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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Riscos dos transgênicos para a saúde: quem procura, acha
Número 639 – 09 de agosto de 2013
Car@s Amig@s,
Foi publicado, em julho de 2013, um novo relatório a respeito dos riscos associados ao consumo de plantas transgênicas. O documento intitulado “Levantamento e análise de estudos e dados técnicos referentes ao consumo de plantas transgênicas: o caso do NK603”, de autoria do pesquisador Gilles Ferment, foi publicado pelo NEAD (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural / Ministério do Desenvolvimento Agrário) e realizado com o apoio da FAO (Órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
Ferment apresenta uma síntese das descobertas publicadas na literatura científica, tanto sobre os riscos gerais ligados ao próprio processo de transgenia, como sobre os riscos relacionados ao consumo de plantas que sintetizam uma toxina Bt (tóxica a lagartas) e/ou toleram altas doses de herbicidas – juntos, esses dois tipos de plantas representam quase a totalidade dos transgênicos plantados no mundo. Na segunda parte do relatório, o autor aprofunda a questão dos riscos associados ao consumo do milho NK603, tolerante aos herbicidas a base de Roundup. Esse milho foi objeto de avaliação toxicológica independente realizada por pesquisadores franceses, que apontou riscos sanitários graves relacionados ao consumo do produto no longo prazo.
O autor ressalta que, embora a literatura científica sobre riscos dos transgênicos à saúde sempre tenha sido relativamente escassa, o volume de publicações científicas sobre o tema aumentou consideravelmente nos últimos anos e atualmente existem mais de cem estudos de toxicidade focados no consumo de ração à base de diferentes plantas transgênicas. Um dado importante obtido da avaliação desses estudos é que, embora exista um equilíbrio entre os estudos que apontam para riscos para a saúde e aqueles que concluem pela ausência de riscos, a maioria dos estudos que consideram as plantas transgênicas avaliadas tão seguras quanto as plantas convencionais foram realizados pelas empresas de biotecnologia que comercializam esses produtos.
Com relação aos riscos relacionados ao próprio processo da transgenia, Ferment observa que são amplamente documentadas na literatura científica as alterações indesejadas nas sequências genômicas que são transferidas através da modificação genética. Essas alterações são devidas ao fato de o processo de transgenia atualmente empregado constituir uma ferramenta de biologia molecular bastante aleatória e imprecisa. Além disto, a experiência mostra que a integridade do transgene após processo de inserção na célula hospedeira é raramente preservada.
Ferment destaca que, mesmo se melhorias técnicas forem realizadas no direcionamento da inserção de transgenes no DNA de células vegetais, a falta de conhecimento científico relativo ao funcionamento global do genoma impede os pesquisadores de determinar um local de inserção isento de desdobramentos biológicos não desejados. Descobertas recentes a respeito das funções do chamado “DNA lixo” (que representa cerca de 98% do genoma humano, por exemplo) apontam que não existe local no genoma do organismo a ser transformado onde a transgenia não irá alterar a expressão gênica de um ou vários processos biológicos.
Na parte do relatório dedicada aos riscos específicos associados ao consumo de plantas geneticamente modificadas para produzir uma toxina inseticida Bt, têm destaque as evidências científicas demonstrando que, ao contrário do que alegam a indústria e os cientistas defensores da tecnologia, essas proteínas são biologicamente ativas em humanos que consomem as plantas Bt. O autor cita estudos realizados em laboratório que demonstraram que as proteínas Bt podem desencadear uma reação imune ou favorecer respostas imunológicas a outras substâncias, bem como estudos cujos resultados apontam que a suposta total degradação das proteínas Bt durante o processo de digestão em mamíferos não ocorre na realidade.
O autor acrescenta que a maioria dos estudos toxicológicos realizados com cobaias animais disponíveis na literatura científica aponta para a existência de perturbações metabólicas e/ou fisiológicas relacionadas ao consumo de plantas inseticidas.
