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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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A CTNBio e o pé de feijão
Número 626 – 26 de abril de 2013
Car@s Amig@s,
Em 2011 a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança liberou o uso comercial do feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa. Diferentemente das plantas modificadas até então comercializadas, o novo feijão pretende regular a expressão de genes a partir da modificação de seu RNA visando controlar doença que afeta a plantação. Já o milho, a soja e o algodão transgênicos existentes no mercado tiveram seu DNA alterado em laboratório para produzir novas proteínas que tornam as plantas resistentes a herbicidas ou letais a insetos.
As avaliações prévias de risco devem ser caso a caso, mas a difusa ideia de um suposto “histórico seguro de uso dos transgênicos” é arroz de festa nos pareceres técnicos que aprovam sua produção e comercialização. No caso do feijão, a ideia do histórico perde ainda mais aderência já que seu mecanismo de modificação genética é outro, buscando uma nova molécula de RNA e não uma nova proteína. Trata-se do RNA de fita dupla (double stranded RNA, ou dsRNA).
Isso é bastante diferente do processo mais comum, em que o DNA é modificado para que, no momento em que uma de suas sequências seja lida e copiada, seja originado um pedaço de RNA mensageiro (mRNA), que participará da formação da nova proteína.
Artigo recente publicado na conceituada revista científica Environment International traz uma revisão sobre o assunto reunindo evidências de que o dsRNA pode silenciar ou ativar genes, e que os genes silenciados podem ser transmitidos aos descendentes de organismos que consumirem ou mesmo inalarem dsRNA. Entre as pesquisas citadas está uma que identificou dsRNA de plantas na corrente sanguínea, sugerindo que o material sobrevive ao cozimento e à digestão. Já se identificou pelo menos um dsRNA de plantas que alterou a expressão de genes em ratos. Sabe-se também que esse material pode ter longa persistência no ambiente.
A partir de casos submetidos às autoridades de biossegurança na Austrália, Nova Zelândia e Brasil os autores do estudo concluíram que a segurança do dsRNA não foi avaliada, ou então que essas moléculas foram consideradas seguras a despeito da inexistência de evidências para tanto. No Brasil, o feijão foi o caso estudado. “Os três órgãos decidiram que não havia risco a ser considerado baseados em suas próprias alegações, incorretas e não comprovadas”, dizem os autores.
O RNA é parte inerente de todo organismo. Os potenciais efeitos adversos do dsRNA são determinados pela sequência de nucletídeos na molécula e não pela natureza química do RNA. Além disso, há diferenças entre a sequência das moléculas de dsRNA nas plantas transgênicas e naquelas encontradas na natureza, fato que torna sem fundamento alegar que todo o dsRNA é seguro.
Há muito ainda a ser investigado e entendido nesse campo, que começa agora a ser explorado em detalhe. Tanto é que os pesquisadores da Embrapa que desenvolveram o feijão transgênico assumem que “Ainda não foi determinado o motivo pelo qual essas duas estruturas em particular conferiram resistência ao vírus, [uma vez que] a estrutura dos transgenes demanda tempo e deve ser investigada”. Ou seja, na dúvida, a CTNBio achou melhor aceitar as incertezas e liberar.
O presidente da Comissão produziu uma resposta aos autores do artigo na Environmental International, na qual descreve uma cadeia de procedimentos usados para análise de risco de um organismo transgênico. A fonte citada não é uma normativa da CTNBio, mas livro publicado pelo International Life Sciente Institute – ILSI, uma entidade financiada por empresas como Monsanto, Syngenta etc. – as mesmas que estão entre os patrocinadores de congresso de biossegurança divulgado pela CTNBio em sua página eletrônica.
O pesquisador responsável pelo feijão subiu o tom e disse que a brasileira co-autora das críticas deveria “responder em juízo algumas coisas que estão escritas no artigo”.
