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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Car@s Amig@s,
Abertura hermética: EFSA abre os dados sobre milho transgênico NK 603, mas de forma que dificulta sua análise
A Agência Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês) resolveu abrir os arquivos e tornar públicos os dados que embasaram a autorização do milho transgênico NK603 para o consumo humano no bloco. Trata-se de conquista decorrente da publicação, em setembro de 2012, da pesquisa da equipe liderada por Gilles-Eric Séralini, que mostrou que o milho da Monsanto, tolerante à aplicação do herbicida Roundup (também da Monsanto), causou danos à saúde de cobaias, com e sem associação com o herbicida. A EFSA havia solicitado que a equipe de Séralini divulgasse os dados brutos de sua pesquisa, e a equipe argumentou que só o faria depois que a própria EFSA divulgasse os dados que haviam embasado a liberação do milho.
A Agência declarou que está aderindo a uma iniciativa de transparência para tornar os dados mais acessíveis à comunidade científica e demais interessados, e que, no futuro, abrirá também as informações relativas a todas as liberações de transgênicos concedidas no bloco. Entretanto, James Ramsay, um porta-voz da EFSA, disse ao blog da revista Nature que o projeto de liberação de mais arquivos está ainda em estágio inicial e que um esquema de divulgação de dados será anunciado somente após maiores discussões com as partes interessadas.
Em nota à imprensa divulgada em 14 de janeiro, a EFSA declara que divulgação dos dados referentes ao milho NK603 neste momento se deu “devido ao grande interesse público” sobre o caso. Os arquivos já estão disponíveis na rede e excluem informações consideradas confidenciais.
Em seguida à iniciativa da EFSA, Séralini manifestou à imprensa a satisfação com a iniciativa, mas lamentou que a Agência não tenha aberto também os dados brutos dos estudos referentes às avaliações de risco do glifosato (ingrediente ativo do herbicida Roundup).
Em entrevista ao jornal francês Ouest France em 05 de fevereiro, Séralini fez novas críticas à EFSA. Para o pesquisador, a divulgação dos dados toxicológicos brutos (bioquímicos, biológicos e histológicos) do estudo de três meses com ratos que embasou a permissão do NK603 se trata de “um primeiro passo”, pois, segundo ele, os dados estão apresentados de forma não utilizável: “Esta forma não permite a um estatístico realizar a mínima análise, a não ser que passe meses recopiando as tabelas escaneadas”. Por esta razão, ele e a organização cujo conselho científico ele preside, o CRIIGEN (Comitê de Pesquisa e de Informação Independentes sobre Organismos Geneticamente Modificados, na sigla em francês), demandam à EFSA que dê próximo passo publicando os dados de forma estatisticamente utilizável. “Nós não temos dúvidas de que a EFSA dispõe deste formato. Não podemos imaginar que ela possa ter emitido um parecer favorável de comercialização sem ter antes analisado e verificado os dados em si”.
Em suas declarações, Séralini aproveita para cutucar os detratores de sua pesquisa: “Ficamos surpresos pelo fato de que aqueles que mostram tanta preocupação com a transparência em relação aos nossos dados jamais tenham expressado essa exigência em relação às agências de avaliação de riscos”.
Com informações de:
– EFSA promotes public access to data in transparency initiative (Press Release) – EFSA, 14/01/2013.
– European food authority to open up GMO data – Nature.com, 14/01/2013.
– OGM : Le CRIIGEN se félicite des premiers pas de l’EFSA – Ouest-France-05/02/2013
– Agência europeia libera dados oficiais sobre riscos de milho transgênico – Revista Globo Rural, 05/02/2013 (com informações da Agência Unicamp).
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Neste número:
1. Super-mato resistente ao glifosato já infesta quase metade das propriedades nos EUA
2. Agricultores podem desistir de transgênicos nos EUA, por baixo rendimento
3. Comissão Europeia pede que alguns pesticidas vinculados à morte de abelhas sejam vetados
4. Nova prova de que agrotóxicos causam Parkinson
5. Prefeitos se comprometem a promover o combate ao uso de agrotóxicos
6. Projeto concede incentivos a agrotóxicos de ‘baixa periculosidade’
A alternativa agroecológica
Apóie a feira agroecológica de Nova Iguaçu – RJ
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=arrj2013
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1. Super-mato resistente ao glifosato já infesta quase metade das propriedades nos EUA
Uma empresa de consultoria em agronegócio nos EUA, a Stratus, vem desde 2010, entrevistando “milhares de agricultores norte-americanos” ao longo de 31 estados a respeito do avanço da infestação de ervas espontâneas que desenvolveram resistência ao herbicida Roundup, da Monsanto, fabricado a base de glifosato e usado nas lavouras transgênicas da mesma empresa desenvolvidas para tolerar aplicações do produto.