Entre os riscos específicos associados ao consumo de plantas geneticamente modificadas para tolerar altas doses de herbicidas detalhados pelo autor está, em primeiro lugar, o significativo aumento do volume de herbicidas verificado nessas lavouras e o consequente aumento do consumo de resíduos de herbicidas pelos humanos. Ferment destaca em seguida a questão da subestimação da classificação toxicológica dos herbicidas a base de glifosato, uma vez que já existem atualmente na literatura científica dezenas de estudos que apontam danos toxicológicos em animais ou em células humanas associados ao contato com o glifosato e suas formulações comerciais como o Roundup.
Por fim, a esse respeito, o autor lista uma grande quantidade de exemplos de estudos científicos que apontam a existência de perturbações metabólicas e endócrinas resultantes do consumo de plantas transgênicas tolerantes a herbicidas (HT). No caso da soja RR, por exemplo, pesquisas de longo prazo observaram uma diminuição das enzimas digestivas (pâncreas), alterações da estrutura celular e da expressão gênica em vários tecidos/órgãos (rins e fígado principalmente) e o aumento da atividade metabólica do fígado. Um dos estudos citados observou alteração na estrutura e função dos testículos em ratos que consumiram a soja.
Outros trabalhos referidos levantam graves questões em relação a perturbações endócrinas provavelmente resultantes do consumo de plantas transgênicas HT. Têm destaque, nesse caso, os resultados obtidos pela pesquisa francesa a respeito do milho NK603, tolerante à aplicação do herbicida Roundup (a base de glifosato). O aprofundamento da análise desse estudo é justamente o foco da segunda parte do relatório de Ferment.
O autor ressalta que a pesquisa francesa de toxicologia (Séralini et al, 2012) foi a única até hoje a analisar os efeitos do consumo de um milho transgênico HT durante período correspondente à vida inteira de um animal modelo (neste caso, o rato). O estudo comprovou cientificamente a existência de perturbações endócrinas e anormalidades hepato-renais nos ratos alimentados com o milho NK603, com e sem o herbicida Roundup, provavelmente indutores de cânceres hormônio-dependentes nesses mesmos animais. As perturbações metabólicas e fisiológicas envolvendo mecanismos hormonais eram sexo-dependentes: nas fêmeas, onde os efeitos de perturbação endócrina foram mais pronunciados, a hipófise foi o segundo órgão mais afetado, após as glândulas mamárias, que desenvolveram a maioria dos tumores observados. Tais perturbações sexo-dependentes não são inusitadas e já haviam sido relatadas em artigos anteriores publicados pela equipe do Professor Séralini.
Também foram observados efeitos citotóxicos: os processos de necrose e de congestão do fígado foram 2,5 – 5,5 vezes maiores nos machos de determinados grupos testes. Além disso, as análises bioquímicas revelaram graves perturbações nas funções renais, em ambos os sexos, totalizando 76% dos parâmetros alterados monitorados no estudo.
Ferment discute ainda a polêmica que se seguiu à publicação do estudo, aprofundando questões como escolha da raça de ratos utilizada, o número de animais usados nos experimentos e a metodologia estatística empregada.
Por fim, o autor aborda o processo que levou à liberação comercial do milho NK603 no Brasil em 2008, a despeito de terem sido apresentados vários pareceres contrários à liberação e críticas de membros da própria CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). A maioria das críticas apontava a ausência de provas científicas a respeito da inocuidade do produto para o meio ambiente e a saúde pública. O milho foi aprovado apesar dos votos contrários dos representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Ministério da Saúde e dos representantes da sociedade civil para o meio ambiente e a saúde.
Ferment destaca que, após a publicação do artigo de Séralini, várias entidades da sociedade civil solicitaram aos poderes públicos a reavaliação do milho NK603 no Brasil, mas que, por 14 votos contra 4, a CTNBio rejeitou tanto a reavaliação quanto a suspensão do cultivo comercial dessa variedade. O autor observa que processos idênticos aconteceram em vários países do mundo.
A grande novidade decorrente da divulgação do estudo de Séralini foi a recente publicação de um edital pela União Europeia, no valor de 3 milhões de euros, com o objetivo conduzir uma pesquisa sobre efeitos carcinogênicos desse milho transgênico.
