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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Número 575 – 02 de março de 2012
Car@s Amig@s,
A revista científica Journal of Applied Toxicology publicou em 15 de fevereiro de 2012, em sua versão eletrônica, o primeiro estudo a analisar os efeitos combinados, sobre células humanas, das toxinas inseticidas produzidas pelas plantas transgênicas Bt e dos herbicidas à base de glifosato, usados nas lavouras transgênicas do tipo Roundup Ready (RR).
Note-se que o estudo de efeitos combinados entre diferentes agrotóxicos ainda representa um grande desafio para a toxicologia, ao passo que nas lavouras transgênicas “piramidadas” sobrepõem-se na mesma planta genes que conferem tolerância a herbicidas (que deixam resíduos nas plantas alimentícias) e aqueles que produzem toxinas inseticidas.
Pela primeira vez, foram testados os efeitos das toxinas Bt Cry1Ab e Cry1Ac (de 10 ppb a 100 ppm) em células embrionárias de rim humano, assim como o seu efeito combinado com o Roundup, num período de 24 horas, em três biomarcadores de morte celular. Os experimentos foram repetidos pelo menos três vezes em diferentes semanas, em três meios independentes.
Os dados mostram que a toxina Cry1Ab pode induzir efeitos citotóxicos (que provocam danos às células) através de um mecanismo necrótico a uma concentração de 100 ppm.
Essa concentração é relativamente alta em comparação às concentrações produzidas pelas plantas transgênicas (entre 1 e 20 ppm). Entretanto, há que se levar em conta (e avaliar!) a bioacumulação da toxina nos tecidos, assim como os efeitos de longo prazo, uma vez que plantas Bt podem ser consumidas em grandes quantidades por mamíferos. No ano passado um estudo realizado no Canadá detectou resíduos de toxina Bt no sangue de mulheres, gestantes e fetos.
Os autores da pesquisa observam ainda que a descoberta de efeito tóxico da toxina Bt é compatível com os dados verificados em outro estudo, em que o consumo de milho MON810 produziu sinais subcrônicos de alterações hepatorrenais quando utilizado na alimentação de ratos de laboratório.
A toxina Cry1Ab é justamente aquela presente no milho transgênico da Monsanto MON810, que foi proibido em diversos países europeus. No Brasil, este milho está autorizado desde 2008 apesar das manifestações contrárias de Ibama e Anvisa; além dele diversos outros milhos piramidados autorizados no Brasil entre 2008 e 2011 contêm a toxina (ver AS-PTA).
Outra revelação da nova pesquisa foi que, testado sozinho, o Roundup mostrou-se necrótico (que provoca necrose) e apoptótico (que provoca morte celular) a partir de 50 ppm, concentração cerca de 200 vezes menor que a das diluições agrícolas. Porém, a avaliação de efeito combinado mostrou que as toxinas Cry1Ab e Cry1Ac reduziram a morte celular induzida pelo Roundup em cerca de 50%.
Os autores assumem que as propriedades físico-químicas das proteínas podem lhes conferir habilidade de se ligar e formar complexos com os adjuvantes do Roundup que apresentam tendência a formar vesículas, amortecendo sua biodisponibilidade para as células.
Para o bem ou para o mal, o que se constata é que as diferentes toxinas interagem entre si e que, embora estejamos expostos a infinitas combinações de toxinas ao ingerirmos alimentos transgênicos e/ou cultivados com agrotóxicos, os mecanismos e resultados dessas interações são amplamente desconhecidos e não foram devidamente avaliados antes das aprovações dessas plantas.
A referência completa do novo artigo sobre os efeitos combinados de toxinas Bt com glifosato é:
R. Mesnage, E. Clair, S. Gress, C. Then, A. Székács, G.-E. Séralini. Cytotoxicity on human cells of Cry1Ab and Cry1Ac Bt insecticidal toxins alone or with a glyphosate-based herbicide. In Journal of Applied Toxicology. Article first published online: 15 FEB 2012. DOI: 10.1002/jat.2712
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Errata: O agrotóxico Endossulfam é um inseticida, e não um herbicida, como mencionado no Boletim 574 (Crianças indianas sofrem os efeitos do endossulfam).