Os números levantados mostram que:
– Em 2012, praticamente metade (49%) dos agricultores entrevistados disseram ter mato resistente a herbicidas em suas lavouras. Em 2011, eram 34%;
– A resistência é ainda pior no sul do país. Por exemplo, 92% dos agricultores do estado de Georgia disseram ter mato resistente ao glifosato em suas lavouras;
– A resistência está avançando rapidamente também no meio-sul e no meio-oeste. Entre 2011 e 2012, a área infestada com essas invasoras praticamente dobrou nos estados do Nebaska, Iowa e Indiana;
– O avanço da infestação acontece de maneira mais rápida a cada ano: a área total infestada aumentou em 25% em 2011 e em 51% em 2012;
– Em 2010, apenas 12% das propriedades tinham mais de uma espécie de mato resistente. Apenas dois anos depois, 27% das propriedades já tinham ao menos duas espécies resistentes.
A solução proposta pela Monsanto para driblar o problema são as “próximas gerações” de sementes tolerantes a herbicidas – ou seja, lavouras desenvolvidas para resistir não apenas ao Roundup, mas também a outros herbicidas ainda mais tóxicos, como o 2,4-D e o Dicamba. O problema é que tal escalada na guerra química contra o mato levará ao desenvolvimento de variedades de mato mais prolíficas e mais resistentes, e a um dramático aumento no uso de herbicidas.
Nos EUA, o Departamento de Agricultura (USDA) ainda não autorizou o cultivo comercial do milho transgênico da Dow chamado Enlist, resistente ao Roundup e ao 2,4-D (um dos dois ingredientes ativos do famoso “agente laranja”, usando como desfolhante na Guerra do Vietnam e que causou milhares de mortes e de nascimentos de bebês com malformações congênitas). A autorização era esperada para o final de 2012, mas foi adiada, segundo notícias divulgadas pela Reuters, devido à forte oposição pública.
O recurso que tem sido usado pelos agricultores para enfrentar a infestação do super mato é aumentar, cada vez mais, a quantidade de agrotóxicos aplicada. Segundo um estudo publicado pela Universidade da Califórnia em 2012, realizado por uma equipe da Penn State University liderada por David A. Mortensen, “em 2011 o combate à resistência ao glifosato já custava aos agricultores perto de US$ 1 bilhão por ano”.
Mas despejar cada vez e sempre mais venenos nos campos não é a única saída. Em um estudo publicado em 2012 na revista científica PLoS ONE, pesquisadores da Iowa State University mostraram que a simples diversificação na rotação de culturas, aliada à introdução de cultivos de cobertura, podem suprimir o mato – inclusive o mato resistente ao Roundup – e diminuir entre 6 e 10 vezes o uso de fertilizantes químicos [mas essas técnicas simples e baratas não interessam às corporações do agronegócio].
Extraído e adaptado de:
Nearly Half of All US Farms Now Have Superweeds – Mother Jones, 06/02/2012.
2. Agricultores podem desistir de transgênicos nos EUA, por baixo rendimento
Produtores americanos consideram retornar ao uso de sementes convencionais dado que o aumento de pragas resistentes e a perda de lavouras têm levado a menores colheitas dos cultivos transgênicos em relação às suas contrapartes convencionais.
No país, um produtor paga cerca de 100 dólares a mais por acre pelas sementes transgênicas [~R$125/ha], e muitos se perguntam se haverá benefícios em continuar usando essas sementes.
“Trata-se de uma análise de custo e benefício”, disse o economista Dan Basse, presidente da AgResource, empresa de pesquisa agrícola.
“Os produtores estão pagando a mais pela tecnologia, mas as colheitas não são melhores do que as de 10 anos atrás”.
