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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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III ENA debate a importância da agroecologia no Brasil
Número 674 – 24 de maio de 2014
Car@s Amig@s,
Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia? Com essa pergunta, Maria Emília Pacheco, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) deu início ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), na tarde desta sexta-feira, 16, na cidade de Juazeiro, na Bahia.
“Chegamos com as chuvas, os festejos de São João, para falar, mostrar, trocar, cuidar da terra, alimentar a saúde e cultivar o futuro. Somos 2 mil pessoas, destas 70% são agricultores e agricultoras e, destes, 50% são mulheres”, comemora Pacheco. “Essa mesa de abertura começa a responder a pergunta que nos traz aqui: “Por que interessa a sociedade apoiar a agroecologia?”
A provocação é também uma forma de apresentar o resultado do conjunto de atividades realizadas como momentos preparatórios para o ENA. Ao longo de um ano e meio foram realizados vários encontros estaduais e 14 caravanas territoriais que registraram os conflitos e as disputas geradas pelo agronegócio e pelos grandes projetos de infraestrutura desenvolvidos no País. “Esses projetos expulsam povos e comunidades, causam a perda da diversidade, das sementes, das culturas”, afirma Noemi Krefta do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).
Se por um lado as caravanas permitiram conhecer de perto as dificuldades enfrentadas pelas populações nos territórios, por outro trouxeram à tona as expressões da agroecologia. “Não são nichos, mas experiências bastante visíveis, trazem o enfrentamento organizado ao modelo tradicional, mas também se expressam nas sementes resgatadas e partilhadas, nas plantas medicinais, nos pequenos animais, nos alimentos saudáveis, na preservação da água, do espaço e ambiente onde vivem, retomam a cultura de povos e etnias, seja na música, na dança… É a afirmação das identidades de cada espaço”, explica Noemi.
A representante do MMC afirmou ainda que esse III ENA é também um espaço de discussão da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), avaliando como esse instrumento pode ser propulsor das demandas trazidas de todos os territórios brasileiros.
“Temos como desafio avançarmos nas lutas e politicas públicas que garantam esse projeto de agricultura, a agroecologia. A PNAPO tem o papel fundamental de dar suporte para que, junto com outras politicas, a agroecologia seja o projeto de agricultura para esse País”, afirma Noemi. E ela é mais enfática ao concluir: “Não há possibilidade de convivência para os dois modelos, para o agronegócio e para a agroecologia. A agroecologia é mais que um modelo de agricultura, é um modo de vida, um projeto de sociedade”.
Na Plenária Final, ministro Gilberto Carvalho recebe Carta Política do III ENA
Na tarde de segunda-feira, 19, a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) entregou ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República a Carta Política do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA).
Durante quatro dias, mais de 2 mil pessoas se reuniram em Juazeiro, Bahia. Como resultado das discussões foi elabora a Carta Política, que entre outras questões denuncia: o crescimento dos conflitos socioambientais que expulsam as populações de suas terras; o crescente aumento do uso de agrotóxicos, que coloca o Brasil como o campeão mundial no consumo desses produtos, e o uso de sementes transgênicas.
O documento, entregue ao ministro Gilberto Carvalho, exige do governo federal a criação de áreas livres de transgênicos e a não aplicação de recursos públicos para a compra de sementes transgênicas, proposta aprovada por aclamação pela plenária final do III ENA, sob as palavras de ordem “Agroecologia é vida, agronegócio é morte!”.
Ao receber a Carta Política, Carvalho reconhece que “é uma carta pesada para nós, pela responsabilidade que temos e pela resposta efetiva que temos que dar ao que vocês apresentam. Levarei esta carta para a presidenta Dilma, com quem estarei depois de amanhã. Ela é um excelente programa de governo, de sociedade, que devemos implantar nesse País”.
O ministro ainda alerta para a importância da reforma política e que sem ela, a Carta do ENA não se tornará realidade. “Não há correlação de forças hoje para que essa carta se torne realidade. As questões estruturais, enquanto houver bancada dos latifundiários, dos industriais como maioria no Congresso Nacional, não conseguiremos avançar como precisamos. Precisamos assegurar um Congresso que represente a maioria dos brasileiros e não a maioria do poder econômico”.
Extraído de:
III ENA debate a importância da agroecologia no Brasil, 16/05/2014 e Ministro Gilberto Carvalho recebe Carta Política do III ENA, 19/05/2014 – por Viviane Brochardt.
