A Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) realizará em Campina Grande no próximo dia 28 de março, à partir das 8h, a “Mobilização pelo acesso à água de qualidade como um direito de todos”, em alusão ao Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. A concentração acontecerá no Teatro Severino Cabral, onde haverá a apresentação do grupo de dança Acauã da Serra no palco do teatro, seguido por um momento de reflexão sobre o tema da mobilização e finalmente, às 10h, os participantes sairão em caminhada pelas ruas centrais de Campina Grande. Acompanhados por um minitrio elétrico, os manifestantes irão distribuir panfletos, exibir faixas, estandartes, cartazes e painéis evidenciando o modelo de convivência com o semiárido que a ASA defende e dialogando com a população.
A caminhada sairá pela Avenida Floriano Peixoto seguindo pela Rua Afonso Campos e depois retomando a Floriano Peixoto pela Rua Peregrino de Carvalho, próximo à Feira Central, culminando com um ato público na Praça da Bandeira, no centro da cidade. No local estará montada uma feira com a exposição de produtos e experiências da agricultura familiar agroecológica como hortaliças, sementes, banners, informativos, maquetes, etc. Para a atividade estão sendo esperadas caravanas de diversas regiões do estado, reunindo mais de mil representantes das entidades que fazem parte da ASA Paraíba.
O objetivo do evento é celebrar os 21 anos de história e de lutas pela convivência com o semiárido que as organizações da ASA Paraíba vêm construindo, especialmente a partir da política de acesso a reservatórios de água como as cisternas de placas, além de um processo de formação voltado para o manejo sustentável desse recurso natural. A cisterna (invenção de um agricultor de Sergipe) se tornou em uma política pública graças à mobilização da sociedade civil organizada e vem democratizando o acesso à água em todo o semiárido. Na região semiárida já foram construídas cerca de 600 mil cisternas, sendo 60 mil só na Paraíba.
“A gente pode falar em dois tipos de autonomia: uma é a tecnológica, por ser uma implementação que nasce do conhecimento próprio da agricultura camponesa. A outra é livrar os agricultores das garras da política assistencialista que alimenta a ‘Indústria da Seca’. No semiárido água é poder, famílias que eram obrigadas a andar quilômetros em busca do líquido, hoje dispõem dela na porta de casa, é isso que a cisterna de placas faz, empodera as famílias”, afirma Glória Batista, da coordenação executiva da ASA Paraíba. Glória ressalta ainda o aspecto da qualidade da água das cisternas de placas, comprovada por pesquisas: “Em 2010 um estudo da Fiocruz mostrou que a qualidade da água das cisternas de placas reduziu em 3 vezes o número de doenças e os índices de mortalidade infantil no meio rural”, completa.
Denúncia – A mobilização objetiva ainda chamar a atenção da sociedade para as cisternas de PVC ou plástico que vem sendo propostas pelo projeto do Ministério da Integração Nacional, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), do Programa Água para Todos, do Governo Federal. Inicialmente a proposta é da instalação de 4.000 cisternas de polietileno em 10 municípios paraibanos: Araruna, Areial, Belém do Brejo do Cruz, Cacimba de Dentro, Dona Inêz, Igaracy, Quixabá, São Sebastião de Lagoa de Roça, Lagoa e Soledade. Neste último município, a população se mobilizou e pressionou a administração municipal a se negar a receber os reservatórios de plástico e a exigir do governo o mesmo número de cisternas de placas.
Diversos sindicatos e organizações de trabalhadoras e trabalhadores rurais têm protestado contra a decisão tomada por setores do governo federal de substituir as cisternas de placas por unidades de polietileno. Os agricultores alegam que, além da construção ser mais barata e de funcionar bem, as cisternas de placa trazem oportunidade de trabalho e renda no campo (ao mesmo tempo em que recebe o equipamento, a família ajuda também a construí-lo), além de ativar o mercado local tanto pela compra de material de construção quanto pela maior circulação de recursos. Já as cisternas de plástico só beneficiam uma única grande empresa, são menos resistentes ao intenso sol do sertão e em consequência, poluem o meio ambiente, esquentam excessivamente a água e se deformam como provam as diversas denúncias publicadas em reportagens na grande mídia e nos depoimentos de várias famílias beneficiárias. Quando isso acontece, a comunidade fica na dependência de políticos e burocratas para substituí-las, o que leva tempo e alimenta o clientelismo. O contrário acontece com as cisternas de placas: a manutenção é barata e feita imediatamente pela própria comunidade, de forma autônoma.
A Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) é um fórum que reúne cerca de 300 organizações envolvidas com as temáticas da agricultura familiar de base agroecológica e convivência com o Semiárido, que atuam em mais de 160 municípios da Paraíba nas regiões semiáridas Alto e Médio Sertão, Cariri, Curimataú, Brejo, Agreste e Seridó. A ASA Paraíba integra a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), que por sua vez, reúne mais de três mil entidades que trabalham com a convivência com o semiárido nos nove estados do Nordeste e de Minas Gerais que fazem parte da região semiárida brasileira, que neste ano completa 15 anos de existência.