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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 628 – 10 de maio de 2013
Car@s Amig@s,
Em 03 de maio, o jornal Folha de São Paulo publicou a notícia de que um avião agrícola despejou inseticida sobre uma escola localizada num assentamento rural do município de Rio Verde, em Goiás. Segundo a notícia, 38 pessoas foram intoxicadas, das quais 36 eram crianças. “Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros”, diz a matéria, “122 crianças estavam na escola no momento do incidente, por volta das 10h. Dezenas delas começaram a apresentar coceira, náuseas e dor de cabeça e foram levadas ao hospital.”
Esta não é a primeira vez que “acidente” desse tipo acontece em regiões de intensa produção agrícola em sistema de monocultura. São recorrentes os relatos de pulverização não intencional de hortas, lavouras, pomares, residências e mesmo vilas ou cidades.
A verdade é que a deriva dos venenos pelo vento não pode ser controlada e eventos desse tipo só vão parar de acontecer quando a pulverização aérea de agrotóxicos for definitivamente proibida no Brasil.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida publicou uma Nota de Repúdio à Pulverização Aérea, que traz detalhes sobre o último incidente de Rio Verde, relembra outros fatos notórios do mesmo tipo e apresenta reivindicações no sentido da apuração do caso de Rio Verde e responsabilização dos culpados, bem como a aprovação de lei proibindo a pulverização aérea no país.
Leia abaixo a íntegra da Nota:
Nota de Repúdio à Pulverização Aérea
Brasília, 06 de maio de 2013
Desde abril de 2011, as mais de 60 organizações que compõem a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida reivindicam como uma de suas principais bandeiras o banimento da pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil. Infelizmente, o trágico episódio ocorrido no último dia 3 em Rio Verde (GO), quando um avião pulverizou uma escola e intoxicou dezenas de crianças e funcionários, não foi um fato isolado e não pode ser chamado de acidente.
A situação é tão grave que o agrotóxico que foi usado na pulverização é exatamente um dos que o IBAMA havia proibido a aplicação em pulverização aérea devido à morte de abelhas e depois voltou atrás, sucumbindo ao lobby das empresas.
O Engeo Pleno (nome do agrotóxico aplicado) é um inseticida da Syngenta (empresa que comercializa o agrotóxico) e é constituído por uma mistura de lambda cialortrina e tiametoxan. O último é um neonicotinóide que está sendo proibido na Europa devido à associação com o colapso das colmeias.
De norte a sul do país, cada vez mais comunidades vivem cercadas pelo agronegócio e sofrem diariamente com banhos de agrotóxicos nos períodos de pulverização. Recentemente, alguns outros casos ganharam destaque. Um deles foi em Lucas do Rio Verde (MT), quando um avião pulverizou a cidade, e pesquisas feitas logo em seguida demonstraram contaminação da água da chuva, dos rios, e até do leite materno. Em 26 de dezembro de 2012, indígenas Xavante denunciaram despejo de agrotóxico próximo a Terra Indígena (TI) Marãwaitsédé. Um avião teria pulverizado uma área próxima a aldeia durante 20 minutos, e índios relataram ter sentido fortes dores de cabeça e febre alta após a ação. Estes e outros casos estão fartamente documentados nas 3 edições do dossiê “Um alerta sobre os Efeitos dos Agrotóxicos na Saúde” produzido pela ABRASCO e a Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e pela Vida*.
A luta pela proibição da pulverização aérea já obteve algumas vitórias no país. No municípios capixabas de Nova Venécia e Vila Valério, movimentos sociais conseguiram barrar a aplicação aérea de venenos. Em Limoeiro do Norte (CE), a proibição foi conquistada, mas durou pouco tempo. Zé Maria do Tomé, principal liderança dos agricultores, foi assassinado em 21 de abril de 2010, e antes de sua missa de sétimo dia a proibição da pulverização aérea já havia sido revogada.
