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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 194 – 30 de janeiro de 2004
Car@s Amig@s,
Durante esta semana cerca de 15 entidades que fazem parte da Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos, entre elas a AS-PTA, o Greenpeace, o MST, o ISA, a CUT e a SOS Mata Atlântica, estiveram em Brasília, acompanhando de perto as negociações na Câmara dos Deputados em torno do Projeto de Lei de Biossegurança.
Na semana passada o plenário da Câmara aprovou a volta do regime de urgência na tramitação do PL, o que desobriga a sua votação na Comissão Especial criada para analisá-lo. Mas, conforme foi divulgado em Boletim Extra da Campanha na última semana, houve um acordo na Câmara para que se realizassem debates na Comissão Especial na terça, na quarta e na quinta-feira desta semana (27, 28 e 29/01), e que o PL fosse votado na Comissão somente no dia 03/02 (terça). O acordo previa ainda que o texto seria votado pelo plenário da Câmara já na quarta-feira (04/02).
No início desta semana burburinhos indicavam que a bancada ruralista tentaria votar o Parecer proposto pelo Dep. Aldo Rebelo, antes relator do PL na Câmara e agora Ministro da Coordenação Política, já na terça-feira, rompendo o acordo. Mas logo no início da reunião da Comissão o novo relator da matéria, o Dep. Renildo Calheiros (PCdoB/PE), se comprometeu publicamente a manter o acordo e colocar o substitutivo em votação somente no dia 03/02.
Como já dissemos, o parecer proposto por Rebelo desconfigura por completo o texto enviado pelo Poder Executivo ao Congresso em outubro passado, dando amplos poderes à CTNBio para liberar transgênicos, inclusive para produção comercial e consumo, sem qualquer exigência de estudos de impacto ambiental ou avaliações de riscos à saúde humana e sem a participação dos órgãos dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente.
Os debates da Comissão se deram de forma acalorada. Além dos representantes da Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos, estavam presentes manifestantes pró-liberação, dizendo defender a autonomia da ciência. Cerca de 15 cientistas, vestindo camisetas com os dizeres “Pela autonomia da Ciência”, distribuíam material de campanha e ostentavam faixas de apoio ao substitutivo do ex-relator.
Também durante a reunião de terça-feira foi entregue à Comissão, pelo presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Dr. Grijalbo Coutinho, um manifesto assinado por diversos juristas de renome solicitando a manutenção do texto original do PL e a rejeição do substitutivo apresentado pelo deputado Aldo Rebelo. Segundo os especialistas, o resultado da aprovação do PL de Aldo seriam mais dez anos de moratória na Justiça, devido às diversas ações judiciais que se seguiriam questionando a constitucionalidade da lei.
No mesmo dia os cientistas presentes entregaram um manifesto de apoio ao PL de Aldo Rebelo.
Na quarta-feira, 28/02, foram os ambientalistas que entregaram aos deputados da Comissão um manifesto assinado por mais de 800 entidades ambientalistas brasileiras, também pedindo a manutenção do texto original do PL enviado pelo governo. Os manifestantes também relembraram aos parlamentares a opinião dos eleitores, desfavoráveis aos transgênicos, conforme concluiu pesquisa do Ibope divulgada esta semana (ver notícia número 2 deste Boletim).
Na quinta-feira a Dra. Noemy Tomita, presidente do Conselho Federal de Biologia (CFBio), e Dra. Glaci Zancan, ex-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), foram acompanhar o debate na Comissão e manifestaram ao novo relator o apoio ao texto do PL original do governo. As cientistas, que também levaram manifestos em favor do texto do governo (entre eles um elaborado pela Fiocruz — Fundação Osvaldo Cruz), declararam também acreditarem que a aprovação do substitutivo de Rebelo levará a mais contestações judiciais.
Na quarta-feira (28) as entidades da Campanha participaram da reunião organizada pela Frente Parlamentar de Biossegurança, com a presença do Dep. Renildo Calheiros. O relator ouviu as opiniões dos deputados e entidades contrários ao substitutivo do Dep. Aldo Rebelo e declarou que fará modificações no texto. Ele disse que apresentará um novo parecer na próxima terça-feira, quando o texto já deverá ser votado, mas não declarou em que sentido pretende modificar o parecer.