Em suma, a história tem mostrado que o ditado “quem procura, acha” não poderia ser mais pertinente à questão dos riscos relacionados ao consumo de alimentos transgênicos. Não há dúvidas de que, se realizadas com rigor e independência, as novas pesquisas financiadas pela UE irão engrossar o caldo das evidências científicas a respeito das consequências dos transgênicos para a saúde pública. Esperemos que, ainda que aos poucos, essas evidências possam reverter o quadro atual de desregulamentação e utilização em larga escala de transgênicos em nossa agricultura e alimentação.
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Neste número:
1. Justiça determina fiscalização no uso de agrotóxico nas fazendas de soja transgênica do MA
2. Liberação de soja e milho tolerantes ao 2,4-D poderá aumentar utilização de herbicida mais tóxico
3. França prorroga moratória sobre milho da Monsanto
4. Ervas daninhas desafiam poder da biotecnologia
5. Cientistas descobrem o que está matando as abelhas, e é mais grave do que se pensava
A alternativa agroecológica
Vandana Shiva: o agronegócio é um modelo esgotado
Evento:
Agapan Debate: “As lavouras transgênicas e o desenvolvimento gaúcho: promessas, resultados e riscos sob a perspectiva do retrocesso ambiental”
Dia 12 de agosto, às 19 horas
Auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS
Rua Sarmento Leite, 320 – Porto Alegre – RS
Obs. Vamos fazer uma grande “vitrine” com as embalagens de Transgênicos, se possível venha com as suas embalagens.
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1. Justiça determina fiscalização no uso de agrotóxico nas fazendas de soja transgênica do MA
O Ministério Público Federal no Maranhão (MPF/MA) obteve liminar, junto à Justiça Federal, para garantir fiscalização do uso do herbicida Glifosato, utilizado no plantio de soja transgênica, na região do baixo Parnaíba. A União, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado do Maranhão (Aged-Ma) e o estado do Maranhão teêm 180 dias para cumprir as determinações da Justiça, sob pena de multa.
Após constatar a falta de fiscalização adequada dos órgãos estaduais e federais, bem como o emprego excessivo do Glifosato no plantio de soja do Maranhão, o MPF/MA moveu ação civil pública contra a União, a Aged-MA e o estado, em maio deste ano.
As investigações do MPF, feitas com auxílio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (Gerur) do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), identificaram diversas consequências do uso incorreto do agrotóxico, como: contaminação dos recursos hídricos e das áreas usadas na produção de alimentos, destruição de nascentes, assoreamento de cursos d’água, contaminação de riachos por conta do despejo de produtos com aviões, entre outras.
Na decisão, o juiz da 8ª Vara da Justiça Federal considerou que a prova documental oferecida pelo MPF indica a negligência no uso, armazenamento e descarte do herbicida, por parte da União, Aged-MA e estado. A sentença afirma ainda que a continuidade do uso incorreto do Glifosato consolida “uma situação de gravíssima degradação ambiental, que comporta perigo elevado ao ecossistema local e à saúde humana”.
A Justiça deferiu o pedido de liminar do MPF e determinou que União, Aged-MA e estado promovam, em 180 dias, levantamento das condições das lavouras que fazem uso do Glifosato no Maranhão, com realização de vistorias e estudos técnicos para definir medidas de correção sob pena de multa diária de R$ 180 mil; que União e estado do Maranhão realizem, no mesmo prazo, análise dos resíduos de Glifosato nos produtos de origem vegetal, para monitorar a presença excessiva do referido agrotóxico; que o estado do Maranhão observe determinados requisitos antes de conceder novas licenças ambientais a empreendimentos agrícolas que façam uso do Glifosato, sob pena de multa de R$ 100 mil para cada licença irregularmente concedida e que União e estado não admitam o uso de aeronaves na aplicação do herbicida, inclusive promovendo fiscalização.
Jornal Pequeno, 09/08/2013 (Ascom/MPF-MA).
N.E.: Vale a pena ler a belíssima sentença expedida pelo Juiz Federal Substituto Caio Castagine Marinho.
2. Liberação de soja e milho tolerantes ao 2,4-D poderá aumentar utilização de herbicida mais tóxico
Os herbicidas à base de glifosato, anunciados em anos anteriores como solução definitiva contra pragas na agricultura, já não exercem a mesma eficácia sobre plantas daninhas. Como resultado, as espécies invasoras ocupam lavouras e resistem à pulverização, prejudicando ou até inviabilizando safras inteiras. Uma solução apresentada propõe o plantio de variedades transgênicas de soja e milho resistentes a um defensivo mais agressivo, o 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético).