Um outro integrante da mesma CTNBio viu nas críticas ao processo de liberação do feijão o dedo de “profetas da catástrofe e arautos do medo [seguidores de uma] tendência que em nossos dias se ancora em pseudo-ciência com a ajuda providencial de uma distorção do que é risco baseada no recém-inventado ‘princípio da precaução’ em interpretação extrema”. Nada muito distante dos argumentos que se ouve na comissão e que guiam os votos que aprovam as liberações de transgênicos.
Diante de casos de decisões que se basearam a priori em pressupostos que dispensaram a avaliação do risco das novas moléculas ao invés de requerer evidências experimentais da ausência de efeitos adversos, os autores – uma brasileira, uma australiana e um neozelandês – propõem um procedimento para a adequada avaliação da segurança de organismos transgênicos que produzem dsRNA antes que estes sejam liberados para produção comercial e comercialização. Proposta razoável fossem as decisões nacionais baseadas em conhecimento técnico e biossegurança.
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Com informações de:
E se os doutores estiverem errados?, novembro de 2011
ENSSER calls for scientific debate of potential health risks of GM wheat instead of ad hominem attacks on researchers, 19/11/2012
A comparative evaluation of the regulation of GM crops or products containing dsRNA and suggested improvements to risk assessments, 20/03/2013
New kinds of GM plants and pesticides not being assessed for safety, 21/03/2013
Pesquisadores alertam que órgãos reguladores falham ao analisar riscos de novos transgênicos, 22/03/2013
New paper on dsRNA risks – briefing for non-specialists, 22/03/2013
New paper on dsRNA type GMOs – Q&A with the authors, 22/03/2013
“Novos” perigos dos transgênicos: proteínas saídas de promotores virais e RNAs malignos – renovada esperança para ecoradicais, 10/04/2013
Securing the safety of genetic modification, 15/04/2013
Polêmica à mesa, 16/04/2013
Parecer Técnico CTNBio nº 3024/2011 – Liberação Comercial de feijoeiro geneticamente modificado resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro
Proposta de Liberação Comercial de Feijoeiro Geneticamente Modificado Resistente ao Mosaico Dourado – Evento Embrapa 5.1 (EMB – PVØ51 – 1)
Avaliação de risco da CTNBio inclui os OGMs obtidos por tecnologia de interferência de RNA
Sobre o ILSI
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Neste número:
1. Estudo mostra como herbicida usado nas culturas de soja e cana é cancerígeno para ratos
2. Entidades ambientalistas podem entrar na Justiça contra troca-troca transgênico no RS
3. Fetraf-Sul foi contra troca troca do milho transgênico
4. Pesquisa a campo confirma: Equador está livre de sementes transgênicas
5. Financial Times: mudança de regras para avaliação de medicamentos iria “eliminar o setor de biotecnologia no Reino Unido”
A alternativa agroecológica
Mutirões da Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar começam no fim de abril
Eventos:
Os impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do município de Rio Azul (PR) e alternativas Agroecológicas
Dia 27 de abril de 2013
Local: Câmara Municipal de Rio Azul – Paraná
No evento, serão apresentadas as conclusões da pesquisa: “Investigação dos Processos de Contaminantes Químicos e seus Impactos na Saúde da População e Trabalhadores Expostos no Paraná” – NESC/TUIUTI
Veja a programação completa no blog Em Pratos Limpos.
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1. Estudo mostra como herbicida usado nas culturas de soja e cana é cancerígeno para ratos
Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou o modo de ação do diuron, um herbicida amplamente utilizado nas culturas de soja e cana-de-açúcar, que provocou câncer na bexiga de ratos.
“Mostramos que, quando eliminados pela urina, o diuron ou seus metabólitos provocam necrose em múltiplos focos do urotélio, o revestimento da bexiga. Em resposta, esse revestimento prolifera para substituir as áreas lesadas. A proliferação celular contínua, se mantida durante muito tempo, acaba levando a erros nas sucessivas cópias do DNA, alguns deles predispondo ao desenvolvimento de tumores”, disse o médico João Lauro Viana de Camargo, professor titular de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do estudo, que teve apoio da FAPESP.