Leia mais sobre a Plenária Final e a Carta Política do III ENA: Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) entrega carta política com propostas e reivindicações ao Ministro Gilberto Carvalho, 23/05/2014, por Eduardo Sá.
Leia mais notícias sobre o III ENA
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Neste número:
1. Ato público denuncia riscos do mosquito transgênico para combater a dengue em Juazeiro (BA)
2. Participantes do III ENA protestam contra a Monsanto em Petrolina
3. O fracasso do milho transgênico
4. Avanço rápido dos transgênicos ainda provoca debate
A alternativa agroecológica
Agricultores da PB usam sementes crioulas que resistem à seca no NE
Dicas de fonte de informação:
V11, N1 – Sementes da diversidade: a identidade e o futuro da agricultura familiar
Pela terceira vez, desde o seu lançamento em 2004, a Revista Agriculturas – experiências em agroecologia aborda essa problemática central para as estratégias de construção da Agroecologia. Nesses dez anos, testemunhamos mudanças no contexto da agricultura brasileira que acentuam os desafios relacionados à conservação da agrobiodiversidade. A liberação oficial do plantio de transgênicos veio associada à explosão no consumo dos agrotóxicos e à forte concentração do mercado de sementes em um número cada vez mais limitado de empresas transnacionais. Frente à iminente perda de soberania alimentar em âmbito nacional, o Estado vem procurando reagir a esse avassalador controle corporativo sobre as sementes. As experiências divulgadas nesta edição são inspiradoras de políticas públicas voltadas a restaurar o protagonismo de agricultores(as) e suas comunidades no manejo da agrobiodiversidade. Realizadas em vários contextos socioambientais, elas demonstram como e porque o manejo da agrobiodiversidade deve ser promovido por ações coletivas geograficamente referenciadas em territórios rurais e fundamentadas no princípio da conservação simbiótica entre os recursos genéticos locais e as culturas rurais.
De novo, os transgênicos na mesa das discussões – artigo de Washington Novaes – O Estado de S.Paulo, 09/05/2014
“É preciso prestar atenção. Em meio a notícias das últimas semanas sobre a possibilidade de aumentar muito, principalmente para a China, as exportações brasileiras de grãos, especialmente de soja, chegam também informações sobre o recrudescimento das controvérsias e das decisões judiciais sobre transgênicos em muitos países – e que podem afetar mercados.”
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1. Ato público denuncia riscos do mosquito transgênico para combater a dengue em Juazeiro (BA)
Um ato público realizado na manhã desta segunda-feira (19), no Mercado do Produtor, em Juazeiro-BA, denunciou o uso de um mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado, ou transgênico, que está sendo testado no município com o pretexto de combater a dengue. Um grupo de 50 pessoas, entre agricultores e agricultoras, técnicos e pesquisadores da área que estão participando do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) distribuiu panfletos informativos com a população que circulava no mercado. Um balão gigante com o símbolo dos transgênicos e o desenho do mosquito foi colocado em cima de um carro de som, que acompanhou os manifestantes no local.
De acordo com Gabriel Fernandes, assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e coordenador da Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos, o nosso país é o único a liberar a produção comercial do mosquito geneticamente modificado, já testado no Panamá, Ilhas Caimã e Malásia. Ele explica que a proposta da empresa inglesa Oxitec, que detém a patente do mosquito, é produzir um Aedes aegypti geneticamente modificado e liberar espécimes machos desse mosquito no meio ambiente, que então deveriam cruzar com fêmeas nativas.
Segundo a empresa, desse cruzamento surgiria uma larva que supostamente não sobreviveria, eliminando assim o mosquito. “O problema é que, primeiro, eles partem da lógica que eliminar o mosquito é o mesmo que eliminar a doença e, segundo, que ao liberar os machos podem ser liberadas também espécimes fêmeas, pois o controle não é 100%, essas estariam livres para se reproduzir e não temos como saber o risco de mutações genéticas e o desequilíbrio ambiental que isso pode gerar”, alerta Gabriel Fernandes.
A produção comercial do mosquito foi autorizada no mês de abril deste ano pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância colegiada que presta apoio técnico consultivo e assessoramento ao governo federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a Organismos Geneticamente Modificados (OGM). José Maria Gusman Ferraz é biólogo, doutor em agroecologia e professor do mestrado em Agroecologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), integrava a CTNBio à época da liberação das pesquisas com o mosquito e veio, junto com um assessor da Comissão, às cidades de Juazeiro e Jacobina, municípios onde estão sendo testados os mosquitos, analisar a situação.