“Voltei a aplicar inseticidas”, disse Dan Basse, referindo-se aos insetos que não são controlados pelas plantas transgênicas como deveriam.
Caso os produtores decidam voltar atrás, enfrentarão a questão da oferta de sementes convencionais, dado que cerca de 87% do cultivo no país são feitos com sementes modificadas.
Entre os países com maiores produtividades em 2012 estão asiáticos como a China, que não usam sementes transgênicas.
Adaptado de “US farmers may stop planting GMs after poor global yields, por Robyn Vinter – Farmers Weekly, 06/02/2013” pelo blog Em Pratos Limpos.
3. Comissão Europeia pede que alguns pesticidas vinculados à morte de abelhas sejam vetados
A Comissão Europeia (CE) propôs, no final de janeiro, a suspensão do uso, durante dois anos e para os cultivos que mais atraem as abelhas, de alguns pesticidas que estão contribuindo para a morte das populações de abelhas.
A medida, que afetará em particular o milho, a canola, o girassol e o algodão, foi anunciada em uma reunião de especialistas dos 27 países, no primeiro debate europeu sobre o tema, explicou em coletiva de imprensa o porta-voz comunitário da Saúde e Consumo, Frédéric Vincent.
A CE quer elaborar normas para regular a proibição e confia em que as medidas comecem a ser aplicadas no máximo em 1º de julho deste ano. A decisão não afetaria a próxima temporada de plantio do milho, precisou o porta-voz.
A origem da decisão é um recente relatório da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) que relaciona o uso dos inseticidas com “neonicotinoides”, substâncias derivadas da nicotina, com a alta mortalidade de abelhas.
A CE propõe em particular modificar as condições de aprovação de três derivados presentes em alguns pesticidas: o tiametoxam, a clotianidina e o imidacloprido, para restringir seu uso aos cultivos que não atraem as abelhas e aos cereais de inverno, já que a exposição aos pesticidas durante o outono não é considerada perigosa.
Além disso, propõe a proibição da venda e uso de “sementes tratadas” com produtos que contenham essas três substâncias (excluindo também neste caso as sementes das plantas que não atraem esses insetos e os cereais de inverno).
A CE informará sobre as iniciativas anunciadas no dia 31 de janeiro o grupo consultivo da Cadeia Alimentar, que se reunirá no próximo dia 7 de fevereiro, e, na sequência, deverá ser realizada uma audiência pública para saber a opinião dos interessados. A proposta de regulamento deverá ser votada em 25 de fevereiro em uma reunião de especialistas.
La Vanguardia, 31/01/2013 – via IHU-Unisinos, 04/02/2013.
4. Nova prova de que agrotóxicos causam Parkinson
Neurólogos da Universidade da Califórnia encontraram mais uma prova da relação entre o uso de agrotóxicos e o aumento da incidência do Mal de Parkinson.
“Até agora os agrotóxicos paraquat, maneb e ziram já haviam sido vintulados ao aumento da doença, não somente em trabalhadores do campo, mas também em pessoas que simplesmente viviam ou trabalhavam próximo aos campos e estavam expostas às partículas que podiam ser inaladas”, informou Jeff Broinstein, autor principal do estudo, professor de neurologia e diretor do Programa de Transtornos do Movimento da UCLA.
Agora os pesquisadores descobriram que outro agrotóxico, o benomil, já proibido há cerca de dez anos, demonstra que seus efeitos tóxicos persistem. O veneno impede que uma enzima chamada ALDH (aldeído desidrogenase) realize seu trabalho de manter em níveis baixos o composto DOPAL, que então se acumula causando danos aos neurônios e aumentando o risco do desenvolvimento do Mal de Parkinson. (…)
Estudos anteriores revelaram que o benomil pode provocar tumores no fígado, malformações cerebrais, além de efeitos reprodutivos e cancerígenos, o que levou à sua proibição. Os efeitos do benomil em relação ao Mal de Parkinson mostram que sua toxicidade é de longo prazo. Para demonstrar isto, os pesquisadores avaliaram se a exposição em modelos experimentais poderia duplicar algumas das características patológicas da doença. Nos cultivos celulares observou-se que o benomil destruiu especificamente os neurônios dopaminérgicos, ou seja, relacionados ao DOPAL.