Segundo o pesquisador, esse modo de ação evidencia que o diuron atua de forma não genotóxica, isto é, não provoca, de início ou diretamente, lesão de DNA. Tal lesão tende a ocorrer em momentos posteriores, se a exposição for mantida por tempo longo. O potencial cancerígeno desse herbicida para a espécie humana já havia sido alertado pela United States Environmental Protection Agency (EPA), a agência de proteção ambiental do governo dos Estados Unidos.
O estudo realizado na Unesp por pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Instituto de Biociências do campus de Botucatu, e do Instituto de Química do campus de Araraquara – que contou com a participação de pesquisadores da EPA e da University of Nebraska, em um total de 25 profissionais envolvidos – confirmou o potencial cancerígeno do diuron para os ratos e mostrou que tal condição pode ocorrer mesmo com doses cinco vezes menores do que aquelas antes consideradas nocivas.
“As alterações provocadas pelo diuron na bexiga do rato ocorrem segundo uma relação dose-resposta, isto é, quanto maior a dose, mais alterações moleculares, ultraestruturais e histológicas acontecem”, explicou Camargo. “Nesta linha, identificamos a chamada ‘dose limiar’ – uma quantidade abaixo da qual o herbicida não é cancerígeno, mesmo se o animal for exposto a ele por tempo prolongado.”
De acordo com o pesquisador, a toxicidade do produto manifesta-se bem cedo, já no primeiro dia de exposição a altas doses. “Avaliada por sua expressão gênica, a resposta do urotélio é aparentemente adaptativa, sugerindo que, se a exposição for interrompida, a bexiga voltará ao normal. O problema existirá se as doses forem altas e a exposição mantida por longo tempo”, afirmou.
Outra observação feita durante os sucessivos estudos foi que, quando fornecido em doses relativamente altas para ratos, o diuron provoca toxicidade sanguínea.
“Nesse caso, o alvo predominante é o baço, um órgão relacionado à imunidade e ao suprimento sanguíneo, que de modo consistente mostrou volume aumentado devido a excesso de sangue e acúmulo de restos celulares”, disse Camargo. Essa alteração também foi verificada na prole masculina de ratas prenhes que haviam recebido o diuron em altas doses.
O estudo sobre o diuron fez parte de uma pesquisa mais abrangente – o Projeto Temático “Praguicidas agrícolas como fator de risco” –, realizada com apoio da FAPESP de 2007 a 2012.
No Temático, além do diuron os pesquisadores investigaram também os efeitos, em ratos e camundongos, de cinco praguicidas cujos resíduos foram encontrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no tomate à disposição da população brasileira.
“Ratos machos, alimentados durante oito semanas com ração contendo aquela mistura de praguicidas em doses relativamente baixas, apresentaram o sistema hepático de biotransformação de substâncias químicas potencialmente mais ativo”, disse Camargo.
Essa descoberta sugere que os organismos dos animais estariam fazendo um esforço extra para se livrar das substâncias estranhas a que estavam sendo expostos. Mas a mistura não promoveu o desenvolvimento de câncer hepático em ratos que haviam sido tornados artificialmente predispostos a este tipo de doença.
No entanto, outro efeito preocupante foi constatado. Os ratos machos alimentados com a ração contendo os praguicidas apresentaram redução na mobilidade dos espermatozoides. “Este achado pode indicar o comprometimento da fertilidade dos animais”, disse Camargo.
Seu cuidado em dizer “pode indicar”, e não “indica”, se deve ao fato de não terem sido verificadas alterações em outros parâmetros relacionados ao sistema reprodutor masculino, como os níveis dos hormônios sexuais, a morfologia espermática, a produção diária de espermatozoides, a velocidade de trânsito pelo epidídimo – o ducto que coleta os espermatozoides, produzidos nos testículos – e a estrutura histológica dos testículos e epidídimos. (…)
Agência FAPESP, 22/04/2013.