Ainda na quarta-feira, as entidades da Campanha tiveram uma reunião com o novo líder do governo na Câmara, Dep. Miro Teixeira (ex-ministro de Comunicações). O líder declarou que trabalhará por um acordo entre a Ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e Aldo Rebelo sobre o conteúdo do PL. Ele relatou que já havia solicitado à Ministra um documento indicando quais os grandes pontos de discordância do Ministério com relação ao substitutivo de Aldo e que levaria esse documento ao próprio Aldo para negociação assim que o recebesse.
Se por um lado sabemos que este acordo não será fácil, por outro, a disposição do Dep. Miro de ao menos tentar negociar é um enorme avanço em relação à posição adotada pela liderança anterior — do próprio Aldo Rebelo –, que pouco se importou com a avaliação do Ministério do Meio Ambiente ou das entidades da sociedade civil críticas à introdução de transgênicos no País.
Tudo indica que o PL será de fato votado na Comissão e no Plenário da Câmara já na próxima semana. Até o momento o novo relator não se comprometeu em apoiar o PL originalmente proposto pelo governo, assim como até agora o próprio governo não deu sinais de defender seu texto com vigor. As chances de em poucos dias vermos aprovada na Câmara uma lei facilitando a liberação dos transgênicos sem a realização de prévias avaliações de riscos não são pequenas.
Mais do que nunca é hora de todos se manifestarem.
Você pode colaborar participando do abaixo-assinado eletrônico organizado pelo Greenpeace, pedindo a retomada das discussões a partir do PL original apresentado pelo governo. O manifesto é dirigido ao Presidente Lula, aos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Marina Silva (Meio Ambiente), e ao relator do PL, Dep. Renildo Calheiros, e está disponível em www.greenpeace.org.br/transgenicos/transgenicos.php?cyber=1&codigo=25
Mais uma vez, contamos com a participação de todos!
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MST e Via Campesina lançam campanha para rotulagem de alimentos
O Decreto 4.680/03, publicado pelo governo federal em 24/04/03, determinou que, a partir de 01 de fevereiro de 2004 todos os alimentos produzidos a partir de ingredientes geneticamente modificados deveriam trazer esta informação no rótulo, sempre que o percentual de transgênicos ou derivados na composição do produto ultrapassasse 1%.
No final do ano passado o Ministério da Justiça abriu uma consulta pública para definir o símbolo que deverá ser usado nos rótulos dos alimentos indicando a presença de transgênicos. O símbolo adotado é um triângulo eqüilátero com a letra T no meio (nos rótulos coloridos o fundo do triângulo deve ser amarelo).
O prazo para que as indústrias de alimentos se adeqüem à nova regra e passem a rotular os produtos se encerra no próximo domingo, mas sabemos que o governo federal dificilmente fiscalizará esta medida.
No sentido de denunciar a violação do direito do consumidor brasileiro ser informado sobre a presença de transgênicos nos alimentos e para estimular a população em geral a exigir os selos dos supermercados, o MST e a Via Campesina, rede que reúne movimentos sociais do campo, estão incentivando a população e entidades sociais a realizarem manifestações rotulando por conta própria os alimentos que contenham transgênicos.
Isso pode ser feito através de adesivo cujo modelo, inspirado no selo a ser exigido pelo governo, está sendo disponibilizado pelo MST para impressão, a fim de que sejam colados nos produtos por quem desejar participar da manifestação.
O modelo de adesivo pode ser solicitado através do e-mail [email protected].
Maiores informações podem ser obtidas com Fátima Duarte, Secretaria Nacional do MST, através do telefone (11) 3361-3866.
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Neste número:
1. Transgênicos: nova proposta é aberração, diz Rosseto
2. Ibope confirma: 73% dos brasileiros não querem transgênicos
3. Monsanto fecha acordo sobre royalties com produtores do RS
4. Agricultores reclamam do preço do royalty: “Dá para comprar um carro”
5. Para mercado, produtor irá à justiça contra acordo sobre royalties
6. Mapeada área com soja transgênica no RS
7. Glifosato já está na lavoura gaúcha
8. Multas pesadas por violações ao sistema de rotulagem na Alemanha
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
O Centro Sabiá na promoção dos sistemas agroflorestais
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1. Transgênicos: nova proposta é aberração, diz Rosseto
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, criticou duramente ontem a proposta do ex-líder do governo na Câmara dos Deputados Aldo Rebelo, agora ministro da Articulação Política, que alterou o projeto do governo que cria a Política Nacional de Biossegurança. Rosseto classificou de aberração o fato de a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) dar a palavra final sobre pesquisas com transgênicos e não mais os ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura, como previa a versão enviada pelo Executivo ao Congresso.
