As incertezas, os riscos e as promessas não cumpridas dos transgênicos, bem como os “focos de resistência” a esses produtos foram a tônica da palestra que abriu a primeira tarde do II Seminário Sementes Patrimônio da Humanidade. O evento acontece no ICA até amanhã, dia 18.
A exposição inicial ficou a cargo de Gabriel Bianconi Fernandes, da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, ONG sediada no Rio de Janeiro. Ele apresentou o panorama geral dos transgênicos no Brasil e no mundo, onde a produção dessas variedades de sementes geneticamente modificadas é dominada por apenas algumas empresas que, não por coincidência, são originalmente fabricantes de agrotóxicos.
Gabriel Fernandes lembrou que, na contramão dos interesses econômicos dessas grandes empresas do agronegócio, continuam as incertezas sobre os riscos que a produção e o consumo das variedades transgênicas podem gerar para a saúde humana e o meio ambiente, de uma forma geral. Segundo ele, nem mesmo a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) – responsável, entre outros, pela avaliação e liberação dos transgênicos no Brasil – tem qualquer garantia do impacto ambiental desses cultivos. Mesmo assim, há 11 variedades de sementes transgênicas liberadas comercialmente no país, sendo seis de milho, quatro de algodão e uma de soja – nem todas, no entanto, estão sendo cultivadas no momento.
Em sua exposição, Gabriel usou dados relativos a determinadas regiões agrícolas do país para rebater algumas promessas feitas por fabricantes de sementes transgênicas. Segundo o palestrante, ao contrário do que foi prometido, o uso dessas sementes não diminuiu o gasto de herbicidas nas lavouras. Nos últimos anos, as lavouras aumentaram o consumo desse insumo, principalmente as de soja, segmento em que a variedade transgênica está mais presentes no Brasil.
Teste de pureza
A ONG de que Gabriel faz parte integra a “Campanha por um Brasil livre dos transgênicos” e atua oferecendo assessoria a projetos de agricultura alternativa. Durante a palestra, ele mostrou uma das iniciativas promovidas como “resistência” às variedades geneticamente modificadas e preservação das sementes crioulas. Em feiras de sementes, tradicionalmente organizadas por agricultores para venda e troca, estão sendo feitos testes de pureza dessas sementes para verificar se estão livres da contaminação por transgênicos, o que pode acontecer, por exemplo, devido à proximidade entre lavouras ou ao uso compartilhado de máquinas agrícolas. Os resultados dos testes são imediatos e os agricultores recebem uma espécie de certificado, que atesta a pureza de suas sementes. Segundo Gabriel Fernandes, isso garante segurança nas transações realizadas durante as feiras e ajuda a resguardar o agricultor em caso de uma eventual contaminação de sua produção.
Após a exposição inicial, foi aberta a sessão de perguntas. Na platéia, estavam agricultores, professores, estudantes e outros profissionais ligados ao setor agrícola. O principal objetivo do II Seminário Sementes Patrimônio da Humanidade é oferecer um espaço de discussão sobre as sementes crioulas e seu grande potencial para a produção agrícola na região norte-mineira, por meio de palestras e mesas-redondas.
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A reportagem é da assessoria de comunicação da UFMG
http://www.nca.ufmg.br/hpnca/ica/index.php?option=com_content&task=view&id=337&Itemid=1
O evento foi promovido pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado