Imagem: Giorgia Prates/AS-PTA
Ana Andréa Jantara, agricultora urbana e guardiã de sementes do Paraná, é nossa entrevistada da edição de número 38 do Boletim “Sementes Crioulas: por uma Alimentação Livre de Transgênicos e Agrotóxicos”. Ela partilha sobre sua participação em uma oficina nacional com guardiões e guardiãs de sementes de todo o país. Nos conta sobre as aprendizagens e desafios colocados e da alegria de “interagir com pessoas de todos os cantos do Brasil”. Confira a entrevista na íntegra.
Você participou recentemente de uma oficina nacional com guardiões e guardiãs de sementes de todo o país
, além de pesquisadores e gestores públicos. Na sua avaliação, quais foram os principais aprendizados desse encontro? Que lições ficam?
A oportunidade que eu tive de ser convidada para um evento nacional foi de extrema importância para mim. Foi um aprendizado sem precedentes eu, como uma agricultora urbana e guardiã de sementes, estar num evento dessa magnitude. Foi impactante para mim. Eu voltei com uma outra visão. Eu pude ouvir as falas e interagir com pessoas de todos os cantos do Brasil, cada um com suas dificuldades e anseios em relação à defesa das sementes crioulas. A lição que fica é que devemos continuar na resistência, mas para isso falta uma política pública de reconhecimento desses guardiões e guardiãs. Fala-se muito em programas e políticas, mas falta algo concreto para assegurar os futuros guardiões.
Durante o evento você apresentou sua experiência de uma casa de sementes crioulas em contexto urbano. Como a questão das cidades aparece nesse contexto da agroecologia e da segurança alimentar e nutricional?
Por participar de várias feiras de sementes no estado do Paraná e devido ao calendário que já temos [de feiras organizadas pela Rede de Sementes da Agroecologia – ReSA], estamos sempre acompanhando, a gente vê muito o público urbano procurando as sementes crioulas. O público urbano participa das feiras de sementes. Eles querem uma semente de qualidade pra levar para suas casas para cultivar nos seus quintais e poder ter um alimento de qualidade, um alimento limpo. A mídia sempre incentiva tudo sempre mais sustentável, uma alimentação mais sustentável. Com o passar do tempo e conversando com as pessoas da cidade, vimos a necessidade de ter um grupo. Aí criamos o grupo Cultivando Sonhos Urbanos, que é um grupo da cidade de Palmeira, Paraná. Esse grupo discute em suas reuniões mensais de que forma podemos melhorar nossa alimentação com base nas sementes crioulas. Nosso desejo é levar as sementes crioulas para outros bairros e outras cidades para que possam surgir hortas urbanas em espaços que estejam ao alcance de todos. Existe esse desafio de as pessoas das cidades terem acesso às sementes crioulas para poder cultivar suas hortas.
Quais os principais desafios que você identifica após ouvir o relato e as experiências de guardiãs e guardiões que vivem em diferentes regiões do país?
O grande desafio é a sucessão. Faltam políticas públicas. Como podemos melhorar a vida das guardiãs e dos guardiões? Precisamos de incentivo para quem cuida dessas casas de sementes. Na minha opinião, essas guardiãs e guardiões deveriam receber alguma ajuda para fortalecer quem cuida, protege e mantém essas sementes. Isso pode ajudar a formar futuros guardiões e assim a sucessão seguiria.
Que caminhos se apontam para a frente no campo da defesa e promoção da agrobiodiversidade?
O movimento vem crescendo, mesmo com suas dificuldades. Vem se ampliando e seguindo em frente. Hoje está claro que as casas e os bancos de sementes são importantíssimos. As pessoas mantêm seus bancos e suas casas e plantam ano a ano suas sementes para manter viva essa diversidade. Esse encontro realizado pela Embrapa foi um momento de fortalecimento político desse trabalho, abrindo caminho para o diálogo entre os guardiões e as guardiãs e o governo. A partir desses diálogos podemos formar políticas públicas acordadas e definidas com os próprios guardiões colocando em pauta seus desejos e seus anseios em defesa das sementes crioulas. Esse encontro foi um divisor de águas porque as guardiãs e os guardiões estavam ali e colocaram em pauta, com as suas vozes, suas dificuldades para abrir perspectiva e novas conversas para solucionar problemas e seguir em frente para garantir que as sementes crioulas sigam sendo multiplicadas e passadas para outras pessoas.