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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Número 553 – 02 de setembro de 2011
Inspeção do governo dos EUA encontra glifosato no ar e em água da chuva e de córregos na bacia do rio Mississippi
Car@s Amig@s,
O glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup — o mais utilizado no Brasil e no mundo — foi encontrado no ar e em água da chuva e de riachos em zonas agrícolas da bacia hidrográfica do rio Mississippi. Os resultados foram divulgados em 29 de agosto pelo U.S. Geological Survey, órgão vinculado ao Ministério do Interior dos EUA (U.S. Department of the Interior).
O glifosato é amplamente utilizado na região para o controle de mato em lavouras transgênicas de milho, soja e algodão. Essas sementes transgênicas foram desenvolvidas para tolerar aplicações do produto: pode-se pulverizar o veneno sobre as lavouras, eliminando-se assim todas as espécies de mato e preservando-se a soja “intacta”. Como não poderia deixar de ser, o uso total de glifosato nos EUA aumentou 8 vezes entre 1992 (ano da introdução da soja transgênica no país) e 2007 — de 11 mil para 88 mil toneladas.
Nossa história não é muito diferente: segundo dados divulgados pela Anvisa, entre 2003 (ano da autorização para o plantio de soja transgênica no Brasil) e 2007, o uso de glifosato saltou de 57,6 mil para 300 mil toneladas.
Paul Capel, químico do USGS e autor do novo estudo, declarou: “Embora o glifosato seja o herbicida mais utilizado no mundo, sabemos muito pouco sobre seus efeitos de longo prazo no meio ambiente. Este estudo é um dos primeiros a documentar a ocorrência consistente deste químico em riachos, chuva e ar ao longo do período de produção (…)”.
O metabólito AMPA, um produto da degradação do glifosato, altamente tóxico e que tem persistência ambiental maior que a do próprio glifosato, também foi frequentemente detectado em riachos e na chuva. A ocorrência do veneno em riachos e no ar indica que ele é transportado a partir do ponto de uso e se espalha no meio ambiente. Tanto no ar como na chuva, a frequência de detecção de glifosato variou de 60 a 100%.
Estas novas evidências da dispersão do veneno, sobretudo pela água, representam mais um alerta para as populações que vivem em regiões de grande produção agrícola intensivas em uso de agrotóxicos. Também há estudos no Brasil demonstrando a contaminação do ar, da água da chuva e até da água subterrânea em regiões de predomínio do agronegócio. Em muitos casos essas águas contaminadas são usadas para o abastecimento da população.
Estes novos dados, que são oficiais do governo dos EUA, também poderão ser considerados pela Anvisa como nova evidência de risco no processo de reavaliação toxicológica do glifosato que está em curso. A demonstração de que o glifosato se dispersa amplamente no ambiente e contamina as águas sugere que as pessoas que vivem no entorno de plantações ou se abastecem da água das bacias hidrográficas onde os venenos são pulverizados estão também expostas ao veneno.
Os resultados detalhados da pesquisa sobre o glifosato foram publicados no artigo Occurrence and fate of the herbicide glyphosate and its degradate aminomethylphosphonic acid in the atmosphere, no volume 30 da revista Environmental Toxicology and Chemistry, e no artigo Fate and transport of glyphosate and aminomethylphosphonic acid in surface waters of agricultural basins, na versão online da revista Pest Management Science. Cópias dos artigos também podem ser obtidas diretamente com Paul Capel ([email protected]).
A pesquisa sobre o transporte de glifosato no meio ambiente foi realizada como parte do Programa Nacional de Controle de Qualidade da Água do USGS (USGS National Water-Quality Assessment – NAWQA).
Com informações de:
U.S. Geological Survey – Technical Announcement: Widely Used Herbicide Commonly Found in Rain and Streams in the Mississippi River Basin – 8/29/2011.