2. Entidades ambientalistas podem entrar na Justiça contra troca-troca transgênico no RS
Entidades ambientalistas do Rio Grande do Sul podem ingressar na Justiça contra a decisão aprovada ontem (23) pelo Conselho Administrativo do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Empreendimentos Rurais (Feaper) reintroduzindo sementes transgênicas no Programa Troca-Troca de Sementes de milho para a safra 2013-2014. Essas entidades consideraram a decisão “absurda e retrógrada, que usa dinheiro público para vender sementes contestadas cada vez mais no mundo inteiro”, conforme afirma relato de Paulo Brack, coordenador da APEDEMA-RS (Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente), que reúne 37 entidades ambientalistas do Estado.
Essa decisão, diz Brack, “vai de encontro ao interesse da população gaúcha, pois disseminaria maior contaminação genética, maiores riscos à saúde e meio ambiente, deixando os agricultores familiares mais vulneráveis a megaoligopólios de sementes patenteadas, interessados em manter a cadeia da insustentabilidade que sustenta seus lucros”. Além de ações na Justiça, os ambientalistas avaliam também a possibilidade de desencadear uma “grande campanha de boicote crescente aos produtos transgênicos, buscando-se maior aproximação com os produtores agroecológicos, disseminando-se práticas mais solidárias de consumo, que promovam a agrobiodiversidade brasileira e rechacem o cerco perverso do megamercado globalizado, ligado à agricultura industrial e suas tecnologias totalitárias”.
O Conselho que aprovou a reintrodução das sementes transgênicos de milho é formado pelas seguintes entidades: SDR, SEAPA, SEFAZ, SEPLAG, ASCAR/EMATER, CEASA, BANRISUL, BADESUL, FETAG, FETRAF-SUL/CUT, ARPA (MPA), OCERGS, COCEARGS, FECOAGRO, FARSUL e FAMURS. Segundo o mesmo relato, os três únicos votos contrários à proposta foram da FETRAF-SUL, Banrisul e ASCAR/Emater.
A entidade que puxou o voto favorável aos transgênicos no Troca-troca, quebrando a decisão tomada no ano passado pela maioria que era contrária a essa liberação, foi a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), afirma ainda Paulo Brack. O presidente da entidade, Elton Weber, teria comemorado a inclusão das sementes transgênicas, pois a medida atenderia ao “pleito da pauta do Grito da Terra Brasil entregue ontem (22) ao governador Tarso Genro”. O argumento utilizado para justificar a decisão era o de “tornar o RS autossuficiente na produção do grão” (o programa em questão é responsável por mais de 30% da área plantada de milho no Estado).
Representantes da Apedema e do Movimento Gaúcho em defesa do Meio Ambiente (Mogdema), reivindicaram assento para assistir a reunião do Conselho, ontem. O Secretário da SDR, Ivar Pavan, permitiu que os mesmos apresentassem brevemente documentos de alerta ao colegiado sobre o risco da liberação de organismos geneticamente modificados) no Troca-Troca. Paulo Brack conta como foi:
“Após breve considerações dos ambientalistas, o Secretário ‘convidou-os’ a sair da sala antes da votação, alegando ‘falta de espaço’ e que a ‘sala era pequena’ para permanecerem. Tal procedimento foi criticado pelos ambientalistas, pois, segundo eles, contradiz com a transparência e o acesso à informação em atos públicos, já que se tratam de recursos públicos (entre de 25 a 30 milhões de reais) e a decisão implica um conjunto de riscos à saúde, ao meio ambiente, à soberania alimentar e autonomia dos agricultores familiares, segundo documentos entregues pelas entidades”.
