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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 630 – 31 de maio de 2013
Car@s Amig@s,
Cerca de 50 milhões de hectares são cultivados com sementes transgênicas na América Latina. Só Brasil e Argentina juntos jogam em suas lavouras modificadas mais de 500 mil toneladas por ano de agrotóxicos à base de glifosato. O produto é classificado como sendo de baixa toxicidade, mas estudos recentes vêm demonstrando seus efeitos teratogênicos e sua responsabilidade pela má-formação fetal, mesmo em concentrações quinhentas vezes menores do que as recomendadas pelos fabricantes.
Em Córdoba, na Argentina, um levantamento feito no Bairro Ituzaingó Anexo revelou que a incidência de câncer aumentava com a proximidade dos campos de soja. Até 2010 foram aí registrados 169 casos da doença, dos quais mais de 30 vieram a óbito. São populações ilhadas pela soja e expostas a banhos de agrotóxicos jogados por aviões, como os alunos e professores da Escola São José do Pontal, em Rio Verde, Goiás (veja abaixo).
O tripé “semente transgênica – herbicidas – plantio direto” tem possibilitado uma expansão ainda maior das monoculturas extensivas, acelerando o desmatamento e em muitos casos levando a fortes conflitos por terra, como no caso do Paraguai. Mais de 90 mil pessoas deixaram a zona rural do país nos últimos anos.
O avanço desse modelo tem elevado o preço das terras em função da crescente procura por parte de estrangeiros e empresas multinacionais. No Uruguai, em dez anos multiplicou-se por seis o valor da terra, seja para arrendamento ou para venda. Nesses mesmos dez anos o país perdeu 40% de suas pequenas propriedades de até 19 hectares e 19% daquelas com até 99 ha. Quase metade da soja produzida é controlada por seis empresas. Capitais brasileiros controlam 87% do arroz produzido no país.
Na região andina a soja não tem a mesma presença. O Peru decretou moratória aos transgênicos no país, e o Equador tem a proibição em sua constituição, embora ronde uma ameaça à sua manutenção em função do novo processo constituinte pelo qual passará o país e dos interesses de reeleição de Rafael Correa. E resta a ameaça do milho transgênico em países com rica biodiversidade e cultura alimentar relacionada ao grão, como México, Guatemala, Colômbia, Bolívia e outros. A contaminação dos recursos genéticos nesses centros de origem e de diversidade genética da espécie tem efeitos desconhecidos e imprevisíveis, e por isso já foi chamada de crime de lesa-humanidade.
Mas em todos países da região onde chegam as seis grandes empresas do setor com seus pesquisadores ponta de lança, a sociedade se organiza para fazer frente a esse modelo. Além de expor todos os prejuízos e impactos proporcionados por essa neocolonização da região, uma infinidade de iniciativas agroecológicas de produção, consumo e de uma outra perspectiva de relação com a natureza são apresentadas como alternativa. São, por exemplo, os territórios indígenas colombianos autodeclarados áreas de conservação da agrobiodiversidade e livres de transgênicos e o caso da Costa Rica, onde a partir de marchas, caminhadas, debates, feiras e todo um processo de mobilização, 56 de suas 81 administrações regionais se decretaram regiões livres de transgênicos. Faltam apenas 25!
Esse quadro foi debatido na última semana em Bogotá, Colômbia, com a representação de organizações, movimentos sociais, pesquisadores, agricultores e indígenas de doze países da região reunidos por iniciativa da Red América Latina Libre de Transgénicos – RALLT e do Grupo Semillas. As organizações saíram fortalecidas do debate e com uma agenda coletiva para reforçar as ações de resistência e de construção de alternativas.
Como bem colocou um companheiro mexicano ao falar da riqueza de sementes nativas existentes em seu país, “no limite, podemos dizer que cada agricultor tem a sua variedade de semente. E se são milhões de agricultores, são milhões de variedades”.
O México, berço do milho, não pode ser dependente de importações do grão norte-americano. Resgatar essas sementes é resgatar a soberania das nações.
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Neste número:
1. Monsanto perde processo criminal contra movimentos sociais
2. Governo gaúcho recebe documento em defesa do milho crioulo e da biodiversidade
3. A Monsanto dentro das revistas científicas
4. Monsanto sofre novo revés em caso de patente
5. Pesquisador da Embrapa alerta sobre riscos da resistência de plantas daninhas
6. Pragas resistentes a milho transgênico mostram a ineficiência da tecnologia
A alternativa agroecológica
Caravana Agroecológica vai ao encontro de famílias que resistem ao avanço do agronegócio em Minas
Dica de fonte de informação:
Assista ao depoimento do diretor da escola de Rio Verde – GO que foi banhada por veneno despejado de avião agrícola.