Em outros experimentos desenvolvidos em peixes zebra de água doce, observou-se, através dos tecidos transparentes, que só foram perdidos neurônios dopaminérgicos, enquanto os outros não foram afetados.
“Observamos que em animais e em cultivos celulares os agrotóxicos desencadeiam um processo neurodegenerativo que provoca o Parkinson”, concluiu o Dr. Bronstein.
Como os estudos epidemiológicos demonstram que a doença se produz “em taxas elevadas entre os agricultores e as populações rurais”, os pesquisadores assinalam que isto reforça a hipótese de que “os agrotóxicos podem ser parcialmente responsáveis, e o descobrimento desta nova via pode ser um novo caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos”.
La Gran Época, 15/01/2013.
5. Prefeitos se comprometem a promover o combate ao uso de agrotóxicos
Compromisso foi firmado durante atividade promovida pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida no Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília (DF)
Mais de 400 novos prefeitos e prefeitas eleitos de todas as regiões do país se comprometeram com o desenvolvimento de ações de combate aos agrotóxicos e a promoção de políticas voltadas à produção sem venenos. O compromisso foi firmado durante atividade promovida pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida no Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, realizado no início desta semana em Brasília (DF).
Ao longo dos três dias da atividade, militantes do Comitê do Distrito Federal da Campanha aplicaram a cerca de 400 novos governantes municipais um questionário composto por questões que visam investigar o grau de utilização de agrotóxicos, a existência de produção livre de venenos e o interesse dos prefeitos em promover políticas públicas de combate aos agrotóxicos e de incentivo à produção agroecológica nas cidades que administram.
Além dos questionários – que serão sistematizados e terão seus resultados divulgados posteriormente pela Campanha -, foram distribuídos panfletos com dados sobre a situação alarmante do emprego de agrotóxicos na agricultura do país e sugestões de atuação das prefeituras em relação ao tema, como a elaboração de leis municipais que aumentem o ICMS sobre a circulação de venenos no município e estabeleçam restrições à sua circulação; a realização de convênios para promover a agroecologia como prática agrícola de aumento de produtividade na agricultura; e o estímulo à aferição de casos de intoxicação ou enfermidades resultantes do uso dos venenos, entre outras iniciativas. Cópias do filme “O veneno está na mesa”, produzido pelo cineasta Silvio Tendler em parceria com a Campanha, também foram entregues aos participantes.
“Acreditamos que a atuação em âmbito municipal de combate ao uso de venenos e de estímulo à produção que garanta alimentos sadios para a população rural e urbana é fundamental para avançarmos nesta luta”, avalia Iara Campos, nutricionista e integrante do Comitê local da Campanha.
Brasil de Fato, 01/02/2013.
6. Projeto concede incentivos a agrotóxicos de ‘baixa periculosidade’
O poder público poderá criar uma política nacional de apoio aos defensivos agrícolas [agrotóxicos] considerados de baixa periculosidade [sic]. É o que prevê substitutivo do senador Ivo Cassol (PP-RO) a projeto da senadora Ana Rita (PT-ES) em tramitação na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).
De acordo com o PLS 679/2011, já aprovado no ano passado pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), o poder público deverá alocar recursos tanto para o financiamento de pesquisas científicas para o desenvolvimento de agrotóxicos de baixa toxicidade, quanto para o estabelecimento de unidades industriais de produção e distribuição. A proposição prevê ainda o apoio financeiro do governo aos produtores rurais visando a sua aplicação em larga escala nas lavouras.
Como defensivos de baixa periculosidade, a proposição considera aqueles produtos pouco ou não tóxicos ao ser humano e ao meio ambiente, e que apresentem eficiência agronômica no combate aos agentes biológicos nocivos à produção agrícola.
Em sua justificação, a autora do projeto original, senadora Ana Rita (PT-ES), defende a concessão de incentivos para o desenvolvimento da produção no país de agrotóxicos naturais pelo baixo impacto ambiental causado em sua aplicação.
“Não basta, no entanto, desenvolver o produto. É necessário financiar a sua fabricação e o seu uso pelos produtores rurais ou outros usuários finais, o que demanda linhas de crédito específicas para o setor”, recomenda Ana Rita.
