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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Boletim 614 – 18 de janeiro de 2013
Concentração na área de insumos mais do que dobra em 20 anos – e preços dos insumos sobem mais do que os dos produtos agrícolas
Car@s Amig@s,
Segundo um estudo publicado em dezembro de 2012 na Amber Waves, publicação técnica do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), a concentração do mercado mundial de insumos agrícolas mais que duplicou desde o início dos anos 1990. A concentração mais rápida foi observada na indústria de sementes: entre 1994 e 2009, a participação das quatro maiores empresas do ramo no mercado passou de 21% para 54%.
Em 2009, as quatro maiores empresas nos ramos das sementes/biotecnologia, agrotóxicos, medicamentos veterinários, melhoramento genético animal e maquinaria agrícola controlavam pelo menos 50% das vendas globais. Considerando as oito maiores empresas desses cinco setores, o controle do mercado em 2009 variou entre 61% e 75%.
Segundo os autores do estudo, as empresas aumentaram sua participação no mercado através de duas vias: expandindo suas vendas mais rápido do que suas concorrentes ou (e principalmente) realizando aquisições e fusões com outras empresas do ramo. Conforme foi apurado, em 2010 as maiores empresas de insumos tiveram o crescimento nas vendas mais acelerado do que média das indústrias, mas uma parte significativa desse crescimento veio da aquisição de outras empresas.
O estudo também aponta que cinco das sete maiores empresas de sementes (cujo faturamento em 2009 foi de mais de US$ 600 milhões, cada) são também líderes do mercado de agrotóxicos. São elas: Syngenta, Bayer, Dow, Dupont e Monsanto. Uma sexta empresa, a Basf, é também uma das líderes no mercado de agrotóxicos e, embora ainda não tenha uma participação importante no setor de sementes, está investindo significativamente em biotecnologia e já comercializa algumas variedades transgênicas. Segundo os autores da pesquisa, estas companhias atualmente constituem o grupo “Big 6” da pesquisa em sementes, biotecnologia e agrotóxicos.
Embora os autores apresentem ponto de vista favorável ao modelo da agricultura convencional e transgênica – atribuem o aumento da produtividade agrícola à adoção do pacote tecnológico, consideram que a proteção dos direitos de propriedade intelectual é necessária para que as empresas invistam em inovação e que os agricultores “estão dispostos” a pagar pelas novas tecnologias – eles ressaltam que “o maior poder de mercado resultante das mudanças estruturais na indústria de insumos agrícolas leva os agricultores a pagarem preços mais altos para comprar os insumos. Com maior proteção legal sobre suas patentes e com menos empresas competindo no mercado, as empresas podem cobrar preços mais altos por suas inovações”. E, mais importante ainda, reconhecem que: “nas últimas duas décadas, os preços dos insumos aumentaram mais rápido do que os preços que os agricultores norte-americanos recebem por suas lavouras e criações”.
Esse fenômeno também se manifestou de forma mais acentuada no caso das sementes: segundo os dados apresentados, entre 1990 e 2012 os preços das sementes mais que dobraram em relação aos preços recebidos pelas commodities agrícolas (grifo nosso). Esta desproporção é atribuída, ao menos em parte, às sementes transgênicas (ou, nas palavras dos autores, “ao valor das novas características das sementes resultantes do investimento em pesquisa feito por empresas de sementes/biotecnologia”).
Todas essas constatações do estudo são claramente visíveis no campo, também aqui no Brasil. Falando de forma objetiva, o cenário atual é o seguinte: a meia dúzia de empresas que controla o mercado de insumos dita as tecnologias a serem adotadas, eliminam do mercado as chamadas “antigas tecnologias”, e cobram o que querem por seus produtos. Os agricultores, por sua vez, não têm escolha senão aderir ao pacote imposto, a preços cada vez mais altos, e têm suas margens de lucro cada vez mais achatadas.