Um dos dados apresentados pelos ambientalistas na reunião foi o estudo de setembro de 2012, de um grupo de pesquisadores da França liderados por Gilles-Éric Seralini, que realizou testes de longo prazo com cobaias com o uso de ração de milho GM (NK 603), constatando o aparecimento de câncer em rins e fígado em frequência maior do que em animais não alimentados com milho transgênico. Além disso, advertiram para o risco da contaminação genética e das sementes, além do aumento de 70% no uso de agrotóxicos entre 2002 e 2011, segundo dados de órgãos do próprio Governo (MAPA), logo após a liberação do uso de transgênicos no Brasil. Um dos ambientalistas presentes levantou a questão do risco da contaminação do milho crioulo das comunidades indígenas, pelas variedades de milho transgênico.
Na avaliação dos representantes dos movimentos ambientalistas, o Estado do Rio Grande do Sul “deveria prezar por assegurar uma produção de sementes crioulas e convencionais, livres de contaminação, além de incrementar sistemas agroecológicos, longe da atual produção monocultural que dissemina o uso de venenos, pois apresenta maior vulnerabilidade nos sistemas agrícolas e maior dependência do agricultor a monopólios de sementes GMs, com a venda casada de biocidas”.
Por Marco Aurélio Weissheimer – RS Urgente, 24/04/2013.
3. Fetraf-Sul foi contra troca troca do milho transgênico
O Conselho Administrativo do Feaper aprovou nesta terça-feira, 23, a inclusão das sementes de milho transgênicas no Programa Troca-Troca do Governo do Rio Grande do Sul. Em 2012, por intercessão de algumas entidades da agricultura familiar, inclusive da FETRAF-SUL/CUT, a semente transgênica não foi incluída no Programa. O governo do Estado alegou neste ano que somente a distribuição de sementes crioulas (convencionais) não seria suficiente para atender a demanda dos agricultores gaúchos.
A coordenadora da FETRAF-SUL/CUT no Rio Grande do Sul, Cleonice Back, participou da reunião e foi contrária á decisão de incluir sementes transgênicas no Programa Troca-Troca. “Entendemos que os agricultores ficam dependentes das empresas responsáveis pela tecnologia”, disse. As variedades de milho são multiplicadas pelos agricultores familiares, comunidades indígenas e quilombolas se tornando fundamentais na segurança alimentar destes povos e também na produção de alimentos.
A contaminação destas variedades na lavoura coloca em risco a segurança alimentar de milhares de agricultores e interfere na cultura e religiosidade dessas comunidades. “Acreditamos que o governo do Estado não conseguirá fiscalizar as lavouras para evitar a contaminação da produção convencional de milho”, ressaltou Cleonice.
Ficou aprovado também que o governo do Estado dará subsídio apenas ao valor equivalente á semente de milho híbrido (R$ 105,00) e o restante do valor (R$ 115,00) que corresponde à tecnologia do produto deverá ser pago no ato da reserva. As sementes crioulas terão subsídio de 50% e não mais de 30% como na última etapa do Programa Troca-Troca.
Fetraf Sul, 24/04/2013.
4. Pesquisa a campo confirma: Equador está livre de sementes transgênicas
A ONG Acción Ecológica, a Rede por uma América Latina Livre de Transgênicos (RALLT) e a Coordinadora de Defensa del Manglar (CCONDEM) confirmaram que o Equador é um país livre de sementes de milho transgênico. Essa afirmação está fundamentada em estudo realizado em 15 províncias do país, nas quais foram coletadas mais de 400 amostras de variedades de milho crioulo, industrial e híbrido nos últimos dois anos.
“Escolhemos o milho porque é o cultivo mais importante do Equador, plantado nas 24 províncias; além disso, o milho é o segundo cultivo transgênico em nível mundial, depois da soja”, explicou Elizabeth Bravo, coordenadora científica da pesquisa.
A metodologia consistiu em avaliar a existência de três proteínas transgênicas nas folhas do milho antes da floração, segundo explicaram as organizações participantes do estudo. A ausência de transgênicos “é algo que temos que agradecer a nossos agricultores, nossos camponeses que souberam proteger nosso patrimônio genético”, disseram.
