremamente escassa.
No Curimataú Paraibano o casal Eliete e Luiz Souza vive em uma propriedade de 35 hectares, no Sítio Salgado de Souza, município de Solânea. A cada estiagem a família foi aprendendo que, para conviver com a realidade do semiárido, era preciso “trabalhar” com a natureza. E observando a caatinga, foram construindo estratégias para estocar água, sementes e alimento para a família e para os animais.
Para Luiz Souza a vida ensinou muito, aprendeu que para continuar produzindo alimento no período de estiagem é preciso aproveitar bem os meses em que chove para armazenar o máximo possível: “Mesmo sendo uma seca grande como estão falando, aqui na nossa região, o sofrimento não é o mesmo das secas passadas. Quase todas as famílias aqui têm uma cisterna, faz um silo de forragem ou guardam suas sementes da paixão e a vida mudou muito. A seca ainda atinge a todos, mas o sofrimento é menor”, afirma seu Luiz.
Segundo José Camelo da Rocha, coordenador do núcleo de recursos hídricos da AS-PTA, que acompanha as experiências das famílias como a de Eliete e Luiz Souza, as implementações estruturantes (como as cisternas) e o conhecimento acumulado das famílias, associados aos programas de governo como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Bolsa Família, etc., têm dado um significado diferente às secas: “o conjunto das ações trouxe segurança alimentar às famílias e uma maior resiliência aos seus sistemas produtivos, além de gerar autonomia à medida que as famílias vão aumentando a sua capacidade de estocar água nas cisternas, nas barragens subterrâneas ou nos tanques de pedra, fazem suas silagens, organizam bancos de sementes familiares, etc.”.
No Sítio Bom Sucesso, também no município de Solânea, Irene mora com sua família numa propriedade que chama a atenção por se conservar verde em meio a uma paisagem seca ao redor. A agricultora conta que graças a sua cisterna calçadão, conseguiu manter a produção de hortaliças e plantas medicinais no seu arredor de casa e assim atravessar a seca de uma maneira mais tranquila. Em algum momento ela até precisou comprar água, mas foi quando percebeu que era fundamental o reservatório perto de casa. A agricultora ainda analisa que se não tivesse plantado o bosque, se não tivesse reorganizado o arredor de casa com cercas de tela, aprimorado as pequenas criações, se não tivesse a cisterna de placas, a cisterna-calçadão, se não tivesse feito a recarga de água das infraestruturas, certamente a seca teria obrigado a família a deixar o local.
“O mais interessante é que os agricultores perceberam que não basta só armazenar e fazer um bom uso da água para conviver com a estiagem, mas armazenar um conjunto de recursos que juntos, permitem à família atravessar com mais dignidade o período de seca: estabilizando a produção, produzindo alimentos e gerando mais renda para as famílias agricultoras ”, observa Emanoel Dias, técnico da AS-PTA.
AS-PTA, 22/03/2013.
Assista a matéria sobre o tema, produzida na região do Polo da Borborema pelo Globo Rural (veiculada em 24/03/2013):
http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/tecnologias-simples-e-baratas-ajudam-agricultores-a-conviver-com-a-longa-estiagem/2476323/
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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