A utilização de agrotóxicos representa por si só um grave problema para a saúde dos brasileiros e para o meio-ambiente. A aplicação de venenos através de aviões é ainda mais perversa, pois segundo dados do relatório produzido pela subcomissão especial que tratou do tema na câmara federal, 70% do agrotóxico aplicado por avião não atinge o alvo. A chamada “deriva” contamina o solo, os rios, as plantações que não utilizariam agrotóxicos (agroecológicas) e, como vimos agora, populações inteiras. Dados do Censo Agropecuário de 2006, do IBGE, mostram que apenas 0,73% das propriedades rurais que usam agrotóxicos o fazem através de aeronaves, mas dados do setor indicam que 30% do uso de agrotóxicos no país se dá por meio da aplicação aérea.
Além disso, a aplicação de agrotóxicos representa apenas uma pequena parte dos serviços realizados pelo setor de aeronaves agrícolas. Por meio delas são realizados também plantio e combate a incêndios, de modo que a proibição da aplicação aérea de agrotóxicos não inviabilizaria a existência e continuidade do setor de aeronaves agrícolas no país. É claro e notório que mesmo sendo a pulverização aérea a única forma de aplicação de agrotóxicos regulamentada, ela apresenta graves riscos a saúde e ao meio ambiente.
Diante disso, as organizações que apoiam a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos vêm por meio desta nota exigir
– Rigorosa apuração do caso ocorrido em Rio Verde e punição dos responsáveis;
– Uma audiência pública sobre pulverização aérea com os Ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Agricultura;
– Rápida tramitação do Projeto de Lei que propõe o fim da pulverização aérea no Brasil.
Certos da compreensão da gravidade que este problema apresenta para a saúde da população brasileira, subscrevemos.
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
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Neste número:
1. Brasil registra aumento de mortes por agrotóxicos
2. Ministro brasileiro vai à China fazer as vezes de vendedor da Monsanto
3. Laboratório Abbott se recusa a retirar transgênicos da fórmula infantil Similac
A alternativa agroecológica
A revolução do arroz na Índia
Dica de fonte de informação:
Troca-troca de semente transgênica e a perda da diversidade genética, entrevista com Fábio Dal Soglio
“De um discurso pelo desenvolvimento sustentável, vemos agora uma posição bastante conservadora, buscando agradar multinacionais de sementes e interesses comerciais”, critica Fábio Dal Soglio, ao comentar a reintrodução das sementes transgênicas no Programa Troca-Troca de Sementes de Milho para a safra 2013-2014. Para ele, a medida impede a autonomia dos agricultores e desconsidera os argumentos “apresentados ao governo do Rio Grande do Sul, que apontam evidentes problemas ambientais e sociais, assim como problemas agronômicos, associados ao uso de variedades transgênicas de milho”.
Leia a entrevista completa, publicada em 03/03/2013 pelo IHU Unisinos.
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1. Brasil registra aumento de mortes por agrotóxicos
Em 2010, 171 pessoas morreram intoxicadas por venenos de uso agrícola no País. Nordeste lidera casos
Campina Grande (PB). Poucos produtos conseguem quase dobrar a venda, na escala mundial, em um curto espaço de tempo. Os agrotóxicos tiveram crescimento de mercado mundial de 93% nos últimos dez anos. Não no Brasil, que teve avanço maior que 190%. Um mercado nacional que em 2002 representava R$ 2,5 bilhões chega, passados dez anos, à cifra de R$ 8,9 bilhões. Os estudos do impacto desses produtos não acompanham a própria liberação do comércio e, menos ainda, a informação sobre o uso. O resultado: mais pessoas estão morrendo por agrotóxico agrícola.
No Brasil, foram 4.789 casos registrados de intoxicação por esses produtos em 2010. No período, foram 86.700 casos totais de intoxicação sob diversos agentes, como agrotóxicos, animais peçonhentos, raticidas e domissanitários. Os óbitos causados por veneno representam, por exemplo, 10% das mortes por trânsito nas estradas brasileiras; e o Brasil é o quarto país onde mais se morre no trânsito.