Atualmente em análise na Comissão Nacional de Biotecnologia (CTNBio), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, a solicitação caminha para a liberação. Mas a medida gera controvérsias: enquanto uma força-tarefa capitaneada pelo setor agroquímico defende a aprovação, alguns pesquisadores a condenam por fomentar o uso de um produto que imporia riscos à saúde humana.
Integram a pauta da CTNBio pedidos de liberação comercial de duas variedades de soja e de uma variedade de milho tolerantes ao 2,4-D – todos impetrados pela Dow AgroSciences em 2012. Dois deles já foram examinados e aprovados por subcomissões que avaliam seus impactos sobre a saúde humana e animal.
Até 14 de agosto, a tramitação de ao menos um deles deve estar concluída nos grupos que analisam aspectos associados ao meio ambiente e produção vegetal. Se aprovados, seguem para deliberação na reunião plenária da CTNBio já no dia seguinte.
“As discussões devem ser acaloradas em função das peculiaridades do 2,4-D e das implicações relacionadas a seu uso em larga escala, no caso da liberação comercial daquelas plantas geneticamente modificadas”, considera o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, doutor em Engenharia de Produção e representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio.
Melgarejo acredita que a decisão final não irá ocorrer na reunião de agosto, considerando os pedidos de protelamento que partiram do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e do Conselho Federal de Nutricionistas. No entanto, quando a votação ocorrer, a tendência é que as novas variedades transgênicas sejam liberadas.
Há indicativo de que o assunto seja integrado também à pauta da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, o que ainda não ocorreu, segundo a assessoria do senador Blairo Maggi (PR/MT), que preside a comissão. O parlamentar, conhecido produtor de soja na região Centro-Oeste, não quis comentar a possível aprovação das novas variedades transgênicas.
Crítica
O engenheiro agrônomo Luciano Pessoa de Almeida, professor de Fundamentos de Agroecologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), critica a proposta de tolerância ao 2,4-D. Para ele, o setor agroquímico adota a estratégia para tentar corrigir falhas da sua política de transgenia, já que a aplicação de glifosato originou pragas mais resistentes, como a buva, que não consegue mais conter. “É a solução proposta para um problema que foi criado pelas próprias multinacionais”, diz.
Melgarejo, por sua vez, acredita que a solução é enganosa, pois o plantio de soja e milho tolerantes ao 2,4-D ou a outros herbicidas levará ao surgimento de plantas daninhas resistentes também aos novos defensivos. “Com o tempo, teremos ervas cujo controle se tornará mais e mais complexo, para as quais os herbicidas que conhecemos não funcionarão”, pondera.
Como principal interessado, o agricultor apoia as novas variedades, diz Melgarejo. Isso porque os transgênicos estabeleceram um patamar de facilidade na gestão das lavouras do qual os produtores não abrem mão, independentemente dos problemas causados.
Contra as ervas mais resistentes, eles pressionam por alternativas e o mercado agroquímico interpreta como demanda por novas plantas transgênicas. “Os valores envolvidos nesse negócio são descomunais, e isso, naturalmente, implica em enormes pressões econômicas”, considera.
Preocupação
A preocupação quanto à liberação de variedades resistentes ao 2,4-D aumenta na medida em que a agressividade do herbicida não se restringe às pragas que combate. Enquanto o glifosato e o glufosinato de amônio, que dominam o mercado brasileiro de defensivos, ocupam a faixa verde na Classificação Toxicológica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o 2,4-D está no ápice do risco: faixa vermelha – extremamente tóxico.
Melgarejo explica que o produto é tóxico no contato com a pele, na inalação e na ingestão, o que garante maior ameaça aos agricultores, sujeitos a diversos tipos de contaminação. E os riscos se estendem a públicos variados.
“No fundo, estaremos aplicando veneno sobre alimentos, e esses alimentos carregarão parcelas de veneno rumo a seus consumidores”, afirma, acrescentando que o 2,4-D será absorvido pelas plantas transgênicas e, enquanto não for completamente degradado, estará presente nos tecidos vegetais, inclusive nos grãos.