Durante a tramitação na CMA, o relator Anibal Diniz (PT-AC) apresentou, depois de receber contribuição do Ministério do Meio Ambiente, emenda substitutiva estendendo o apoio governamental a todos os defensivos considerados de baixa periculosidade, naturais ou artificiais. Tal modificação, aprovada na CMA, foi incorporada também por Ivo Cassol em seu substitutivo, que já esteve na pauta da CCT e deverá ser votado em breve na comissão.
Agência Senado, 17/01/2013.
N.E.: Vejam como o agronegócio consegue distorcer os conceitos e manipular as situações a seu favor: uma proposta para incentivar o desenvolvimento de produtos naturais para o controle de pragas e doenças das lavouras foi transformada para subsidiar todos os agrotóxicos classificados como “pouco tóxicos” (está nessa categoria da Anvisa, por exemplo o glifosato, cujos efeitos cancerígenos, entre outros, estão cada vez mais evidentes).
A alternativa agroecológica
Apóie a feira agroecológica de Nova Iguaçu – RJ
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=arrj2013
Há seis anos a Feira da Roça de Nova Iguaçu vem funcionando na Praça Rui Barbosa, mobilizando cerca de 50 famílias de agricultores e artesãos do Fórum Popular de Economia Solidária (FPES), proporcionando para a sociedade de Nova Iguaçu um artesanato local e um produto agrícola de qualidade, cujo cultivo é feito nas áreas agrícolas do próprio município, sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos.
Contudo, desde o dia 02/01/2013 estamos impedidos de manter em funcionamento a feira, como fazemos rotineiramente às 4ª feiras, no horário de 08h00 as 17h00, desde 2006. Durante este período tivemos a autorização da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, e temos recebido o apoio da Emater de Nova Iguaçu, do Conselho de Desenvolvimento Rural do Município de Nova Iguaçu, da AS-PTA, da Diocese de Nova Iguaçu, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, do Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania e da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro.
Nós, 44 famílias de agricultores familiares e artesãos, pedimos o apoio da sociedade de Nova Iguaçu e movimentos sociais em geral, para possibilitar o retorno ao funcionamento regular da feira, no mesmo dia e local, e assim continuar a disponibilizar artesanato e um alimento saudável, sem o uso de agrotóxicos, e com valorização da agricultura local.
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Com a mudança recente da administação municipal, os feirantes ficaram impedidos de expor seus produtos desde o dia 02 de fevereiro. Nelson Bornier (PMDB) substituiu Sheila Gama (PDT) na prefeitura. O secretário municipal de Defesa Civil, Luiz Antunes, recebeu os feirantes anteontem (30) e afirmou que levará a situação ao prefeito e, possivelmente, no dia 20 de fevereiro será reinaugurado o espaço.
O projeto começou com um mercado produtor, até a prefeitura realocá-los de um prédio para o local atual. Os trabalhadores afirmam que receberam uma nota suspendendo as atividades, e foram informados que a praça ia entrar em reforma e a prefeitura reorganizar o negócio. Dois documentos foram protocolados junto à prefeitura, sem qualquer resposta do poder público. Para dar satisfação à clientela os agricultores e artesãos compareceram na praça na última quarta feira (30), dia semanal da feira e aproveitaram para passar um abaixo assinado, que já reuniu milhares de assinaturas.
O coordenador geral e fundador da Feira da Roça, Luiz Fernando, agricultor do assentamento rural Marapicu nos arredores, explicou que a maioria dos feirantes passou por uma escola de agroecologia realizada por eles e há uma parceria com o Fórum Popular de Economia Solidária local. A orientação, segundo ele, é não usar defensivos químicos e adubos sintéticos. Para se filiar a Associação da Feira da Roça de Nova Iguaçu (AFERNI) é preciso passar por alguns critérios: cada feirante produz sua mercadoria dentro do município, por exemplo, para garantir a qualidade do alimento.
“Os produtos têm que ser saudáveis. Não dá para comparar com a agricultura convencional. Temos 50 feirantes inscritos, estamos trabalhando atualmente com 44 barracas. Cada barraca é usada coletivamente, às vezes três famílias ocupam um só tabuleiro, à medida que vende vai renovando sua mercadoria. Havia uma proposta na secretaria de meio ambiente e agricultura para ser diária, mas não aconteceu porque não temos nenhum investimento em produção. Aquele que planta é o mesmo que colhe e vende, assim você não pode pagar a mão de obra e não tem como se disponibilizar diariamente na praça para venda do produto”, explica.