Mesmo os casos notificados levam muito tempo para chegar ao Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox). Por isso, o ano de 2010 é o mais recente. Somente quando todos os Estados repassam as informações um novo ano fica disponível para consulta. Assim, a reportagem buscou números mais atualizados nas gerências regionais dos Centros de Assistência Toxicológica (Ceatox) de alguns Estados brasileiros, conforme indica o infográfico ao lado.
A Região Sudeste apresentou, ainda em 2010, o maior número de casos de intoxicação: 2.145, seguida das regiões Sul (898), Centro-Oeste (808) e Nordeste (823). O Norte apontou 115 casos. Mas, no ranking de mortes, o Nordeste está em primeiro lugar. Foram 82 óbitos de um total de 171 em todo o País em 2010. Isso representa 47,9% de todas as mortes por agrotóxicos registradas no período. O total representa duas vezes mais que as mortes por medicamentos (67) no mesmo ano.
A média é acompanhada no levantamento de mortes entre 2001 e 2010. O Nordeste apresenta 37,7% das mortes, seguido de Sudeste (24,52%), Sul (18,40%), Centro-Oeste (17,24%) e Norte (2,65%).
São 17 categorias de circunstâncias apontadas no levantamento: acidente individual, acidente coletivo, acidente ambiental, ocupacional, uso terapêutico, prescrição médica inadequada, erro de administração, automedicação, abstinência, abuso, ingestão de alimentos, tentativa de suicídio, tentativa de aborto, violência/homicídio, uso indevido, ignorada e outra. (…)
Subnotificação
Os dados que chegam aos centros de toxicologia ainda são precários. A maior parte nem chega. O Ministério da Saúde aponta que, para cada caso de intoxicação registrado, outros 40 não são notificados.
“Existe uma série de dificuldades para reconhecer o problema, principalmente se existe intoxicação crônica. Podemos ter resíduos de agrotóxicos, seja pela exposição ou pelos alimentos, mas dificilmente associamos a alguma doença que adquirimos. Queremos garantir que até 2015 todas as secretarias municipais de saúde tenham um protocolo para casos de intoxicação”, afirma Guilherme Franco Netto, diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde.
Diário do Nordeste, 17/04/2013.
2. Ministro brasileiro vai à China fazer as vezes de vendedor da Monsanto
Soja transgênica motiva viagem de ministro à China
O ministro da Agricultura, Antonio Andrade, viaja na sexta-feira a Pequim para negociar prazos para liberação comercial de novos tipos de soja transgênica tolerantes a herbicidas e resistentes a pragas cuja agressividade têm ampliado os estragos na produção brasileira. Andrade também pedirá às autoridades chinesas a retomada das importações de carne bovina, suspensas pelo país asiático desde o anúncio, em dezembro de 2012, do caso atípico de “vaca louca” no Paraná.
No caso da soja, a estratégia será mostrar o tema como questão de Estado por envolver a Embrapa, uma empresa pública brasileira, nas negociações. O “escudo” servirá para arrefecer a crescente rejeição dos chineses à tecnologia transgênica, avalia-se no governo. A China ainda não concedeu registro comercial a novas variedades transgênicas. Entre elas, estão a Cultivance, desenvolvida pela parceria entre a Embrapa e a multinacional Basf, e a Intacta RR2, propriedade da americana Monsanto.