O mono-motor sobrevoou, às 09hs20, do dia 03/05/2013, a escola pública localizada no Projeto de Assentamento “Pontal dos Buritis”, que abriga 150 famílias, às margens da Rodovia GO-174, no município de Rio Verde/GO. Num período de 20min, o piloto sobrevoou por 5 vezes a escola, em especial a quadra de concreto, molhando 60 crianças que ali se encontravam com o pesticida “Engeo Pleno”, da empresa Syngenta. Os alunos, com idade entre 4 a 16 anos, que naquele momento lanchavam a céu aberto, engoliram o composto denominado piretroide (classe toxicidade 3 e 4), sem conhecimento perigo no primeiro instante.
“Naquele momento eu pensei que poderia morrer”, diz o diretor da escola. “As crianças ainda estão com medo de voltar para a escola. Foi um transtorno muito grande na vida delas. Como vai ser a vida dessas crianças daqui pra frente?”
Evento:
3ª Festa das Sementes Orgânicas e Biodinâmicas do Sul de Minas Gerais
Dia 22 de junho de 2013, em Sapucaí Mirim (MG), bairro dos Pires
Contatos: (35) 9861-5152 / 9871-5325
Realização: Associação Biodinâmica e Associação de Agricultores Orgânicos e Biodinâmicos Serras de Santana
Tragam sementes para troca!
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1. Monsanto perde processo criminal contra movimentos sociais
A transnacional entrou com processo criminal contra integrantes de organizações e movimentos sociais em 2005. A decisão do TJ demonstra o reconhecimento da legitimidade dos sujeitos coletivos de direitos em meio ao processo de democratização da sociedade brasileira.
A transnacional Monsanto está em mais de 80 países, com domínio de aproximadamente 80% do mercado mundial de sementes transgênicas e de agrotóxicos. Em diferentes continentes, a empresa acumula acusações por violações de direitos, por omissão de informações sobre o processo de produção de venenos, cobrança indevida de royalties, e imposição de um modelo de agricultura baseada na monocultura, na degradação ambiental e na utilização de agrotóxicos.
No Brasil, a invasão das sementes geneticamente modificadas teve início há uma década, com muita resistência de movimentos sociais, pesquisadores e organizações da sociedade civil. No Paraná, a empresa Monsanto usou a via da criminalização de militantes como forma de responder aos que se opunham aos transgênicos.
Na última quinta-feira (23), desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ) absolveram por unanimidade cinco militantes acusados injustamente pela Monsanto de serem mentores e autores de supostos crimes ocorridos em 2003. A transnacional entrou como assistente de acusação na ação criminal em resposta à manifestação de 600 participantes da 2ª Jornada de Agroecologia, na estação experimental da empresa, em Ponta Grossa, para denunciar e protestar contra a entrada das sementes transgênicas no estado e as pesquisas ilegais e outros crimes ambientais praticados pela empresa.
Foram acusados Célio Leandro Rodrigues e Roberto Baggio, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, José Maria Tardin, à época integrante da AS-PTA – Assessoria e Serviços em Agricultura Alternativa, Darci Frigo, da Terra de Direitos, e Joaquim Eduardo Madruga (Joka), fotógrafo ligado aos movimentos sociais. Em claro sinal de criminalização, a transnacional atribuiu à manifestação, feita por mais de 600 pessoas, como responsabilidade de apenas cinco pessoas, usando como argumento a relação genérica dos acusados com os movimentos sociais.
Em sentido contrário, a decisão do TJ demonstra o reconhecimento da legitimidade dos sujeitos coletivos de direitos na sociedade brasileira. Segundo José Maria Tardin, coordenador da Escola Latina Americana de Agroecologia e da Jornada de Agroecologia do Paraná, o ato na sede da Monsanto em 2003 e posterior ocupação permanente da área chamaram a atenção em âmbito nacional e internacional para a ilegalidade das pesquisas com transgênicos.
Nos anos seguintes às denúncias, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e equipe técnica ligada ao governo do estado realizaram vistorias detalhadas nos procedimentos da transnacional. Foram confirmadas ilegalidades que violavam a legislação de biossegurança vigente.