O caso das sementes transgênicas é emblemático. Com o mercado sementeiro extremamente oligopolizado, as sementes convencionais de milho e soja sumiram da praça. Os agricultores acabam quase que forçosamente aderindo às sementes transgênicas, a um custo bem mais alto do que pagariam pelas similares convencionais. São cada vez mais recorrentes as notícias de que a tecnologia transgênica não cumpre suas promessas e já não funciona como nas primeiras safras – diversas espécies de mato já desenvolveram resistência ao glifosato utilizado nas lavouras tolerantes ao herbicida, em vários lugares as lagartas já não morrem quando comem as plantas do tipo Bt e, mais ainda, milho transgênico está virando praga em lavoura de soja.
Mesmo assim, as empresas e os defensores dos transgênicos seguem alegando que a adoção generalizada da transgenia é dado que comprova seus benefícios. Segundo esse argumento, se essas sementes não fossem mesmo melhores, os agricultores não as escolheriam. Será mesmo?
– Leia o estudo da Amber Waves na íntegra em: http://www.ers.usda.gov/media/960711/risingconcentration.pdf
– O Jornal Valor Econômico também noticiou a pesquisa (Concentração na área de insumos mais do que dobra em 20 anos, 02/01/2013 – via Faep).
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Neste número:
1. Salmão transgênico
2. Estudo encontra genes de resistência a antibióticos em rios na China
3. Roundup afeta bactérias intestinais benéficas
4. Exportações do agronegócio aumentam 400% em 10 anos
5. Os rumos da “Reforma Agrária”, artigo de Gerson Teixeira
A alternativa agroecológica
Vídeo – A agricultura mora em mim: a face invisível das cidades
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1. Salmão transgênico
Às vésperas do Natal, a americana Food and Drug Administration (FDA) anunciou ter concluído que o salmão transgênico não apresenta impacto significativo ao meio ambiente. Para o órgão, o peixe modificado é tão seguro quanto o salmão convencional do Atlântico. O fato torna a nova espécie virtualmente liberada para comercialização.
O peixe, chamado de AquAdvantage, foi desenvolvido pela empresa AquaBounty, que produz os ovos na sua unidade em Prince Edward Island, Canadá, e depois os envia para engorda no Panamá. O FDA informou ainda que não avaliou os potenciais impactos ambientais do salmão transgênico nem no Panamá nem no Canadá, apenas nos Estados Unidos.
O AquAdvantage recebeu genes de hormônio de crescimento do salmão ligado a genes promotores de uma espécie de enguia (Zoarces americanus, ou ocean pout, em inglês). Os promotores fazem com que o hormônio seja produzido durante todo o ano e não apenas nas épocas quentes. Dessa forma, o peixe chega ao mercado em um ano e meio enquanto o salmão comum leva três anos para atingir peso de abate.
Michael Hansen, pesquisador senior da Consumers Union chamou atenção para a precariedade da análise conduzida pelo FDA. Apenas 6 peixes foram usados em testes de alergenicidade, e mesmo assim os resultados mostraram que há potencial de aumento de reação alérgica. Vale a pena?
Em http://pratoslimpos.org.br, 18/01/2013 [com links para matérias da imprensa internacional]
2. Estudo encontra genes de resistência a antibióticos em rios na China
O estudo chinês publicado em dezembro mostra que genes de resistência a antibióticos usados no desenvolvimento de plantas transgênicas escapam para ambientes naturais e se incorporam em bactérias nativas que vivem em ambientes aquáticos. Em todos os rios analisados foram encontrados organismos contendo o DNA modificado. A origem do material não foi determinada, se de plantios comerciais, laboratórios ou casas de vegetação. De qualquer forma, o método empregado assegura que os genes encontrados nas populações de bactérias nativas não provêm de outras fontes como mutação ou seleção natural.
A disseminação de genes marcadores de resistência a antibióticos em bactérias de vida livre tem implicações médicas negativas para o tratamento de infecções.
Para o microbiologista da Universidade de Berkeley, Ignacio Chapela, o resultado principal do estudo é mostrar que esta é apenas uma fração das muitas outras sequências de DNA transgênico que se espera encontrar no ambiente, vindo de diferentes fontes e apresentando as mais diferentes funções. Ou seja, é a ponta do iceberg.
Em http://pratoslimpos.org.br, 16/01/2013
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Environ Sci Technol. 2012 Dec 18;46(24):13448-54. Epub 2012 Dec 6.
