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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Algodão transgênico foi liberado com base em relatório de empresa
Número 597 – 17 de agosto de 2012
Car@s Amig@s,
Na reunião realizada ontem a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança liberou o plantio comercial de mais uma variedade de algodão transgênico da Monsanto. Chamada de Bollgard II Roundup Ready Flex (MON 15985 x MON 88913), a semente [piramidada] combina efeito inseticida sobre certas lagartas e resistência ao herbicida glifosato. Com ela, chega a 10 o número de variedades transgênicas de algodão liberadas no Brasil.
Na última reunião em que entrou na pauta da CTNBio, alguns de seus integrantes pediram vista ao processo por entender que ele estaria incompleto. Ontem esses votos foram apresentados e debatidos em plenária, ou pelo menos assim deveria ter sido. Isso porque o presidente da Comissão Dr. Flavio Finardi pediu que os relatores apresentassem apenas um resumo de seus pareceres. O pedido foi acatado, porém o presidente impediu que os votos fossem discutidos e colocou o processo em votação imediatamente após as manifestações dos relatores. “Se é para votar sem debater o tema, por que não se faz tudo via internet?”, questionou uma integrante da comissão. Finardi alegou falta de tempo, porém a reunião que estava prevista até às 18h foi concluída às 16:30h.
O que diziam os pareceres contrários à liberação? Basicamente que os dados apresentados pela empresa foram gerados no exterior e que os estudos de campo foram realizados em apenas duas safras, sendo que boa parte destes coletados em um só ano e em só dois municípios, um em Minas e outro em Mato Grosso. Já as conlusões sobre sua suposta segurança são extrapoladas para todo o território nacional.
Além disso, “boa parte das afirmativas não se sustenta nos dados apresentados, as amostragens não são representativas, os dados de campo são insuficientes, as informações disponibilizadas são incompletas e suas análises são frágeis”, defenderam os representantes do MDA e da agricultura familiar.
Destaca-se ainda que a empresa proponente deixou de apresentar todas as informações solicitadas pelas normas que regem a CTNBio. O processo estava insuficientemente instruído, mas foi aprovado. A deliberação se deu entre o parecer contrário e o próprio relatório da empresa, já que não havia um parecer pela aprovação. O relatório de vistas que defendia a liberação alegou que não foram apresentados fatos novos e que a votação era necessária em função de prazos regimentais. Assim, criou-se a situação inédita de a CTNBio aprovar o próprio relatório da empresa e não um parecer elaborado por seus integrantes. O dossiê da empresa tem algumas centenas de páginas. Vejamos o que será em enviado para publicação no Diário Oficial do União.
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Em tempo: a consultoria jurídica da CTNBio estuda readequar as regras impostas a seus integrantes para acesso a documentos em decorrência da nova lei de acesso à informação pública.
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Indicamos
Partir: animação de pintura a óleo sobre vidro que retrata a expulsão que muitos camponeses têm vivido. Produzida para o concurso de curta-metragens “Music on the road” da Deutsches Symphonie-Orchester (DSO).
Animação e roteiro: Pâmela Peregrino
Direção: Pâmela Peregrino e Antonio Terra
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Neste número:
1. Aviação agrícola defende agrotóxicos que prejudicam abelhas
2. Indústria contra a rotulagem nos EUA
3. Coquetel de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson, revela estudo
4. Argentina libera soja RR2 da Monsanto
A alternativa agroecológica
Produção orgânica rende mais que convencional
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1. Aviação agrícola defende agrotóxicos que prejudicam abelhas
Veto a defensivo [agrotóxico] gera divergência
A partir desta semana, o Ministério da Agricultura deve levar ao Ministério do Meio Ambiente uma proposta elaborada pelos setores de aviação agrícola, defensivos e produtores para estabelecer uma alternativa à proibição de aplicação aérea de defensivos agrícolas que contenham os princípios ativos Imidacloprid, Tiametoxam, Clotianidina ou Fipronil. A medida do Ibama, publicada em julho, visa proteger as abelhas, que, conforme estudos científicos, estariam até morrendo pela exposição aos agrotóxicos. O objetivo, segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Nelson Paim, é encontrar um meio termo que permita as operações, já que as lavouras de cana-de-açúcar e de cítricos estão desprotegidas. Uma das sugestões do Sindag é o mapeamento das colmeias para que a aplicação seja feita sem causar danos. Paim alega que a proibição inviabilizaria a agricultura no país, porque os princípios ativos são base de defensivos das principais culturas: soja, milho, arroz, algodão e cítricos.
