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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Número 552 – 26 de agosto de 2011
Car@s Amig@s,
Após anos vendo a Monsanto surfar na onda do monopólio sobre o mercado de sementes transgênicas e seus agrotóxicos associados, a Dow AgroSciences acredita ter chegado a sua vez de entrar com mais força na jogada. Para isso anuncia entusiasmada sua grande inovação, que vem justamente no rastro deixado por anos seguidos de monoculturas resistentes ao herbicida Roundup. Sua solução para a lavoura também é uma soja transgênica resistente a herbicidas, só que dessa vez a três de uma só vez. Entre eles está o glifosato, do Roundup, o glufosinato de amônio e nada menos que o 2,4-D, ingrediente do Agente Laranja usado na guerra do Vietnã. Gerações foram vitimadas pelo contato com o produto, como bem mostra o documentário O veneno está na mesa, do cineasta Silvio Tendler.
Com o nome de Elinst, que vem do inglês e traz a ideia de superação, essa semente, se aprovada, levará esses venenos diretamente à mesa das pessoas, na forma de resíduos tecnicamente permitidos. O pedido já está no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Aqui no Brasil o processo também anda. Os doutores da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança já deram aval para a empresa instalar campos experimentais, que é uma etapa obrigatória antes de se pedir a liberação comercial do produto.
Nas ocasiões em que questionou-se na CTNBio o enorme retrocesso do ponto de vista do meio ambiente e da saúde pública que essa tecnologia representa, rapidamente ergueu-se um coro para encerrar o assunto dizendo que não cabe àquele colegiado discutir agrotóxicos e que seu papel é apenas o de avaliar a parte genética da coisa. Postura compatível com a de seu presidente, que disse a um jornal de circulação nacional que as pessoas podem até beber o glifosato que não morrerão.
Pela lei, registro de agrotóxicos e outros cai na seara da Anvisa, Ibama e Agricultura, mas cabe a pergunta: os técnicos da CTNBio desconhecem os impactos do 2,4-D? Acham moralmente aceitável levar adiante essa proposta, ainda que dentro da legalidade?
O modelo de sementes geneticamente modificadas para resistência a herbicidas já fez com que a soja no Brasil tenha 50 vezes mais resíduos de glifosato do que antes e o milho, 10. É um sistema que leva a mais monoculturas, que por sua vez levam a mais pragas e plantas imunes aos venenos, que por sua vez levam a mais transgênicos e mais agrotóxicos. Como resume a Dow em um de seus vídeos promocionais, “isso é negócio”.
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Neste número:
1. Briga de cachorro grande
2. Besouro desenvolve resistência a milho Bt da Monsanto
3. A sequela da monocultura
4. Indústria do fumo e das armas financiou campanha do novo ministro da agricultura
A alternativa agroecológica
XXIII Seminário Regional de Agrobiodiversidade e X Feira Regional de Sementes Crioulas da região do Contestado
Dica de fonte de informação
Sou AGRO, AGROmentira – confira o clip em http://www.youtube.com/watch?v=lJgZdi4HcO0
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1. Briga de cachorro grande
Syngenta processa Bunge por veto a milho transgênico
A Syngenta Seeds, que integra a gigante agroquímica Syngenta AG, ingressou na Justiça contra a Bunge após ver recusada uma de suas variedades de milho transgênico.
A Syngenta alega que as operações da Bunge América do Norte estão recusando ilegalmente operar com uma de suas variedades de milho Bt [inseticida].
Na ação apresentada segunda feira à Corte Iowa, a Syngenta alega que a Bunge notificou seus fornecedores que não aceitará o novo milho da Syngenta, Agrisure Viptera, liberado ano passado nos EUA.
A Syngenta disse que a Bunge isolou seu milho, junto com uma soja da Pioneer Hi-Bred International (DuPont), justificando que seus elevadores não poderiam aceitar o grão uma vez que ele não foi aprovado pelos principais destinos de suas exportações.
A Syngenta afirma que a atitude da Bunge é ilegal e que a variedade tem as aprovações nos maiores destinos, incluindo Austrália, Brasil, Canadá, Japão, México, Nova Zelândia, Filipinas, Coreia e Taiwan.
Porém, falta aprovação da China, que nos últimos meses tem comprado volumes crescentes do cereal estadunidense.
Segunda a Syngenta, a aprovação da nova variedade de milho pela China deve ser obtida em 2012.
A Syngenta ainda afirma na ação que a China não é um grande mercado para o milho dos Estados Unidos porque as importações de milho pelos EUA representaram menos de 3% do total das exportações em 2010-2011. (…)
Com informações da Reuters, 22/08/2011.
2. Besouro desenvolve resistência a milho Bt da Monsanto
A própria natureza talvez seja a melhor opositora aos transgênicos e aos agrotóxicos. Não só as plantas como também os insetos estão desenvolvendo resistência. O besouro Diabrotica virgifera, uma das principais pragas que afetam os milharais, desenvolveu resistência a uma variedade Bt da Monsanto e plantações inteiras estão sendo perdidas.