Meninos e meninas de diversos povos do Equador entregaram um mandato às autoridades, comprometendo-as a manter o país livre de transgênicos, e lamentaram a ausência de parlamentares e outras personalidades convidadas. “Estamos entregando um país livre de transgênicos aos parlamentares eleitos e esperamos que isto continue assim”, dizia a carta da menina Daniela Gallardo. O evento foi realizado no Dia Mundial da Terra.
Tegantai – Agencia Ecologista de Información (Equador), 22/04/2013.
5. Financial Times: mudança de regras para avaliação de medicamentos iria “eliminar o setor de biotecnologia no Reino Unido”
Empresas britânicas de biotecnologia seriam estranguladas se fossem aprovadas as propostas de liberação de detalhes sobre os testes de medicamentos experimentais em pacientes, alertou um médico pesquisador e assessor do governo.
John Bell, professor da escola de medicina em Oxford e um dos assessores do governo no tema das ciências da vida, disse que os planos da Agência Europeia de Medicamentos de divulgar todos os dados quando for avaliada uma nova droga “iriam essencialmente eliminar o setor de biotecnologia no Reino Unido”.
Seu alerta estava incluído em comentários entregues por escrito antes das audiências com o setor farmacêutico, agendadas para o dia 22 de março na comissão de ciência e tecnologia da Câmara dos Comuns (equivalente à nossa Câmara dos Deputados), que está revisando a legislação referente aos testes clínicos de medicamentos. (…)
Bell é também membro do conselho da Roche, a empresa de base suíça fabricante do Tamiflu, um medicamento de sucesso contra a gripe cuja eficácia tem sido questionada por acadêmicos. (…)
Kent Woods, chefe-executivo da Agência Regulatória de Medicamentos e Produtos para a Saúde, o órgão britânico responsável pela aprovação de medicamentos, disse que a “confidencialidade comercial” utilizada para manter em segredo as análises clínicas para medicamentos tem sido uma desculpa que serve para tudo.
Ele, entretanto, admitiu que as empresas deveriam poder proteger de seus competidores seu know-how comercial sobre processos de fabricação. Ele ainda advertiu sobre a possibilidade de má interpretação de dados caso os dados brutos dos testes sejam tornados públicos. “Existe de fato um lado negativo de se colocar informação errada em domínio público. Isso traz implicações relacionadas à morbidade e à mortalidade”, disse.
Drug test rules ‘would eliminate biotechnology sector in UK’ – Financial Times, 21/04/2013.
A alternativa agroecológica
Mutirões da Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura Familiar começam no fim de abril
O trabalho de fortalecimento da agricultura familiar agroecológica desenvolvido pelo Polo da Borborema na Paraíba, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, tem se preocupado em inserir a família como um todo nos processos de formação e experimentação. Trabalhar com a família é, sobretudo, considerar as diferenças entre cada um de seus membros: homens, mulheres, jovens, crianças ou idosos. Assim, em 2002, surge o trabalho com a infância e, posteriormente, com a juventude, na perspectiva de estimular uma formação que valorize a vida no campo e o modo de produção da agricultura familiar. Foi criada a Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura que a partir de uma proposta de educação que valorize a realidade das crianças e da juventude camponesa, busca afirmar a identidade dos sujeitos, debater futuro da agricultura familiar e do meio ambiente.
No dia 26 de abril, no sítio Araçá, município de Arara, acontecerá o primeiro mutirão de 2013. Os mutirões são uma importante ação da campanha, trata-se de encontros de um dia com cada comunidade (ou grupos unindo duas ou mais comunidades) realizados duas vezes ao ano, que por meio de uma metodologia que considera o conhecimento e a realidade das famílias agricultoras, une brincadeiras com formação em torno de um tema específico. “Este ano o tema trabalhado será o das sementes, usando o teatro nós vamos falar com as crianças sobre o processo de germinação e a importância do cuidado para que ela cresça e dê frutos. Já com os jovens, nós vamos discutir a importância diversidade das sementes locais, as sementes da paixão e os Bancos de Sementes. Vamos visitar os bancos comunitários de cada localidade onde os mutirões vão acontecer e pedir que cada um traga um tipo de semente que considera importante”, explica Ana Paula Anacleto, assessora do Núcleo de Infância e Juventude da AS-PTA.