Para Rosseto, alterações feitas por Rebelo tornam o projeto inconstitucional.
Na semana passada, o Ministério do Meio Ambiente distribuiu a parlamentares nota técnica afirmando que o novo texto o transformaria num “mero carimbador” das decisões da CTNBio. Rebelo desagradou também a setores do Ministério da Saúde.
Rosseto disse que a CTNBio não tem estrutura, quadro, personalidade jurídica e nem capacidade para liberar pesquisas com transgênicos.
– “A CTNBio não foi criada para testar a segurança ambiental, nem no campo da saúde e agricultura. Se é preciso licenciamento ambiental para fazer um assentamento da reforma agrária, imagina para se liberar um organismo geneticamente modificado”.
Rosseto é um dos ministros que assinam o projeto original. Ele disse que não foi consultado por Rebelo sobre as alterações feitas no texto.
O ministro criticou ainda a redução da participação da sociedade civil na CTNBio — de oito para seis representantes — e do poder dos ministros de escolherem, a partir de listas tríplices, esses indicados.
Rosseto elogiou dois artigos do novo texto: a autonomia e agilidade para realização de pesquisas e a criação de um fundo de pesquisa para a agricultura familiar.
O Globo, 29/01/04.
2. Ibope confirma: 73% dos brasileiros não querem transgênicos
Pesquisa mostra que 73% da população não concorda com a liberação de organismos geneticamente modificados, sem que haja aval científico sobre a segurança desses produtos
De cada dez brasileiros, sete são contra os transgênicos. Segundo pesquisa feita pelo Ibope, 73% da população não quer a liberação dos transgênicos no país até que exista consenso na comunidade científica a respeito da segurança desses organismos para o meio ambiente e a saúde humana. O levantamento foi realizado em dezembro e ouviu 2 mil pessoas.
Encomendada pela organização ambientalista Greenpeace, a pesquisa serviu de base para que o grupo ambientalista realizasse ontem um protesto contra as modificações feitas no projeto de lei de Biossegurança que tramita no Congresso. Dez ativistas, sete vestidos e pintados de verde e três de preto, tentaram subir a rampa do Palácio do Planalto segurando uma faixa com a frase “sete entre dez brasileiros não querem transgênicos”. Contidos pelos seguranças, seguraram a faixa por alguns minutos na base da rampa.
Os ativistas do grupo vão utilizar a pesquisa para tentar convencer os parlamentares a não permitir a entrada de transgênicos no Brasil. Segundo o Greenpeace, foi ‘lamentável’ a atitutde do relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), de modificar o projeto original enviado pelo governo ao Congresso.
Com a mudança, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) ganha autonomia para decidir sobre a liberação de pesquisas com organismos geneticamente modificados. Antes, a decisão dependeria da aprovação do Ministério do Meio Ambiente. Os ambientalistas também estão insatisfeitos com a redução da representação da sociedade civil na CTNBio.
Segundo Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace, com a mudança o Ministério do Meio Ambiente passa a ser um mero “carimbador de pareceres”. Para ela, a competência de exigir o licenciamento deveria ser do ministério, como estava no texto original.
“O princípio da precaução foi deixado de lado”, reclama Vuolo. “Isso abre caminho para que qualquer empresa introduza transgênicos no país sem ter que comprovar que seus produtos são seguros para o meio ambiente e para a população”.
As reclamações do Greenpeace — que protocolou na Casa Civil um pedido para a retirada do projeto da pauta de votação, e a retomada das discussões em torno do projeto original — não sensibilizaram o governo. O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), que será o novo relator em substituição a Rebelo, designado para o Ministério da Articulação Política, disse que manterá o relatório.
Hoje e amanhã, os deputados da comissão especial que analisa o projeto de lei de Biossegurança discutirão algumas modificações no texto. Segundo o presidente interino da comissão, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o projeto será votado pela comissão na próxima terça-feira e, no dia seguinte, seguirá para aprovação no plenário da Casa.