O especialista produziu um parecer técnico alertando sobre os riscos que constatou: “No parecer nós mostramos que havia de fato o escape de fêmeas, não estavam fazendo o levantamento sobre a redução da doença nem estudos sobre as áreas de esgoto a céu aberto. Em Jacobina houve um aumento da doença, sendo decretado estado de calamidade pública. Quando reduzimos a população de uma espécie de mosquitos, outra espécie tende a ocupar o lugar, no caso a do Aedes albopictos, que transmite além da dengue, a malária e a febre amarela. O risco é que uma possível mutação do vírus gere uma doença ainda mais potente que a dengue ou que outras espécies de mosquitos sejam contaminadas pelo vírus da dengue”, afirma o especialista.
Outra preocupação dos ecologistas é que não há segurança de que as larvas não sobrevivam, pois mesmo em condições ideais, 3% delas sobrevivem e a empresa que produz o mosquito sabe disso. Camilo Rodriguez é engenheiro químico e professor da Escuela de Ingeniería Universidad do Chile, ele pesquisa há quatro anos os efeitos da tetraciclina, um antibiótico largamente utilizado, principalmente pela indústria pecuária, que faz com que a larva do Aedes aegypti sobreviva. Segundo o estudioso, como o antibiótico pode estar no meio ambiente, a larva pode facilmente entrar em contato com essa substância. “É impossível fazer pesquisas independentes sobre esse assunto, pois o mosquito é patenteado pela empresa que produz toda a literatura que temos a respeito, isso por si só já deveria ser motivo de desconfiança”, diz.
Em Juazeiro está instalada a empresa Moscamed, que tem um convênio com a Oxitec para a venda do mosquito. Apesar de há meses os mosquitos transgênicos estarem sendo liberados, a população desconhece o assunto. Márcia Faustino e Valdênia Almeida trabalham em um restaurante do Mercado do Produtor, as duas já tiveram vários casos de dengue na família e dizem que nunca ouviram falar do mosquito transgênico: “Eu to vendo só agora vocês falarem e vendo esse panfleto, mas nunca tinha ouvido falar e fiquei curiosa”, conta Márcia. De acordo com Gabriel Fernandes a Campanha vai acionar o Ministério Público para tentar barrar o uso do mosquito cuja eficiência não seja comprovada, além de seguir disseminando estas informações para o conjunto da sociedade e organizando mobilizações. (…)
Fonte: www.enagroecologia.org.br, 21/05/2014
2. Participantes do III ENA protestam contra a Monsanto em Petrolina
Cerca de 100 participantes do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) protestaram nesta manhã (19) em frente à unidade de pesquisa da Monsanto, em Petrolina. No local, são feitos experimentos com milho e sorgo geneticamente modificados. Foram colocadas diversas cruzes na porta da empresa simbolizando as mortes provocadas pelos transgênicos e agrotóxicos da empresa.
Segundo o agricultor Vilmar Luis Lermen, da cidade de Exu, em Pernambuco, não é possível a convivência entre agroecologia e os agrotóxicos e transgênicos: “Essa mutação genética tem provocado inúmeros distúrbios ambientais nos biomas onde é implantado. Queremos que a sociedade possa escolher livremente os alimentos que quer comer e que o meio ambiente seja preservado”, disse Vilmar.
Além das cruzes, foi colocada uma placa na frente da empresa com os dizeres: “Fora Monsanto”. Em toda a Unidade, não há nenhuma identificação da empresa, cujo motivo talvez seja a péssima imagem construída em torno dela no mundo. A última Marcha contra a Monsanto, em 2013, teve ações em mais de 50 países.
A Monsanto é acusada de possuir uma estratégia de dominação dos agricultores e agricultoras, através do monopólio das sementes e da cobrança de taxas sobre a produção. “Esse é um ato simbólico para que nós possamos conversar com a sociedade. Nós temos a proposta de convivência com os diferentes biomas brasileiros, da autonomia das famílias. Esse modelo que a Monsanto implementa é feito para gerar dependência”, afirma Vilmar, que acusa o governo brasileiro de ser conivente com essa proposta: “a CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança] aprovou os transgênicos no Brasil e a Embrapa apoia essa pesquisas.”
A Monsanto não é bem vinda
Sobre o recado que o III ENA quer passar para a empresa, Vilmar é direto: “A Monsanto não é bem vinda nem no Brasil e em nenhum lugar do mundo. Nós temos uma proposta de segurança alimentar, de convivência com as condições ambientais em todos os biomas, e estamos firmes nesta luta com todos os povos da humanidade pela soberania.”