Para o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José Gumercindo Cunha, a derrubada da restrição seria um “tiro no pé”, já que as abelhas polinizam e contribuem para a boa produção de grãos e de frutas. “Consideramos a proibição uma conquista, a exemplo da Europa, que também veta o uso deste princípios ativos, e esperamos que seja mantida.” A confederação divulgará publicamente um manifesto para que a medida do Ibama seja mantida e que haja, sim, estímulo às indústrias para o desenvolvimento de produtos tolerantes.
Correio do Povo, 13/08/2012.
2. Indústria contra a rotulagem nos EUA
Se os transgênicos são tão bons por que só a Monsanto gastou mais de 4 milhões de dólares em campanha para derrubar uma proposta de rotualgem de alimentos na Califórnia [California right to know Genetically Engineered Food Act]? Se somados os desembolsos de empresas como Dupont, Pepsico, Basf, Bayer, Dow, Nestle, Coca-Cola e Syngenta o valor passa de 15 milhões. Tudo isso para impedir que os consumidores tenham acesso a informação sobre a natureza dos alimentos que levam para casa. Deve ser a dita resposabilidade social.
Confira em http://pratoslimpos.org.br/?p=4580 o gráfico relativo aos investimentos feitos pelas empresas, que fala por si só.
3. Coquetel de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson, revela estudo
Comer cinco frutas e legumes por dia é bom para a saúde. Não tão bom é o “coquetel” de pesticidas ingerido no processo: a mistura dessas substâncias químicas pode multiplicar seus efeitos tóxicos em proporções tão surpreendentes quanto preocupantes, segundo os resultados de um estudo preliminar publicado na revista científica “PloS One”.
Os testes toxicológicos sistemáticos conduzidos dentro do regulamento europeu Reach visam às substâncias uma por uma. “Sabe-se muito pouco sobre seus efeitos combinados, sendo que somos literalmente cercados por combinações de venenos”, explica o principal autor do estudo, o toxicólogo Michael Coleman, da Universidade de Aston, na Inglaterra.
Sua equipe comparou o efeito isolado e o efeito combinado, sobre células de nosso sistema nervoso central, de três fungicidas encontrados com frequência nas prateleiras de hortifrúti: o pirimetanil, o ciprodinil e o fludioxonil.
Resultado: os danos infligidos às células são até vinte ou trinta vezes mais graves quando os pesticidas são associados. “Substâncias que são conhecidas por não afetarem a reprodução humana e o sistema nervoso e não serem cancerígenas, combinadas possuem efeitos inesperados”, resume um dos autores do estudo, o biólogo molecular Claude Reiss, ex-diretor de pesquisa do CNRS e presidente da associação Antidote Europe.
“Observamos o agravamento de três tipos de impactos”, detalha o pesquisador francês: “A viabilidade das células é degradada; as mitocôndrias, que são as ‘baterias’ das células, não conseguem mais alimentá-las com energia, o que desencadeia a apoptose, ou seja, a autodestruição das células; por fim, as células são submetidas a um stress oxidante muito poderoso, possivelmente cancerígeno e que pode levar a efeitos em cascata”.
Entre as possíveis consequências de tais agressões sobre as células, os pesquisadores citam o risco de uma vulnerabilidade crescente a doenças neurodegenerativas como o Mal de Alzheimer, de Parkinson ou a esclerose múltipla. “Nosso estudo aborda um pequeno número de substâncias, trazendo mais perguntas do que respostas, mas esses efeitos foram evidenciados em doses muito pequenas, concentrações próximas às encontradas em nossos alimentos”, observa o professor Coleman.
O cientista considera urgente popularizar esse tipo de teste, apesar das milhares de combinações possíveis: “Isso permitiria determinar se as misturas são nocivas, para ajudar os agricultores a escolher os produtos que eles utilizam”. O fato de conduzir esses estudos em células humanas e não em ratos, como acontece no procedimento Reach, permitiria diminuir os prazos e os custos, ao mesmo tempo em que fornecem resultados mais confiáveis. “A maior parte das substâncias químicas não são testadas corretamente: não somos ratos de 70 quilos!”, reclama Claude Reiss.
Para o Movimento pelo Direito e pelo Respeito das Gerações Futuras (MDRGF), que cofinanciou o estudo, esses testes são ainda mais necessários pelo fato de que um terço das frutas e legumes fiscalizados pela Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes contém resíduos de vários pesticidas.