Agente Laranja
Para Luciano Almeida, a maior ameaça do 2,4-D está gravada na história: trata-se da presença do herbicida como um dos elementos que compuseram o Agente Laranja, um desfolhante usado pelo exército dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. “Tem potencial para causar mutações”, alerta. (…)
Repercussão
A liberação de transgênicos resistentes deve fomentar ainda mais o uso do 2,4-D. Nos Estados Unidos, onde o produto já se constitui do terceiro fitossanitário mais utilizado, com mais de 31 mil toneladas anuais, o desfecho da situação brasileira é acompanhado com interesse.
Charles Benbrook, professor e pesquisador do Centro de Agricultura Sustentável e Recursos Naturais da Universidade do Estado de Washington, nos Estados Unidos, diz que o país norte-americano, o Brasil e a Argentina são os únicos produtores de milho no mundo que consideram seriamente o 2,4-D, apesar de ser um dos herbicidas mais arriscados do mercado.
Segundo Benbrook, a aprovação dos transgênicos resistentes ao 2,4-D nos EUA ainda depende de estudos complementares de impacto ambiental, mas sua aplicação é esperada para o plantio comercial de 2015 ou 2016. O agravamento dos problemas relacionados às ervas resistentes ao glifosato, contudo, pode levar a uma aprovação de emergência do milho 2,4-D, avalia.
O pesquisador possui um compêndio de 117 estudos que associam o 2,4-D a formas de câncer e outras 149 pesquisas que relacionam o herbicida a defeitos congênitos. Apesar dos riscos, prevê aumento de 73 vezes na quantidade de 2,4-D aplicado ao milho até 2019 nos EUA.
Outra preocupação de Benbrook reside na fiscalização que seria necessária para controlar o ingresso no mercado de versões mais baratas e de tecnologia ainda menos segura do herbicida. “Há 2,4-D barato, mal fabricado e de alto risco produzido na China e em outros países, e, sem dúvida, outros fabricantes genéricos e de baixo custo vão entrar no negócio se as culturas com 2,4-D elevarem a demanda em 10 vezes ou mais”, conclui.
Portal Terra, 03/08/2013 – via Em Pratos Limpos, 05/08/2013.
3. França prorroga moratória sobre milho da Monsanto
O produto está banido na França desde março de 2012
O presidente francês, François Hollande, confirmou nesta sexta-feira a prorrogação da moratória sobre o cultivo do milho transgênico MON810 da Monsanto, apesar de, na véspera, o Conselho de Estado ter anulado a proibição do cultivo deste milho geneticamente modificado [após divulgar entendimento, oposto ao da precaução, de que uma moratória só teria base legal caso o produto apresentasse sérios riscos à saúde e ao meio ambiente].
“Haverá uma prorrogação da moratória”, afirmou o presidente, acrescentando ser necessário “garantir juridicamente esta decisão em nível nacional e, sobretudo, em nível europeu”.
A França, assim como outros países europeus (Áustria, Hungria, Grécia, Romênia, Bulgária, Luxemburgo), proíbe desde 2008 o cultivo do MON801 em seu território.
“Por que fizemos a moratória sobre os OGM (organismos geneticamente modificados)? Não porque sejamos contra o progresso, mas em nome do progresso. Nós não podemos aceitar que um produto, um milho, possa ter consequências desfavoráveis sobre as outras produções”, acrescentou François Hollande, que fez essas declarações em uma propriedade na região de Sarlat, em Dordogne (sudoeste), conhecida por suas plantações de milho.
O Conselho de Estado, jurisdição administrativa francesa de maior hierarquia, suspendeu na véspera a proibição de cultivo na França do milho transgênico MON810, da empresa americana Monsanto.
Swissinfo, 02/08/2013 – via Em Pratos Limpos.
4. Ervas daninhas desafiam poder da biotecnologia
A depender do ponto de vista, o capim-arroz é um pesadelo ou uma maravilha. Isso porque é uma planta extremamente triunfante. O capim-arroz é particularmente devastador em arrozais, onde os prejuízos às vezes chegam a 100%. Ele desenvolveu resistência a muitos herbicidas usados por agricultores para controlar ervas daninhas, e cada planta pode produzir até 1 milhão de sementes, que se alojam no solo esperando a chance de crescer. (…)
O último século trouxe uma série de herbicidas químicos que logo se tornaram ineficazes. Hoje, 217 espécies de ervas são resistentes a pelo menos um herbicida, segundo a Pesquisa Internacional de Ervas Resistentes a Herbicidas.