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Neste número:
1. França pede à UE suspensão de milho transgênico da Monsanto
2. Governo cria grupo de trabalho sobre uso de agrotóxicos
3. Fiscalização flagra canavieiros expostos a agrotóxicos no interior de SP
4. Dow e Monsanto somam forças para envenenar o coração dos Estados Unidos
5. A contaminação por microrganismos e parasitas é maior no sistema orgânico?
A alternativa agroecológica
Demanda por alimentos orgânicos ainda é maior que oferta no PR
Dica de fonte de informação
Agrotóxico, pimentão e suco de laranja, artigo de José Agenor Alves da Silva (diretor da Anvisa), publicado no Valor Econômico em 23/02/2012.
“A celeuma sobre a presença de resíduos de agrotóxicos no suco de laranja brasileiro, colocado em dúvida pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos, é emblemática para a discussão sobre a contaminação de alimentos por esses produtos. A presença irregular de resíduos de agrotóxicos em produtos agrícolas destinados à exportação implica em prejuízo para o agricultor brasileiro, com a devolução ou destruição do produto pelo país importador.
O agrotóxico, por definição, é um produto aplicado para matar e a linha que separa os efeitos benéficos de eliminar uma praga e os efeitos maléficos, que podem levar um ser humano à morte, é muito tênue. (…)”
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1. França pede à UE suspensão de milho transgênico da Monsanto
A França solicitou à Comissão Europeia que suspenda a autorização para semear a variedade de milho transgênico MON810 da empresa de biotecnologia Monsanto, informou nesta segunda-feira o Ministério de Meio Ambiente.
O pedido do governo francês é baseado nos “riscos significativos para o meio ambiente” que mostraram as recentes pesquisas científicas, informou o ministério em comunicado.
A França sinalizou que manterá a proibição sobre o milho MON810, a única variedade cuja semeadura é aprovada na União Europeia, apesar de ter perdido processos em tribunais locais e europeus.
Fonte: Folha Online, 20/02/2012
N.E.: O milho MON 810 foi autorizado no Brasil em 2008 pela CTNBio e é amplamente cultivado no país.
2. Governo cria grupo de trabalho sobre uso de agrotóxicos
O deputado Padre João (PT-MG) participou na terça-feira (28/02), de reunião interministerial promovida pela Secretaria Geral da Presidência da República no Ministério da Saúde. O objetivo foi debater os encaminhamentos do relatório produzido pela Subcomissão Especial sobre o Uso dos Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde, da Comissão de Seguridade Social. Padre João foi o único convidado da Câmara dos Deputados para participar do evento, pela iniciativa da criação da Subcomissão e pela autoria do relatório dos trabalhos.
No encontro foi criado um Grupo de Trabalho envolvendo os Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Justiça, a Anvisa e o Ibama. O colegiado irá criar e discutir o Plano Nacional de Enfrentamento da Produção, Comercialização e Uso de Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde e ao Meio Ambiente no Brasil.
Ficou agendada uma oficina para o dia 3 de abril de 2012, no Ministério da Saúde, envolvendo também o Ministério do Trabalho e Emprego, a Agência Nacional de Águas, Ministério da Previdência Social, além dos órgãos citados, para analisar o relatório e propor o plano de trabalho e ações referentes ao tema.
Seminário – O tema vem ganhando repercussão nacional pelo trabalho realizado pela Subcomissão e pela Campanha Nacional contra o Uso dos Agrotóxicos. Nos dias 17 e 18 de março, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) realiza um seminário nacional, em Brasília, para debater medidas sobre o tema. Já nos dias 21 e 22 do mesmo mês, o Ministério da Saúde realiza evento para discutir e avaliar os impactos dos agrotóxicos na saúde da população.
Para Padre João, é importante o governo tomar iniciativas neste sentido. “O problema é sério. Precisamos tomar coragem e enfrentar isso. O governo paga caro e a sociedade inteira sofre com isto. Veneno produz doença, mata e incapacita as pessoas. Não dá mais para continuar produzindo assim”, alertou.