Produtores de vários estados do meio oeste americano estão relatando prejuízos nas raízes do milho que foi modificado para produzir exatamente uma toxina que deveria matar as larvas do besouro. O entomólogo da Universidade de Iowa Aaron Gassmann confirmou recentemente que o besouro desenvolvera resistência à proteína Bt Cry3Bb1.
O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria natural dos solos que apresenta ação inseticida.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, dois terços de todo o milho plantado no país é transgênico, sendo sua maior parte do tipo Bt. A Monsanto controla 35% desse mercado nos EUA, de acordo com os dados de 1999.
A Monsanto informou que apenas as variedades YieldGard VT Triple e Genuity VT Triple PRO são afetadas.
O desenvolvimento da resistência ocorreu em áreas onde o mesmo milho Bt tem sido plantado por 3 ou mais anos seguidos.
A Monsanto exorta os produtores a testarem suas variedades transgênicas piramidadas (stacked), que acumulam genes teoricamente desenhados para controlar mais de um inseto-praga e a adotarem técnicas de manejo integrado de pragas. E assim prossegue a bola de neve da dependência de mais manipulação genética e mais agrotóxicos.
Adaptado de Rady Ananda, Voice, 24/08/2011.
3. A sequela da monocultura
Uso de herbicida pode causar sérias doenças em seres humanos
Segundo declarações de um cientista do governo americano, o uso excessivo do herbicida Roundup, da Monsanto, pode causar mudanças prejudiciais no solo e, potencialmente, prejudicar os rendimentos das culturas geneticamente modificadas pelos agricultores.
“O uso repetido do glifosato, o principal ingrediente do herbicida Roundup, causa impactos na estrutura química das plantas, e 15 anos de pesquisas indicam que a substância química pode ser a responsável por doenças nas raízes causadas por fungos”, explica Bob Kremer, microbiólogo do Agricultural Research Service.
Roundup é o herbicida mais vendido no mundo, e seu uso tem fortalecido a Monsanto, maior empresa de sementes do planeta, que continua implantando culturas “Roundup Ready”, tolerantes ao herbicida.
O milho, a soja e outras culturas Roundup Ready são amados pelos agricultores, pois permitem que pulverizem o herbicida diretamente em suas colheitas para matar ervas daninhas. Além disso, o milho e a soja estão entre os produtos mais cultivados nos Estados Unidos.
Mas como os agricultores aumentaram a utilização de culturas Roundup Ready e consequentemente do herbicida Roundup, os problemas começaram a surgir. Um dos maiores problemas atualmente é a resistência de plantas daninhas ao Roundup. Mas Kremer disse que os problemas menos visíveis, presentes abaixo do solo, também devem ser observados e pesquisados mais amplamente.
Embora Kremer afirme que a pesquisa até o momento não comprovou que o glifosato provoque doenças fúngicas que limitam diretamente a produção agrícola e a saúde, os dados sugerem que poderia ser o caso. “Estamos sugerindo que esse potencial certamente existe”, disse Kremer em uma apresentação na conferência anual da Organização para Mercados Competitivos, realizada recentemente em Kansas City.
Kremer explica que a pesquisa mostra que essas culturas geneticamente alteradas não rendem mais do que as culturas convencionais, e deficiências de nutrientes ligadas a problemas de doenças na raiz são provavelmente fatores limitantes.
Kremer disse que os agricultores devem tomar cuidado e considerar uma maior rotatividade de culturas e maior acompanhamento do uso do glifosato. Ele está entre um grupo de cientistas que notou problemas potenciais com esse herbicida. Pesquisadores de outros países também manifestaram preocupações sobre a relação entre a exposição ao glifosato e o desenvolvimento de câncer, bem como a ocorrência de abortos e outros problemas de saúde em pessoas e animais.
A Monsanto declarou que o glifosato liga-se fortemente à maioria dos tipos de solo e que não é prejudicial às colheitas. Disse também que suas pesquisas mostram que o glifosato é seguro tanto para seres humanos quanto para o meio ambiente.
“Nem o USDA (United States Department of Agriculture), nem a Agência de Proteção Ambiental que está analisando o registro do glifosato para a sua segurança e eficácia, demonstraram interesse em continuar a explorar essa área de pesquisa”, lamenta Kremer.
Fonte: Scientific American, 17/08/2011.
4. Indústria do fumo e das armas financiou campanha do novo ministro da agricultura
Ministro defensor do tabaco
O teor de uma emenda a um projeto de lei que tramitava na Câmara resume os posicionamentos políticos do novo ministro da Agricultura, o deputado federal Mendes Ribeiro (PMDB-RS), que assume hoje o cargo. O projeto impedia a fabricação, instalação, operação e importação de máquinas de venda automática de cigarros e de outros derivados do tabaco, como charutos e cigarrilhas.