A Survey of Drug Resistance bla Genes Originating from Synthetic Plasmid Vectors in Six Chinese Rivers.
3. Roundup afeta bactérias intestinais benéficas
Pesquisadores da Universidade de Leipzig publicaram estudo mostrando que o herbicida Roundup impacta negativamente bactérias gastrointestinais de aves. Os testes, realizados in vitro, revelaram ainda que enquanto bactérias altamente patogênicas como as que causam salmonela e botulismo resistiram ao Roundup, aquelas benéficas foram de moderada a altamente suscetíveis ao produto.
O estudo fornece bases científicas para os relatos de aumento de doenças gastrointestinais em animais alimentados com soja Roundup Ready, que é tolerante ao herbicida Roundup, cujo ingrediente ativo é o glifosato. No Brasil, quando liberado o sistema soja RR-herbicida Roundup, o governo multiplicou por 50 o limite de resíduo de glifosato permitido nos grãos modificados.
Em http://pratoslimpos.org.br, 11/01/2013 | Via GMWatch
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Shehata, A. A., W. Schrodl, et al. (2012). The effect of glyphosate on potential pathogens and beneficial members of poultry microbiota in vitro. Curr Microbiol. Publ online 9 December.
4. Exportações do agronegócio aumentam 400% em 10 anos
O boom da agricultura brasileira
O total das exportações de produtos agropecuários do Brasil cresceu 400% entre 2001 and 2011. O país é líder mundial na expotação de açúcar, café, suco de laranja, soja e frango [o que para muitos significa uma reprimarização da economia brasileira, cada vez mais especializada e dependente da exportação de produtos de baixo valor agregado, sejam eles da agropecuária ou da mineração. União Europeia e China são os grandes compradores de produtos brasileiros, mas por mais quanto tempo essa demanda se manterá?].
O gráfico ilustra a reportagem do Washington Post “In Brazil, a landholder who speaks for agribusiness”, sobre a senadora ruralista Kátia Abreu (PSD/TO, ex-DEM, ex-PFL), que pode ser lido em português na página da CNA. A matéria trata dos esforços que a senadora vem promovendo para tentar desvicular a imagem de seu setor do atraso e da truculência, passando também pelas posições pra lá de retrógradas assumidas em temas como desmatamento, código florestal e trabalho escravo.
Em http://pratoslimpos.org.br, 15/01/2013
5. Os rumos da “Reforma Agrária”, artigo de Gerson Teixeira
O jornal Folha de São Paulo publicou artigo do presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) mostrando que o desmanche das políticas de reforma agrária no país pode se intensificar ainda mais caso o governo leve adiante proposta da CNA para o tema. Logo a CNA da senadora Katia Abreu, que apregoa que o agronegócio não precisa de mais terras para seguir produzindo mais e mais.
Teixeira alerta para a “expectativa de apropriação, pelo agronegócio, de milhões de hectares dos assentados [incluindo] a regularização “de ofício” dos imóveis localizados às margens das rodovias federais na Amazônia (…) e a facilitação da ratificação dos títulos das propriedades nas faixas de fronteiras indevidamente emitidos pelos Estados”. Pior, informa o presidente da Abra que o pacote da CNA parece já ter sido abraçado pelo governo Dilma.
Em http://pratoslimpos.org.br, 17/01/2013
A alternativa agroecológica
Vídeo – A agricultura mora em mim: a face invisível das cidades
“É paixão! A gente se apaixonou realmente pela agricultura, por estar mexendo com a terra, por estar vendo o trabalho da gente se desenvolver ali, diante dos nossos olhos”, revela Elias, agricultor de Magé (RJ).
Neste vídeo, agricultores e agricultoras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro mostram como em meio à expansão urbana, à especulação imobiliária e, sobretudo, debaixo do manto da invisibilidade, centenas de famílias persistem com seus modos de vida, lavrando a terra para produzir alimentos para os moradores da cidade. Esses homens e mulheres não só contam como a agricultura mora neles, mas também com sabedoria e simplicidade nos desafiam a enxergar e a refletir sobre a agricultura que também pode encontrar morada nas grandes cidades.
Disponível em www.aspta.org.br
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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