Fonte: PT na Câmara, 01/03/2012.
3. Fiscalização flagra canavieiros expostos a agrotóxicos no interior de SP
Trabalhadores tinham roupas de proteção e luvas rasgadas. Alimentos e equipamentos eram guardados junto com veneno a ser aplicado
Entre os dias 23 e 27 de janeiro, o Grupo de Fiscalização Rural ligado à Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Ribeirão Preto realizou uma fiscalização em quatro importantes usinas nesta região do interior de São Paulo, conhecida como a Califórnia Brasileira por sua pujança econômica. O foco foram denúncias de problemas trabalhistas relacionadas ao plantio e à aplicação de agrotóxico nos canaviais.
De acordo com o auditor fiscal Antonio Avancini, já na primeira usina fiscalizada, Santa Rita S/A – Açúcar e Álcool, em Santa Rita do Passa Quatro, foram lavrados 37 autos de infração por irregularidades. Entre elas, o não recolhimento de FGTS; excesso de jornada de trabalho; não concessão de descanso regular entre jornadas (a empregadora não obedece ao intervalo mínimo de pelo menos 11 horas entre uma jornada de trabalho e outra); trabalho nos feriados; não fornecimento gratuito, como previsto em lei, de ferramentas adequadas ao trabalho, como enxadas e enxadões; transporte de agrotóxicos no mesmo compartimento que continha alimentos ou utensílios de uso pessoal dos trabalhadores; roupas, luvas e demais equipamentos utilizados pelos trabalhadores que aplicam os agrotóxico rasgados e danificados, expondo-os à contaminação; entre outros.
A equipe verificou que, no Livro de Inspeção da empresa, consta o registro de uma fiscalização do Grupo Rural Estadual realizada em junho de 2007, com a emissão de nove Autos de Infração. “As mesmas irregularidades, exceto uma delas (realização de pausas), foram constatadas e autuadas na inspeção atual. Constam também no Livro diversas inspeções por auditor da Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Ribeirão Preto, com autuações reiteradas por não recolhimento de FGTS, infração pela qual a usina foi novamente autuada”.
Segundo os fiscais, os trabalhadores eram dividos entre os da “indústria” e os “rurais”e recebiam tratamento diferenciado. Os ônibus que transportam os empregados na indústria são muito melhores que os dos trabalhadores rurais, por exemplo. Os trabalhadores rurais também recebem em cheque (sem tempo para descontá-lo em horário bancário) e não em depósito bancário (conta salário), como os industriais. Com isso, são obrigados a trocar os cheques no comércio, que cobra uma “taxa de serviço”, causando perdas salariais.
Na frente de plantio de cana, “enquanto os operadores de máquina recebiam alimentação quente (almoço) trazida por uma van do restaurante da usina, os plantadores de cana, na mesma frente, se alimentavam em marmitas já frias, de alimentos trazidos de casa, elaborados na noite anterior ou por volta de 4 ou 5 horas daquela manhã”, relataram os fiscais.
Pontos de vista
Em março de 2007, o então presidente Luis Inácio Lula da Silva, fez uma declaração bombástica: “Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do agronegócio neste país, estão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo mundo está de olho no álcool. E por quê? Porque têm políticas sérias”. À época, as palavras de Lula foram recebidas com incredulidade por muitos. (…)
Tanque de veneno
De modo geral, avalia o auditor fiscal Antonio Avancini, o comportamento do setor sucroalcooleiro não mudou muito nos últimos tempos, no que tange o tratamento dispensado aos trabalhadores e o respeito à legislação trabalhista. “Não tenho números exatos, mas o passivo trabalhista atual da usina Santa Rita passa dos R$ 25 milhões. Enquanto isso, os usineiros estão muito bem. Têm helicóptero, barco… o patrimônio vai muito bem”.
Segundo Avancini, apesar dos avanços tecnológicos e da mecanização na cana, “na ponta, no campo, o trabalho continua precarizado. A jornada de trabalho continua exaustiva; operadores de colheitadeiras trabalham 12 horas em São Paulo, de dia e de noite, sem descanso. Em Goiás, a fiscalização flagrou uma usina cujos motoristas trabalharam 24 horas ininterruptamente”. “E veja”, prossegue Avancini, “o desdém da diretoria da Santa Rita foi tanto que não apareceu ninguém para receber os autos de infração. Não se importam mesmo, não é?”. (…)
Fonte: Repórter Brasil, 10/02/2012.
4. Dow e Monsanto somam forças para envenenar o coração dos Estados Unidos
Artigo publicado em inglês pela ONG Truth-Out e traduzido por Heloisa Villela relata as intenções do governo norte-americano de autorizar o “milho laranja”, desenvolvido em parceria pelas gigantes de transgênicos e agrotóxicos Dow e Monsanto. A planta é tolerante aos herbicidas glifosato e 2,4-D – este último, um dos dois componentes do famoso agente laranja, herbicida utilizado na guerra do Vietnã para desfolhar florestas, que foi responsável por milhares de mortes, além do nascimento de mais de 500 mil crianças com sérias malformações.
O autor relata os problemas que vêm sendo enfrentados pelos agricultores dos EUA que adotaram as sementes transgênicas tolerantes a herbicidas, bem como diversos impactos à saúde, já documentados, provocados pelo 2,4-D.
No Brasil, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autorizou, em junho de 2009, plantios experimentais de “soja laranja” da Dow, também tolerante ao 2,4-D.
Por AS-PTA, 02/03/2012.
5. A contaminação por microrganismos e parasitas é maior no sistema orgânico?
Talvez um dos pontos mais questionados pelos críticos da agricultura orgânica seja a contaminação causada pelo uso intensivo de dejetos de animais no sistema orgânico. Primeiramente, deve-se lembrar que o uso de esterco também é comum em sistemas convencionais, embora em quantidades menores. É fato que os dejetos de animais mal tratados podem ser uma fonte de contaminação dos produtos e do solo, tanto no sistema orgânico como no convencional. Portanto, a utilização desses insumos naturais e as técnicas para reduzir o risco de contaminação devem ser efetivamente colocadas em prática nos dois sistemas. Vários trabalhos de pesquisa mostram que não há nenhuma evidência de que alimentos orgânicos sejam mais suscetíveis a contaminação microbiológica do que alimentos convencionais. Entretanto, ainda é preciso expandir essa linha de pesquisa. É importante sublinhar que nos dois sistemas (orgânico e convencional) o uso de boas práticas culturais e de estocagem de alimentos permite reduzir o risco de contaminação.
Fonte: Embrapa Informação Tecnológica – Coleção 500 Perguntas 500 Respostas – Hortaliças Orgânicas (via Em Pratos Limpos).
A alternativa agroecológica
Demanda por alimentos orgânicos ainda é maior que oferta no PR
A produção de orgânicos vem crescendo a cada ano no Paraná. O Estado já conta com 7.245 produtores, de acordo com levantamento realizado pela Emater e pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). O volume de produção saltou de 52.270 toneladas na safra 2002/2003 para 138.241 toneladas na safra 2008/2009, o que representa um crescimento de 164%. Esta safra é o último dado de levantamento disponível. Na safra 2002/2003, eram 3.648 produtores no Paraná.
O diretor do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), Márcio Miranda, disse que a produção vem crescendo porque a oferta de produtos não atende o total da demanda. Segundo ele, também tem aumentado a demanda destes produtos para alimentação escolar e para o Programa de Aquisição de Alimentos para a população de baixa renda do governo federal.
Ele acredita que ocorra aumento da produção nos próximos anos por exigência da sociedade e também do meio ambiente.
No Paraná, o consumo é de 1% das vendas do setor de supermercados, segundo informações da Associação Paranaense de Supermercados (Apras). O último ranking da Abras – Associação Brasileira do setor – divulgado em abril de 2011, apontou que o crescimento do volume destes produtos nas lojas é de 15% a 20% nos últimos anos.
Fonte: Folha de Londrina, 03/02/2012 (via Em Pratos Limpos).
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.
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