A área ficou ocupada por trabalhadores sem terra durante aproximadamente um ano. Neste período, os camponeses organizaram o Centro Chico Mendes de Agroecologia e cultivaram sementes crioulas. Para Tardin, a agroecologia é o “caminho da reconstrução ecológica da agricultura, combatendo politicamente o modelo do agronegócio e do latifúndio”. (…)
Mundo contra a Monsanto
Mais de 50 países aderiram à “Marcha contra Monsanto” no último sábado (25), em protesto contra a manipulação genética e a monopólio da multinacional na agricultura e biotecnologia. A campanha contra a empresa teve como estopim o suicídio de agricultores indianos, que se endividam após serem forçados pelo mercado a ingressar na lógica de produção do agronegócio, tornando-se, anos mais tarde, reféns das sementes geneticamente modificas, agrotóxicos e outros insumos vinculados a esta lógica produtiva.
Com sede no estado de Missouri (EUA), a Monsanto desponta como líder no mercado de sementes e é denunciada nesta marcha por não levar em consideração os custos sociais e ambientais associados a sua atuação, além de ser acusada de biopirataria e manipulação de dados científicos em favor dos transgênicos.
A empresa é líder mundial na produção de agrotóxico glifosato, vendido sob a marca Roundup. O Brasil é o segundo maior consumidor dos produtos da Companhia, ficando atrás apenas da matriz americana. O lucro da filial brasileira em 2012 foi de R$3,4 bilhões.
Assista ao filme “O Mundo Segundo a Monsanto”, produzido pela francesa Marie-Monique Robin. O documentário foi lançado em 2008 e denuncia a gigante dos transgênicos.
Terra de Direitos, 27/05/2013
Leia mais sobre as manifestações contra a Monsanto realizadas em 436 cidades de 52 países no último fim de semana:
– Fora Monsanto de nossos corpos e de nossos campos! Viomundo, 27/05/2013.
– Um mundo melhor segundo a Monsanto – panfleto distribuído durante manifestações em São Paulo.
– Manifestação global pró-rotulagem – Valor Econômico, 28/05/2013 (Em Pratos Limpos).
– Monsanto enfrenta onda de protestos pelo mundo – Terra, 28/05/2013.
2. Governo gaúcho recebe documento em defesa do milho crioulo e da biodiversidade
Entidades ambientalistas pedem a não distribuição das sementes transgênicas pelo Troca-Troca e o investimento em Bancos de Sementes para garantir a soberania alimentar e nutricional dos gaúchos
Os representantes de entidades ambientalistas e estudantes que realizaram a Marcha contra a Monsanto hoje (25), em Porto Alegre (RS), entregaram um documento ao Secretário Executivo do Gabinete do Governador, Itiberê Borba, e também ao ex-presidente da Agapan e coordenador do Programa de Sustentabilidade do Governo, Francisco Milanez. No Salão dos Espelhos do Palácio Piratini, eles receberam uma cesta com variedades de milho crioulo, ofertadas pelo agricultor da Associação Agroecológica, Vilmar Menegat, provenientes do banco de sementes crioulas com grande biodiversidade que ele mantém.
O documento descreve os problemas vigentes gerados pela multinacional Monsanto nos países onde comercializa os transgênicos e os agrotóxicos, como a ameaça às sementes nativas e a biodiversidade local, o uso crescente de venenos para combater a manifestação da biodiversidade visando garantir a sua monocultura de grãos. O Brasil está prestes a conquistar em 2013, pela sexta vez consecutiva, o título de campeão no consumo de venenos, o que significa que a agricultura brasileira utiliza 20% do volume de agrotóxicos produzidos por empresas multinacionais, principalmente, a Monsanto. (…)
Os ativistas presentes requereram um posicionamento do Estado sobre a decisão do Conselho Administrativo do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Empreendimentos Rurais (Feaper), do Estado do Rio Grande do Sul (RS), no dia 23 de abril, de reintroduzir o produto transgênico da Monsanto no programa Troca-Troca de Sementes de Milho na próxima safra 2013/2014. Em 2010, entidades como o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) e o Fórum de Agricultura Familiar da Região Sul do RS, conseguiram reverter a decisão e possibilitaram a doação de cerca de 30 toneladas de milho crioulo a seis mil famílias de agricultores familiares. O pedido das entidades ambientalistas é para que o Governo impeça a introdução das sementes transgênicas nos campos da agricultura familiar pelo Troca-Troca e adote em seu Programa de Sustentabilidade o investimento em Bancos de Sementes Crioulas de modo a garantir a soberania alimentar e nutricional dos gaúchos.