Correio Brasiliense, 27/01/04.
3. Monsanto fecha acordo sobre royalties com produtores do RS
Produtores gaúchos e a multinacional Monsanto anunciaram ontem o fechamento de um acordo sobre o valor dos royalties cobrados pelo uso da soja transgênica Roundup Ready (RR), patenteada pela empresa. Segundo nota divulgada pela Monsanto, o valor será de “aproximadamente R$ 20,00 por tonelada par as safras de 2004 e 2005”, ou R$ 1,20 por saca de 60 quilos, caso o uso das sementes seja aprovado para o próximo ano.
Para a safra que está sendo plantada agora, entretanto, foi negociado o valor de R$ 0,60 por saca, ou R$ 10,00 por tonelada, ‘uma vez que a Monsanto estará oferecendo uma série de incentivos relacionados ao compromisso assumido pela Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul) e Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul) em cumprir com as condições acordadas para a implementação do sistema”.
O acordo foi firmado em uma reunião anteontem. “Falta definir apenas se o valor vai valer somente para este ano ou por um período maior”, disse o presidente da Fecoagro, Rui Polidoro. Segundo ele, o pagamento à multinacional será feito pelas indústrias de processamento da soja, que descontarão o valor do preço pago aos produtores. Normalmente, os royalties são pagos na compra da semente, mas a soja RR plantada hoje no Brasil principalmente no Rio Grande do Sul foi contrabandeada da Argentina e reproduzida pelos próprios agricultores, o que inviabiliza esse método de cobrança.
Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), a cobrança deve render cerca de R$ 70 milhões à Monsanto. Na semana passada, a Fetag ameaçou entrar na Justiça para impedir a cobrança de royalties. “Chegamos à conclusão de que não adianta (ir à Justiça) porque é um direito previsto pela Lei de Patentes. Nosso objetivo agora é reduzir o valor ao máximo”, afirmou Ezídio Pinheiro, presidente da Fetag.
O preço das sementes RR nos países onde a soja transgênica é plantada legalmente varia de US$ 50,00, no Canadá, a US$ 67, nos EUA, e US$ 108, na Romênia, de acordo com um quadro divulgado pela Monsanto no ano passado. No Brasil, segundo a empresa, o gasto com sementes piratas por hectare era de US$ 15,00.
O Estado de São Paulo, 29/01/04.
4. Agricultores reclamam do preço do royalty: “Dá para comprar um carro”
Além de considerarem o valor exorbitante, os produtores rurais Alducir Filippin, 51 anos, e Olvidio Filippin, 53 anos, de Cruz Alta (RS) não concordam com o pagamento sobre o produto colhido. Conforme acordo com a Monsanto, os irmãos, que plantam 370 hectares de soja transgênica e esperam colher cerca de 50 sacas por hectare nesta safra, pagarão R$ 11,1 mil pelo uso da tecnologia.
Mesmo oposta à negociação, feita com a Monsanto, a dupla brinca dizendo que não tem onde ‘esconder’ a oleaginosa e revela que não terá outra saída senão negociar a próxima colheita.
– Antigamente queriam nos prender por contrabando, agora decidiram que a soja é da Monsanto. Se eu caprichar e fizer uma colheita boa, vou ter de pagar um absurdo. Quem fizer corpo mole e produzir pouco vai pagar muito menos — reclama Alducir.
– Com esse valor absurdo que eles querem cobrar, dá para comprar um carro popular por ano — compara Olvidio.
Zero Hora, 29/01/04.