Em virtude disso, as variedades ainda não foram lançadas comercialmente no mercado brasileiro. A RR2 obteve aprovação no Brasil em agosto de 2010, e já está liberada em 12 outros países e na União Europeia, segundo a empresa. A demora no sinal verde para a importação preocupa os produtores, que estão impedidos de plantar essas novas sementes em razão da rejeição chinesa, maior mercado mundial para a soja brasileira. (…)
Há duas semanas, o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, e o senador Blairo Maggi (PR-MT), estiveram em Pequim para tratar do tema. E, pelo relato, os chineses estão refratários aos novos transgênicos. “Ficou nítido o interesse das empresas por soja convencional”, afirma Silveira. “Nos foi colocado que a grande massa é menos sensível à diferenciação transgênico e convencional. Compra o mais barato. Mas uma parcela da população chinesa melhor colocada financeiramente teria preferência por produtos não transgênicos”. Nesse contexto, empresas importadoras mostraram interesse em criar um mercado específico para a soja convencional, mesmo se tiverem que pagar mais.
Valor Econômico, 30/04/2013 – via Em Pratos Limpos.
N.E. Em agosto do ano passado os produtores brasileiros já pediam ajuda ao governo para interceder junto à China em favor da liberação de soja transgênica (ver “Produtores pedem ajuda para liberação de soja transgênica para China”). Em julho de 2012 a Aliança Internacional de Produtores do Brasil, Estados Unidos, Paraguai, Argentina e Uruguai faziam tour pela Europa buscando abertura para a comercialização de novos transgênicos (ver “Sojeiros pressionam por mais transgênicos”). Vemos agora o governo de fato colocado a serviço das empresas na luta pela abertura de mercados para produtos que ninguém quer consumir.
3. Laboratório Abbott se recusa a retirar transgênicos da fórmula infantil Similac
Foi rejeitada a proposta feita aos acionistas do laboratório Abbot para retirar os transgênicos de seus produtos – incluindo a fórmula infantil Similac.
A votação dos acionistas aconteceu no dia 26 de abril, motivada por uma proposta da ONG As You Sow, que promove a responsabilidade corporativa através da influência política sobre os acionistas.
Segundo a ONG, a Abbott utiliza soja e milho transgênicos na popular fórmula infantil Similac. A organização pediu que os transgênicos fossem retirados dos produtos da empresa até sua segurança fosse comprovada através de testes de longo prazo, mas a proposta não teve sucesso.
Extraído de:
Abbott Laboratories shareholders reject proposal to remove GMOs from infant formula – Dairy Reporter, UK, 30.04.2013
A alternativa agroecológica
A revolução do arroz na Índia
Em Bihar, um povoado no estado mais pobre da Índia, os agricultores estão batendo recorde mundial no cultivo de arroz – sem trangênicos ou herbicidas. Será essa a solução para a falta de alimentos no mundo?
Sumant Kumar ficou muito feliz quando ele colheu o seu arroz no ano passado. O seu povoado, Darveshpura ao nordeste da Índia tinha recebido boas chuvas e ele sabia que poderia aumentar as quatro ou cinco toneladas por hectare que ele normalmente conseguia colher. Mas cada ramo que ele cortava no seu campo de arroz próximo à margem do rio Sakri parecia pesar mais do que o normal, cada grão de arroz era maior e quando a sua colheita foi pesada nas velhas balanças do povoado, até mesmo Kumar ficou chocado.
Não eram seis ou até mesmo 10 ou 20 toneladas. Kumar, um tímido jovem agricultor no distrito de Nalanda no estado de Bihar, o mais pobre da Índia tinha cultivado – usando apenas estrume e nenhum herbicida – a surpreendente quantia de 22.4 toneladas de arroz em um hectare de terra. Este foi um recorde mundial e sendo o arroz a dieta básica de mais da metade da população mundial de sete bilhões, essa é uma grande notícia.
Ela não só bate as 19.4 toneladas conseguidas pelo “pai do arroz”, cientista agrícola chinês Yuan Longping, mas também os cientistas financiados pelo Banco Mundial no Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz nas Filipinas, ou qualquer conquista das maiores empresas de sementes da Europa e Estados Unidos e das empresas de sementes transgênicas.
Mas não foi somente Sumant Kumar que conseguiu isso. Os seus amigos e concorrentes em Darveshpura, Krishna, Nitish, Sanjay e Bijay, todos obtiveram mais de 17 toneladas, e muitos outros nos povoados próximos também alegam ter colhido mais do que o dobro de suas colheitas normais.