Além desta intervenção, outros atos aconteceram na manhã desta segunda. Ainda em Petrolina, mulheres estiveram no escritório da Embrapa Semiárido para entregar um documento pedindo a valorização da Agricultura Familiar em detrimento do agronegócio. Outro grupo se dirigiu ao Mercado do Produtor, em Juazeiro, para protestar contra a difusão de mosquitos da dengue transgênicos na região.
O ENA, que termina hoje, teve a participação de cerca de 2 mil pessoas, sendo a maioria agricultores de todos os estados do Brasil.
III ENA, 19/05/2014
3. O fracasso do milho transgênico
Milho transgênico em xeque em Mato Grosso
“Paguei pela tecnologia transgênica, gastei a mais para combater lagartas e ainda acho que vou ter uma quebra de 10% a 15% de produtividade”, prevê.
Ferri não está sozinho. Boa parte dos produtores de milho de Mato Grosso enfrenta problemas na safrinha atual com o ataque de lagartas ao milho Bt, variedade que recebe por meio de engenharia genética uma toxina da bactéria Bacillus thuringiensis com ação inseticida. Ocorre que a praga passou a ter resistência ao transgênico, e não o contrário, como a tecnologia propunha.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que as aplicações extras de inseticidas farão os produtores locais gastarem mais R$ 228,8 milhões nesta safrinha, que está em fase de desenvolvimento.
A entidade concluiu que a média está em quatro aplicações – o “normal” seria até duas, mesmo porque há outras pragas na lavoura – e que esse gasto representa 4% do custo total de produção do milho de alta tecnologia, hoje em torno de R$ 1,8 mil por hectare.
No cálculo, o Imea leva em conta toda a área plantada de Mato Grosso, mas como 88% das lavouras do grão no Estado utilizam o Bt, fica claro que há um impacto significativo da resistência das lagartas nesse custo adicional.
Nery Ribas, gerente técnico da Aprosoja/MT, afirma que a lagarta do cartucho é a maior vilã do Bt no momento. “Nossa preocupação é tão grande quanto foi com a helicoverpa na soja”.
A resistência da praga já era esperada, acrescenta Ribas, mas os produtores acreditavam que ela demoraria mais para aparecer. A tensão se acirrou este ano, embora o problema exista há pelo menos dois ciclos, afirma.
A primeira variedade comercial de milho Bt foi lançada no Brasil pela Monsanto, em 2007, uma década depois dos EUA. Nos anos seguintes, outras gigantes do segmento, como Syngenta, DuPont e Dow AgroSciences, trilharam esse caminho e 16 cultivares de milho resistente a insetos já estão aprovadas no país.
Entre as boas práticas da tecnologia, consta a necessidade de plantio de milho convencional em pelo menos 10% da área que receberá o Bt, para evitar a rápida seleção de insetos resistentes.
Mas, para Fernando Valicente, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, a falta dessa “área de refúgio”, ou a destinação de uma área muito pequena (considerando que o Brasil é um país tropical e que há regiões onde há três cultivos por ano), são agravantes. “Já há relatos parecidos em Minas Gerais, no Paraná e na Bahia”, diz.
A pedido do Ministério da Agricultura, a Embrapa está trabalhando em uma política pública de manejo de resistência de lagartas ao milho Bt. O documento deverá ser encaminhado ao ministério nos próximos dias.
Ribas, da Aprosoja/MT, afirma que os produtores estão atentos ao refúgio, mas muitos tiveram dificuldades em obter sementes não-transgênicas. Foi o caso de Ferri, que não conseguiu o material convencional e plantou toda a lavoura com Bt – um dos possíveis gatilhos para a resistência.
Para o próximo ciclo, o produtor cogita semear toda a área sem transgenia. “Posso gastar mais com defensivos, mas a semente é mais em conta e não terei de pagar R$ 80 a R$ 100 por hectare em royalties [às empresas detentoras da tecnologia]“.
Em nota, a DuPont, por meio de sua divisão de sementes Pioneer, confirmou que um monitoramento no Brasil apontou o desenvolvimento de resistência da lagarta do cartucho à proteína Cry1F, usada no milho Bt da companhia. A empresa afirma estar trabalhando junto aos produtores “em práticas de manejo eficazes para estender a durabilidade da tecnologia”, processo que envolve “o monitoramento, a aplicação de inseticidas e o manejo efetivo durante a safra”.