5. Para mercado, produtor irá à justiça contra acordo sobre royalties
O acordo sobre a cobrança de royalties de R$ 0,60 por saca de 60 Kg de soja transgênica pode desencadear um movimento de sonegação da venda de grãos não convencionais e provocar uma enxurrada de ações na Justiça. A opinião é de representantes de corretoras e cooperativas gaúchas. Ninguém questiona o direito de a Monsanto cobrar pelo uso da tecnologia. O problema é o valor. “Os agricultores acharam muito alto”, afirma o presidente da Cooperativa Tritícola de Santa Rosa (Cotrirosa), que também movimenta soja, Lourival Bublitz. “Os produtores, principalmente os que não estão ligados às cooperativas que participaram do acordo, não querem pagar e não vão pagar. Vão correr para a Justiça”, diz Edemilson Antônio de Souza, diretor da corretora Ceagro, que negocia 1 milhão de toneladas de soja por ano. Souza ressalta que os produtores têm de pagar royalties. “Eles estão se beneficiando de uma tecnologia que reduziu os custos de produção em cerca de 30%”, afirma. No entanto, a maneira como foi fechado o acordo abre brechas para que o produtor mova ações. “Ele pode alegar que sabia já no plantio que seriam cobrados royalties, mas nunca imaginou que seria tão caro, e pedir a redução para R$ 0,20, por exemplo”, afirma Souza. O
presidente da Federação das Cooperativas Agrícolas do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS), Rui Polidoro Pinto, que participou das negociações com a
Monsanto, admite que vão começar a surgir ações judiciais contestando o
valor. “Conseguimos reduzir o valor de R$ 1,20 para R$ 0,60, mas é claro que
muitos produtores ainda vão achar alto. O ideal seria não pagar nada”, diz.
Já Lourival Bublitz, da Cotrirosa, aponta o problema da sonegação da
produção como uma conseqüência da cobrança. “Os produtores podem encontrar
maneiras de burlar o registro dos negócios para escapar do pagamento” ,
afirma. Já o diretor-presidente da corretora Brasoja, Antônio Sartori, diz
que o produtor vai perder tempo indo à Justiça. Segundo ele, uma produção de
soja convencional consome R$ 250 em herbicida por hectare. Com a plantação
de transgênico, o custo cai para R$ 60. “Só quem não tem neurônio vai querer
provar que perde com os royalties”, afirmou.
Agência Estado, 29/01/04.
6. Mapeada área com soja transgênica no RS
A Delegacia Federal da Agricultura do Rio Grande do Sul pretende concluir na
próxima semana o levantamento da área plantada com soja transgênica no
Estado. De acordo com o delegado Francisco Signor, os dados preliminares
indicam que cerca de 60% dos 3,8 milhões de hectares cultivados na safra que
começa a ser colhida em março receberam sementes geneticamente modificadas.
Esta será a primeira apuração oficial sobre a extensão das lavouras
transgênicas no Estado, feita com base nos Termos de Ajustamento de Conduta
(TAC) assinados pelos produtores para legalizar a safra 2003/04 nos termos
da lei de conversão da Medida Provisória 131. Até então, as estimativas
extra-oficiais de entidades de produtores falavam em percentuais de até 80%.
Signor afirmou também que, assim como a safra transgênica 2003/04, a
anterior também poderá ser comercializada até o limite de 31 de janeiro de
2005 estabelecido pela MP 131, depois convertida na lei 10.814. Até agora os
produtores acreditavam que a safra 2002/03, legalizada pela MP 113 (depois
lei 10.688) poderia ser vendida só até o fim deste mês.
Valor Econômico, 30/01/04.
7. Glifosato já está na lavoura gaúcha
Mesmo proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa -, lideranças reconhecem que o herbicida foi aplicado na soja transgênica
A proibição pela Anvisa do uso do herbicida glifosato nas folhas e ramos da soja transgênica nesta safra não impediu que o produto fosse aplicado pelos sojicultores gaúchos. ‘Quem tinha que usar, já usou’, avalia o presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro.
A utilização pós-emergente do glifosato – também confirmada pelo delegado federal do Ministério da Agricultura (Mapa) no RS, Francisco Signor, e pelo presidente da Farsul, Carlos Sperotto, viola a Lei dos Agrotóxicos, que está em vigor – e a resolução nº 184 da Anvisa, de setembro de 2003, que limita sua incidência em 0,2mg por quilo de soja. Com o uso o sojicultor fica sujeito a multa de R$ 19 mil, a ter destruída a plantação, ou os grãos, com resíduos acima do permitido, e à pena entre dois e quatro anos de prisão. Não aplicar o herbicida, no entanto, tornaria inócuo o investimento na tecnologia para combate a ervas daninhas.
‘Não haveria sentido o produtor optar pela soja transgênica, legalizada pela MP 131, sem aplicar o glifosato’, reconhece Signor. Na avaliação de Sperotto, não há mecanismos para penalizar o produtor, uma vez que ‘as análises residuais não identificam o período da aplicação’.