A proposta foi aprovada e remetida ao Senado em 2004. Antes, Mendes Ribeiro propôs uma alteração na lei. A emenda restringiu a proibição. As máquinas seriam permitidas, desde que apresentassem sistemas de controle que evitassem a compra dos maços de cigarro por crianças e adolescentes. “Fica claro que a solução ideal não é a proibição da fabricação, mas a busca de uma forma eficaz que garanta a não utilização das máquinas por menores de 18 anos”, justificou o deputado no texto da emenda.
O novo ministro da Agricultura do governo da presidente Dilma Rousseff é um ferrenho defensor da indústria e do cultivo do tabaco no Brasil. No exercício de seus mandatos na Câmara, discursou em defesa do setor e atuou na prática para beneficiar a produção de fumo, como é o caso da emenda apresentada. Em março deste ano, Mendes Ribeiro subiu à tribuna do plenário da Câmara para defender os produtores de fumo da Região Sul, principalmente de seu estado, Rio Grande do Sul. Disse que explicou a um agricultor, depois de ser abordado por ele, que não havia qualquer iniciativa do Congresso para proibir a comercialização de fumo no país. “O que está acontecendo encontra fundamento em duas consultas públicas da Anvisa, que literalmente legisla sobre o tema”, criticou o deputado. “As colocações feitas têm o intuito de alardear e aumentar os problemas do setor fumageiro.”
Doações
Para se eleger deputado, Mendes Ribeiro recebeu R$ 70 mil de indústrias do tabaco em 2002 e 2006, conforme registros de doações oficiais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Do setor de armamento, foram mais R$ 155 mil, nas últimas três eleições. Duas semanas antes de subir à tribuna para defender a indústria do cigarro, o parlamentar discursou em defesa do setor de armas. “O Brasil disse ‘não’ ao desarmamento dos homens decentes”, disse logo no início de seu quinto e atual mandato. Um projeto de lei de sua autoria propôs, 12 anos atrás, a obrigatoriedade de renovação anual do registro de armas de fogo.
Na votação do novo Código Florestal Brasileiro, aprovado em maio na Câmara, Mendes Ribeiro apoiou integralmente a proposta do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP), na contramão do próprio governo que passa a integrar a partir de hoje. O deputado assinou seis emendas ao projeto em conjunto com os líderes do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), e do DEM, ACM Neto (BA). Aliado aos principais líderes da oposição na Câmara, Mendes Ribeiro propôs a exploração agropecuária no Pantanal, a permissão de atividades agropecuárias em áreas de preservação permanente (APPs) – como acabou validado em plenário – e a dispensa de averbação de reserva legal em cartório. Entre outros projetos na Câmara, propôs a redução da faixa da fronteira brasileira, de 150km para 50km.
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2011.
A alternativa agroecológica
XXIII Seminário Regional de Agrobiodiversidade e X Feira Regional de Sementes Crioulas da região do Contestado
Com a participação de 120 agricultores e agricultoras, lideranças associativas e sindicais, jovens rurais, técnicos e professores do Centro-Sul e Planalto Norte Catarinense (região do Contestado), realizou-se entre nos dias 19 e 20 de agosto o XXIII Seminário Regional de Agrobiodiversidade.
O evento teve por objetivo analisar a grave crise vivenciada pela agricultura familiar na região do Contestado e propor caminhos para a sua superação. Segundo os participantes, a saída massiva dos jovens da agricultura em busca de um futuro mais promissor apresenta-se como uma das maiores expressões dessa crise.
Desde a década de 1960, os sucessivos governos vêm criando as condições para que chegássemos a essa situação através de políticas públicas voltadas ao ensino, pesquisa, extensão e crédito rural subsidiado. O resultado dessas políticas é que a agricultura familiar encontra-se hoje em uma condição de grande dependência às indústrias de insumos e de máquinas e aos bancos.
O XXIII Seminário constatou também que um grande número de famílias vem encontrando caminhos de resistência a essa situação e construindo alternativas de produção e venda que demonstram melhores resultados econômicos, maior segurança alimentar e menores riscos frente às instabilidades dos mercados e às variações do clima.
Ao final o Seminário elaborou a Carta de São João do Triunfo que foi lida e aclamada por dois mil agricultores e agricultoras durante a X Feira Regional de Sementes Crioulas e da Biodiversidade, realizada no dia 21/08, como parte das comemorações dos 25 anos do Sindicato de Trabalhadores Rurais de São do Triunfo. A carta apresenta um conjunto de proposições nas áreas do crédito rural e seguro agrícola, organização para acesso aos mercados, promoção das sementes crioulas, direito à não contaminação por agrotóxicos e transgênicos, além de propostas específicas formuladas pela juventude rural.
Fonte: AS-PTA, 22/08/2011
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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