Na década de 1970, havia grande esperança em torno de um novo herbicida chamado glifosato, vendido pela Monsanto como Roundup. Os primeiros estudos revelaram que as ervas daninhas não desenvolviam resistência a ele, o que despertou a expectativa de que finalmente os agricultores haviam escapado da evolução.
Na década de 1980, a Monsanto ampliou a popularidade do glifosato lançando cultivos agrícolas geneticamente modificados que portavam um gene que lhes conferia resistência ao herbicida. Em vez de usar diversos herbicidas diferentes, muitos agricultores poderiam agora usar apenas um. No entanto, por meio da evolução, as ervas daninhas acabaram se tornando resistentes ao glifosato.
Meses atrás, a consultoria agrícola Stratus informou que metade das fazendas americanas tinha em 2012 ervas daninhas resistentes ao glifosato. Em 2011, eram 34%.
Alguns pesquisadores argumentam que as ervas daninhas podem ser combatidas com a combinação de dois genes de resistência em uma só planta cultivada, de modo que os agricultores poderiam aplicar dois herbicidas ao mesmo tempo. A chance de que uma erva tenha resistência aos dois produtos químicos seria minúscula. Mas na revista “Trends in Genetics”, uma equipe franco-americana de cientistas apresentou um contra-argumento: pulverizar um produto químico pode motivar a evolução de um sistema de reação a todo tipo de estresse, capaz de defender a planta contra mais de um herbicida.
David Mortensen, biólogo da Universidade Estadual da Pensilvânia e especialista em ervas daninhas, previu que essas plantas criariam uma nova geração de ervas resistentes.
Ele e seus colegas estão investigando o controle das ervas daninhas por meio do plantio de cultivos como o centeio de inverno, capaz de matar as ervas bloqueando a luz solar e liberando toxinas. “Você espalha a pressão da seleção em vários pontos e tenta evitar a criação de resistências.”
Folha de São Paulo, 30/07/2013 – do New York Times (via Em Pratos Limpos, 03/08/2013).
5. Cientistas descobrem o que está matando as abelhas, e é mais grave do que se pensava
Como já é sabido, a misteriosa mortandade de abelhas que polinizam U$ 30 bilhões em cultura só nos EUA dizimou a população de Apis mellifera na América do Norte, e apenas um inverno ruim poderá deixar os campos improdutíveis. Agora, um novo estudo identificou algumas das prováveis causas ??da morte das abelhas, e os resultados bastante assustadores mostram que evitar o Armagedom das abelhas será muito mais difícil do que se pensava anteriormente.
Os cientistas tinham dificuldade em encontrar o gatilho para a chamada Colony Collapse Disorder (CCD), (Desordem do Colapso das Colônias, em inglês), que dizimou cerca de 10 milhões de colmeias, no valor de US $ 2 bilhões, nos últimos seis anos. Os suspeitos incluem agrotóxicos, parasitas transmissores de doenças e má nutrição. Mas, em um estudo inédito publicado este mês na revista PLoS ONE, os cientistas da Universidade de Maryland e do Departamento de Agricultura dos EUA identificaram um caldeirão de pesticidas e fungicidas contaminando o pólen recolhido pelas abelhas para alimentarem suas colmeias. Os resultados abrem novos caminhos para sabermos por que um grande número de abelhas está morrendo e a causa específica da DCC, que mata a colmeia inteira simultaneamente.
Quando os pesquisadores coletaram pólen de colmeias que fazem a polinização de cranberry, melancia e outras culturas, e alimentaram abelhas saudáveis, essas abelhas mostraram um declínio significativo na capacidade de resistir à infecção por um parasita chamado Nosema ceranae. O parasita tem sido relacionado à Desordem do Colapso das Colônias (DCC), embora os cientistas sejam cautelosos ao salientar que as conclusões não vinculam diretamente os pesticidas a DCC. O pólen foi contaminado, em média, por nove pesticidas e fungicidas diferentes, contudo os cientistas já descobriram 21 agrotóxicos em uma única amostra. Sendo oito deles associados ao maior risco de infecção pelo parasita.