São vendidas hortaliças, legumes, frutas, fitoterápicos , mel de abelha, mudas, dentre outros produtos. A oferta de produtos agrícolas não é mais variada porque determinadas mercadorias não são plantadas na região, como maçã e uva. A renda obtida pela venda varia de R$ 700 a R$ 800 para cada agricultor num dia de feira.Esse é o tamanho do prejuízo com a paralisação das atividades. A procura, segundo os feirantes, muitas vezes é maior que a oferta: às vezes as pessoas encomendam, porque muitos produtos, apesar da feira ser de 8h às 17h, acabam na parte da manhã. A maioria dos agricultores, quase todos são assentados, sobrevive exclusivamente do dinheiro arrecado na Feira da Roça. A organização deles é feita com barracas padronizadas, uniforme, tudo com a marca dos governos federal, estadual e municipal, além de outros parceiros.
A feira valoriza a agricultura do município, sendo que muitos moradores nem conhecem esse lado da cidade. Desde 1984 eles lutam, inclusive resistindo ao modelo convencional utilizado pelos técnicos, que à época eram entusiastas da “revolução verde” com seus insumos químicos. Mexiam com o brio do agricultor, muitos relatam, se sentiam até discriminados por não utilizarem agrotóxicos e produtos químicos na plantação. É também uma forma de melhorar a qualidade de vida dos agricultores com a venda, e dos consumidores com um alimento sadio. Os clientes ficam conscientes dos efeitos nocivos dos agrotóxicos, através de informações passadas pelos feirantes. Eles vendem direito ao consumidor, evitando o aumento do preço com impostos, notas, embalagens e transportes, já que possuem um caminhão, e outras coisas que pagam para vender no Ceasa. Ficam menos sujeitos às oscilações do preço no mercado também.
“Falavam que a agricultura evoluiu e era preciso aumentar a produção. O adubo químico e o agrotóxico mascaram a produção, você tem resultado maior só que não reparamos os males que são causados. A partir de 1988 tentamos fazer uma desintoxicação do solo e dos lençóis freáticos, porque as terras estavam contaminadas por agrotóxicos. Desde então construímos um projeto para se contrapor ao agronegócio, que abastece o exterior. Temos a obrigação de manter o mercado interno com qualidade que faça bem à saúde do povo”, afirma Luiz.
A dona de casa Edna Andrade (69) mora há 46 anos em Nova Iguaçu, e é cliente desde o início da feira. Fez o curso de agroecologia promovido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e EMATER local e com o apoio da AS-PTA, e acha muita falta de sensibilidade dos governantes extinguir o projeto. Segundo ela, a feira é muito importante para o município e eles estão lutando por uma causa justa. Muitos produtos, conclui, na parte da manhã já estão esgotados e os clientes precisam encomendar para garantir sua mercadoria, já que os feirantes não dão conta da procura por falta de condições.
“Vamos limpar o nosso organismo. Uma boa feirinha ajudando pessoas que trabalham, é preciso só boa vontade dos governantes. Eles também não se alimentam? E se alimentar com uma coisa menos agressiva é bom para todos. Conheço todas as pessoas da feira, gosto de todos. Conheci procurando um xarope de umbigo de banana para minha neta, que ficou cinco dias no hospital e melhorou com essas coisas naturais. A feira enche, e tem coisa que só encontra aqui. E os produtos são melhores e duram mais”, destaca a consumidora.
Com formação em licenciatura em ciências agrícolas, Robledo Mendes, foi convidado para a secretaria municipal de Agricultura e Meio Ambiente no ano de 2012, onde fazia o diálogo com os pequenos agricultores de Nova Iguaçu. Ele conta que na mudança de gestão todos os cargos comissionados foram exonerados, e a secretaria extinta para virar Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura, que ainda está sem secretário.