O Secretário Executivo do Gabinete do Governador disse que Tarso Genro vai ter acesso ao documento e, também, à cesta que representa a biodiversidade do milho crioulo gaúcho. Itiberê Borba garantiu que o documento vai ser avaliado pelo Governo do Estado. Francisco Milanez parabenizou os ativistas e os estudantes que manifestaram-se pelas ruas de Porto Alegre contra o modelo de homogeneização da economia e da cultura pelo agronegócio, na Marcha contra a Monsanto. “A contaminação das lavouras por transgênicos é uma tragédia. Precisamos garantir o direito dos agricultores de cultivar as espécies nativas antes que a contaminação seja total e de preservar este patrimônio genético que pertence à humanidade,” disse.
O documento foi assinado pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), pela Associação Agroecológica, pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, pela Fundação Gaia – Legado Lutezenberger, pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), pela ONG IGRÉ Amigos da Água, pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), pelo Centro de Estudos Ambientais (CEA) e pela ONG Pachamama.
EcoAgência, 25/05/2013
3. A Monsanto dentro das revistas científicas
Em setembro de 2012 pesquisadores franceses publicaram na revista científica Food and Chemical Toxicolgy pesquisa mostrando que ratos alimentados com o milho NK 603 da Monsanto, com e sem o herbicida glifosato, apresentaram mortalidade mais alta e frequente, sendo que as fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais.
Pois então, a mesma Monsanto acaba de emplacar um ex-funcionário num cargo recém-criado no comitê editorial da revista. Richard E. Goodman, que trabalhou para a empresa entre 1997 e 2004, é seu novo Editor Associado para Biotecnologia.
Qual a chance de que uma nova pesquisa mostrando impactos dos transgênicos venha a ser publicada pela Food and Chemical Toxicolgy?
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Com informações de:
– The Goodman affair: Monsanto targets the heart of science – Independent Science News and Earth Open Source, 20 May 2013
– Former Monsanto employee put in charge of GMO papers at journal – New article exposes industry attempts to control scientific publishing. Independent Science News and Earth Open Source, 20 May 2013
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Ainda sobre o tema, veja Confiabilidade em crise, reportagem da revista Ciência Hoje de maio.
“Por trás da aparente objetividade da literatura científica, esconde-se um universo repleto de aleatoriedade, fontes de viés e conflitos de interesse”
Em Pratos Limpos, 20/05/2013
4. Monsanto sofre novo revés em caso de patente
A Monsanto sofreu mais uma derrota na disputa jurídica em torno da validade de sua patente sobre a soja transgênica no Brasil. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso da múlti americana que pedia a prorrogação da vigência da patente da soja RR, resistente ao herbicida glifosato. Cabe recurso da decisão no próprio STJ e no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por unanimidade, os quatro ministros da Terceira Turma referendaram a decisão inicial do ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, de fevereiro, que estabeleceu uma vigência de 20 anos a partir da data do primeiro depósito da patente no exterior, em 31 de agosto de 1990 – ou seja, até 1º de setembro de 2010. Desse modo, a companhia teria perdido os direitos econômicos sobre a tecnologia há mais de dois anos. Ela alega, porém, que seus direitos sobre a tecnologia são válidos até 2014, quando expira a última patente nos Estados Unidos.
Como a decisão não é definitiva, a cobrança de royalties poderia continuar, mas a própria empresa resolveu suspender o recolhimento junto aos produtores que se comprometerem a não pedir o reembolso dos valores pagos após setembro de 2010 em caso de derrota da empresa na Justiça. Pela proposta, os produtores ficariam isentos de pagar royalties em 2013 e 2014, mas abririam mão de questionar os valores pagos nos dois anos anteriores.
Apesar da suspensão da cobrança, a empresa fez uma ressalva [ou ameaça?]. Afirma que “continua documentando e mantendo as informações comerciais relativas àqueles que usam a soja RR durante este período de adiamento da cobrança”. (…)
Valor Econômico, 20/05/2013 (via Em Pratos Limpos)
5. Pesquisador da Embrapa alerta sobre riscos da resistência de plantas daninhas
A resistência de plantas daninhas é atualmente uma das principais preocupações da agricultura mundial. No Brasil, casos de resistência já ocorrem no Sul e começam a aparecer no Centro-Oeste. Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Fernando Adegas, é preciso fazer o controle correto para evitar que este problema chegue às lavouras de Mato Grosso.