O mais preocupante, as abelhas que comem pólen contaminado com fungicidas tiveram três vezes mais chances de serem infectadas pelo parasita. Amplamente utilizados, pensávamos que os fungicidas fossem inofensivos para as abelhas, já que são concebidos para matar fungos, não insetos, em culturas como a de maçã.
“Há evidências crescentes de que os fungicidas podem estar afetando as abelhas diretamente e eu acho que fica evidente a necessidade de reavaliarmos a forma como rotulamos esses produtos químicos agrícolas”, disse Dennis vanEngelsdorp, autor principal do estudo.
Os rótulos dos agrotóxicos alertam os agricultores para não pulverizarem quando existem abelhas polinizadoras na vizinhança, mas essas precauções não são aplicadas aos fungicidas. (…)
Nos últimos anos, uma classe de substâncias químicas chamadas neonicotinóides tem sido associada à morte de abelhas e em abril os órgãos reguladores proibiram o uso do inseticida por dois anos na Europa, onde as populações de abelhas também despencaram. Mas Dennis vanEngelsdorp, um cientista assistente de pesquisa na Universidade de Maryland, diz que o novo estudo mostra que a interação de vários agrotóxicos está afetando a saúde das abelhas.
“A questão dos agrotóxicos em si é muito mais complexa do acreditávamos ser”, diz ele. “É muito mais complicado do que apenas um produto, significando naturalmente que a solução não está em apenas proibir uma classe de produtos.” (…)
Quartz News, 24/07/2013 – via Instituto EcoFaxina, 01/08/2013.
A alternativa agroecológica
Vandana Shiva: o agronegócio é um modelo esgotado
“A agricultura industrial é a padronização do conhecimento, é a negação do conhecimento sobre a arte de cultivar a terra. Porque o verdadeiro conhecimento é desenvolvido pelos próprios agricultores, e pelos pesquisadores, em cada região, em cada bioma, em cada planta.”
O jornal Brasil de Fato publicou entrevista com a cientista indiana Vandana Shiva, que esteve no interior de São Paulo na semana passada para participar do III Encontro Internacional de Agroecologia.
“Quando perguntada sobre as recomendações que daria aos jovens, aos estudantes de agronomia, aos agricultores praticantes da agroecologia, Vandana Shiva elencou seis pontos:
Primeiro: disse que a base da agroecologia é a preservação e a valorização dos nutrientes que há no solo. Neste instante, a indiana fez referência a outra cientista presente na plateia que a assistia muito atenta, a professora Ana Maria Primavesi. “Precisamos ir aplicando as técnicas que garantam a saúde do solo, e dessa saúde, recolheremos frutos com energia saudável.”
Segundo: estimular que os agricultores controlem as sementes. As sementes são a garantia da vida. “Nós não podemos permitir que as empresas transnacionais transformem nossas sementes em meras mercadorias. As sementes são um patrimônio da humanidade.”
Terceiro: precisamos relacionar a agroecologia com a produção de alimentos saudáveis que garantam a saúde e assim conquistar os corações e mentes da população da cidade, que está sendo cada vez mais envenenada pelas mercadorias com agrotóxicos. “Se vincularmos os alimentos com a saúde das pessoas, ganharemos milhões de pessoas da cidade para a nossa causa.”
Quarto: precisamos transformar os territórios em que os camponeses têm hegemonia em verdadeiros santuários de sementes, de árvores sadias, de cultivo da biodiversidade, da criação de abelhas, da diversidade agrícola.
Quinto: precisamos defender a ideia que faz parte da democracia, a liberdade das pessoas de terem opções de alimentos. Elas não podem mais serem reféns dos produtos que as empresas colocam nos supermercados de acordo com a sua vontade apenas.
Sexto: precisamos lutar para que os governos parem de usar dinheiro público – que é de todo o povo – para subsidiar, transferir esses recursos para os fazendeiros. Isso vem acontecendo em todo o mundo e também na Índia. O modelo do agronegócio não se sustenta sem os subsídios e vantagens fiscais que os governos lhes garantem.”
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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