“A gente fica sem uma secretaria para dialogar e exposto à política da ordem urbana, que já mostrou uma visão bem nociva da Feira da Roça. Essa reivindicação é muito importante, porque coloca a questão da geração de renda para essas comunidades rurais, que são muito castigadas pela falta de políticas públicas. É uma forma de pelo menos manter o sustento e permanência nas áreas rurais. E um grande ponto de diálogo com a comunidade, oferecendo um produto interessante, agroecológico, então o município perde muito com essa postura. É muita falta de informação da prefeitura, e de vontade e atenção para esse público”, critica.
Reunião com a defesa civil municipal
Três pessoas representando a Feira da Roça, sob intermediação do bispo Dom Luciano, se reuniram anteontem (30) com o novo secretário municipal de Defesa Civil, Luiz Antunes. O bispo se mostrou preocupado, pois muitos agricultores vivem exclusivamente desses produtos. Segundo ele, esse projeto foi acatado pelas prefeituras anteriores, e não tem grandes empresários, são todos do povo do município.
“Eles ganharam um caminhão, é um trabalho sério, guardam tudo na Diocese. Têm apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e da Petrobras. Estamos aqui para pedir que você agilize isso com o prefeito. Não é porque muda que o que veio anterior não serve mais, o importante é dar continuidade àquilo que é bom e deve melhorar. O importante é que seja o bem comum. Não atrapalha e presta um serviço de alimento saudável para a população, e emprega a nossa gente. Tem respaldo do governo federal, estadual e municipal”, destacou o bispo.
O secretário afirmou que não é contra o projeto, o problema, segundo ele, é que se trata de um local nobre da cidade e não é a retirada só de um segmento. Antunes ficou de conversar com o prefeito, elogiou a proposta de 30 barracas com famílias dividindo o mesmo espaço, pegou as medidas, e vai dar uma resposta antes do dia 20 de fevereiro, possível data de reinauguração. Seu argumento é que a livre circulação nessa área é uma reivindicação de 90% da população, e o governo tem que assumir seus compromissos.
“O problema todo é a localização, está numa área nobre da cidade. A questão não é da feira em particular, vamos restabelecer o direito na cidade. Falar da legalidade, com regularidade pode ser utilizada com o pagamento do erário de solo público. Quem pode fazê-lo é o prefeito através de decreto, e só havia a autorização. Muita coisa que foi autorizada pelo governo anterior não nos interessa renovar. Vamos ver como adequamos o projeto à realidade de Nova Iguaçu”, afirmou.
O secretário destacou que o governo está tirando os camelôs das ruas, para diminuir a corrupção da cidade e melhorar a livre circulação. O difícil, para ele, é conciliar os interesses de todos os segmentos, como os chaveiros, artesãos, jornaleiros, pipoqueiros e camelôs. No entanto, ele reconheceu a utilidade e qualidade da feira, caso contrário, segundo suas palavras, não teria realizado a reunião nem dado atenção à reivindicação.
Para Mariella Rosa, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Nova Iguaçu, é preciso ter consciência que essa mercadoria tem não só muita representação em termos de saúde pública mas, também, de soberania alimentar. Rosa afirma que a Feira da Roça foi pioneira na região, elogiada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), que já fiscalizou o local, e apoiada pela prefeitura e diversas organizações, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
“Além de ser uma feira agroecológica, resgata uma série de produtos que a gente não encontra mais nas prateleiras de supermercado. Essas feiras livres estão sendo consideradas, a nível de Brasil, como eventos de patrimônio cultural. Não é considerada simplesmente uma atividade comercial pelas prefeituras. Há um projeto do MDS, que atendeu Nova Iguaçu, Japeri, Queimados e os arredores, por isso para não parecer camelô fizeram logomarca, uniforme, etc para mostrar que está organizado. Essa feira foi geradora de outras na região. Eles têm regimento interno, e um atestado para provar que são agricultores”, defendeu.
A Associação da Feira da Roça de Nova Iguaçu (AFERNI) estará na próxima quarta-feira (06) reunida com a imprensa na Praça Rui Barbosa pela manhã, e às 14h no Cenfor para mais uma assembleia geral.
Assine aqui uma petição pública em defesa da Feira da Roça.
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Carta dos agricultores e movimentos sociais à Prefeitura de Nova Iguaçu.
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Fonte: http://www.agroecologia.org.br/
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