A ação civil pública de outubro de 2003, do Idec, pede tutela antecipada condenando ‘a SAA do RS a promover efetiva fiscalização do uso do glifosato, nos limites de sua competência, sob pena de multa diária’. Requer também condenação à União ‘na efetiva e ampla divulgação do uso do glifosato’ e ‘fiscalização do comércio e importação’ na ‘utilização nas lavouras transgênicas’. Porém, não há qualquer orientação para a fiscalização do uso do glifosato na lavoura gaúcha, anuncia Signor. Segundo a assessoria da SAA, o governo do RS poderia auxiliar a fiscalização, a ser conduzida pelo Mapa, mas admite a falta de pessoal para os trabalhos a campo. ‘O glifosato na soja produz um metabólico – o AMPA, extremamente maléfico para a saúde humana e do meio ambiente – que, somados, aumenta ainda mais o limite de resíduos’, diz o coordenador executivo do Idec, Sezifredo Paz. Segundo ele, esse foi o motivo pelo qual o Ministério Público Federal não liberou a alteração. Uma nova norma elevaria o limite máximo de resíduos do glifosato em 50 vezes para até 10 mg/kg para a soja transgênica.
Correio do Povo, 30/01/04.
8. Multas pesadas por violações ao sistema de rotulagem na Alemanha
Qualquer violação ao novo sistema de rotulagem de organismos geneticamente modificados resultará em punições severas. Uma omissão de rotulagem pode ser penalizada com multas de até 50 mil euros (aproximadamente US$ 64 mil ou R$ 185 mil), disse a ministra da Agricultura e dos Direitos do Consumidor, Renate Künast (Partido Verde), em Berlim, na quarta-feira. Violações mais sérias, como a distribuição de produtos não-aprovados, pode levar a sentenças de prisão de até três anos. Künast explicou que “a rotulagem é um pré-requisito para que os consumidores e os produtores tenham seu direito de escolha assegurado”. “Com base na rotulagem, todos podem fazer suas escolhas conscientemente a favor ou contra os transgênicos — e isto inclui as feiras de produtores e restaurantes”.
AFP – http://de.news.yahoo.com/040114/286/3u7ba.html
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
O Centro Sabiá na promoção dos sistemas agroflorestais
Em 9 de julho de 1993 nascia no Recife o Centro Sabiá, organização comprometida com o desenvolvimento da agrofloresta como alternativa para o fortalecimento da agricultura familiar no nordeste barsileiro. As preocupações centrais eram garantir renda a quem trabalha, saúde para os consumidores e equilíbrio ao meio ambiente.
Hoje, em parceria com associações agroecológicas e outras organizações nas regiões da Mata, do Agreste e do Sertão de Pernambuco, o Centro Sabiá atua com mais de 300 famílias de agricultores, prestando assistência técnica desde o planejamento do plantio, até a comercialização dos produtos. Isto, sem falar em ações de capacitação e intercâmbio voltadas para agricultores-experimentadores e difusores dos sistemas agroflorestais.
Cuidar da terra como um ser vivo. Esta é a filosofia da agrofloresta, que ensina a plantar aprendendo com a natureza, descartando o uso de agrotóxicos e adubos químicos. Além do plantio, a equipe técnica do Sabiá também se preocupa com o beneficiamento da produção, ou seja, a transformação de produtos colhidos da agrofloresta em alimentos como doces, bolos, pães, queijos e mel. Para escoar a produção dos agricultores, o Centro Sabiá, em parceria com outras entidades, criou os Espaços Agroecológicos, onde feiras semanais comercializam mais de 150 itens nas cidades de Recife e Serra Talhada.
Agrofloresta e políticas públicas
A atuação do Centro Sabiá tem contribuído para a construção de políticas públicas em Pernambuco. Foi o caso da Capacitação para Convivência para o Semi-árido, realizada há dois anos pelo Governo de Pernambuco com 8.500 agricultores de 80 municípios. Em reconhecimento ao seu trabalho em defesa do Meio Ambiente, o Centro Sabiá ganhou, em 1999, o Prêmio Vasconcelos Sobrinho, da Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos (CPRH). O trabalho também já foi apresentado em seminários internacionais de agroecologia e em ações de intercâmbio com países da América Latina, como Nicarágua e Equador.
Dois Dedos de Prosa, julho de 2003.
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa [Tel.: (21) 2253-8317 / E-mail: [email protected]]
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