“Em2008, detectamos em um mesmo cacho de uvas os três produtos testados pelo professor Coleman”, lembra François Veillerette, porta-voz do MDRGF. Na época, análises encomendadas pela associação haviam revelado que quase todas as uvas vendidas no grande varejo continham múltiplos pesticidas, totalizando oito substâncias diferentes por cacho, em média.
A associação pede para que a Comissão Europeia “lance sem demora uma estratégia de avaliação global das misturas de produtos químicos” e que “abaixe significativamente os limites máximos de resíduos tolerados nos alimentos, em um cuidado elementar de precaução”.
Tradução: Lana Lim
Le Monde/Portal UOL, 08/08/2012 (via http://www.contraosagrotoxicos.org)
4. Argentina libera soja RR2 da Monsanto
A Argentina autorizou a comercialização no país da soja Roundup Ready 2 da Monsanto, chamada de Intacta RR 2. A semente foi geneticamente modificada para tolerar aplicações do herbicida glifosato e matar alguns tipos de lagartas (Bt). A informação foi divulgada por meio de comunicado da empresa.
Os produtores argentinos não pagavam royalties pelo uso das sementes RR, cuja cobrança agora está sendo discutida pela Monsanto.
A Monsanto aguarda que a China, que é a maior compradora de óleo de soja, aprove as importações dos grãos de Intacta RR 2.
Com informações da Bloomberg, 16/08/2012.
A alternativa agroecológica
Produção orgânica rende mais que convencional
– A produtividade nos dois sistemas é equivalente
– Em anos de seca a agricultura orgânica tem melhor desempenho
– Sistemas orgânicos recuperam a matéria orgânica dos solos
– Sistemas agrícolas convencionais produzem 40% mais gases de efeito estufa
Plantações orgânicas produzem o mesmo rendimento em grãos em lavouras de milho e soja em relação às plantações convencionais, mas utilizam 30 por cento menos energia, menos água e nenhum pesticida. Esta é a conclusão de um estudo que durou nada menos do que 22 anos, conduzido pelo professor David Pimentel, da Universidade de Cornell, Estados Unidos.
“Lavouras orgânicas oferecem vantagens reais em plantações de milho e soja,” afirma o pesquisador em um artigo publicado no exemplar de Julho da revista Bioscience. O estudo compara a plantação orgânica com a plantação convencional de lavouras de soja e milho em termos de seus custos e benefícios ambientais, energéticos e econômicos.
“O cultivo orgânico desses grãos não apenas utiliza uma média de 30 por cento menos energia fóssil, mas também conserva mais água no solo, induz menos erosão, mantém a qualidade do solo e conserva mais recursos biológicos do que a agricultura convencional,” afirma Pimentel.
O experimento de 22 anos, intitulado “Rodale Institute Farming Systems Trial“, comparou uma fazenda convencional, que utiliza aplicações de fertilizantes e pesticidas recomendados por especialistas, com uma fazenda que utiliza esterco animal como adubo e outra, que cultiva legumes orgânicos e utiliza uma rotação de três anos de ervilha/milho e centeio/soja e trigo. Os dois sistemas orgânicos não receberam nenhum tipo de pesticida ou fertilizante químico.
A pesquisa comparou a atividade de fungos no solo, rendimento em grãos, eficiência energética, custos, alterações da matéria orgânica ao longo do tempo, acumulação de nitrogênio e lixiviação de nitratos dos dois sistemas de cultivo
“Primeiro e mais importante, nós descobrimos que o rendimento do milho e da soja foram os mesmos nos três sistemas,” afirmou Pimentel, acentuando que, embora o rendimento do milho orgânico tenha sido de apenas um terço do convencional durante os quatro primeiros anos do estudo, ao longo do tempo os sistemas orgânicos produziram mais, especialmente sob condições de seca
A razão para esse maior rendimento da agricultura orgânica é que a erosão do vento e da água degradou o solo na fazenda convencional, enquanto que o solo das fazendas orgânicas melhorou continuamente em termos de matéria orgânica, umidade, atividade microbiana e outros indicadores de qualidade do solo.
O fato de que os sistemas de agricultura orgânica absorvem e retêm quantidades significativas de carbono no solo também tem implicações para o aquecimento global, afirma o professor, destacando que o carbono no solo das fazendas orgânicas aumentou de 15 para 28 por cento, o equivalente à captura de 1.500 quilos de dióxido de carbono do ar por hectare plantado.
Fonte: Redação do Site Inovação Tecnológica(via pratoslimpos.org.br)
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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