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Neste número:
1. Monsanto é processada pela Índia por ”biopirataria”
2. Agronegócio em alerta: nova regra da UE para agrotóxicos poderá prejudicar exportações do Brasil
3. Novo ministro da Agricultura quer os agrotóxicos mais baratos
4. Praga do milho cria resistência a planta transgênica da Monsanto
5. Syngenta inicia processo global de integração
6. Monsanto retoma melhoramento de alface no Brasil
A alternativa agroecológica
Associação Nossa Senhora de Lurdes – experiência de produção agroecológica no Planalto Serrano de Santa Catarina
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1. Monsanto é processada pela Índia por ”biopirataria”
A Autoridade Indiana da Biodiversidade anunciou, no dia 11 de agosto, que entraria com uma ação contra a produtora de sementes americana Monsanto por esta ter desenvolvido uma berinjela geneticamente modificada a partir de variedades locais sem pedir por autorização.
A Monsanto, sua parceira indiana Mahyco e várias universidades indianas haviam se associado em 2005 para conduzir as pesquisas, com o apoio da agência americana de desenvolvimento Usaid, favorável aos transgênicos.
Uma dezena de variedades existentes nas regiões de Karnataka e de Tâmil Nadu, entre as 2.500 do país, foram utilizadas para desenvolver essa primeira berinjela geneticamente modificada, destinada a ser comercializada na Índia.
Mas, ao contrário do que exige a lei sobre a biodiversidade votada em 2002, nenhuma autorização havia sido pedida para usar variedades locais. Os agricultores deveriam ter sido consultados a fim de negociar uma possível participação nos lucros obtidos com a exploração comercial da berinjela. “A Monsanto estava totalmente a par da legislação e deliberadamente a ignorou”, acredita Leo Saldanha, diretor da organização de defesa ambiental Environment Support Group, que recorreu à Autoridade Indiana da Biodiversidade para esse caso de biopirataria.
Contatada pelo “Le Monde”, a Monsanto se recusou a comentar o caso. Segundo a publicação semanal “India Today”, a produtora de sementes teria negado qualquer responsabilidade, ao mesmo tempo em que acusa suas parceiras indianas de não terem pedido as autorizações necessárias.
A Mahyco, que tem 26% de suas ações nas mãos da Monsanto, afirmou que havia se limitado a fornecer o gene de transformação. A acusação de biopirataria é mais um golpe duro para a Monsanto, e pode frear o desenvolvimento de suas atividades na Índia.
A moratória sobre a comercialização das berinjelas geneticamente modificadas, decretada em fevereiro de 2010 pelo ministro indiano do Meio Ambiente, foi renovada este ano. E sua retirada não parece estar na ordem do dia. Na época, no entanto, o Comitê de Consulta de Engenharia Genética havia emitido um parecer favorável à comercialização da berinjela.
Os opositores aos transgênicos esperam que a Monsanto não seja autorizada a conduzir pesquisas sobre as cebolas geneticamente modificadas, como a empresa solicitou no mês de junho. (…)
Essa ação na Justiça contra a Monsanto constitui uma vitória para os opositores dos transgênicos. Somente o cultivo do algodão geneticamente modificado é autorizado atualmente na Índia. Ele projetou o país à posição de segundo maior produtor mundial, à frente dos Estados Unidos. Mas essas novas sementes, caras, são acusadas de arruinar os produtores mais frágeis.
A berinjela, muito presente na alimentação cotidiana em todo o país, também é utilizada como oferenda religiosa. No templo de Udupi, sul da Índia, os seguidores do deus Krishna se opuseram veementemente à comercialização da berinjela geneticamente modificada. Eles temem suscitar a cólera de sua divindade ao lhe oferecer legumes “impuros”.
A reportagem é de Julien Bouissou, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 18/08/2011 (via IHU).
2. Agronegócio em alerta: nova regra da UE para agrotóxicos poderá prejudicar exportações do Brasil
Se for levada ao pé da letra, a revisão das regras para o uso de pesticidas na União Europeia poderá prejudicar 59% das exportações agropecuárias do Brasil para o continente em 2014, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).
O banimento de centenas de agroquímicos no mercado europeu não envolve apenas a própria produção da UE, mas também os resíduos eventualmente encontrados nas exportações para a região. Dessa forma, os insumos que forem proibidos não poderão ser aplicados nas vendas brasileiras ao bloco. A revisão foi definida em 2008. De 1.111 produtos analisados, foram permitidos 215. Os cortes serão realizados gradualmente, até 2014.