Os aldeões, a mercê de um clima errático e acostumados a ficar sem comer nos anos ruins, celebraram. Mas as universidades agrícolas do estado de Bihar não acreditaram neles inicialmente, ao mesmo tempo em que os maiores cientistas do arroz na Índia estão resmungando contra os estranhos resultados. Os agricultores de Nalanda foram acusados de estarem fraudando resultados. Somente quando o chefe do departamento de agricultura do estado, que é também um agricultor, veio ao povoado com os seus homens e pessoalmente verificou a colheita de Sumant, só então o record foi finalmente confirmado.
O ritmo da vida no povoado de Nalanda foi quebrado. Aqui, como sempre, arados ainda são puxados por bois, o seu esterco ainda é seco nas paredes das casas e usados para cozinhar os alimentos. A eletricidade ainda não chegou para a maior parte das pessoas. Sumant se tornou um herói local, foi citado no parlamento Indiano e convidado para participar de conferências. O ministro chefe do estado veio a Darveshpura para cumprimentá-lo, e o povoado foi recompensado com eletricidade, um banco e uma ponte nova de concreto.
Isso teria sido o fim dessa história se o amigo de Sumant, Nitish não tivesse quebrado o record mundial no cultivo de batatas, seis meses mais tarde. E logo depois Ravindra Kumar, um pequeno agricultor de um povoado próximo a Bihari, quebrou o record da Índia no cultivo do trigo. O povoado “milagroso” da Índia, Nalanda se tornou famoso e grupos de cientistas, grupos de desenvolvimento, agricultores, funcionários públicos e políticos todos foram lá para descobrir o seu segredo.
Quando eu encontrei os jovens agricultores, todos com 30 e poucos anos, eles todos pareciam um pouco atordoados com a sua fama. Eles se tornaram heróis improváveis em um estado onde cerca da metade das famílias vivem abaixo da linha de pobreza na Índia e 93% da população de 100 milhões dependem do cultivo do arroz e da batata. Nitish Kumar fala calmamente do seu sucesso e diz que ele esta determinado a melhorar esse record. “Em anos anteriores, a agricultura não foi muito lucrativa,” disse ele. “Hoje eu percebo que ela pode ser. A minha vida foi modificada. Eu posso mandar os meus filhos para a escola e gastar mais com saúde. A minha renda cresceu muito.”
O que aconteceu em Darveshpura tem dividido cientistas e esta animando governos e especialistas em desenvolvimento. Os testes mostram que o solo é particularmente rico em silicone mas o motivo das “super colheitas” se deve inteiramente ao método de cultivo de sementes chamado de “Sistema de Intensificação do Arroz (ou raiz)” (SIA). Isso aumentou dramaticamente as colheitas de trigo, batatas, cana de açúcar, inhame, tomates, alho, berinjela e muitos outros cultivos e está sendo celebrado como um dos desenvolvimentos mais significativos dos últimos 50 anos para os 500 milhões de pequenos agricultores e os dois bilhões de pessoas que dependem deles.
Ao invés de plantar mudas de arroz com três semanas de idade, em grupos de três ou quatro, em campos encharcados, como fazem tradicionalmente os agricultores de arroz em todo o mundo, os agricultores de Darveshpura somente nutrem cuidadosamente metade das sementes, e depois transplantam as plantas jovens, uma a uma, para o campo, quando são muito mais jovens. Além disso, eles dão um espaço de 25 cm entre elas em um formato quadriculado, mantendo o solo muito mais seco e cuidadosamente limpam ao redor da planta, removendo as ervas daninhas para permitir que o ar chegue até as suas raízes. A premissa de que “menos é mais” foi transmitida por Rajiv Kumar, um jovem funcionário do governo estadual de Bihar que, por sua vez, havia feito um treinamento com Anil Verma de uma pequena ONG da Índia chamada, Pran (Preservação e Proliferação dos Recursos Rurais e da Natureza), que introduziu o método SIA a centenas de aldeões nos últimos três anos.