Também em nota, a Dow AgroSciences defendeu a adoção do manejo integrado de pragas e disse que “condições climáticas adversas, fertilidade do solo e práticas de adubação de plantio e cobertura nitrogenada podem contribuir para a redução da eficácia das tecnologias de controle de pragas”.
A Syngenta ressaltou a importância de “estratégias abrangentes” de manejo, como “área de refúgio, rotação de culturas e tecnologias de proteção de cultivo”. A Monsanto preferiu não se pronunciar.
Valor Econômico, 19/05/2014 – via IHU-Unisinos
4. Avanço rápido dos transgênicos ainda provoca debate
As sementes transgênicas, um dos trunfos mais controversos no desafio brasileiro de aumentar a produção de alimentos sem a ampliação da fronteira agrícola e com maior capacidade de resistência às mudanças climáticas, devem ocupar 40,2 milhões de hectares de área plantada no país na safra 2013/2014. Só a cultura da soja deve chegar a 27 milhões de hectares, comparados aos 2,2 milhões de hectares plantados com sementes geneticamente modificadas em 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 10.688, que alterou a Lei 8.974, de 1995, para permitir a comercialização da safra produzida com a introdução ilegal nas lavouras do Rio Grande do Sul da soja geneticamente modificada RoundUp Ready, desenvolvida pela Monsanto. O levantamento, da Consultoria Céleres, joga mais combustível no debate entre os defensores e adversários da tecnologia.
“A resistência aos transgênicos é fruto de desinformação”, diz José Roberto Perez, da Embrapa Cerrados. “Os transgênicos têm evoluído. Eles aumentam a produtividade e reduzem o uso de agrotóxicos na lavoura”, afirma Leonardo Machado, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “A experiência de dez anos com transgênicos mostra que nada foi alterado no quadro da fome mundial”, diz o agrônomo Gabriel Fernandez, assessor-técnico da ONG Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), que desde 1983 atua para o fortalecimento da agricultura familiar e a promoção do desenvolvimento rural sustentável no Brasil.
O Brasil ocupa ao lado dos Estados Unidos a liderança mundial da produção de soja transgênica. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 88% das 81,3 milhões de toneladas de soja produzidas na safra 2012/2013 eram compostas por grãos geneticamente modificados. A força dos transgênicos se estende também a outras importantes commodities do país, como o milho e o algodão. Na safra 2013/2014, também chegarão às mesas dos brasileiros em um dos ícones do hábito alimentar nacional: o feijão, com o plantio de uma modalidade resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro desenvolvida pela Embrapa. (…)
A semente não é tudo. O descuido do agricultor com o manejo adequado da lavoura, na confiança de que a variedade modificada geneticamente seria garantia de resistência contra qualquer praga, já provocou muito prejuízo. De acordo com os especialistas, a redução na quantidade de inseticida aplicado nas plantações pode provocar um aumento de pragas secundárias que não afetavam à cultura. Foi assim que a helicoverpa zea, mais conhecida como lagarta da espiga do milho, que invadiu também as lavouras de soja e algodão, causou prejuízos estimados em R$ 2 bilhões em apenas na última safra.
Somente no Oeste da Bahia, onde é maior a incidência da praga, as perdas chegaram a R$ 1 bilhão, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Os prejuízos incluem o aumento dos gastos com inseticidas para controle da praga e as perdas de produtividade.
Pelo menos uma das promessas alardeadas pelos defensores das sementes transgênicas, a redução no uso dos agrotóxicos na agricultura, não se confirmou. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) apontam que os produtores rurais brasileiros estão usando mais defensivos [agrotóxicos] em suas lavouras. As vendas de agrotóxicos aumentaram mais de 72% entre 2006 e 2012 – de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas. No mesmo período, a área cultivada com grãos, fibras, café e cana-de-açúcar cresceu menos de 19%, de 68,8 milhões para 81,7 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O consumo médio de agrotóxicos, que era pouco superior a 7 quilos por hectare, em 2005, passou a 10,1 quilos em 2011.
“As empresas que lideram o mercado tiraram de circulação as sementes convencionais ao mesmo tempo em que elevaram o custo do plantio com o aumento do preço das sementes transgênicas sem que houvesse redução no uso de agrotóxicos. Desde 2008, o Brasil é o país que mais usa agrotóxico”, diz Gabriel Fernandez, da AS-PTA. (…)
Valor Econômico, 12/05/2014 – via Em Pratos Limpos, 14/05/2014
A alternativa agroecológica
Agricultores da PB usam sementes crioulas que resistem à seca no NE
Produção do campo é armazenada em garrafas pet e em silos.
Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com esse tipo de semente no estado.
Um grupo de pequenos agricultores da Paraíba usa sementes crioulas de variedades tradicionais que consegue resistir à seca. Os agricultores formam as lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, os grãos representam um patrimônio da agricultura local.
Há uma relação muito forte dos agricultores paraibanos com as sementes crioulas, chamadas na região de sementes de paixão. “A semente da paixão é uma semente que as famílias vêm guardando, conservando, selecionando. É uma semente que respeita o clima, o solo, o ambiente e a cultura das pessoas. Ela tem esse nome porque nós somos apaixonados por ela. Ela é quem faz com que a gente tenha vida na agricultura familiar”, diz Eusébio Albuquerque, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Família que planta unida, também colhe unida. No município de Queimadas, o agricultor Pedro de Luna e os dois filhos trabalham na lida com o feijão preto, um dos principais produtos da propriedade. O grão foi plantado com sementes tradicionais.
A agricultora Silvia Pereira também planta, colhe e preserva a tradição das sementes da paixão. Ela divide o trabalho com o pai, que ficou entusiasmado com o resultado visto no campo. Além do feijão, os agricultores estão multiplicando uma das últimas novidades introduzidas no roçado: um tipo de sorgo mais rentável do que estavam acostumados a produzir na propriedade.
Aos poucos os agricultores vão formando as lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, as sementes da paixão representam um patrimônio da agricultura local. Mas não significa que se determinada variedade vai bem numa área, ela terá um bom desempenho em outra. São tantos os microclimas que não é raro encontrar lavouras vistosas quase ao lado de terrenos muito secos.
A experiência do agricultor que vive na região faz com que ele tenha sabedoria para esperar a pouca chuva. Muitas vezes, 180 milímetros distribuídos em quatro meses são suficientes para transformar a paisagem e levar fartura para a produção.
O trabalho de preservação conta com o apoio de várias instituições. O agrônomo Emanoel Dias coordena o Núcleo das Sementes da Paixão na ASPTA, organização não-governamental que valoriza a agricultura familiar e a agroecologia. “É uma beleza visualizar a diversificação. Cada um tem um papel. O milho para alimentação das famílias, para alimentação dos animais. O agricultor se sente valorizado porque produz, se alimenta e também alimenta a sociedade”, diz.
A ideia de uma lavoura de sementes da paixão é aproveitar o máximo possível as áreas da pequena propriedade. No mesmo roçado tem fava de moita e fava de rama que trepa no pé de milho. As culturas ficam juntas e misturadas. Isso sem contar que até poucos dias atrás, o feijão também dividia o espaço na propriedade do agricultor José de Oliveira Luna, no município de Alagoa Nova. Com tanta variedade na mesma área, a lavoura fica com a aparência meio tumultuada. A escolha dos grãos que irão servir de semente para o próximo plantio é feita de maneira criteriosa. Em outra área da propriedade, o agricultor apostou foi em um consórcio onde o destaque é a abóbora, conhecida como jerimum na região.
A fartura que sai do campo é guardada em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil famílias trabalham com as sementes da paixão em todo o estado da Paraíba. Algumas famílias reservaram um cômodo da casa para guardar o material inclusive dos vizinhos. Os chamados bancos comunitários armazenam um tesouro colorido. Depois de selecionar e secar as sementes, os agricultores deixam a produção armazenada até o próximo período de chuva.
Nas sementes que vão para o silo, o agricultor José de Oliveira Luna mistura uma colher de pimenta do reino para cada dez quilos de feijão para não dar caruncho. Ele tampa bem o recipiente vedado com sabão de pedra.
Por conta do resgate das variedades crioulas o estado da Paraíba publicou uma lei que, somada a uma resolução federal na legislação de sementes e mudas, contribuiu para o fortalecimento desse trabalho. Para compartilhar a riqueza da produção, os agricultores da Paraíba promovem encontros para trocar sementes. Passar para frente, de um vizinho para outro ou de pai para filho, as sementes crioulas se tornaram uma bandeira de resistência à seca e de afirmação da agricultura familiar do Nordeste.
O trabalho com sementes crioulas existe em vários estados do Brasil. Essa diversidade genética local garante a sobrevivência da agricultura familiar.
Globo Rural, 18/05/2014
Assista à reportagem de 13 min veiculada pelo Globo Rural em 18/05/2014.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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