Para o Sindag, os produtores do Brasil serão penalizados porque vários defensivos [agrotóxicos] usados no país serão banidos pelo novo regulamento. Segundo cálculos da entidade, 36 dos 49 inseticidas utilizados pelos produtores brasileiros de soja serão proibidos. Para combater a ferrugem asiática, por exemplo, os sojicultores só terão como opção fungicidas com o grupo químico estrobirulinas – que, de acordo com a entidade, são cada vez menos eficientes.
Segundo Silvia de Toledo Ligabó, executiva do Sindag, uma das opções para driblar as restrições europeias é negociar a liberação de defensivos propícios para países tropicais, já que a maioria dos produtos barrados não são usados na UE.
Fonte: Aumenta a preocupação com regras da UE para defensivos –
Valor Econômico, 20/08/2011.
3. Novo ministro da Agricultura quer os agrotóxicos mais baratos
A redução dos preços dos defensivos agrícolas [agrotóxicos], com a regularização da venda de produtos genéricos, a adoção de novas medidas para apoiar o agronegócio, além da aprovação do Código Florestal, está entre as prioridades do futuro ministro da Agricultura, o deputado Mendes Ribeiro Filho. “Tenho de fazer uma força muito grande como ministro para ser um facilitador entre a sociedade e o governo”, disse.
Ribeiro Filho adiantou que é a favor de liberação de defensivos agrícolas genéticos para reduzir os custos de produção. “Por que o preço do defensivo fora [do País] é um e dentro é outro? Existem coisas que temos de afinar o discurso, mostrar as dificuldades que o governo tem para fazer aquilo que tem que ser feito”, analisou. (…)
Fonte: DCI – Diário do Comércio & Indústria, 23/08/2011.
4. Praga do milho cria resistência a planta transgênica da Monsanto
Pés de milho que a Monsanto Co. modificou geneticamente para bloquear [leia-se matar] um inseto voraz estão virando alimento dessa mesma praga em umas poucas plantações nos Estados Unidos, a primeira vez em que uma praga desenvolve resistência a uma lavoura fruto de engenharia genética na região agrícola americana.
A descoberta suscita temores de que a maneira como alguns produtores estão usando lavouras alteradas possa alimentar pragas resistentes. (…)
O entomologista Aaron Gassmann, da Universidade Estadual de Iowa, descobriu que em quatro plantações no noroeste do Estado de Iowa a praga conhecida como diabrótica do milho passou a resistir ao pesticida natural produzido pelo milho da Monsanto. A descoberta pode estimular alguns produtores a passar a usar sementes resistentes a insetos vendidas por concorrentes da firma de biotecnologia de Saint Louis e a voltar a borrifar inseticidas sintéticos sobre suas plantações. (…)
Fonte: Wall Street Journal Americas, 28/08/2011.
N.E.: Assim como acontece com os agrotóxicos, alega-se que a culpa pela criação de insetos resistentes é dos agricultores, que não sabem usar adequadamente a tecnologia.
Em tempo: a notícia fez as ações da empresa caírem 4%, conforme divulgou a CNBC.
5. Syngenta inicia processo global de integração
Líder mundial em vendas de agroquímicos [agrotóxicos], a Syngenta quer mudar seu modelo de negócios. Na última semana, a multinacional franco-suíça anunciou em Stanton, perto de Minneapolis, no Estado americano de Minnesota, que está unindo sua unidade de Proteção de Cultivos [leia-se, de agrotóxicos], responsável por três quartos de suas receitas, com a de Sementes. O processo foi iniciado em fevereiro, mas as subsidiárias terão até dezembro de 2012 para se alinhar totalmente.
Com a mudança, a Syngenta quer desenvolver portfólios que integrem soluções químicas, genéticas e de gestão para o controle de pragas, aumento de produtividade, tolerância à seca, manejo de solo e melhor aproveitamento da água – os grandes desafios para a agricultura nos próximos anos, na visão da companhia.
Ao adotar a estratégia, a Syngenta imagina que estará apta a brigar num mercado de até US$ 200 bilhões em 2025. Isso significa um aumento de US$ 75 bilhões em relação ao mercado que disputaria com base em seu escopo atual, sem as sinergias e novas possibilidades geradas pela integração das operações.