O alerta está sendo feito a técnicos e produtores que participam do Encontro Nacional de Tecnologias de Safra (Entec$), em Lucas do Rio Verde [21 a 24 de maio]. (…)
De acordo com o pesquisador, a criação de resistência de plantas daninhas vem ocorrendo devido ao uso sucessivo de um mesmo herbicida, o glifosato, na dessecação para o plantio direto e no controle das lavouras geneticamente modificadas RR (Roundup Ready) de soja, milho e algodão. Com isto a população dos indivíduos resistentes aumenta, causando prejuízos às lavouras.
“Este é um dos principais problemas nos Estados Unidos, na Austrália, na Argentina e no Sul do Brasil. Vamos mostrar este cenário para não deixar isto acontecer no Cerrado. Provavelmente o problema vai chegar. Queremos reduzir a intensidade para ver se o pessoal se prepara melhor, para ter menor custo”, alerta Fernando Adegas.
Segundo o pesquisador, no Brasil há cinco espécies resistentes ao glifosato. Uma é o azevém, mais comum em regiões temperadas, como Rio Grande do Sul e Paraná, e que não deve chegar a Mato Grosso. Há ainda três espécies de buva e o capim amargoso, as quatro com incidência no estado.
Soluções
Para evitar que o problema da resistência de plantas daninhas aos herbicidas acometa as lavouras mato-grossenses, Adegas cita duas medidas que podem ser adotadas: rotação de herbicidas e formação de palhada.
De acordo com o pesquisador, houve uma redução na oferta de herbicidas, mas ainda há opções para serem alternadas com o glifosato.
“Ainda existem alternativas, apesar de terem diminuído muito. Só para ter uma ideia, em outros países havia de 30 a 40 produtos. Quando começou a utilizar o glifosato, voltou a ser 3 a 4 produtos utilizados. Continuamos com outras alternativas, mas não estamos utilizando. Precisamos voltar a utilizá-los. Mesmo que seja na soja ou milho RR”, explica.
Adegas ressalta a eficiência e praticidade do glifosato. Até por isso alerta para o uso moderado para evitar a perda da tecnologia. (…)
Expresso MT, 23/05/2013
6. Pragas resistentes a milho transgênico mostram a ineficiência da tecnologia
Notícia publicada em 23/05 no Wall Street Journal aborda o problema do surgimento de lagartas resistentes ao milho transgênico Bt, que produz toxinas inseticidas. Segundo a reportagem, após um período em que se registrou queda no uso de inseticidas de pulverização nas lavouras de milho dos EUA, o uso de agrotóxicos para matar lagartas voltou a crescer.
“O governo americano não mede o uso de pesticidas anualmente, mas a American Vanguard e a FMC Corp., dos EUA, e a suíça Syngenta, que respondem por mais de três quartos do mercado americano de pesticidas de solo, divulgaram vendas maiores em 2012 e no começo de 2013. A Syngenta, um dos maiores fabricantes de pesticidas do mundo, informou que as vendas de seu principal inseticida para o milho mais do que dobaram em 2012. O diretor financeiro, John Ramsay, atribuiu o crescimento à ‘consciência maior do produtor’ sobre a resistência da larva nos EUA.”, diz a matéria.
O Brasil segue a mesma tendência. A matéria informa que “No Brasil, as vendas de defensivos agrícolas [agrotóxicos] em geral vêm crescendo na esteira do aumento da produção. Para o milho, em particular, as vendas no ano passado subiram 23,5% em relação a 2011, para US$ 915 milhões, segundo dados do Sindag. Embora já tenham sido identificados alguns focos de resistência da larva no Brasil, o fenômeno ainda não atingiu a mesma proporção que nos EUA porque o milho Bt foi introduzido mais tarde no país, em 2008, diz Flavio Hirata, da consultoria de agronegócio Allier Brasil. ‘Quanto mais você usa [o transgênico], mais você propicia o desenvolvimento da resistência’, diz Hirata, que calcula que 80% das lavouras de milho do país usam hoje sementes transgênicas.”
Leia a reportagem do Wall Street Journal na íntegra no blog Em Pratos Limpos.
A alternativa agroecológica
Caravana Agroecológica vai ao encontro de famílias que resistem ao avanço do agronegócio em Minas
Entre uma comunidade e outra, passando por estrada de asfalto, de barro, de terra, subindo e descendo morros, adentrando a Mata Atlântica, a Caravana Agroecológica e Cultural da Zona da Mata – MG percorreu durante três dias (22 a 24 de maio) em torno de 1627 quilômetros. Para se ter uma ideia, essa distância equivale a sair de São Luiz, capital maranhense, a Salvador, na Bahia, no extremo sul da região Nordeste. A iniciativa faz parte do processo preparatório do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), previsto para o primeiro semestre de 2014.
O percurso foi dividido em três rotas (Muriaé, Araponga e Acaiaca), que se subdividiram em sete grupos. Ao todo, foram visitados 17 municípios da Zona da Mata Mineira: São Miguel do Anta, Canaã, Araponga, Divino, Ponte Nova, Acaiaca, Abre Campo, Diogo de Vasconcelos, Simonésia, Sem Peixe, Conceição de Ipanema, Visconde do Rio Branco, Ervália, Muriaé, Pedra Dourada, Espera Feliz e Alto Caparaó.
Os participantes, vindos de todas as regiões do País, conheceram experiências de agricultores e agricultoras em produção agroecológica, sistemas agroflorestais, sementes, educação do campo, acesso à terra, manejo dos recursos naturais e acesso a mercados, mobilizadas e articuladas pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), em parceria com entidades locais.
Para o representante da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e coordenador do Centro Sabiá, Alexandre Henrique Pires, a caravana conseguiu fazer uma boa mobilização de organizações e movimentos sociais de todo o Brasil e mostrou uma capacidade de articulação de experiências bastante interessante dentro da proposta do III ENA, que é de reafirmar a agroecologia como a principal estratégia para o desenvolvimento rural.
“As experiências mostram capacidade de produção de alimentos, de geração de renda, de conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, de geração de trabalho, de perspectivas para a juventude rural, de força e visibilidade do papel das mulheres camponesas”, avalia Pires, que também está na comissão nacional de preparação do ENA.
Território de disputa
Granada (MG) – Além de conhecer experiências agroecológicas, os participantes tiveram a oportunidade de visitar projetos do agronegócio, perceber suas contradições e efeitos negativos na vida das famílias, em contraposição à realidade da agroecologia.
No município de Abre Campo, os contrastes entre os dois modelos são bastante evidentes. Na comunidade foi construída a barragem de Granada, no rio Matipó, bacia hidrográfica do Rio Doce. O processo de licenciamento teve início em 1995, mas a licença de operação e instalação foi concedida em 2002. Durante todos esses anos, as famílias contam que eram procuradas dia e noite pelo representante da empresa, que eles chamam de “homem da mala preta”.
“Se há uma represa que deu lágrima foi essa. Aqui todo mundo saiu chorando. Quando eu saí da minha casa, fui parar num barraco de maderito. Fiquei 10 anos no barraco de maderito e não é coisa de gente morar não. Pra quem tinha uma casa como eu tinha, de madeira, de tábua”, desabafa Carminha, uma das atingidas pela construção da barragem. “A gente tinha fartura de tudo. A gente comprava um sal, um óleo, pouca coisa. Hoje, o que eu tenho, é tudo comprado”, compara Carminha.
No semblante das famílias, ainda percebe-se um olhar triste. Na lembrança, as memórias de ‘um tempo que não volta mais’ ainda são muito presentes. A construção da barragem desterritorializou centenas de famílias, acabou com a agricultura da região, com as fontes de água, com a vegetação e com o campinho de futebol, principal espaço de lazer da comunidade. Contraditoriamente, no entorno da grande obra, a Brookfield, empresa canadense que comprou a barragem em 2008, espalhou placas com a seguinte frase: Preserve o meio ambiente!
Apesar do sofrimento, as famílias da comunidade Granada estão aos poucos conseguindo reestruturar suas vidas e encontraram na agroecologia uma grande aliada. Com o apoio do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), o casal Alzira e Veio implantou um sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) onde combinam espécies arbóreas com cultivos agrícolas, em hortas circulares. No centro é instalado um galinheiro, cujas fezes servem de adubo para o plantio.
Além das barragens, o território sofre com os efeitos na mineração, da monocultura do eucalipto, da cafeicultura e tantas outras expressões do agronegócio. Ao mesmo tempo, a caravana mostrou que há um grupo significativo de famílias que estão resistindo a esse modelo, através de práticas que valorizam o conhecimento local e respeitam a natureza.
“Quando os agricultores têm consciência do seu papel enquanto sujeitos políticos, eles criam um conjunto de estratégias de independência do mercado, gerando um grau de autonomia econômica, cultural, produtiva, bastante diferente daquelas famílias que não têm acesso a esses conhecimentos ou que não se reconhecem como sujeitos desses conhecimentos”, avalia Pires.
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) – via ANA.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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