Enquanto a “revolução verde” que evitou a fome na Índia nos anos 70 contava com variedades melhoradas de sementes, pesticidas caros e fertilizantes químicos, o SIA parece oferecer um futuro sustentável de longo prazo, sem custo extra. Com mais de um em cada sete pessoas da população global faminta, e com uma expectativa de que a demanda por arroz vá exceder o suprimento nos próximos 20 anos, o SIA parece oferecer uma esperança real. Mesmo um aumento de 30% nas colheitas dos pequenos agricultores do mundo já seria um grande progresso para o alívio da pobreza no mundo. (…)
As origens do SIA remontam aos anos 80 em Madagascar onde Henri de Laulanie, um jesuíta e agrónomo francês, observou como os aldeões cultivavam arroz nas terras altas. Ele desenvolveu o método mas foi um professor norte-americano, Norman Uphoff, diretor do Instituto de Alimentos, Agricultura e Desenvolvimento da Cornell University, que foi amplamente responsável por disseminar o trabalho de De Laulanie.
Ao receber $15 milhões de um bilionário anônimo para pesquisar o desenvolvimento sustentável, Uphoff foi até Madagascar em 1983 e viu o sucesso do SIA com seus próprios olhos: agricultores que anteriormente tinham em média colheitas de duas toneladas por hectare estavam colhendo oito toneladas. Em 1997 ele começou a promover ativamente o SIA na Ásia, onde mais de 600 milhões de pessoas são subnutridas.
“É um conjunto de ideias, absolutamente opostas à primeira revolução verde [dos anos 60] que dizia que você tinha que mudar os genes e os nutrientes do solo para aumentar o rendimento. Isso causou um custo ecológico tremendo”, diz Uphoff. “A agricultura no século 21 deve ser praticada diferentemente. Os recursos de terra e hídricos estão se tornando escassos, de qualidade baixa, ou são menos confiáveis. As condições climáticas são mais adversas em muitos lugares. O SIA oferece oportunidades muito melhores a milhões de famílias desfavorecidas. Ninguém se beneficia disso, somente os agricultores; não há patentes, royalties ou licenças.”
Por 40 anos, diz Uphoff, a ciência tem estado obcecada com a melhoria das sementes e o uso de fertilizantes artificiais: “tem sido genes, genes e genes. Nunca se falou sobre a gestão de culturas. As corporações dizem ‘nós vamos produzir uma planta melhor para você e os cultivadores trabalham muito para obter 5-10% de aumento na produção. Nós tentamos tornar a agricultura um empreendimento industrial e esquecemos as suas raízes biológicas.” (…)
No início, o SIA foi descartado ou difamado por doadores e cientistas mas nos últimos anos ele ganhou credibilidade. Uphoff estima que há hoje entre 4-5 milhões de agricultores usando o SIA em todo o mundo, sendo promovido por governos na China, Índia, Indonésia, Camboja, Sri Lanka e Vietnam. (…)
Bihar, passou do estado mais pobre da Índia, para o centro do que esta sendo chamado de “uma nova revolução da base” com povoados agrícolas, grupos de pesquisa e ONGs começando a experimentar com várias culturas, usando o SIA. O estado irá investir $50 milhões em SIA no ano que vem mas os governos do ocidente e fundações estão aguardando, preferindo investir em pesquisa de alta tecnologia. (…)
“Se qualquer cientista ou empresa criar uma tecnologia que quase garanta um aumento de 50% na produção, sem custo extra, eles iriam ganhar o prêmio Nobel. Mas quando os jovens agricultores de Bihar conseguem isso, eles não ganham nada. Eu só quero ver os agricultores pobres terem o suficiente para comer.”
Artigo de John Vidal publicado no jornal inglês The Guardian – traduzido pela ASA Brasil – 17/02/2013.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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