Em 2010, a Syngenta faturou US$ 11,6 bilhões globalmente – dos quais US$ 8,8 bilhões com a venda de pesticidas e US$ 2,8 bilhões com sementes -, de um mercado total estimado em cerca de US$ 70 bilhões. Para 2015, a companhia projeta um aumento de receita de 46%, para US$ 17 bilhões. (…)
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2011.
N.E.: Todos já conhecemos o resultado do melhoramento genético e mercado de sementes controlados por empresas fabricantes de agrotóxicos: lavouras demandantes de cada vez maiores quantidades de veneno.
6. Monsanto retoma melhoramento de alface no Brasil
A Monsanto vai retomar suas pesquisas para melhoramento de alface no Brasil a partir do ano que vem. “Estamos recomeçando um programa especial para o País e faremos esforço para desenvolver novas variedades adaptadas ao clima e condições brasileiras. Nosso foco serão as alfaces americana e crespa”, diz William Waycott, pesquisador responsável pelo melhoramento do produto na Seminis, divisão de hortaliças e vegetais da companhia americana.
(…) Os estudos serão feitos na unidade de Carandaí, em Minas Gerais. A estação de Uberlândia, no mesmo Estado, também dará suporte ao projeto.
A Seminis, comprada pela Monsanto seis anos atrás, realizava pesquisas para a hortaliça na região de Campinas. Algumas variedades de alface crespa comercializadas hoje no País, como a Amanda e a Solaris, foram desenvolvidas neste centro de pesquisa, desativado por ocasião da integração das operações das duas empresas. (…)
A Monsanto não revela o valor dos investimentos em pesquisa e tecnologia de hortaliças feitos no Brasil. No mundo, a empresa estima aporte de 10% do faturamento da divisão Seminis, que foi de US$ 850 milhões no ano fiscal de 2010.
Apesar dos investimentos, a empresa não faz uso de transgenia (modificação genética) para o desenvolvimento de alface e outras hortaliças. “Não está nos nossos planos, porque ainda há muito espaço para ganhar qualidade e produtividade fazendo melhoramento convencional”, afirma Fernando Guimarães, gerente de negócios de hortaliças da Monsanto no Brasil.
Fonte: Economia – iG, 31/08/2011.
A alternativa agroecológica
Associação Nossa Senhora de Lurdes – experiência de produção agroecológica no Planalto Serrano de Santa Catarina
Até 2006 as famílias da comunidade de Umbu, no município de Cerro Negro, no planalto serrano de Santa Catarina, viviam insatisfeitas com a produção rural. Em sistema convencional, elas plantavam feijão e milho para o consumo, arroz, que era vendido a atravessadores, além do fumo em integração com empresas fumageiras. Não havia incentivos para a produção.
Nesta época algumas pessoas da comunidade começaram a discutir os problemas enfrentados e concluíram que precisariam se associar para buscar apoio. E foi frequentando a Casa Familiar Rural que algumas destas lideranças conheceram o Centro Vianei de Educação Popular.
A partir da organização comunitária e do apoio do Centro Vianei, a associação então formada começou a construir e encaminhar projetos em busca de apoio à produção – desde obtenção de calcário para a correção do solo até máquinas de costura ou arame para telar quintais.
O Vianei passou também a oferecer assessoria para a produção agroecológica. Atualmente o grupo conta com cinco famílias produzindo hortaliças, feijão, aipim, batata doce e pinhão. A associação se filiou à Cooperativa Ecológica Ecoserra, que tem comercializado toda a produção. Na safra 2009/2010 o grupo conseguiu também, através da Ecoserra, participar do programa de compra institucional da agricultura familiar gerido pela Companhia Nacional de Abastecimento — o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
A Associação está agora, em parceria com outros quatro grupos da região, começando a organizar uma feira agroecológica, que será na sede do município de Cerro Negro.
Segundo os agricultores, a maior dificuldade enfrentada em suas atividades são relativas ao transporte, pois as estradas de acesso à comunidade são muito precárias. Mas apesar disso, eles ressaltam os avanços do trabalho: graças às oportunidades de comercialização, sobretudo com a entrada no programa PAA, aumentou muito a segurança das famílias com relação à renda. Além disso, todos observam benefícios à saúde por não trabalharem mais com venenos agrícolas.
Fonte: Agroecologia em Rede, 2010.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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