A realização dos mutirões é precedida por um processo de preparação junto às 110 comunidades dos 13 municípios onde irão acontecer os 51 encontros de 2013. A preparação inclui um processo de planejamento com representação de jovens das comunidades envolvidas nos mutirões e oficinas de brincadeiras e de teatro com aqueles que vão participar das apresentações e encenações no dia do mutirão. “Em 2002 quando a Campanha começou, atuávamos em três municípios Lagoa Seca, Solânea e Remígio, envolvendo cerca de 600 crianças, o trabalho foi evoluindo e hoje 3.500 filhos e filhas de agricultores participam das atividades da Campanha, destes quase 1.500 são jovens”, explica Ana Paula Anacleto.
Maria Gabriela Galdino dos Santos, ou Gabi, como é chamada, tem 17 anos e desde os oito participa da Campanha, ela mora no sítio Nicolândia, município de Massaranduba: “Comecei a participar em 2003, um dia a esposa do meu tio foi cozinhar em um mutirão no sítio vizinho, Aningas, e me chamou para um dia de brincadeiras lá, eu fui e nunca mais deixei de participar”, conta. Hoje a adolescente é animadora dos mutirões, brinca com as crianças e ajuda a organizar e planejar as ações que envolvem jovens e crianças no âmbito da Campanha e nas dinâmicas do Polo da Borborema, ela é secretária da Associação Comunitária que une a sua comunidade Nicolândia e a de Aningas. Gabi participa ainda da Comissão de Jovens do Sindicato de Trabalhadores Rurais do seu município e está a frente de vários processos ligados à juventude, a exemplo de um Fundo Rotativo Solidário de cabras do Sindicato que já tem a participação de 11 jovens, entre outras ações: “Com os jovens de Massaranduba realizamos oficinas de canteiros alternativos, de enxertia, de sal mineral, de biofertilizante. Também mutirões de produção de mudas e já estamos com animais para ampliar o Fundo Rotativo Solidário para mais outro grupo”.
Gabi conta que no seu município começaram a despertar para a importância do trabalho envolvendo a juventude em 2010, depois da realização do I Encontro da Juventude Camponesa da Borborema, uma atividade da Campanha, realizado pelo Polo da Borborema e pela AS-PTA: “A gente viu que, trabalhando nessa construção de uma nova mentalidade a respeito da agricultura familiar com as crianças, elas já vão crescer mais conscientes e ver a vida na agricultura de uma nova maneira. Já o jovem, muitas vezes, já vem com uma consciência formada, por isso vimos a necessidade de fazer um trabalho voltado para os jovens”.
Gabriela acredita que neste trabalho a escola tem papel fundamental: “Estamos conseguindo ter a participação dos professores, que durante um mês inteiro seguem trabalhando em sala de aula os assuntos trazidos pelos mutirões nas oficinas de brincadeiras e no teatro”. Ana Paula Anacleto afirma que não se pode trabalhar só com as crianças e os jovens, pois existe um contexto que influencia a noção que eles formam sobre a sua vida na agricultura do qual fazem parte professores, diretores, catequistas, pessoas que, em muitos casos, têm sido estimuladas pelas próprias crianças a participar da Campanha. Segundo Ana Paula, o trabalho em parceria com a escola já trouxe avanços: “Acredito que a gente vêm conseguindo mudar a concepção dos professores sobre esse assunto, antes eles aceitavam mais os conteúdos impostos pelos livros escolares, hoje a gente vê que eles já têm uma visão mais crítica com relação à forma como estes materiais tratam a educação no campo”, avalia.
A Campanha de Fortalecimento da Vida na Agricultura conta com o apoio da ActionAid.
AS-PTA, 24/04/2013.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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